{"id":891,"date":"2009-03-24T10:21:57","date_gmt":"2009-03-24T10:21:57","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:13:50","modified_gmt":"2021-07-10T23:13:50","slug":"brincando_em_volta_das_folhas_de_araruta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/educacao\/artigos\/brincando_em_volta_das_folhas_de_araruta.html","title":{"rendered":"Brincando em volta das folhas de araruta"},"content":{"rendered":"\n
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Discurso de Wangari Maathai por ocasi\u00e3o do recebimento do Pr\u00eamio Nobel da Paz de 2004. Oslo, 10 de Dezembro de 2004.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Recebo, humildemente, este reconhecimento e sinto-me profundamente honrada pelo privil\u00e9gio de ser agraciada com o Pr\u00eamio Nobel da Paz. Como a primeira mulher africana a receber este Pr\u00eamio, eu o aceito em nome do povo do Qu\u00eania, da \u00c1frica, e, na verdade, do mundo. Tenho, em especial, na mente as mulheres e crian\u00e7as. Eu espero que isto as encorajem a levantar suas vozes e ocupar mais espa\u00e7os de lideran\u00e7a. Eu sei que esta distin\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m d\u00e1 um profundo sentimento de orgulho aos nossos homens, jovens e velhos. Como m\u00e3e, agrade\u00e7o a inspira\u00e7\u00e3o que esse t\u00edtulo traz \u00e0s jovens impulsionando-as a perseguirem os seus sonhos.<\/p>\n\n\n\n

Embora esse pr\u00eamio me tenha sido dado, ele reconhece o trabalho de incont\u00e1veis pessoas e grupos em todo o globo. Eles trabalham silenciosamente, e frequentemente sem reconhecimento, na prote\u00e7\u00e3o do meio ambiente, na promo\u00e7\u00e3o da democracia, na defesa dos direitos humanos, na garantia da igualdade entre homens e mulheres. <\/p>\n\n\n\n

Assim fazendo, eles plantam sementes de paz. Eu sei, eles, tamb\u00e9m, est\u00e3o orgulhosos hoje. A todos que se sentem representados por este pr\u00eamio, eu recomendo: utilizem-no para avan\u00e7arem em suas miss\u00f5es at\u00e9 atingirem as altas expectativas que o mundo deposita sobre n\u00f3s. <\/p>\n\n\n\n

\"qq\"\/<\/figure>\n\n\n\n

Esta honra tamb\u00e9m \u00e9 de minha fam\u00edlia, amigos, companheiros e daqueles que nos d\u00e3o suporte em todo o mundo. Todos eles ajudaram a formatar a mesma vis\u00e3o e sustentam nosso trabalho, que foi sempre desenvolvido sob condi\u00e7\u00f5es hostis. Sou grata ao povo do Qu\u00eania, que permaneceu esperan\u00e7oso de que a democracia poderia ser uma realidade e que o meio ambiente poderia ser gerenciado com sustentabilidade. Por causa de seu apoio, estou hoje aqui para receber esta grande honraria. \u00c9 um grande privil\u00e9gio incluir-me entre os meus companheiros africanos, tamb\u00e9m, agraciados Nelson Mandela e F. W. de Klerk, Arcebispo Desmond Tutu, Chefe Albert Luthuli, Anwar el-Sadat e Kofi Annan. <\/p>\n\n\n\n

Sei que os cidad\u00e3os africanos, onde quer que cada um esteja, ser\u00e3o estimulados por essa not\u00edcia. Meus companheiros africanos: ao recebermos este reconhecimento, devemos utiliz\u00e1-lo para intensificar nosso compromisso com o nosso povo, para reduzir conflitos e pobreza e assim melhorar qualidade de vida dele. Vamos defender o governo democr\u00e1tico, proteger os direitos humanos e proteger nosso meio ambiente. Acredito que haveremos de despertar. Sempre acreditei que as solu\u00e7\u00f5es para a maioria dos nossos problemas deveriam vir de n\u00f3s mesmos. <\/p>\n\n\n\n

Neste ano o Comit\u00ea Noruegu\u00eas do Nobel destacou o cr\u00edtico tema do meio ambiente e suas liga\u00e7\u00f5es com democracia e paz diante do mundo. Por sua a\u00e7\u00e3o vision\u00e1ria, eu estou profundamente agradecida. Admitir que desenvolvimento sustent\u00e1vel, democracia e paz s\u00e3o indivis\u00edveis \u00e9 uma id\u00e9ia que hoje se consagra. Nosso trabalho durante os \u00faltimos 30 anos tem-se voltado para essa realidade. <\/p>\n\n\n\n

Minha inspira\u00e7\u00e3o vem em parte de minhas experi\u00eancias de inf\u00e2ncia e observa\u00e7\u00f5es da natureza na zona rural do Qu\u00eania. Foi influenciada e nutrida pela educa\u00e7\u00e3o formal que tive o privil\u00e9gio de receber no Qu\u00eania, Estados Unidos e Alemanha. Enquanto crescia, testemunhava a devasta\u00e7\u00e3o da floresta para em seu lugar surgirem planta\u00e7\u00f5es comerciais, que destru\u00edam nossa biodiversidade local e a capacidade das florestas de conservar nossos recursos h\u00eddricos. <\/p>\n\n\n\n

Em 1977, quando comecei o Movimento Cintur\u00e3o Verde, eu, em parte, respondia a necessidades identificadas pelas mulheres rurais, tais como falta de lenha, \u00e1gua pot\u00e1vel limpa, nutri\u00e7\u00e3o balanceada, moradia e renda. Em toda a \u00c1frica, s\u00e3o as mulheres as principais guardi\u00e3s, que t\u00eam a significante responsabilidade de cultivar a terra e alimentar suas fam\u00edlias. Em raz\u00e3o disso, s\u00e3o elas as primeiras a se preocuparem com a degrada\u00e7\u00e3o do meio ambiente quando os recursos se tornam escassos e incapazes de providenciar o sustento suas fam\u00edlias. <\/p>\n\n\n\n

As mulheres com as quais trabalhei diziam j\u00e1 n\u00e3o ser mais poss\u00edvel atender as suas necessidades b\u00e1sicas. Isto devido \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o do meio ambiente em que viviam, bem como \u00e0 introdu\u00e7\u00e3o da agricultura comercial que substituiu o plantio de subsist\u00eancia. O com\u00e9rcio internacional controlou os pre\u00e7os das exporta\u00e7\u00f5es desses pequenos produtores impedindo que um justo e razo\u00e1vel ganho lhes fosse garantido. Eu vim a entender que quando o meio ambiente \u00e9 destru\u00eddo, saqueado e mal gerenciado, n\u00f3s solapamos nossa qualidade de vida e a das gera\u00e7\u00f5es futuras. <\/p>\n\n\n\n

O plantio de \u00e1rvores tornou-se uma escolha natural para solucionar alguns dos problemas b\u00e1sicos identificados pelas mulheres. Al\u00e9m disso, o plantio de \u00e1rvores \u00e9 simples, tang\u00edvel e garante rapidamente excelentes resultados. Isto mant\u00e9m o interesse e o comprometimento. <\/p>\n\n\n\n

Assim, juntas, n\u00f3s plantamos mais de 30 milh\u00f5es de \u00e1rvores que fornecem combust\u00edvel, comida, moradia e renda para manter a educa\u00e7\u00e3o de suas crian\u00e7as e necessidades do lar. A atividade tamb\u00e9m gera emprego e melhora o solo e os mananciais. Atrav\u00e9s desse envolvimento, as mulheres ganham certo poder sobre suas vidas, melhorando suas posi\u00e7\u00f5es econ\u00f4micas e sociais e suas relev\u00e2ncias na fam\u00edlia. O trabalho continua. <\/p>\n\n\n\n

Inicialmente, o trabalho foi dif\u00edcil porque historicamente nosso povo foi persuadido a acreditar que em raz\u00e3o da pobreza, lhes falta, tamb\u00e9m, tecnologia e habilidade para enfrentar seus desafios. S\u00e3o eles, pois, condicionados a crerem que as solu\u00e7\u00f5es dos seus problemas devem vir \u201cde fora\u201d. E mais, as mulheres n\u00e3o percebem que o atendimento de suas necessidades depende de um meio ambiente saud\u00e1vel e bem trabalhado. N\u00e3o estavam conscientes de que a degrada\u00e7\u00e3o do meio ambiente leva a uma escalada de escassez de recursos que pode culminar em mis\u00e9ria e at\u00e9 conflitos. Estavam ainda desavisadas das injusti\u00e7as dos acertos econ\u00f4micos internacionais. <\/p>\n\n\n\n

A fim de ajudar as comunidades a entenderem essas conex\u00f5es, n\u00f3s desenvolvemos um programa de educa\u00e7\u00e3o do cidad\u00e3o, no qual o povo identifica seus problemas, causas e poss\u00edveis solu\u00e7\u00f5es. Eles, ent\u00e3o, fazem as conex\u00f5es entre suas pr\u00f3prias a\u00e7\u00f5es pessoais e os problemas que constatam no meio ambiente e na sociedade. Eles aprendem que nosso mundo \u00e9 confrontado com a ladainha do sofrimento: corrup\u00e7\u00e3o, viol\u00eancia contra mulheres e crian\u00e7as, desestrutura\u00e7\u00e3o das fam\u00edlias, e desintegra\u00e7\u00e3o das culturas e comunidades. Eles tamb\u00e9m identificam o abuso de drogas e subst\u00e2ncias qu\u00edmicas, especialmente entre jovens. H\u00e1 doen\u00e7as devastadoras a desafiar a cura ou acontecendo em propor\u00e7\u00f5es epid\u00eamicas. <\/p>\n\n\n\n

De particular preocupa\u00e7\u00e3o s\u00e3o a AIDS, mal\u00e1ria e doen\u00e7as associadas \u00e0 desnutri\u00e7\u00e3o. No front do meio ambiente, eles est\u00e3o expostos a muitas atividades humanas que assolam o meio ambiente e as sociedades. Nelas se inclu\u00ed a vasta destrui\u00e7\u00e3o de ecossistemas, especialmente desflorestamentos, instabilidade clim\u00e1tica e contamina\u00e7\u00e3o do solo e \u00e1guas, que contribuem para a pobreza absoluta. No processo, os participantes descobrem que eles fazem parte da solu\u00e7\u00e3o. Eles se conscientizam de seus potenciais escondidos e s\u00e3o estimulados a vencer a in\u00e9rcia e a agir. Eles v\u00eam a reconhecer que s\u00e3o os guardi\u00f5es e benefici\u00e1rios do meio ambiente que os sust\u00eam. <\/p>\n\n\n\n

Comunidades inteiras tamb\u00e9m chegam ao entendimento de que enquanto \u00e9 necess\u00e1rio cobrar responsabilidades dos seus governos, \u00e9 igualmente importante que nos seus pr\u00f3prios relacionamentos, pratiquem os valores da lideran\u00e7a que desejam ver nos seus l\u00edderes, tais quais justi\u00e7a, integridade e credibilidade. Embora inicialmente as atividades de plantio de \u00e1rvores do Movimento Cintur\u00e3o Verde n\u00e3o tenham contemplado quest\u00f5es de democracia e paz, logo, logo ficou claro que a responsabilidade de administra\u00e7\u00e3o do meio ambiente seria imposs\u00edvel sem o espa\u00e7o democr\u00e1tico. <\/p>\n\n\n\n

Assim, a \u00e1rvore veio a ser um s\u00edmbolo para a luta democr\u00e1tica no Qu\u00eania. Cidad\u00e3os foram mobilizados para desafiar largamente o abuso de poder, a corrup\u00e7\u00e3o e a falta de gerenciamento ambiental. No Parque Uhuru de Nairobi, no \u201cCanto da Liberdade\u201d, e em muitos lugares no Pa\u00eds, as \u00e1rvores da paz foram plantadas para exigir a liberta\u00e7\u00e3o dos prisioneiros de consci\u00eancia e uma transi\u00e7\u00e3o pac\u00edfica para a democracia. Atrav\u00e9s do Movimento Cintur\u00e3o Verde, milhares de cidad\u00e3os comuns foram mobilizados durante \u00e9tnicos conf litos no Qu\u00eania quando o Movimento utilizou \u00e1rvores da paz para promover a concilia\u00e7\u00e3o entre comunidades conflitantes. <\/p>\n\n\n\n

Durante a revis\u00e3o constitucional, em curso, do Qu\u00eania, id\u00eanticas \u00e1rvores da paz foram plantadas em muitas partes do pa\u00eds para promover a cultura da paz. Utilizar a \u00e1rvore como um s\u00edmbolo de paz \u00e9 manter a larga tradi\u00e7\u00e3o africana. Por exemplo, os anci\u00e3os do Kikuiu carregavam um cajado de thigi que, quando colocado entre os dois lados da disputa, faziam parar a luta e buscar concilia\u00e7\u00e3o. Muitas comunidades na \u00c1frica t\u00eam essas tradi\u00e7\u00f5es. Tais pr\u00e1ticas fazem parte de uma extensa heran\u00e7a cultural, que contribui para a conserva\u00e7\u00e3o dos h\u00e1bitats e a cultura da paz. Com a destrui\u00e7\u00e3o dessas culturas e a introdu\u00e7\u00e3o de novos valores, a biodiversidade local deixa de ser valorizada ou protegida e como conseq\u00fc\u00eancia, rapidamente \u00e9 degradada e extinta. Por esta raz\u00e3o, o Movimento Cintur\u00e3o Verde explora o conceito da cultura da biodiversidade, especialmente no que tange a sementes nativas e plantas medicinais. <\/p>\n\n\n\n

\u00c0 medida que entendemos as causas da degrada\u00e7\u00e3o ambiental, vemos a necessidade do gerenciamento sustent\u00e1vel. De fato, a qualidade do meio ambiente local \u00e9 o reflexo do tipo de gerenciamento a ele dispensado, e sem bom gerenciamento n\u00e3o pode haver paz. Muitos pa\u00edses, que t\u00eam pobres sistemas de gerenciamento, s\u00e3o tamb\u00e9m propensos a ter conflitos e pobres leis protetoras do meio ambiente. <\/p>\n\n\n\n

Em 2002, a coragem, persist\u00eancia, paci\u00eancia e comprometimento dos membros do Movimento Cintur\u00e3o Verde, e outras organiza\u00e7\u00f5es civis, e a popula\u00e7\u00e3o do Qu\u00eania, foram respons\u00e1veis pela transi\u00e7\u00e3o pac\u00edfica para um governo democr\u00e1tico e lan\u00e7aram a funda\u00e7\u00e3o de uma sociedade mais est\u00e1vel. <\/p>\n\n\n\n

S\u00e3o transcorridos 30 anos desde que iniciei este trabalho. Atividades que devastam o meio ambiente e sociedades continuam a existir. Hoje n\u00f3s enfrentamos um desafio que nos exige uma mudan\u00e7a de pensar, de tal forma que a Humanidade pare de amea\u00e7ar seu sistema de apoio \u00e0 vida. N\u00f3s somos chamados a ajudar o Planeta a curar suas feridas, num processo de cura de n\u00f3s mesmos, na verdade, abra\u00e7ar a inteira cria\u00e7\u00e3o e toda sua biodiversidade, beleza e esplendor. <\/p>\n\n\n\n

Isto acontecer\u00e1 se enxergarmos a necessidade de restabelecer nosso senso de ser parte da mais ampla fam\u00edlia da vida, com quem n\u00f3s partilhamos nosso evolucion\u00e1rio processo. No curso da hist\u00f3ria, haver\u00e1 um tempo quando a humanidade \u00e9 chamada a mudar para um novo n\u00edvel de consci\u00eancia, para atingir um patamar moral mais alto. Um tempo no qual teremos de perder nosso medo e dar esperan\u00e7a a cada um. O tempo \u00e9 agora. <\/p>\n\n\n\n

O Comit\u00ea Noruegu\u00eas do Nobel desafiou o mundo a alargar o entendimento de paz: pode n\u00e3o haver paz sem desenvolvimento equilibrado; e pode n\u00e3o haver desenvolvimento sem gerenciamento sustent\u00e1vel do meio ambiente, num espa\u00e7o pac\u00edfico e democr\u00e1tico. Esta mudan\u00e7a \u00e9 uma id\u00e9ia trazida com o tempo. <\/p>\n\n\n\n

Eu conclamo todos os l\u00edderes, especialmente os da \u00c1frica, a expandirem o espa\u00e7o democr\u00e1tico e constru\u00edrem sociedades justas que permitam o florescimento da energia e criatividade de seus cidad\u00e3os. Aqueles que, como n\u00f3s, tiveram o privil\u00e9gio de receber educa\u00e7\u00e3o, capacita\u00e7\u00e3o, experi\u00eancias e at\u00e9 poder, devem ser modelos para as novas gera\u00e7\u00f5es de l\u00edderes. Neste aspecto, eu gostaria de pedir a liberta\u00e7\u00e3o de minha colega agraciada Aund San Suu Kyi, de tal forma que ela possa continuar seu trabalho pela paz e democracia do povo de Burma e do mundo em geral. <\/p>\n\n\n\n

A cultura desempenha um papel central na vida social, pol\u00edtica e econ\u00f4mica das comunidades. De fato, a cultura pode ser o link que falta ao desenvolvimento da \u00c1frica. A cultura \u00e9 din\u00e2mica e evolui no tempo, conscientemente, descartando retr\u00f3gradas tradi\u00e7\u00f5es, tais como a mutila\u00e7\u00e3o genital feminina (FGM), absorvendo aspectos que s\u00e3o \u00fateis e bons. Que os africanos, em especial, redescubram positivos aspectos de sua cultura. Aceitando-as, elas podem dar-lhes o senso de lhes pertencerem, de identidade e autoconfian\u00e7a. H\u00e1, ainda, a necessidade de unirse a sociedade civil e os movimentos populares para a catalisa\u00e7\u00e3o das mudan\u00e7as. Eu apelo aos governos para reconhecerem o papel desses movimentos sociais na constru\u00e7\u00e3o de uma massa cr\u00edtica de cidad\u00e3os respons\u00e1veis, que ajudem a manter o equil\u00edbrio em sociedade. De sua parte, a sociedade civil deve encampar n\u00e3o s\u00f3 seus direitos, mas tamb\u00e9m seus deveres. <\/p>\n\n\n\n

Mais ainda, ind\u00fastria e institui\u00e7\u00f5es globais devem entender que a garantia da justi\u00e7a econ\u00f4mica, eq\u00fcidade e integridade ecol\u00f3gica s\u00e3o mais valiosas do que lucros a qualquer pre\u00e7o. As extremas desigualdades globais e a preval\u00eancia dos padr\u00f5es de consumos existem \u00e0 custa do meio ambiente e da co-exist\u00eancia pac\u00edfica. Eu gostaria de apelar \u00e0 juventude a comprometerse com atividades que contribuam para que realize os seus sonhos de longo prazo. O jovem tem energia e criatividade para modelar um futuro sustent\u00e1vel. <\/p>\n\n\n\n

Para os jovens eu digo que voc\u00eas s\u00e3o um presente para suas comunidades e mesmo para o mundo. Voc\u00eas s\u00e3o a nossa esperan\u00e7a e o nosso futuro. A abordagem hol\u00edstica do desenvolvimento, como exemplificado pelo Movimento, pode ser abra\u00e7ada e multiplicada em muitas partes da \u00c1frica e al\u00e9m. \u00c9 por esta raz\u00e3o que criei a Funda\u00e7\u00e3o Wangari Maathai para assegurar a continua\u00e7\u00e3o e expans\u00e3o destas atividades. <\/p>\n\n\n\n

Ao concluir, eu reflito sobre minha experi\u00eancia de crian\u00e7a, quando eu ia a um riacho pr\u00f3ximo de nossa casa para trazer \u00e1gua para minha m\u00e3e. Eu bebia a \u00e1gua diretamente do riacho. Brincando em volta das folhas de araruta, eu tentava em v\u00e3o pegar cord\u00f5es de ovos de sapo, acreditando que fossem colares. Mas toda vez que eu colocava meu dedo por baixo deles, eles quebravam. Depois, eu vi milhares de girinos: pretos, energ\u00e9ticos e serpenteando nas claras \u00e1guas contra o fundo areia marrom. Este \u00e9 o mundo eu herdei de meus pais. Hoje, quase 50 anos depois, o riacho est\u00e1 seco, as mulheres caminham longas dist\u00e2ncias \u00e0 busca da \u00e1gua, que nem sempre \u00e9 limpa, e as crian\u00e7as nunca saber\u00e3o o que elas perderam. O desafio \u00e9 restaurar o lar dos girinos e devolver \u00e0s nossas crian\u00e7as o mundo de beleza e esplendor<\/p>\n\n\n\n

Por Wangari Maathai
\nAmbientalista, Pr\u00eamio Nobel da Paz 2004
\nTradu\u00e7\u00e3o: Eli Medeiros<\/em>\n<\/em><\/p>\n\n\n\n

Fonte: Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 97, Dezembro 2004. (www.eco21.com.br)
\n<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"