Construção de Reservatórios e seus Impactos

As principais bacias hidrográficas do Brasil foram reguladas pela construção de reservatório, os quais isoladamente ou em cascata, constituem um importante impacto qualitativo e quantitativo nos principais ecossistemas de águas interiores. Os reservatórios de grande porte ou pequeno porte são utilizados para inúmeras finalidades: hidroeletricidade, reserva de água para irrigação, reserva de água potável, produção de biomassa (cultivo de peixes e pesca intensiva), transporte (hidrovias) recreação e turismo.

Inicialmente, a construção de hidrelétricas e a reserva de água para diversos fins foi o principal propósito. Nos últimos vinte anos, os usos múltiplos desses sistemas diversificaram-se, ampliando a importância econômica e social desses ecossistemas artificiais e, ao mesmo tempo, produzindo e introduzindo novas complexidades no seu funcionamento e impactos.

Esta grande cadeia de reservatórios tem, portanto, um enorme significado econômico, ecológico, hidrológico e social; em muitas regiões do País esses ecossistemas foram utilizados como base para o desenvolvimento regional. Em alguns projetos houve planejamento inicial e uma preocupação com a inserção regional; em outros casos, este planejamento foi pouco desenvolvido. Entretanto, devido à pressões por usos múltiplos, estudos intensivos foram realizados com a finalidade de ampliar as informações existentes e promover uma base de dados adequada que sirva como plataforma para futuros desenvolvimentos.

Os impactos da construção de respresas são relativamente bem documentados para muitas bacias hidrográficas. Estes impactos estão relacionados ao tamanho, volume, tempo de retenção do reservatório, localização geográfica e localização no continuum do rio. Os principais impactos detectados são:

  • inundação de áreas agricultáveis;
  • perda de vegetação e da fauna terrestres;
  • interferência na migração dos peixes;
  • mudanças hidrológicas a jusante da represa;
  • alterações na fauna do rio;
  • interferências no transporte de sedimentos;
  • aumento da distribuição geográfica de doenças de veiculação hídrica;
  • perdas de heranças históricas e culturais, alterações em atividades econômicas e usos tradicionais da terra;
  • problemas de saúde pública, devido à deterioração ambiental;
  • problemas geofísicos devido a acumulação de água foram detectados em alguns reservatórios;
  • perda da biodiversidade, terrestre e aquática;
  • efeitos sociais por relocação;

 
Todas estas alterações podem resultar de efeitos diretos ou indiretos. Reservatórios em cascata como os construídos nos rios Tietê, Grande, Paranapanema e São Francisco, produzem efeitos e impactos cumulativos, transformando inteiramente as condições biogeofísicas, econômicas e sociais de todo o rio.

Nem todos os efeitos da construção de reservatórios são negativos. Deve-se considerar também muitos efeitos positivos como:

  • produção de energia: hidroeletricidade;
  • retenção de água regionalmente;
  • aumento do potencial de água potável e de recursos hídricos reservados;
  • criação de possibilidades de recreação e turismo;
  • aumento do potencial de irrigação;
  • aumento e melhoria da navegação e transporte;
  • aumento da produção de peixes e na possibilidade de aquacultura;
  • regulação do fluxo e inundações;
  • aumento das possibilidades de trabalho para a população local.

Fonte:Águas Doces no Brasil – Capital Ecológico, Uso e Conservação. 2.° Edição Revisada e Ampliada. Escrituras. São Paulo – 2002. Organização e Coordenação Científica: Aldo da C. Rebouças; Benedito Braga. Capítulo 05 – Ecossistemas de Águas Interiores.