Somente 2% da superf\u00edcie do nosso planeta est\u00e1 ocupada pelas chamadas grandes cidades, as quais consomem 75% dos recursos naturais explorados pelo homem (Dias, 2002). No Brasil, mais de 80% da popula\u00e7\u00e3o reside em cidades, segundo o \u00faltimo senso divulgado pelo IBGE (2001). A crescente e desordenada urbaniza\u00e7\u00e3o e suas conseq\u00fc\u00eancias sobre as comunidades naturais, sempre fizeram parte das pautas de diferentes encontros internacionais sobre meio ambiente e sustentabilidade, como nos casos do Clube de Roma, Confer\u00eancia de Estocolmo (1972), a Comiss\u00e3o de Brundtland (1983), a Rio 92 (1992), a Confer\u00eancia Internacional sobre popula\u00e7\u00e3o e desenvolvimento e a H\u00e1bitat II (1996), dentre outras.<\/p>\n\n\n\n
Apesar da urg\u00eancia dos n\u00fameros, as cidades continuam crescendo por todo o mundo, consumindo recursos e contribuindo para uma perda sens\u00edvel da qualidade ambiental, especialmente relacionada aos recursos h\u00eddricos. Dentro desse panorama, a educa\u00e7\u00e3o e conscientiza\u00e7\u00e3o das gera\u00e7\u00f5es presente e futura possui um valor indiscut\u00edvel no processo de mudan\u00e7a de atitude, criando novas alternativas aos problemas trazidos pelo nosso estilo de vida.<\/p>\n\n\n\n
A educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica, especialmente a partir dos anos 1980, passou a se preocupar mais pela quest\u00e3o ambiental, construindo projetos os quais, na maioria das vezes, estavam direcionados aos problemas ambientais fora das grandes cidades.<\/p>\n\n\n\n
A diversidade de assuntos e enfoques atualmente dentro desses projetos \u00e9 enorme, indo desde aqueles que come\u00e7am e terminam dentro da pr\u00f3pria sala de aula at\u00e9 aqueles que extrapolam os limites f\u00edsicos das escolas. O cronograma escolar se adaptou rapidamente e passou a contar com viagens, excurs\u00f5es e visitas de dura\u00e7\u00e3o variada a diferentes regi\u00f5es onde ainda restam paisagens naturais. Com isso, houve uma valoriza\u00e7\u00e3o do enfoque ecossist\u00eamico e conservacionista, o qual se tornou bastante popular dentro dos chamados projetos de Educa\u00e7\u00e3o Ambiental ou Estudo do Meio Ambiente.<\/p>\n\n\n\n
Em um plano geral, s\u00e3o tr\u00eas os objetivos gerais dos programas de Educa\u00e7\u00e3o Ambiental ou Estudo do Meio Ambiente:<\/p>\n\n\n\n
1. Aquisi\u00e7\u00e3o de conhecimento: mostrar ao aluno de diferentes idades, aspectos importantes da din\u00e2mica de diferentes ambientes, enfocando, de maneira bastante geral, aspectos da fauna, flora, caracter\u00edsticas f\u00edsicas locais e, quando poss\u00edvel, entrar em contato com a popula\u00e7\u00e3o local na tentativa de despertar o interesse por diferentes h\u00e1bitos, culturas e tradi\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n
2. Sensibiliza\u00e7\u00e3o: utilizando-se de argumentos baseados em fatos cient\u00edficos ou n\u00e3o, a tentativa de sensibiliza\u00e7\u00e3o do aluno quanto \u00e0 import\u00e2ncia da preserva\u00e7\u00e3o dos ambientes naturais \u00e9 um ponto comum e importante em todo projeto. N\u00e3o h\u00e1, entretanto, nenhum v\u00ednculo entre a destrui\u00e7\u00e3o das paisagens naturais e nossa sobreviv\u00eancia nos centros urbanos, bem como n\u00e3o h\u00e1 conex\u00e3o entre a preserva\u00e7\u00e3o da natureza e nossa estrita depend\u00eancia de recursos.<\/p>\n\n\n\n
3.Integra\u00e7\u00e3o: fazer com que aluno sinta-se parte do grupo a que atualmente pertence, atrav\u00e9s de atividades l\u00fadicas e acad\u00eamicas em grupo.<\/p>\n\n\n\n
A possibilidade de poder participar ativamente do processo de elabora\u00e7\u00e3o de projetos de Educa\u00e7\u00e3o Ambiental, me fez notar que a efici\u00eancia dos mesmos, como o descrito acima, foi muito mais baixa do que gostaria, no sentido de incorpora\u00e7\u00e3o de novos conceitos e mudan\u00e7a de atitudes.<\/p>\n\n\n\n
Pensando nisso, notei que pontos importantes contribu\u00edram para a inefici\u00eancia dos projetos desenvolvidos. Um deles \u00e9 a enorme dist\u00e2ncia entre a realidade ambiental do aluno dos centros urbanos e a realidade ambiental dos locais onde se realizaram os projetos de Educa\u00e7\u00e3o Ambiental. H\u00e1 uma grande desvincula\u00e7\u00e3o entre o que se aborda nos trabalhos e o que o aluno vive no dia-a-dia. O contato dos alunos com ambientes naturais, mesmo praias ou fazendas, \u00e9 bastante espor\u00e1dico, afastando-o ainda mais dessa realidade. Outro ponto relevante \u00e9 a dura\u00e7\u00e3o desses projetos, muito restrita devido ao calend\u00e1rio escolar.<\/p>\n\n\n\n
Projetos que explorem fatos do cotidiano dos aluno e que possam ser desenvolvidos mais lenta e profundamente ao longo do ano letivo, e n\u00e3o aos trancos e barrancos em dois ou tr\u00eas dias, levam uma grande vantagem no processo de forma\u00e7\u00e3o do aluno. Dentro dessa id\u00e9ia, o uso da cidade como laborat\u00f3rio e campo de trabalho facilita o desenvolvimento de estudos de dura\u00e7\u00e3o e enfoques variados, desde o local, dentro do col\u00e9gio, at\u00e9 o global, abordando, por exemplo, reconstitui\u00e7\u00e3o ambiental, paisagismo, organiza\u00e7\u00e3o f\u00edsica dos centros urbanos e suas conseq\u00fc\u00eancias, etc; procurando fugir um pouco de temas comumente associados aos centros urbanos como polui\u00e7\u00e3o, lixo, coleta seletiva, reciclagem, dentre outros.<\/p>\n\n\n\n
A amplia\u00e7\u00e3o da vis\u00e3o do aluno de sua pr\u00f3pria realidade ambiental e como ele pode interferir cr\u00edtica e responsavelmente sobre ela deve ser o pilar central dos projetos em Educa\u00e7\u00e3o Ambiental Urbana (EAUrb). A mudan\u00e7a de enfoque confere um novo valor \u00e0 experi\u00eancia, sendo que o processo de sensibiliza\u00e7\u00e3o ocorre diariamente e n\u00e3o momentaneamente.Al\u00e9m disso, a possibilidade de dar continuidade ao trabalho dentro da sala de aula propicia um maior aprofundamento e uma avalia\u00e7\u00e3o mais justa e completa do aluno ou do grupo de trabalho.<\/p>\n\n\n\n
Por poder possuir uma dura\u00e7\u00e3o maior, os projetos em EAUrb podem possibilitar uma mudan\u00e7a significativa de atitude e pensamento, fazendo o aluno observar criticamente, fazer perguntas, coletar informa\u00e7\u00f5es, trabalhar e organizar essas informa\u00e7\u00f5es utilizando-se de diversas linguagens e, acima de tudo, propor solu\u00e7\u00f5es vi\u00e1veis para diferentes problemas.<\/p>\n\n\n\n
Trabalhar dentro de um esquema que envolva observa\u00e7\u00e3o \u2013 questionamento \u2013 coleta de dados \u2013 an\u00e1lise \u2013 desdobramentos \u2013 cria\u00e7\u00e3o de solu\u00e7\u00f5es, \u00e9 uma maneira eficiente de se escapar das apostilas que direcionam os pensamentos e a\u00e7\u00f5es individuais. Trabalhar sem estabelecer conceitos pr\u00e9vios \u00e9 tamb\u00e9m um desafio para o professor, fazendo que esse passe a ser apenas um intermedi\u00e1rio fundamental no processo de forma\u00e7\u00e3o ambiental de seus alunos, o que muda tamb\u00e9m sua rotina e modo de trabalho, tornando sua atua\u00e7\u00e3o mais prazerosa e gratificante.<\/p>\n\n\n\n
N\u00e3o pretendo, com tudo isso, desprestigiar os estudos do meio ambiente e interpreta\u00e7\u00e3o da natureza. Por\u00e9m, acredito que o enfoque e o modo de trabalho devam ser revistos e adaptados, fazendo com que o aluno construa seu pr\u00f3prio conhecimento, n\u00e3o se limitando ao que j\u00e1 foi produzido.<\/p>\n\n\n\n
O despertar da consci\u00eancia conservacionista pode percorrer caminhos bem mais curtos do que os atuais. O sucesso t\u00e3o almejado da mudan\u00e7a de mentalidade e de prepara\u00e7\u00e3o dos futuros cidad\u00e3os do mundo, ponto alto do processo educacional, pode estar mais pr\u00f3ximo que imaginamos, literalmente.<\/p>\n\n\n\n
Edson A. C. Grandisoli<\/em>\n<\/em><\/p>\n\n\n\n *Mestre em Ecologia de Ecossistemas Terrestres e Aqu\u00e1ticos pela USP.<\/em><\/p>\n\n\n\n\n *Professor de Ensino M\u00e9dio dos Col\u00e9gios Bandeirantes & Vera Cruz.<\/p>\n<\/em>\n\n\n\n <\/p>\n\n\n\n *Consultor pedag\u00f3gico da Escola da Amaz\u00f4nia. Somente 2% da superf\u00edcie do nosso planeta est\u00e1 ocupada pelas chamadas grandes cidades, as quais consomem 75% dos recursos naturais explorados pelo homem (Dias, 2002). <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1425],"tags":[23,105,107,109,106],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/898"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=898"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/898\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5733,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/898\/revisions\/5733"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=898"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=898"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=898"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
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