{"id":98,"date":"2009-02-09T15:28:27","date_gmt":"2009-02-09T15:28:27","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:29","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:29","slug":"agua_mais_eficacia_e_mais_transparencia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_doce\/agua_mais_eficacia_e_mais_transparencia.html","title":{"rendered":"\u00c1gua: mais efic\u00e1cia e mais transpar\u00eancia"},"content":{"rendered":"\n

O racionamento de \u00e1gua na regi\u00e3o metropolitana de S\u00e3o Paulo est\u00e1 na imin\u00eancia de come\u00e7ar. Transtorno semelhante poder\u00e1 ocorrer tamb\u00e9m no Rio de Janeiro se os cariocas continuarem a desperdi\u00e7ar \u00e1gua, por exemplo, usando mangueiras para \u201cvarrer\u201d cal\u00e7adas.<\/p>\n\n\n\n

Mais grave ainda, o racionamento j\u00e1 teria come\u00e7ado caso diversas institui\u00e7\u00f5es ligadas ao assunto n\u00e3o tivessem chegado a um acordo para diminuir a quantidade de \u00e1gua transferida do Rio Para\u00edba do Sul para o Rio Guandu, onde se localiza a esta\u00e7\u00e3o de tratamento operada pela CEDAE.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 que se celebrar a maturidade das institui\u00e7\u00f5es envolvidas na discuss\u00e3o, em particular os comit\u00eas da Bacia do Para\u00edba do Sul e do Guandu, o Operador Nacional do Sistema, o governo do Estado do Rio, atrav\u00e9s da Superintent\u00eancia de Rios e Lagoas (SERLA) e da CEDAE, que souberam tomar decis\u00f5es t\u00e9cnicas visando ao bem comum. No futuro, a experi\u00eancia acumulada na negocia\u00e7\u00e3o poder\u00e1 desencadear a\u00e7\u00f5es preventivas em outras cidades que periodicamente apresentam problemas de abastecimento, como Recife e S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n

No caso do Rio de Janeiro, o problema n\u00e3o \u00e9 falta de \u00e1gua no Rio Guandu e sim excesso de polui\u00e7\u00e3o. A vaz\u00e3o bombeada do Rio Para\u00edba do Sul para o Guandu, atualmente menor do que o normal equivale a mil litros por habitante, a cada dia. Muito mais do que seria necess\u00e1rio para abastecer toda a popula\u00e7\u00e3o (cada um de n\u00f3s consome, em m\u00e9dia, cerca de 200 litros por dia). Isto \u00e9, o volume di\u00e1rio retirado do Para\u00edba \u00e9 cerca de cinco vezes o que seria estritamente necess\u00e1rio. Enquanto isto, o estoque de \u00e1gua nos reservat\u00f3rios localizados nas cabeceiras do Para\u00edba do Sul, em territ\u00f3rio paulista, est\u00e1 em cerca de 14% do volume m\u00e1ximo (estaria vazio, n\u00e3o fosse a a\u00e7\u00e3o preventiva).<\/p>\n\n\n\n

Em meados de Novembro esse estoque provavelmente chegar\u00e1 a 8%, que corresponde \u00e0 pior situa\u00e7\u00e3o observada no passado. Se as chuvas que normalmente caem em Novembro atrasarem, o racionamento ser\u00e1 inevit\u00e1vel. Como chegamos a esta situa\u00e7\u00e3o?<\/p>\n\n\n\n

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Devemos considerar, em primeiro lugar, que nos \u00faltimos anos tem sido abaixo do normal a chuva nas cabeceiras do Para\u00edba do Sul, onde \u00e9 poss\u00edvel guardar \u00e1gua na \u00e9poca de chuvas gordas para uso na \u00e9poca de chuvas magras. Em segundo lugar, como a polui\u00e7\u00e3o no Rio Guandu tem aumentado a cada ano, seria necess\u00e1rio retirar cada vez mais \u00e1gua do Rio Para\u00edba do Sul para manter a mesma concentra\u00e7\u00e3o de poluentes. <\/p>\n\n\n\n

Como, ao contr\u00e1rio, a retirada teve que ser reduzida, a concentra\u00e7\u00e3o aumentou, fazendo com que a CEDAE gastasse mais com produtos qu\u00edmicos (sulfato, cal e cloro) para limpar a \u00e1gua. Contudo, a situa\u00e7\u00e3o est\u00e1 t\u00e3o dif\u00edcil que a \u00e1gua do Guandu est\u00e1 perto de se tornar intrat\u00e1vel. Portanto, poder\u00e1 ocorrer racionamento n\u00e3o por falta de \u00e1gua, e sim porque ela est\u00e1 excessivamente suja. De onde vem tanta sujeira?<\/p>\n\n\n\n

Vem dos esgotos urbanos e industriais n\u00e3o tratados e do lixo carregado pelas chuvas para dentro dos cursos de \u00e1gua das bacias hidrogr\u00e1ficas do Para\u00edba do Sul e do Guandu. A situa\u00e7\u00e3o \u00e9 particularmente cr\u00edtica na Lagoa do Guandu, vizinha \u00e0 Esta\u00e7\u00e3o de Tratamento de \u00c1gua operada pela CEDAE, onde ocorre grande prolifera\u00e7\u00e3o de algas. Nesta lagoa desembocam os rios Dos Po\u00e7os, Queimados e Ipiranga, que atravessam os munic\u00edpios de Nova Igua\u00e7u, Queimados e Japeri, carreando esgoto in natura e lixo, produzidos por 182 mil habitantes.<\/p>\n\n\n\n

Desde o final da d\u00e9cada de 70 discute-se uma \u201csolu\u00e7\u00e3o emergencial\u201d para o problema, que seria uma obra de engenharia para deslocar o desemboque dos rios Dos Po\u00e7os, Queimados e Ipiranga para jusante (rio abaixo) da Esta\u00e7\u00e3o de Tratamento. Algumas alternativas para o projeto de desvio est\u00e3o descritas no relat\u00f3rio preparado pela COPPE-UFRJ em 2000, intitulado Estudo de Alternativas para Melhoria da Qualidade da \u00c1gua a Montante da ETA Guandu. Uma destas alternativas foi detalhada pela CEDAE e, segundo seu presidente, o projeto b\u00e1sico est\u00e1 praticamente conclu\u00eddo. Est\u00e1 previsto um desvio de 4,5m3\/s com custo estimado em R$ 12,5 milh\u00f5es. No or\u00e7amento da ANA – Ag\u00eancia Nacional de \u00c1guas para 2003 existe uma dota\u00e7\u00e3o de R$ 10 milh\u00f5es que poderia ser utilizada para esta finalidade, desde que os governos federal e estadual cheguem a um acordo sobre a urg\u00eancia desta iniciativa.<\/p>\n\n\n\n

Esse poss\u00edvel entendimento em torno da implementa\u00e7\u00e3o da solu\u00e7\u00e3o emergencial enfrentar\u00e1, al\u00e9m das dificuldades administrativas e pol\u00edticas de praxe, a razo\u00e1vel obje\u00e7\u00e3o daqueles que preferem partir logo para a solu\u00e7\u00e3o definitiva, a qual seria a coleta e o tratamento do esgoto produzido pelos 182 mil habitantes das bacias hidrogr\u00e1ficas dos rios Dos Po\u00e7os, Queimados e Ipiranga. Trata-se de um investimento da ordem de R$ 36 milh\u00f5es, que n\u00e3o foi feito devido \u00e0 persistente crise do setor de saneamento. Tipicamente, as empresas s\u00f3 conseguem receber pagamento por cerca 40% da \u00e1gua que tratam. Os outros 60% se esvaem pelos furos das tubula\u00e7\u00f5es com escassa manuten\u00e7\u00e3o, nos roubos de \u00e1gua atrav\u00e9s de \u201cgatos\u201d e nas contas n\u00e3o pagas. O resultado \u00e9 arrecada\u00e7\u00e3o insuficiente para contratar equipes e fazer investimentos que melhorem a opera\u00e7\u00e3o do sistema j\u00e1 existente e que permitam sua expans\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Nas \u00faltimas d\u00e9cadas, expressivos subs\u00eddios foram carreados para as companhias p\u00fablicas de saneamento. Entretanto, a maior parte dos subs\u00eddios serviu para alegrar empreiteiros, diminuir o custo do servi\u00e7o para os mais ricos, compensar a inefici\u00eancia operativa e dar vantagens aos empregados. A li\u00e7\u00e3o \u00e9 que a canaliza\u00e7\u00e3o de subs\u00eddios para empresas sob controle p\u00fablico n\u00e3o resultou em eq\u00fcidade social. Teria sido prefer\u00edvel que os subs\u00eddios fossem condicionados \u00e0 efetiva presta\u00e7\u00e3o de servi\u00e7os em benef\u00edcio daqueles que n\u00e3o conseguem pagar o correspondente custo ou da comunidade como um todo, principalmente para coleta e tratamento de esgotos. Isso resultaria em maior efic\u00e1cia e transpar\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Jerson Kelman – Diretor-Presidente da Ag\u00eancia Nacional de \u00c1guas
\nFonte: Revista Eco 21, Ano XIII, Novembro 2003. (www.eco21.com.br)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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