Conceitos de Algumas Práticas Conservacionistas

Adubação mineral

É o uso de fertilizantes incorporados ao solo, com a finalidade de proporcionar melhor nutrição às culturas.A improbabilidade de o solo fornecer às plantas todos os nutrientes necessários para o seu desenvolvimento faz da adubação mineral uma atividade essencial para a agricultura. Sempre que possível, o agricultor deverá optar pela adubação orgânica. Na impossibilidade desta, a adubação mineral deverá ser realizada para aumentar a produtividade. A adubação mineral é aquela realizada com adubos extraídos de rochas, que são recursos naturais não renováveis, ou produzidos em indústrias químicas, e por isso deve-se ter cautela para não usá-los em excesso.

Adubação verde

É o uso de plantas (normalmente leguminosas) para serem incorporadas ao solo, com a finalidade de melhorá-lo. De acordo com Souza, a adubação verde é uma técnica agroecológica de produção agrícola diferente das mais conhecidas, como é a compostagem que transfere para o sistema de produção os adubos mineralizados. “A adubação verde consiste em trabalhar com as plantas da família das leguminosas e coletar dessas plantas folhas verdes, que têm maior capacidade de captar nitrogênio e isso favorece o processo de decomposição”.

O adubo verde pode reduzir ou até eliminar o uso de fertilizantes minerais nitrogenados, baixando os custos de produção. Para o pesquisador do Inpa, a adubação verde é uma técnica particularmente importante para a produção na área de várzea, porque as leguminosas levam o nitrogênio ao solo chegando até quadruplicar a produção de hortaliças, como a alface.

A técnica da adubação verde consiste em introduzir, em um sistema de produção, a espécie apropriada para depositar sobre o solo ou incorporar sua massa vegetal.

Os benefícios da prática da adubação verde relacionam-se diretamente com o ganho de matéria orgânica no sistema, proporcionando melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (ESPÍNDOLA et al., 1997), estimulando a atividade microbiana e, consequentemente, proporcionando, através da concorrência, redução do potencial de inóculo de agentes patogênicos que vivem no solo, como fungos, bactérias e nematóides. A introdução de cultivos de adubos verdes na propriedade promove, ainda, a quebra do ciclo vegetativo das várias espécies que compõem a vegetação espontânea, impedindo-as de produzir e lançar sementes e propágulos vegetativos ao solo, ao mesmo tempo em que parte desse material perde sua viabilidade devido ao impedimento à sua germinação e desenvolvimento. Como consequência, obtém-se menor infestação de plantas concorrentes no plantio da cultura subsequente.

Alternância de capina

Consiste na prática de alternar as épocas de capinas em ruas ou “leiras” adjacentes, durante o período de chuvas. Realiza-se a capina rua sim, rua não (nas lavouras plantadas em nível), sempre pulando uma ou duas ruas e somente após algum tempo deve-se capiná-las. Isto permite que sempre uma ou duas ruas, imediatamente abaixo daquelas recentemente capinadas, permaneçam com mato. Isso faz com que a terra transportada das ruas capinadas seja retida pelas ruas com mato.

Calagem

É uma prática agrícola, relativamente simples, que consiste na aplicação de calcário no solo, para combater sua acidez e corrigir seu pH, o que acaba por conferir aumento na produtividade das culturas. A calagem é considerada uma das práticas que mais contribui para o aumento da eficiência dos adubos e, consequentemente, da produtividade e da rentabilidade na agropecuária.

Ceifa do mato

Cortam-se as plantas daninhas a uma pequena altura da superfície do solo, evitando danificar seu sistema radicular. A parte da planta daninha que não é cortada torna-se uma vegetação protetora de cobertura. Prática muito usada em fruticultura, onde capinas são substituídas por ceifa, permanecendo o sistema radicular que aumenta a resistência à desagregação do solo.

Cobertura morta

É uma das práticas mais simples e benéficas que se pode usar na plantação. Cobertura morta é simplesmente uma camada protetora do material que está espalhado em cima do solo, como recortes de grama, palha, casca de árvores e materiais similares. Protege o solo da erosão, reduz o impacto das chuvas, conserva a umidade, mantém a temperatura e impede o crescimento de plantas daninhas. Também pode melhorar a condição do solo. Como essas coberturas decompõem- se lentamente, fornecem matéria orgânica, que ajuda a manter a qualidade do solo. Isso melhora o crescimento das raízes, aumenta a infiltração de água e também melhora a capacidade de retenção de água do solo. A matéria orgânica é uma fonte de nutrientes para as plantas e proporciona um ambiente ideal para as minhocas e outros organismos benéficos ao solo.

Cobertura vegetal

As culturas de cobertura, incluindo os adubos verdes e a manutenção dos restos culturais na superfície do solo, diminuem as variações de temperatura do solo, reduzem as perdas por erosão, retêm maior quantidade de água, diminuem a evaporação e o escoamento superficial, evitam processos erosivos e promovem maiores rendimentos dos cultivos agrícolas. As principais plantas utilizadas como cobertura do solo são as leguminosas e as gramíneas cultivadas e também as plantas nativas.

Controle de pastoreio (pastoreio rotativo)

Consiste em retirar o gado de uma pastagem quando as plantas ainda recobrem toda área, de forma a não comprometer a qualidade da vegetação e do solo. No pastoreio rotativo, a entrada de animais no pasto ocorre após longos períodos de descanso, com o objetivo de maximizar o acúmulo de forragem. Outro argumento consagrado, no sentido da definição do período de descanso, diz respeito ao acúmulo de reservas de carboidratos solúveis nas plantas.

O pasto é uma cultura perene e deve, portanto, ser encarado e manejado como tal, para que sua produção, qualidade e longevidade sejam asseguradas. A integração lavoura-pecuária é um manejo que resgata práticas tradicionais como a rotação de culturas e o manejo do gado em piquetes. Por meio de incentivos do governo, essa integração vem sendo difundida pela EPAMIG e pela EMBRAPA.

Corte em talhadia

É o corte de madeira com regeneração, por brotação das cepas das árvores. Um sistema de formação de povoamentos florestais em que são conduzidas brotações. Pode ser dividido em tahadia simples e composta:

Talhadia simples: Sistema de corte raso, com intuito de produção de madeira para fins menos nobres. É um método econômico e exige um número reduzido de intervenções. O corte é simples e a regeneração é fácil. Fornece produtos em u menos tempo, antecipando a geração de receitas. Porém existe uma grande retirada de nutrientes do solo e pouco valor na proteção do mesmo.

Talhadia composta: Mistura de árvores formadas a partir da brotação das cepas, crescendo sob um dossel de árvores originalmente obtidas pela reprodução de alto fuste. É um método que fornece materiais de diferentes tamanhos, suprindo a demanda por lenha, poste, madeira para serralheria, etc. Oferece uma melhor cobertura do solo, uma melhor aparência para a floresta e permite o desenvolvimento da fauna local. É mais difícil de ser aplicado e a colheita é mais trabalhosa.

Cultivo mínimo

O cultivo mínimo é uma forma não convencional de preparo do solo para receber mudas ou sementes de uma determinada cultura. Ela consiste do preparo do solo e plantio ao mesmo tempo, em um menor número de operações possível. Dessa maneira, há o revolvimento mínimo do solo.

Para tanto, há máquinas agrícola específicas para efetivar essa técnica. Nelas há um conjunto de implementos que realizam a aração, o gradeamento, o sulcamento, a adubação e o plantio. Mas, qual a vantagem disso? A menor quantidade de passadas de trator revolve menos o solo, desfazendo, em menor proporção, a estrutura do mesmo e mantendo-o coberto pelos resíduos da cultura que antes estava instalada na área. Em adição, reduzindo o número de vezes que o trator precisa entrar na área que será realizado o plantio, há economia de combustível.

Essa técnica também contempla o preparo do solo apenas na linha de plantio. Desse modo, só as linhas em que haverá o plantio terão o solo revolvido. As demais partes do terreno, isto é, as entrelinhas, permanecerão com o solo sem a passagem de máquinas e implementos o que favorece a manutenção das características do solo como, por exemplo, a estrutura, que são fundamentais para o favorecimento da infiltração de água que, por sua vez, diminuirá a ação de processos erosivos.

O cultivo mínimo é indicado para solos não compactados, sem necessidade de calagem, de fosfatagem ou de gessagem, ou que não hajam incidências de pragas ou áreas com, sujeitas à erosão. O objetivo do cultivo mínimo é reduzir o número de operações agrícolas necessárias ao preparo do solo que antecede uma semeadura.

Enleiramento em nível

Prática utilizada no desbravamento (mato, capoeira) de uma gleba, dispondo os resíduos em linha de nível.

Escarificação

Operação utilizada no sistema de cultivo mínimo, que consiste em romper a camada superficial do solo, de 15 cm a 30 cm, com o uso de implementos de haste, denominados escarificadores, possibilitando a movimentação do solo sem a inversão da leiva e mantendo grande parte dos resíduos vegetais na superfície que protege o solo da erosão.

Manejo sustentado

É toda exploração florestal que objetiva a manutenção do estoque e as retiradas periódicas do incremento. O termo manejo sustentado também aplica-se ao solo, onde se constitui de práticas simples e indispensáveis ao bom desenvolvimento das culturas e compreende um conjunto de técnicas que, utilizadas racionalmente, proporcionam alta produtividade mas, se mal utilizadas, podem levar à destruição dos solos a curto prazo, podendo chegar à desertificação de áreas extensas.

Os objetivos de uma agricultura sustentável são o desenvolvimento de sistemas agrícolas que sejam produtivos, conservem os recursos naturais, protejam o ambiente e melhorem as condições de saúde e segurança a longo prazo. Neste sentido, as práticas culturais e de manejo, como a rotação de culturas, o plantio direto, e o manejo do solo conservacionista, são muito aceitáveis, pois, além de controlarem a erosão do solo e as perdas de nutrientes, mantêm e/ou melhoram a produtividade do solo. 

Plantio de conversão

É o plantio de espécies nativas nobres, sob cobertura em capoeira adulta ou mata secundária, com a técnica da eliminação gradual da vegetação matricial.

Plantio direto

O plantio direto é uma técnica de cultivo conservacionista em que o plantio é efetuado sem as etapas do preparo convencional da aração e da gradagem. Nessa técnica, é necessário manter o solo sempre coberto por plantas em desenvolvimento e por resíduos vegetais. Essa cobertura tem por finalidade proteger o solo do impacto direto das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das erosões hídrica e eólica. O plantio direto pode ser considerado como uma modalidade do cultivo mínimo, visto que o preparo do solo limita-se ao sulco de semeadura, procedendo-se à semeadura, à adubação e, eventualmente, à aplicação de herbicidas em uma única operação.O plantio direto, definido como o processo de semeadura em solo não revolvido, no qual a semente é colocada em sulcos ou covas, com largura e profundidade suficientes para a adequada cobertura e contato das sementes com a terra.

Plantio em faixa de retenção

É a prática que utiliza uma faixa de cultura permanente de largura específica e nivelada, entre faixas de rotação. São espaços deixados em uma plantação para serem ocupados por um outro tipo de planta, para que a água da chuva não leve as plantas. Utiliza-se o cultivo de plantas densas, com largura variando de 2 a 3 metros, colocadas no terreno em nível, de modo à prender a terra que a água da chuva arrasta. Essas faixas podem ser cana de açúcar, capim limão, mucuna, etc.

Plantio em faixas de rotação

A cultura em faixas consiste no cultivo de duas ou mais espécies em faixas alternadas, localizadas em bandas contíguas de largura variável ou em diferentes camadas (culturas secundárias), na mesma parcela e na mesma época de cultivo. A cultura em faixas alternadas promove, assim, uma interação favorável entre diversas plantas ou variedades. Essa prática tem efeitos benéficos na porosidade e na biodiversidade do solo, promove os ciclos de nutrientes e aumenta os rendimentos.

Plantio de enriquecimento

É o plantio com espécies desejáveis, nas florestas naturais, acompanhado da remoção de trepadeiras, arbustos e árvores indesejáveis.

Plantio em nível

O plantio em curvas de nível consiste na produção ordenada por meio de linhas com diferentes altitudes do terreno. Essa técnica é essencial para áreas íngremes. O processo ajuda a conservar o solo contra erosões e contribui com o escoamento da água da chuva, fazendo com que ela se infiltre mais facilmente na terra e evite os deslizamentos.

Esse sistema ajuda a reter elementos solúveis do solo e permite o aumento da produção. Dependendo do tipo de inclinação do terreno, os degraus podem ser largos ou estreitos. As curvas de nível ficam ordenadas perpendicularmente à inclinação da encosta e ajudam a conservar os nutrientes do solo, imprescindíveis para o sucesso da plantação. Além disso, equilibra a velocidade da água da chuva, evitando que o cultivo perca também os minerais.

Ressemeio

Prática usada em pastagem para repovoar as áreas descobertas, protegendo o solo da erosão por impacto.

Rompimento de compactação subsuperficial

É a quebra de camada profunda adensada (pé de arado ou de grade), com a finalidade de aumentar a permeabilidade do solo.

Sulcos em nível

É o uso de pequenos canais nivelados, que tem a finalidade de diminuir o escoamento superficial, aumentando a infiltração.É uma prática indicada, principalmente, para áreas de pastagens. São equivalentes a um terraço de dimensões reduzidas, construídos em linhas de nível, com arados reversíveis, de aiveca ou de disco, tombando a terra sempre para o lado de baixo. A grande vantagem dos sulcos e camalhões é a melhor distribuição e retenção das águas das chuvas. Em consequência da melhor conservação da água, a vegetação torna-se mais densa e mais vigorosa nas proximidades dos sulcos e dos camalhões.

Uso de bariqueta individual

É a prática usada em fruticultura, protegendo a área de solo de cada árvore com um pequeno patamar. São bancos construídos individualmente para cada planta, onde a movimentação de terra se dá apenas no local que se vai cultivar, indicados para culturas perenes.

Uso de cordão (pedra ou vegetal)

É o uso de linhas niveladas de obstáculos, com a finalidade de diminuir a velocidade do escorrimento superficial.

Uso do esterco

É o uso de dejetos animais, incorporados ao solo, com a finalidade de melhorá-lo.

Uso do patamar (pedra ou vegetal)

É a prática que objetiva formar patamares, com a finalidade de reduzir a declividade e o escoamento superficial. Consistem em plataformas construídas em terrenos de grande inclinação, formando degraus. No patamar, deve ser plantada a cultura e o talude deve ser recoberto com vegetação rasteira, desde que não seja invasora, para manter sua estabilidade. Em solos pouco permeáveis esse tipo de prática não é recomendado. É construído manualmente ou com trator de esteira equipado com lâmina frontal.

RAIJ, B. van et al. (Ed.). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed. Campinas: Instituto Agronômico, 1996. (IAC. Boletim Técnico, 100).

Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais – EPAMIG. Departamento de Pesquisa – Dep