Benefícios ambientais do uso de tecnologias na pecuária

A adoção de tecnologias na pecuária bovina permitiu evitar o desmatamento de mais de 300 mil hectares de florestas para a implantação de pastagens no Acre entre 1970 e 2002. No início da década de 70, um hectare de pastagem alimentava 1,14 cabeça de gado bovino por ano e as pastagens geralmente degradavam 3 a 5 anos depois de formadas. Pastagens estabelecidas com gramíneas e leguminosas recomendadas pela Embrapa Acre, por serem adaptadas às condições ambientais da região, atualmente estão apresentando capacidade de suporte de até 3 cabeças de gado por hectare, quando manejadas em sistemas de pastejo rotacionado. Diversas áreas de pastagens estabelecidas com essas forrageiras e manejadas de forma correta têm se mantido produtivas e com a presença de leguminosas por mais de 20 anos. Isso tem contribuído para aumentar a produtividade, a rentabilidade e, principalmente, a sustentabilidade dos sistemas de produção pecuários no Acre.

q

Atualmente, o Acre possui cerca de 2 milhões de cabeças de gado em aproximadamente 17.500 propriedades com 1.450.000 hectares de pastagens. Mais de 50% do rebanho bovino do Acre encontra-se em cerca de 16.800 pequenas e médias propriedades com até 500 cabeças de gado. O baixo nível tecnológico e o manejo inadequado, com altas taxas de lotação, vêm causando a degradação das pastagens dessas propriedades. Além disso, estudos desenvolvidos pela Embrapa Acre em parceria com o Instituto de Meio Ambiente do Acre – Imac indicam que o problema da morte da Brachiaria brizantha cultivar Marandu poderá resultar na degradação de mais de 500 mil hectares de pastagens nos próximos anos no Estado, caso os produtores não ajam preventivamente introduzindo espécies forrageiras adaptadas nessas pastagens.

Há quase 5 anos, a Embrapa Acre, em parceria com o governo do Estado do Acre (Seap, Seater, Imac), Projeto Fogo: Amazônia Encontrando Soluções, Faeac-Senar/Acre, Fundepec, Ibama, Fetacre, Banco da Amazônia, Banco do Brasil, Programa Alternativas a Agricultura de Derruba e Queima (ASB/Icraf) e Programa Proteger têm investido em treinamentos constantes de produtores, técnicos, estudantes e multiplicadores e na implantação de propriedades de referência no uso de tecnologias nos sistemas de produção da pecuária de corte e leite em todo o Estado.

Em Xapuri e Acrelândia, o modelo de pecuária sustentável não só garantiu aumento da produtividade do gado de corte e leite como também evitou o desmatamento de novas áreas de floresta nativa. A população urbana também se beneficiou com a redução no volume de queimadas anuais que impregnam as cidades com fuligem. Há 3 anos, os produtores comprometidos com o programa não fazem uso do fogo para reforma de pastagens. O sucesso da iniciativa conta com o apoio do Ministério das Relações Exteriores da Itália e tem atraído produtores e autoridades públicas de diversos estados da Amazônia.

A modernização da pecuária tem focado ações de transferência de tecnologia adequadas às necessidades de pequenos, médios e grandes produtores. Prova disso são os treinamentos na forma de cursos, palestras, seminários e monitoramento de propriedades demonstrativas que já permitiram a capacitação de mais de 1.500 pessoas entre extensionistas e produtores.

O resultado positivo é possível graças a um conjunto de tecnologias que envolve desde a recuperação de áreas degradadas, uso de gramíneas e leguminosas forrageiras adaptadas às condições de clima e solo de cada propriedade, divisão das pastagens com uso de cercas eletrificadas por energia solar, até o melhoramento genético do rebanho com inseminação artificial feita pelos próprios produtores.

Mantida a taxa de crescimento de 12% ao ano, observada entre 1995 e 2001, é possível prever que o rebanho do Acre alcançará cerca de 4 milhões de cabeças em 2008. Com o nível tecnológico atualmente utilizado na maioria das propriedades, o aumento de 100% do rebanho bovino implicará no desmatamento de 1,45 milhão de hectares de florestas para a implantação de novas áreas de pastagens no Estado, em apenas 5 anos.

Entretanto, existem alternativas a esse cenário. A adoção das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa Acre e pelo setor privado em todas as propriedades do Estado permitirá recuperar áreas degradadas e aumentar a capacidade de suporte das pastagens já existentes. Assim será possível alimentar adequadamente um rebanho duas vezes maior do que o atual sem aumentar as pressões de desmatamento.

Agentes financeiros como o Banco do Brasil e o Banco da Amazônia, respaldados por informações técnicas de diversas instituições, acreditam neste cenário. Tanto que, o Banco do Brasil, por meio do Programa Propasto, só em 2003, destinou mais de R$ 9,8 milhões para modernização da pecuária no Estado. Ao mesmo tempo, nos últimos dois anos, o Banco da Amazônia liberou outros R$ 6,8 milhões em financiamentos para reforma de quase 7,5 mil hectares de pastagens degradadas. No entanto, ainda é necessário que estas linhas de crédito sejam expandidas para incrementar cada vez mais o nível tecnológico e assegurar a sustentabilidade da pecuária no Estado.

*Judson Ferreira Valentim – Eng. Agrôn. Ph.D. pesquisador da Embrapa Acre. judson@cpafc.embrapa.br

*Carlos Maurício Soares de Andrade – Eng. Agrôn. M.Sc. pesquisador da Embrapa Acre. mauricio@cpafac.embrapa.br