No médio rio Doce em uma área no planalto sudeste do Brasil, conhecida como as “terras baixas interplanálticas” do médio Rio Doce, encontram-se 150 lagos não conectados com o Rio Doce, formando portanto um verdadeiro sistema lacustre natural. A vegetação original das bacias hidrográficas era constituída por Floresta Atlântica Tropical, presentemente substituída por extensas plantações de Eucalyptus sp. A origem deste sistema está relacionada com períodos de intensa precipitação e seca os quais sucessivamente, modelaram a paisagem, produzindo barramentos nos afluentes do Rio Doce, dando origem aos lagos do atual sistema. Fases de deposição e de erosão de sedimentos, formaram ao redor dos lagos colinas côncavas ou convexas as quais são importantes quantitativamente para o transporte e deposição de sedimentos nos lagos.
Os lagos, atualmente representam redes hidrográficas seccionadas. As dimensões variam desde pequenos lagos com 1-2 km2 até lagos com 28 km2 e profundidade de aproximadamente 30 metros. Este sistema foi considerado como um paradigma para a compreensão de processos geomorfológicos que deram origem a lagos de diferentes profundidades, morfometrias e dimensões. Estabilidade térmica, de 8 a 9 meses seguida de isotermia, no inverno (2-3 meses) é devida ao aquecimento e resfriamento térmico, ao efeito das águas de precipitação que produzem gradientes verticais acentuados de densidade e à ausência de ventos. Ciclos diurnos de temperatura mostram a importância destes processos no controle químico e biológico nos lagos.
O Sistema de lagos foi impactado pela remoção da Floresta Atlântica e plantação de Eucalyptus sp., pesca intensiva e introdução de espécies exóticas de peixes (Cichla occelaris) – tucunaré, remoção de áreas alagadas para uso intensivo em cultivo, construção de estradas e uso de fertilizantes em plantações.
Os lagos do rio Doce constituem um importante testemunho da interação Floresta Atlântica, sistemas aquáticos, e são relictos fundamentais que devem ser preservados. Estudos intensivos nestes sistemas demonstram o potencial para compreensão de processos de interações sistema terrestre/lacustre e de mecanismos evolutivos.
Fonte: Águas Doces no Brasil – Capital Ecológico, Uso e Conservação. 2.° Edição Revisada e Ampliada. Escrituras. São Paulo – 2002. Organização e Coordenação Científica: Aldo da C. Rebouças; Benedito Braga. Capítulo 05 – Ecossistemas de Águas Interiores. J