Verde sobe dos jardins para as coberturas

Sua instalação exige cuidados, principalmente com a impermeabilização, para proteger a integridade da cobertura e de sua estrutura. Cidades com elevado grau de urbanização, como São Paulo e Rio de Janeiro, possuem grande concentração de asfalto e concreto, pouca quantidade de verde e alto índice de poluição atmosférica, resultando nas chamadas ilhas de calor, em que as temperaturas aumentam e a umidade relativa do ar fica mais baixa. O recurso para amenizar esse efeito indesejável e danoso ao meio ambiente é reduzir as superfícies escuras, que absorvem calor, substituindo-as por superfícies claras, capazes de refletir a energia solar que incide sobre elas, ou por coberturas verdes. Tanto um quanto o outro elemento não só atendem com eficiência a esses objetivos, como contribuem para a redução do consumo de energia.

Um dos efeitos positivos dos telhados verdes é o aumento da umidade relativa do ar na microrregião em que está instalado, uma vez que a raiz da planta, ao absorver a água, libera vapor para a atmosfera. As plantas também retiram partículas em suspensão no ar, o que torna muito mais agradável o ambiente, como se pode verificar em parques e espaços arborizados. Outro benefício diz respeito à fotossíntese, uma vez que a retirada de gás carbônico do ar ajuda no combate ao aquecimento global. Segundo o engenheiro agrônomo Sérgio Rocha, diretor técnico do Instituto Cidade Jardim, fabricante de telhados verdes com sede em Itu, SP, para cada 10 mil metros quadrados desses elementos instalados é possível seqüestrar cerca de 50 toneladas de carbono.

Cobertura do Edifício Jatobá - São Paulo
Cobertura do Edifício Jatobá – São Paulo.

Benefícios do verde 
Em comparação com a cobertura branca, o telhado verde em módulos é um sistema relativamente novo no Brasil. Os exemplos pioneiros vêm dos Estados Unidos. No Millenium Park, em Chicago, uma das maiores coberturas do mundo nesse sistema abriga um shopping center. E a fábrica de caminhões da Ford, no estado do Michigan, considerada por alguns anos a maior cobertura verde do mundo, com 4,2 hectares, teve uma economia de 7% em todos os gastos com energia elétrica. Apesar de recente, a tecnologia do telhado verde representa um avanço considerável, por sua eficiência muito maior que a da cobertura branca.

Segundo Zanettini, a cobertura verde mostra-se interessante sob vários aspectos. Ela favorece o desempenho térmico dos edifícios, melhorando o conforto interno, diminuindo a temperatura através do resfriamento evaporativo e aumentando a umidade do ar em dias quentes de verão, o que representa significativa economia de energia com sistemas de refrigeração. Além disso, tem a vantagem de manter o ciclo oxigênio-gás carbônico, contribuindo para a diminuição da poluição atmosférica. Retém até 75% de água de uma chuva, que é liberada gradualmente na atmosfera via condensação e transpiração; provê um hábitat para plantas, insetos e outros pequenos animais; assegura efeito visual e estético aos edifícios, bem como conforto ambiental e saúde aos habitantes.

Há fatores que influenciam diretamente no conforto da edificação e na conseqüente economia energética com os sistemas de climatização. A massa térmica, a porosidade e a capacidade de absorção das coberturas são fatores decisivos e têm comportamento distinto nos dois sistemas. Conforme estudo de Zanettini, baseado em tabela de valores gerais de absortância da Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003), estima-se que na cobertura branca a absortância seja de 20%, enquanto na cor preta esse índice alcança 97%. Já na cobertura verde, cerca de 27% da radiação solar incidente é refletida, 60% é absorvida pelas plantas e apenas 13% é transmitida à superfície inferior.

Plantas suculentas 
O fabricante Instituto Cidade Jardim tem como carro-chefe a telha Sempre Viva. Trata-se de módulo de 40 x 50 centímetros, com nove centímetros de altura, composto por uma bandeja de plástico 100% reciclável com base em formato de copinhos que armazenam até duas vezes mais água da chuva do que nos sistemas que não dispõem desse recurso. Sobre esses pequenos recipientes há um filtro de partículas (uma espécie de espuma) para impedir a entrada de terra. Por cima dele é colocado um substrato muito leve (metade do peso da terra). “No substrato já estão as plantas pré-cultivadas. Então, temos tudo numa única peça”, diz Sérgio Rocha.

A telha Sempre Viva oferece duas opções de plantas. Uma são as plantas suculentas de forração, que asseguram a máxima sustentabilidade. Trata-se de pequenas plantas de deserto, do gênero Sedum, adaptadas ao clima do local. Em sua grande maioria originárias da África do Sul, são praticamente as mesmas utilizadas por todas as empresas de telhados verdes no mundo. Resistentes tanto em regiões de clima seco quanto à neve e ao granizo, têm manutenção reduzida – uma vez por ano, incluindo adubação e aplicação de inseticida natural para controle de pragas.

Outra opção é o gramado esmeralda, que exige sistema de manutenção e de irrigação, pois, como cresce mais rápido, necessita de poda e consome mais água e nutrientes, sendo necessário irrigá-lo a cada 20 dias e adubá-lo com maior frequência. Neste caso, o peso estrutural é de 150 kg/m2, com 80 kg/m2 correspondendo à planta. “Tecnicamente, é possível colocar qualquer tipo de planta, como jabuticabeira e bambu, mas isso vai depender do projeto paisagístico e da carga que a estrutura do telhado pode suportar. Além disso, é necessário providenciar uma proteção mecânica para evitar que a força da raiz provoque perfuração da superfície impermeabilizada”, afirma Rocha. Assim, o cliente poderá personalizar o jardim, escolher as plantas, criar caminhos e colocar até bancos.

A primeira empresa brasileira no setor de telhados verdes foi a Ecotelhados, com sede em Porto Alegre. Seu sistema é muito semelhante ao do Instituto Cidade Jardim. Compreende uma bandeja modular de 35 x 70 centímetros e cerca de 11 centímetros de altura, fabricada em EVA (etil vinil acetato), material leve, flexível, reaproveitado da indústria. As camadas se sucedem de baixo para cima, da seguinte forma: membrana antirraízes (evita infiltrações na laje), membrana alveolar tridimensional com copinhos para reter a água, camada filtrante que impede a passagem de terra e, por último, o substrato nutritivo com a planta, como se fosse um xaxim. Segundo João Manuel Linck Feijó, engenheiro agrônomo e diretor da Ecotelhado, “o conjunto todo, incluindo a água da chuva absorvida, soma cerca de 50 kg/m2; o peso pequeno permite empregar o telhado em prédios existentes, que não levaram em consideração essa carga”. O produto utiliza plantas de forração, preferencialmente de baixo porte, do gênero sedum, dada a profundidade reduzida da bandeja. “Se o cliente desejar, é possível plantar soja, arroz, milho; há tecnologia disponível para isso, bastando mais substrato e irrigação. O que não pode é planta de raiz agressiva, como a figueira, pois penetra na impermeabilização”, afirma Feijó.

A água fica retida por alguns dias, alimentando, por evaporação, plantas que dispensam a chuva por longos períodos, superiores aos dos registros pluviométricos das cidades. As bandejas podem ser substituídas facilmente, além de impedirem que as raízes das plantas obstruam as tubulações. Na avaliação do arquiteto Aflalo Herman, tal princípio “apresenta uma dupla vantagem: a de podermos dispensar a irrigação e a de substituirmos as coberturas tradicionais, que absorvem muito calor, por um material orgânico”. Além disso, a solução assegura não só melhor qualidade de ar – uma vez que o ambiente fica mais úmido -, mas também melhor condição térmica, porque dissipa o calor e pode representar uma estratégia de combate às enchentes.

Jardim sobre cobertura de apartamento
Jardim sobre cobertura de apartamento.

Impermeabilização
Esse tipo de telhado requer cuidados especiais, em particular com a impermeabilização. Trata-se de um pré-requisito que não pode apresentar falhas no sistema. Diferentemente de uma telha normal, que tem a característica de ser estanque, os produtos para telhado verde precisam ser vazados, uma vez que as plantas não podem ficar encharcadas por muito tempo. Portanto, a água deve ser escoada, drenada, e consequentemente a parte de baixo deve ser estanque, o que só é garantido com boa impermeabilização. Por razões de segurança, uma exigência das empresas que trabalham com telhados verdes é que a drenagem seja dimensionada em função da captação de água desse telhado. Há normas da ABNT com fórmulas que permitem calcular o volume máximo suportado por uma laje pelo período de uma hora, por exemplo, numa grande tempestade. Isso implica a definição do número e do diâmetro dos bocais necessários para dar vazão a essa água.

Uma opção à laje impermeabilizada é a telha de alumínio zipada, fabricada pela Bemo. Trata-se do Sistema Green Roof, composto por chapas contínuas, da cumeeira ao beiral, com a junção longitudinal feita por um zíper, resultando em estanqueidade suficiente para receber um grande volume de água. Para tornar o produto completo, a Bemo utiliza os módulos vegetados da Ecotelhados. Ela disponibiliza também as telhas metálicas zipadas revestidas na cor branca com índice de refletância solar (SRI, na sigla em inglês) dentro dos valores exigidos pelo Leadership in Energy and Environmental Design (Leed).

Casos especiais de aplicação 
Qualquer telhado pode receber cobertura branca. Os cerâmicos, no entanto, dispensam essa providência, uma vez que já apresentam bom desempenho térmico devido a sua porosidade e elevada absorção de água. Por outro lado, o sistema de cobertura verde pode ser utilizado sobre qualquer superfície, desde que corretamente preparada e impermeabilizada. Mesmo nas preexistentes, as condições de aplicação são plenamente viáveis. No entanto, é preciso considerar, nos telhados com madeiramento, a carga adicional dessa vegetação. Daí a importância do responsável técnico: é ele quem confirmará se a estrutura poderá suportar esse peso. O sistema de cobertura verde também pode ser aplicado em telhados inclinados, dependendo do grau de declividade. Se esta for acentuada, faz-se necessária uma análise cuidadosa.

Revista FINESTRA – Edição 59