O crescimento do mercado mundial de fitoterápicos é estimado em 10 a 20% ao ano e as principais razões que impulsionaram esse grande crescimento nas últimas décadas foram: a valorização de uma vida de hábitos mais saudáveis e, conseqüentemente, o consumo de produtos naturais; os evidentes efeitos colaterais dos medicamentos sintéticos; a descoberta de novos princípios ativos nas plantas; a comprovação científica de fitoterápicos; e o preço que, de maneira geral, é mais acessível à população com menor poder aquisitivo. Além disso, o desenvolvimento de um medicamento sintético custa em torno de US$ 500 milhões, caindo para US$ 50 milhões no caso de um fitoterápico, que pode chegar ao mercado num tempo dez vezes menor.
A estimativa do mercado mundial para medicamentos é de US$ 300 bilhões/ano, sendo US$ 20 bilhões derivados de substâncias ativas de plantas medicinais. Já a estimativa do mercado nacional de medicamentos é de aproximadamente US$ 8 bilhões/ano, com os derivados de plantas medicinais correspondendo a US$ 1,5 bilhão desse total.
Portanto, não fica difícil entender por que cresce diariamente o interesse de empresas, grupos e países desenvolvidos na biodiversidade dos países tropicais e subtropicais. Particularmente a Amazônia, que tem cerca de 50 mil espécies de plantas (20% de todas as existentes no planeta e apenas aproximadamente 2% já estudadas), é um grande alvo para ser fornecedora de matéria-prima na produção de antibióticos, antiinflamatórios, diuréticos, analgésicos, laxantes, antidepressivos, anti-hipertensivos, entre outros.
No Brasil, o aumento acentuado do consumo de fitoterápicos ocorre basicamente pelos mesmos motivos do restante do mundo. Contudo, existe atualmente um maior número de profissionais envolvidos nos mais diversos trabalhos com plantas medicinais e/ou fitoterápicos, seja na pesquisa, fomento ou difusão. Outro motivo de suma importância são os programas oficiais de saúde, implementados por muitos governos estaduais e municipais, como as ações desenvolvidas nos Estados do Ceará e Paraná. Esses programas vão muito além da simples distribuição de fitoterápicos ou recomendação de uso para a população mais carente desses estados/municípios. Procuram também incentivar o cultivo e produção extrativa sustentável de plantas medicinais. Dessa maneira, também são criadas alternativas econômicas para as comunidades rurais, que a cada dia perdem o poder de competitividade diante da chamada “economia globalizada”.
No Acre, um programa municipal ou estadual com plantas medicinais/fitoterapia oficial tem tudo para obter êxito, por muitas razões, mas a principal é a grande quantidade e variedade de matéria-prima disponível. Para que isso ocorra, deve-se ter a consciência da necessidade da multidisciplinaridade envolvida nas ações previstas para um programa como esse, pois, sem haver uma complementação das várias áreas de especialização, torna-se impossível a execução das atividades. Conseqüentemente, a multiinstitucionalização também é fundamental.
Dentro desse contexto, desde 2000, a Embrapa Acre vem desenvolvendo trabalhos de pesquisa com espécies medicinais de ocorrência natural no Estado, como a unha-de-gato (Uncaria tomentosa e U. guianensis), andiroba (Carapa guianensis) e murmuru (Astrocaryum spp.). Entre as ações desenvolvidas, destacam-se a localização e identificação de populações naturais; os estudos do comportamento, crescimento e desenvolvimento dessas espécies, em áreas de ocorrência natural; e os estudos de propagação.
Portanto, com objetivos bem definidos, é possível construir uma estrutura eficiente, capaz de melhorar a qualidade de vida das populações tradicionais do meio rural e assegurar as necessidades básicas de saúde para toda a população do meio urbano. Para isso, as seguintes ações devem ser desenvolvidas: avaliar o potencial medicinal e definir estratégias para a conservação e exploração das espécies nativas; incentivar o cultivo e coleta de forma sustentável; viabilizar a utilização de plantas medicinais ou fitoterápicos nos postos de saúde dos municípios; além de realizar uma ampla campanha de divulgação nas escolas e nas comunidades em geral, onde esteja sendo executado um programa de plantas medicinais/fitoterapia.
Eng. agrôn., Pesquisadores da Embrapa Acre
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