Macroinvertebrados Aquáticos Bioindicadores da Qualidade da Água

Nas últimas décadas, os ecossistemas aquáticos têm sido alterados em diferentes escalas como conseqüência negativa de atividades antrópicas (por exemplo, mineração, canalização, construção de represas, eutrofização artificial, retilinização, etc.). Os rios integram tudo o que acontece nas áreas de entorno, considerando-se o uso e ocupação do solo.  Assim, suas características ambientais, especialmente as comunidades biológicas, fornecem informações sobre as conseqüências das ações do homem (CALLISTO, MORETTI & GOULART, 2001).

A qualidade  de água é um conceito relativo que depende diretamente do uso da mesma:

a) usada para beber;

b) irrigar campos;

c) transportar  mercadorias;

d) favorecer a vida dos peixes;

e) manter o ecossistema com todas as suas características funcionais.

Consequentemente, neste contexto, o sistema de avaliação da qualidade será diferente. Para que se faça uma avaliação é necessário seguir os seguintes critérios:

i) as concentrações, espécies e tipos de substâncias orgânicas e inorgânicas presentes na água;

ii) a composição e o estado da biota aquática;

iii) as mudanças temporais e espaciais que se produzem devido aos fatores intrínsecos e externos ao sistema aquático em estudo. Esta definição ampla só tem sentido quando queremos  avaliar a qualidade ecossistêmica do meio, o que significa que o objetivo será manter todo o ecossistema de estudo com seus componentes e sua funcionalidade (PRAT & WARD, 1997).

As propriedades das populações e dos fatores bióticos e abióticos que atuam em um certo lugar (sistema parcial da biosfera) representam uma das principais características da descrição de um ecossistema. A qualidade do hábitat é um dos fatores mais importantes no sucesso de colonização e estabelecimento das comunidades biológicas em ambientes lênticos ou lóticos. A flora e a fauna presentes em um sistema aquático são também influenciadas pelo ambiente físico do corpo d’água (geomorfologia, velocidade de corrente, vazão, tipo de substrato, tempo de retenção). Estando a situação de um corpo de água estreitamente relacionada às atividades humanas realizadas à sua volta, o primeiro passo para a compreensão de como as comunidades de macroinvertebrados bentônicos estão reagindo à alteração da qualidade de água é identificar quais variáveis físicas, químicas e biológicas estão afetando os organismos (MARQUES, FERREIRA & BARBOSA, 1999).

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Os macroinvertebrados constituem uma importante fonte alimentar para os peixes, são valiosos indicadores da degradação ambiental, além de influenciarem na ciclagem de nutrientes, na produtividade primária e na decomposição (WALLACE & WEBSTER, 1996). Estes organismos habitam o substrato de fundo (sedimentos, detritos, troncos, macrófitas aquáticas, algas filamentosas e etc) de hábitat de água doce, em pelo menos uma fase de seu ciclo vital e são retidos por tamanho de malha de 200 a 500 micrômeros (LOYOLA, 1994).

Os invertebrados compreendem o maior número de indivíduos, espécies e biomasa em quaisquer ambientes dulcícolas, entre estes destacam-se em especial os insetos, que dominam os sistemas de água doce, quer sob o ponto de vista numérico, como sob a questão relativa a diversidade podendo ser ultrapassados apenas pelos nemátodos em termos numéricos e de biomassa. Os crustáceos e moluscos podem ser abundantes, mas raramente apresentam-se em grande diversidade (GULLAM & CRANSTON, 1996).

Os macroinvertebrados são representados por vários grupos taxonômicos, como – Platyhelminthes, Annelida, Crustacea, Mollusca, Insecta, sendo este último, o mais diversificado  e abundante.

Os principais fatores que levam os pesquisadores a utilizarem os macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores, são:

a) o tamanho relativamente grande, sendo visíveis a olho nu;

b) a coleta destes organismos não é difícil e existem técnicas de amostragem estandardizadas que não requerem equipamentos caros;

c) alguns organismos apresentam ciclos de desenvolvimento suficientemente longos, o que lhes faz permanecer nos cursos de água o tempo suficiente para detectar alterações na qualidade da água, facilitando o exame das mudanças temporais, integrando os efeitos da exposição prolongada por descargas intermitentes ou concentrações variáveis de poluentes e permitindo maior intervalo nas amostragens;

d) a grande abundância e diversidade de organismos, há uma infinita gama de tolerância a diferentes parâmetros de contaminação;

e) o fato de estarem intimamente associados ao substrato, os deixa expostos à ações de alterações ambientais;

f) apresentam uma vantagem de refletir as condições existentes antes da coleta de amostras, enquanto que os métodos tradicionais oferecem somente a característica da água do momento da coleta;

g) representam uma somatória de fatores ambientais presentes e passados e funcionam como uma “memória” da qualidade da água de um corpo d’água;

h) uma considerável desvantagem é o fato de existir muitos representantes de macroinvertebrados de diversos grupos taxonômicos, surgindo problemas relativos à identificação dos organismos, sendo muitas vezes impossível chegar no nível de espécie (LOYOLA & BRUNKOW, 1998).

Principais respresentantes dos Macroinvertebrados Aquáticos:

Filo  Ordem Família
 Platyhelminthes   Planaridae
 Temnocephaliidae 
Annelida Oligochaeta
Hirudinea
Mollusca Gastropoda Planorbidae
Ancylidae
Lymnaeidae
Bivalve Mycetopodidae
Crustacea Trichodactylidae
Aeglidae
Hyallelidae
Insecta  Ephemeroptera  Baetidae
Leptophlebiidae
Odonata Libellulidae
Gomphidae
Aeshnidae
Coenagrionidae
Plecoptera Perlidae
Neuroptera Corydalidae
 Hemiptera Belostomatidae
Naucoridae
 Notonectidae
Veliidae
Gerridae
Coleoptera Ditiscidae
Gyrinidae
Hydrophilidae
Elmidae
 Psephenidae
Lampiridae
Trichoptera Heliocopsychidae
Hydropsychidae
Leptoceridae
Hidrobiosidae
Lepidoptera  Pyralidae
 Diptera Tipulidae
 Culicidae
Ceratopogonidae
Chironomidae
Tabanidae
Muscidae

  Fonte da Tabela: ROLDÁN-PÉREZ, 1988

Referências Bibliográficas:

CALLISTO, M.; MORETTI, M. & GOULART, M. Macroinvertebrados Bentônicos como Ferramentas para Avaliar a Saúde de Riachos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos. Volume 6 n.° 1, jan/ mar 2001, 71-82.4.

GULLAN, P. J. & CRANSTON, P. S. The insects: an cutline of entomology. London: Chapmam & Hall, 1996. 113p.

LOYOLA, R. G. N.. Contribuição ao Estudo dos Macroinvertebrados Bentônicos em Afluentes da Margem Esquerda do Reservatório de Itaipu. Curitiba, 1994. 300p. Tese (Doutorado em Zoologia) Curso de Pós-Graduação em Ciências Biológicas. Universidade Federal do Paraná. 

LOYOLA, R. G. N. & BRUNKOW, R. F. Monitoramento da qualidade das águas de efluentes da margem esquerda do Reservatório de Itaipu, Paraná, Brasil, através da análise combinada de variáveis físico-químicas, bacteriológicas e de macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores – Novembro de 1998. Curitiba, IAP. Relatório Técnico Não Publicado, 39p.

MARQUES, M. G. S. M., FERREIRA, R. L. & BARBOSA, F. A. R.. A comunidade de Macroinvertebrados Aquáticos e características LImnológicas das Lagoas Carioca e da Barra, Parque Estadual do Rio Doce, MG. Revista Brasileira de Biologia, 1999, Vol. 59 (2): 203-210.

PRAT, N. & WARD, J. V.. The Tamed River. P: 219-263. 1997.

ROLDÁN – PÉREZ, G. 1988. Guía par el estudio de los macroinvertebrados acuáticos del Departamento de Antioquia.Bogotá, Editorial Presença. 217 p.

WALLACE, J. B. & WEBSTER,  J. R. The role of macroinvertebrates in stream  ecosystem function annual review of entomology, v 41:115-139p.1996.

Ver Referências Bibliográficas do texto.