O reflorestamento praticado na Amazônia tornou-se um desafio para os utilizadores de matéria-prima florestal, visto serem incipientes os estudos e pesquisas capazes de subsidiar a adoção de procedimentos técnicos adaptados às condições regionais, bem como as experiências bem sucedidas de reflorestamento na Amazônia.
O tempo comprovou que o comportamento de algumas espécies nativas implantadas em reflorestamento não apresentou desempenho satisfatório. Muitas delas sofreram severos ataques de pragas e doenças, outras não resistiram às práticas silviculturais inadequadas, a exemplo dos reflorestamentos com mogno (Swietenia macrophylla King.) e cedro (Cedrella odorata L.), ambos fortemente atacados pela broca (Hypsipyla grandella), que destrói o ponteiro da árvore (meristema apical) promovendo um crescimento irregular do tronco e não permitindo seu aproveitamento comercial. Por outro lado, espécies exóticas, como a teca (Tectona grandis L.f.), adaptaram-se muito bem, provavelmente pelo rápido crescimento inicial e rusticidade.
A teca, originária da Ásia, tem como principal produto, a madeira de alta qualidade, muito utilizada em móveis finos e na construção naval. O valor de mercado para a madeira de teca madura, livre de nós e com diâmetro adequado para serraria, chega a superar os valores comercializados com a espécie mogno (Swietenia macrophylla King).
Inicialmente, os plantios de teca limitavam-se aos países da Ásia Tropical, principalmente Índia, Myanmar e Tailândia, cujo objetivo era o de compensar o esgotamento das populações naturais de teca que eram exploradas de forma predatória. Posteriormente, a teca começou a ser plantada em novas zonas tropicais, particularmente na África Ocidental, América Central e América do Sul, sobretudo no Brasil e na Costa Rica, onde os plantios são caracterizados pela elevada densidade de indivíduos e com rotações mais curtas que as praticadas no sudeste asiático.
Muito se tem falado sobre o desempenho da espécie no Acre, porém, pouco é o conhecimento sobre a produtividade e rendimento dos povoamentos de teca implantados.
Uma das questões mais mencionadas é que a espécie não encontra na região as condições de solo e clima favoráveis, mas a experiência em todo mundo é que a espécie se adaptada as mais diferentes condições a qual é plantada desde regiões de monção com chuvas acima de 5000 mm até localidades de déficit hídrico com chuvas abaixo de 1000 mm. No estado do Acre, a espécie encontrou condições ideais em alguns municípios da microrregião do Alto Rio Acre (Brasiléia, Xapuri e Epitaciolândia) e todos os municípios da microrregião do Baixo Rio Acre, que compreende os municípios de Acrelândia, Rio Branco, Bujari, Porto Acre, Senador Guiomard, Plácido de Castro e Capixaba.
Nas demais regiões do estado, a teca tem apresentado excelente crescimento, porém, não se traduzindo na produção de madeira de boa qualidade. O rápido crescimento inicial significa produção de madeira de baixa densidade (madeira juvenil) e não apresenta a durabilidade e resistência demandada pelo mercado internacional.
A produtividade no Acre gira entorno de 13 a 15 m3/ha/ano, valores equivalentes as principais regiões produtoras do mundo. A expectativa de rotação econômica (época de colheita) é de aproximadamente 25 anos. Este período longo, parece demasiado para nosso padrão cultural de investimento de curto prazo, mas em se tratando de uma das espécies madeireiras mais valorizadas do planeta, em que o metro cúbico de uma tora de boa qualidade alcança cerca de R$2100,00, este tempo passa a ser um fator de atratividade, visto que a previsão de colheita em algumas localidades produtoras de teca chega aos 80 anos. Desta forma, muitos produtores encaram os investimentos em teca com uma previdência verde, sua aposentadoria gerenciada dentro do imóvel rural.
Para as condições de sítio florestal (capacidade da região em produzir madeira) no estado do Acre, estudos realizados pela Embrapa Acre apontam que a produção total será entre 250 a 350 m3/ha, considerando neste volume, as colheitas intermediárias realizadas pelos desbastes. A expectativa é que entre 50% a 60% do volume total sejam retirados na colheita final, época em que serão abatidas as melhores árvores.
Porém, como se trata de uma espécie florestal de alto valor econômico, falhas no manejo da espécie, como a ausência de desbastes e de podas, implicam em grandes perdas de renda futura, visto que o povoamento florestal vai produzir toras nas dimensões inadequadas e com nó (defeito da madeira). Isso significa uma redução do valor do metro cúbico de até 80%. Considerando, que o estado tem aproximadamente 500 hectares de teca, o prejuízo em curso ultrapassa a casa de centena de milhão de reais.
Outra questão bastante comentada diz respeito aos possíveis impactos ambientais que o plantio de teca apresenta para o solo. Existe o risco de degradação do solo em qualquer cultura agrícola ou florestal, sempre que mal conduzida, seja ela qual for, mandioca, pastagens, banana, seringueira, hortaliças etc… No entanto, os sistemas florestais apresentam a vantagem de retirar nutrientes dos horizontes mais profundos dos solos e promoverem a ciclagem para os horizontes superficiais por meio das folhas, ramos, cascas, flores e frutos depositados na superfície. Outro aspecto técnico importante é que o maior percentual de nutrientes dos sistemas florestais ficam armazenados nas copas das arvores (folhas e ramos), as quais permanecem na área após a colheita. Vários estudos apontam que um sistema florestal bem manejado com prevenção de incentivos, fertilizações, desrama e desbaste apresenta riscos de degradação ambiental menores que as principais culturas agrícolas e pecuárias. Além disso, os sistemas florestais proporcionam, com grande eficácia, o serviço ambiental de seqüestro de carbono atmosférico, possibilitando uma futura fonte adicional de renda ao empreendedor do setor florestal.
Temos uma espécie de alto valor econômico e de grande rusticidade e, que se adapta as mais distintas formas de manejo (sistemas agroflorestais, silvo-pastoreio, povoamentos puros etc.) e, que encontra condições favoráveis em alguns municípios do estado. Além disso, existe no estado áreas já desmatadas e que se encontram subutilizadas.
Neste cenário, a visão não seria trocar uma bela floresta nativa e produtiva (por meio do manejo florestal), por uma monocultura. Mas sim, agregar valor econômico florestal em atividades agropecuárias já consolidadas. Portanto, vale agora o espírito empreendedor florestal, já presente em outros estados e que o Acre já traz de origem.
Anexo: 910.pdf
Evandro Orfanó Figueiredo, eng. agro., pesquisador da Embrapa Acre. orfano@cpafac.embrapa.br