Toxinas de algas: riscos à saúde pública

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A ocorrência de florações de algas em reservatórios utilizados para abastecimento público, tem sido muito freqüente e tem prejudicado os usos múltiplos das águas.

Em conseqüência do crescimento populacional e da produção agrícola e industrial, os corpos hídricos, têm se tornado cada vez mais eutrofizados (ricos em nutrientes), devido, principalmente, aos lançamentos de esgotos domésticos in natura, aos efluentes líquidos industriais ricos em nutrientes, carreamento de fertilizantes utilizados na lavoura e dejetos oriundos da criação de animais domésticos nas proximidades dos cursos hídricos. Como conseqüência dessa eutrofização, as águas se tornam propícias à proliferação excessiva das algas.

A ocorrência de florações de algas em reservatórios utilizados para abastecimento público, tem sido muito freqüente nestes últimos 20 anos, em todo o mundo.

O crescimento excessivo de algas em reservatórios brasileiros é uma realidade e tem prejudicado os usos múltiplos das águas. Algumas cepas de algas, em especial as do grupo cianofíceas ou cianobactérias, podem produzir toxinas altamente potentes (hepatoxinas e neurotoxinas) e podem também produzir metabólitos que causam gosto e odor, alterando as características organolépticas das águas.

Existem inúmeros trabalhos publicados que relatam mortandades de animais domésticos e selvagens, inclusive intoxicação humana, devido ao consumo de águas contendo algas tóxicas e/ou toxinas liberadas pelas florações. A presença de toxinas de cianobactérias, em águas para consumo humano implica em sérios riscos à saúde pública e por isso é importante o monitoramento ambiental da densidade algácea e dos níveis de cianotoxinas nas águas.

A problemática de algas tóxicas no Brasil ficou mais conhecida, após o incidente comprovado de intoxicação humana causada por cianotoxinas, fato ocorrido em 1996, em uma clínica de hemodiálise de Caruaru – Pernambuco, onde ocorreu a morte de cerca de 60 pacientes intoxicados com hepatotoxinas presentes na água utilizada na hemodiálise. Com o intuito de prevenir e controlar a presença de cianotoxinas na água distribuída, na última revisão da Portaria 36, do Ministério da Saúde, foram estabelecidos limites máximos permissíveis de cianotoxinas nas águas para potabilidade.

A atual Portaria 1469, do Ministério da Saúde, de 29/12/2000 estabelece como padrões para potabilidade de água, 1 mg/L para microcistinas, 3 mg/L para saxitoxina (STX), e 15 µg/L para cilindrospermopsinas.

A necessidade de monitoramento e controle de cianobactérias nas águas continentais brasileiras é uma necessidade atual, uma vez que os estudos têm confirmado a ocorrência de cianobactérias tóxicas em reservatórios utilizados para abastecimento público e lagos da maioria dos estados brasileiros.

Em 1999, profissionais da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade do Chile e Universidade de Sendae, do Japão, isolaram cepas da alga Cylindrospermopsis raciborkii, de represas do Estado de São Paulo, e identificaram a presença de neurotoxinas do tipo PSP (Paralytic Shelfis Toxins), com predominância de saxitoxinas e neosaxitoxinas. Essa foi a primeira evidência da presença de neurotoxinas em algas isoladas do Brasil. Esse mesmo tipo de neurotoxina (saxitoxina e neosaxitoxina) em organismos das águas continentais, foi evidenciado na alga Anabaena circinalis e em Lyngbya wolley, na América do Norte.

Neurotoxinas do tipo PSP constituem-se num grupo de toxinas classificadas como carbamatos naturais e são produzidas principalmente por dinoflagelados marinhos durante os fenômenos de maré vermelha. Essas toxinas são conhecidas pelos seus efeitos bioacumulativos em mariscos, ostras e outros crustáceos e por causarem efeitos tóxicos ao homem, um dos consumidores desses organismos.

As florações de algas tóxicas, em mananciais utilizados para abastecimento público, apresentaram, sempre, um risco potencial ao usuário da água. As toxinas são altamente solúveis em águas e passam pelo sistema de tratamento convencional.

As toxinas do tipo PSP estão entre as mais potentes, pois agem rapidamente inibindo a condução de impulsos nervosos através do bloqueio do canal de sódio das membranas celulares, causando a morte do animal por parada respiratória.

Em função da ampla ocorrência de floração de Cylindrospermopsis neurotóxica em todo o Brasil, sente-se a necessidade da implantação de métodos de análise para determinação dessas saxitoxinas nas águas.

A Bioagri Laboratórios, de Piracicaba (SP), com a consultoria de um dos maiores especialistas no assunto, Dr. Nestor Lagos, do Chile, implantou as análises de saxitoxinas em amostras de águas, de florações e de outros organismos. Com a implantação dessas análises o laboratório coloca à disposição da comunidade esse tipo de análise para atendimento à Portaria 1469, de potabilidade das águas, sendo contempladas as análises da toxicidade de florações de algas (testes com camundongos), análises de microcistinas e de saxitoxinas, descritas a seguir:

Bioensaios com florações de algas

Amostra da biomassa da floração é coletada, centrifugada, lavada, liofilizada; preparado um extrato com solução fisiológica e ultrasonificado para que ocorra a lise celular. Esse extrato é injetado intraperitonealmente em camundongos machos, em diferentes doses.

Por um período de 24 horas registra-se a mortalidade, é observado o comportamento e registrado os efeitos hepatotóxicos e neurotóxicos nos organismos teste. Geralmente, uma floração hepatotóxica ou neurotóxica causa a morte dos animais em poucas horas ou minutos. Os resultados dos testes com camundongos são expressos em DL50.

É importante ressaltar que as florações de algas tóxicas, em mananciais utilizados para abastecimento público, apresentam, sempre, um risco potencial ao usuário da água. As toxinas são altamente solúveis em águas e passam pelo sistema de tratamento convencional. Portanto, o bioensaio com a floração da água é uma ferramenta importante aos operadores de estações de tratamento de água, pois em caso de florações tóxicas, o uso de carvão ativado em pó é uma medida corretiva indispensável para a remoção de toxinas dissolvidas nas águas.

Algumas algas, podem produzir toxinas potentes e produzir metabólitos que causam gosto e odor, alterando as características organolépticas das águas.

Análises cromatográficas

As análises por cromatografia líquida (HPLC) são aplicadas para quantificar a presença de saxitoxinas e microcistinas em amostras de águas tratada e bruta, água para hemodiálise, florações de algas, amostras de moluscos e alimentos derivados de fruto do mar. Moluscos marinhos, principalmente mariscos e ostras, tem grande capacidade de bioconcentrar saxitoxinas durante o fenômeno de maré vermelha, e podem causar danos à saúde do consumidor.

A análise de microcistina tem sido feita por HPLC e também por imunoensaios.

É importante lembrar que a implantação dessas análises se faz necessário devido à sua obrigatoriedade no controle da qualidade das águas para abastecimento público, de acordo com as exigências estabelecidas na Portaria 1469, do Ministério da Saúde.

Fonte: Revista Gerenciamento Ambiental, Ano 3, Número 17, Novembro/Dezembro de 2001