{"id":95,"date":"2009-02-09T14:42:45","date_gmt":"2009-02-09T14:42:45","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:31","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:31","slug":"a_biota_das_aguas_interiores","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_doce\/a_biota_das_aguas_interiores.html","title":{"rendered":"A biota das \u00e1guas interiores"},"content":{"rendered":"\n
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A integridade e o funcionamento dos ecossistemas aqu\u00e1ticos depende da intera\u00e7\u00e3o destes com o sistema terrestre, incluindo-se a\u00ed a origem. A diversidade da fauna e flora das \u00e1guas continentais est\u00e1 relacionada com os mecanismos de funcionamento de rios, lagos, \u00e1reas alagadas, represas, tais como o ciclo hidrol\u00f3gico, e a variedade de habitats e nichos. A din\u00e2mica dos ecossistemas de \u00e1guas continentais e da sua flora e fauna depende, portanto, de uma s\u00e9rie de fatores interdependentes. A biota de \u00e1guas interiores \u00e9 muito mais diversa e rica do que a dos oceanos. As \u00e1guas doces ocupam 0,0093% do volume total de \u00e1gua do planeta e, no entanto, 12% das esp\u00e9cies animais vivem nas \u00e1guas interiores (contra 7% que vivem nos oceanos). Cerca de 40% do total de 20.000 esp\u00e9cies de peixes vivem nas \u00e1guas doces.<\/p>\n\n\n\n

A flora e fauna dos ecossistemas aqu\u00e1ticos do Brasil, apresenta in\u00fameras caracter\u00edsticas relacionadas com o regime hidrol\u00f3gico dos grandes rios e \u00e1reas alagadas e de v\u00e1rzeas. O regime hidrom\u00e9trico tem condi\u00e7\u00f5es altamente flutuantes produzindo-se pulsos de freq\u00fc\u00eancia e magnitude variadas. Estes pulsos apresentam per\u00edodos de inunda\u00e7\u00e3o e seca produzindo grandes altera\u00e7\u00f5es na estrutura e funcionamento das comunidades aqu\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Adapta\u00e7\u00e3o a pulsos significa apresentar mecanismos de resist\u00eancia ao dessecamento ou \u00e0 inunda\u00e7\u00e3o. No caso de per\u00edodos longos de inunda\u00e7\u00e3o como ocore nas florestas inundadas no Amazonas, h\u00e1 mecanismos bioqu\u00edmicos especiais da vegeta\u00e7\u00e3o para toler\u00e2ncia \u00e0 inunda\u00e7\u00e3o. Por outro lado o dessecamento imp\u00f5e tamb\u00e9m condi\u00e7\u00f5es dr\u00e1sticas que produzem respostas da comunidade para resistir \u00e0 per\u00edodos de intensa seca; existem tr\u00eas mecanismos de sobreviv\u00eancia: deixar o sistema quando as condi\u00e7\u00f5es s\u00e3o adversas; produzir formas latentes que resistem dur\u00e1veis que suportam o dessecamento e altas temperaturas no sedimento.<\/p>\n\n\n\n

Plantas e animais desenvolvem estrat\u00e9gias para os per\u00edodos desfavor\u00e1reis durante a seca ou inunda\u00e7\u00e3o. Estas estrat\u00e9gias incluem a migra\u00e7\u00e3o de peixes entre o rio e os lagos de v\u00e1rzea, migra\u00e7\u00e3o de invertebrados terrestres para a ab\u00f3bada durante o per\u00edodo de inunda\u00e7\u00e3o ou a produ\u00e7\u00e3o de ovos de resist\u00eancia, ou est\u00e1gios de resist\u00eancia em esponjas e moluscos.<\/p>\n\n\n\n

Uma parte importante da biota aqu\u00e1tica, principalmente aquela constitu\u00edda pelas macr\u00f3fitas aqu\u00e1ticas, decomp\u00f5em-se durante per\u00edodos de seca, originando uma massa de detritos elevadas que sustenta uma flora microbiana extremamente diversificada e ativa. Algas perif\u00edticas tamb\u00e9m est\u00e3o associadas a esta vegeta\u00e7\u00e3o aqu\u00e1tica; estas algas tem papel importante na intera\u00e7\u00e3o entre os v\u00e1rios componentes do sistema uma vez que ciclos biogeoqu\u00edmicos fechados ocorrem a partir da intera\u00e7\u00e3o destas micr\u00f3fitas com as macr\u00f3fitas e animais herb\u00edvoros ou comedores de detritos.<\/p>\n\n\n\n

Grande parte da fauna e flora de rios do semi-\u00e1rido tem mecanismos de adapta\u00e7\u00e3o ao dessecamento devido a enorme diversidade de tipos de rios tempor\u00e1rios que ocorre na regi\u00e3o. Uma parte da flora e fauna do semi-\u00e1rido, tamb\u00e9m est\u00e1 adaptada \u00e0s flutua\u00e7\u00f5es de condutividade\/salinidade que ocorrem. Em muitos rios, represas artificiais ou lagos do semi-\u00e1rido a concentra\u00e7\u00e3o salina\/condutividade aumenta com a evapora\u00e7\u00e3o, estimulando mecanismos especiais de controle osm\u00f3tico devido \u00e0 maior salinidade.<\/p>\n\n\n\n

A fauna de peixes<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Um componente importante e fundamental da biota aqu\u00e1tica do Brasil s\u00e3o os peixes. As flutua\u00e7\u00f5es do n\u00edvel nos v\u00e1rios grandes rios (Amazonas e tribut\u00e1rios, e Paran\u00e1 e tribut\u00e1rios) s\u00e3o uma fonte de variabilidade e fluxo g\u00eanico, entre as comunidades dos rios e dos lagos adjacentes. Migra\u00e7\u00f5es e isolamento durante per\u00edodos de inunda\u00e7\u00e3o e seca, produzem mecanismos din\u00e2micos de altera\u00e7\u00e3o da estrutura e fun\u00e7\u00e3o nas comunidades com reflexo nos processos evolutivos. As muitas esp\u00e9cies de peixes de grandes rios, est\u00e3o adaptadas a processos de varia\u00e7\u00e3o hidrom\u00e9trica e correntes em grandes rios. A fauna de peixes da biota dos ecossistemas aqu\u00e1ticos do Brasil \u00e9 fundamentalmente uma fauna de grandes rios com poucas esp\u00e9cies verdadeiramente lacustres ocorrendo. Poucos mecanismos de isolamento g\u00eanico ocorrem. Os lagos do vale do Rio Doce s\u00e3o exemplos t\u00edpicos de ecossistemas aqu\u00e1ticos fragmentados onde isolamento gen\u00e9tico pode ter ocorido at\u00e9 certo ponto.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado a fauna de peixes de represas \u00e9 totalmente diversa, devido n\u00e3o s\u00f3 \u00e0s altera\u00e7\u00f5es ambientais causadas pela constru\u00e7\u00e3o da barragem, mas, principalmente pela introdu\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas, o que complica rela\u00e7\u00f5es alimentares e redes tr\u00f3ficas, rela\u00e7\u00f5es predador-presa e interfere direta e indiretamente nos processos biol\u00f3gicos que ocorrem nos lagos artificiais.<\/p>\n\n\n\n

Como registro importante da fauna de peixes de rios do Brasil deve-se considerar a intera\u00e7\u00e3o de um grande n\u00famero de esp\u00e9cies de peixes – mais de 250, com a floresta inundada. O grande n\u00famero de peixes que evoluiu com a floresta tropical \u00famida constitui uma enorme e importante fauna com alimento diversificado proveniente de sementes e frutos que s\u00e3o uma importante e fundamental intera\u00e7\u00e3o evolutiva, e um componente estrat\u00e9gico na rede alimentar e no uso da energia produzida pela floresta tropical \u00famida inundada.<\/p>\n\n\n\n

Flora e fauna de reservat\u00f3rios<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A constru\u00e7\u00e3o de represas produziu grandes altera\u00e7\u00f5es na biota de \u00e1guas interiores do Brasil. As grandes altera\u00e7\u00f5es ocorrem principalmente com a fauna de peixes, uma vez que as esp\u00e9cies sul-americanas est\u00e3o adaptadas a rios com correntes r\u00e1pidas, migrando para a reprodu\u00e7\u00e3o. A zona pel\u00e1gica dos reservat\u00f3rios \u00e9 muito pouco utilizada pelos peixes. Al\u00e9m da altera\u00e7\u00e3o produzida pela constru\u00e7\u00e3o de barragens, muitas represas foram repovoadas com esp\u00e9cies ex\u00f3ticas, tornando a rede alimentar a composi\u00e7\u00e3o das comunidades e a explora\u00e7\u00e3o comercial extremamente complexas. Tentativas para o repovoamento das represas com esp\u00e9cies nativas est\u00e3o em progresso. \u00c1reas alagadas associadas a represas s\u00e3o a fonte da diversidade e aumento da biomassa de esp\u00e9cies de peixes, crust\u00e1ceos, macr\u00f3fitas, aves e mam\u00edferos.<\/p>\n\n\n\n

Impactos na biodiversidade<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A biota das \u00e1guas interiores est\u00e1 submetida a uma s\u00e9rie de variados impactos decorrentes das atividades humanas nas diferentes bacias hidrogr\u00e1ficas e estes s\u00e3o:<\/p>\n\n\n\n