{"id":888,"date":"2009-01-09T11:49:23","date_gmt":"2009-01-09T11:49:23","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:18","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:18","slug":"etica_e_racismo_ambiental","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/educacao\/textos_educativos\/etica_e_racismo_ambiental.html","title":{"rendered":"\u00c9tica e racismo ambiental"},"content":{"rendered":"\n
\"qq\"\/<\/figure>\n\n\n\n

<\/span><\/div>\n\n\n\n

O conceito \u201cracismo ambiental\u201d se refere a qualquer pol\u00edtica, pr\u00e1tica ou diretiva que afete ou prejudique, de formas diferentes, volunt\u00e1ria ou involuntariamente, a pessoas, grupos ou comunidades por motivos de ra\u00e7a ou cor. Esta id\u00e9ia se associa com pol\u00edticas p\u00fablicas e pr\u00e1ticas industriais encaminhadas a favorecer as empresas impondo altos custos \u00e0s pessoas de cor. As institui\u00e7\u00f5es governamentais, jur\u00eddicas, econ\u00f4micas, pol\u00edticas e militares refor\u00e7am o racismo ambiental e influem na utiliza\u00e7\u00e3o local da terra, na aplica\u00e7\u00e3o de normas ambientais no estabelecimento de instala\u00e7\u00f5es industriais e, de forma particular, os lugares onde moram, trabalham e t\u00eam o seu lazer as pessoas de cor. O racismo ambiental est\u00e1 muito arraigado sendo muito dif\u00edcil de erradicar.<\/p>\n\n\n\n

A tomada de decis\u00f5es ambientais muitas vezes reflete os acordos de poder da sociedade predominante e das suas institui\u00e7\u00f5es. Isto prejudica as pessoas de cor, enquanto oferece vantagens e privil\u00e9gios para as empresas e os indiv\u00edduos das camadas mais altas da sociedade. A quest\u00e3o de quem paga e quem se beneficia das pol\u00edticas ambientais e industriais \u00e9 fundamental na an\u00e1lise do racismo ambiental.<\/p>\n\n\n\n

O racismo ambiental fortalece a estratifica\u00e7\u00e3o das pessoas (por ra\u00e7a, etnia, status social e poder), o lugar (nas cidades principais, bairros perif\u00e9ricos, \u00e1reas rurais, \u00e1reas n\u00e3o-incorporadas ou reservas ind\u00edgenas) e o trabalho (por exemplo, se oferece uma maior prote\u00e7\u00e3o aos trabalhadores dos escrit\u00f3rios do que aos trabalhadores agr\u00edcolas).<\/p>\n\n\n\n

Este conceito institucionaliza a aplica\u00e7\u00e3o desigual da legisla\u00e7\u00e3o; explora a sa\u00fade humana para obter benef\u00edcios; imp\u00f5e a exig\u00eancia da prova \u00e0s \u201cv\u00edtimas\u201d em lugar de \u00e0s empresas poluentes; legitima a exposi\u00e7\u00e3o humana a produtos qu\u00edmicos nocivos, agrot\u00f3xicos e subst\u00e2ncias perigosas; favorece o desenvolvimento de tecnologias \u201cperigosas\u201d; explora a vulnerabilidade das comunidades que s\u00e3o privadas de seus direitos econ\u00f4micos e pol\u00edticos; subvenciona a destrui\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica; cria uma ind\u00fastria especializada na avalia\u00e7\u00e3o de riscos ambientais; atrasa as a\u00e7\u00f5es de elimina\u00e7\u00e3o de res\u00edduos e n\u00e3o desenvolve processos precaut\u00f3rios contra a polui\u00e7\u00e3o como estrat\u00e9gia principal e predominante. A tomada de decis\u00f5es ambientais e o planejamento do uso da terra em n\u00edvel local acontecem dentro de interesses cient\u00edficos, econ\u00f4micos, pol\u00edticos e especiais, de tal forma que exp\u00f5em \u00e0s comunidades de cor a uma situa\u00e7\u00e3o perigosa. Isto \u00e9 particularmente verdade no Hemisf\u00e9rio Sul e, tamb\u00e9m, no Sul dos EUA, regi\u00e3o que foi convertida numa \u201c\u00e1rea de sacrif\u00edcio\u201d; um buraco negro para os res\u00edduos t\u00f3xicos. Fora disso, ela est\u00e1 impregnada pelo legado da escravid\u00e3o e pela resist\u00eancia bra\u00e7a \u00e0 justi\u00e7a eq\u00fcitativa para todos.<\/p>\n\n\n\n

O Hemisf\u00e9rio Sul (e tamb\u00e9m o Sul dos EUA) se caracteriza por pol\u00edticas ambientais equivocadas e pela concess\u00e3o de significativas dedu\u00e7\u00f5es fiscais. A aplica\u00e7\u00e3o simplificada das normas ambientais deu lugar a que o ar, a \u00e1gua e a terra dessas regi\u00f5es sejam mais contaminadas pelas ind\u00fastrias, principalmente das multinacionais estadunidenses.<\/p>\n\n\n\n

No Corredor Industrial do Baixo Mississipi, na Luisiana, t\u00eam-se estabelecido empresas petroqu\u00edmicas que produzem agrot\u00f3xicos, gasolina, tintas e pl\u00e1sticos. Os ecologistas e os residentes locais o apelidaram de \u201cBeco do C\u00e2ncer\u201d, sendo que os benef\u00edcios fiscais que recebem essas ind\u00fastrias poluentes criaram poucos postos de trabalho para esses elevados custos. A revista Time denunciou que na Luisiana foram eliminados U$ 3,1 bilh\u00f5es em impostos sobre propriedades de empresas poluentes. As cinco companhias mais poluentes receberam U$ 111 milh\u00f5es em benef\u00edcios no \u00faltimo dec\u00eanio. Este exemplo se aplica a in\u00fameras empresas dos pa\u00edses do Hemisf\u00e9rio Sul.<\/p>\n\n\n\n

Existe uma correla\u00e7\u00e3o direta entre a explora\u00e7\u00e3o da terra e a explora\u00e7\u00e3o das pessoas. De forma geral, os ind\u00edgenas s\u00e3o a parte da popula\u00e7\u00e3o que se defrontam com algumas das piores formas de polui\u00e7\u00e3o, entre elas a do merc\u00fario usado nos garimpos e as popula\u00e7\u00f5es marginais que vivem perto dos lix\u00f5es e aterros sanit\u00e1rios, incineradores e de outros tipos de opera\u00e7\u00f5es perigosas praticadas pelas empresas mineradoras. A polui\u00e7\u00e3o industrial se manifesta tamb\u00e9m no aleitamento materno das m\u00e3es das grandes cidades como S\u00e3o Paulo ou Nova Iorque. No caso dos EUA, as reservas dos ind\u00edgenas norte-americanos, est\u00e3o sendo sitiadas pelo \u201ccolonialismo radiativo\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O legado do racismo ambiental institucional privou a muitas na\u00e7\u00f5es com grande n\u00famero de ind\u00edgenas de uma infra-estrutura econ\u00f4mica capaz de combater a pobreza, o desemprego, a educa\u00e7\u00e3o e a aten\u00e7\u00e3o para a sa\u00fade e muitos outros problemas sociais. O racismo ambiental \u00e9 evidente em escala mundial. O transporte de res\u00edduos perigosos das comunidades ricas para as comunidades pobres n\u00e3o soluciona o crescente problema dos rejeitos em escala mundial. O transporte transfronteirizo de agrot\u00f3xicos proibidos, res\u00edduos perigosos e produtos t\u00f3xicos e a exporta\u00e7\u00e3o de \u201ctecnologias perigosas\u201d dos EUA \u2013 pa\u00eds onde a regula\u00e7\u00e3o e a legisla\u00e7\u00e3o s\u00e3o rigorosas \u2013 para na\u00e7\u00f5es com uma infra-estrutura e uma legisla\u00e7\u00e3o mais fracas, coloca em evid\u00eancia a desigualdade normativa.<\/p>\n\n\n\n

Os diferentes interesses e os acordos assinados pelos representantes do poder permitiram que as sust\u00e2ncias venenosas dos ricos sejam oferecidas aos pobres como rem\u00e9dio de curto prazo para paliar a sua pobreza. Esta situa\u00e7\u00e3o se observa tanto no plano nacional (nos EUA, onde as instala\u00e7\u00f5es dos res\u00edduos e as ind\u00fastria \u201csujas\u201d afetam desproporcionadamente as comunidades de baixa renda e as pessoas de cor), como no plano internacional (onde os res\u00edduos perigosos se transportam dos pa\u00edses membros da Organiza\u00e7\u00e3o para a Coopera\u00e7\u00e3o e o Desenvolvimento Econ\u00f4mico \u2013 OCDE aos Estados n\u00e3o pertencentes \u00e0 mesma).<\/p>\n\n\n\n

As pessoas de cor que se encontram em perigo nos pa\u00edses industrializados do Norte t\u00eam muito em comum com as popula\u00e7\u00f5es dos pa\u00edses em desenvolvimento, que tamb\u00e9m est\u00e3o amea\u00e7adas pelas empresas poluentes. Por exemplo, grupos comunit\u00e1rios do Norco (Estado de Luisiana) e de Ogoni (Nig\u00e9ria) identificaram a Shell como uma amea\u00e7a comum. Os ativistas da justi\u00e7a ambiental t\u00eam se mobilizado em grupos dentro das cidades, bairros e vilas, desde Atlanta at\u00e9 o Equador; do Alaska at\u00e9 a \u00c1frica do Sul; das reservas dos ind\u00edgenas dos EUA \u00e0s selvas tropicais da Col\u00f4mbia, El Salvador e do Brasil. Estes grupos t\u00eam se organizado, educado e empoderado a si mesmo, para desafiar o Governo e as empresas industriais poluentes.<\/p>\n\n\n\n

O racismo ambiental se manifesta no trato desigual que recebem os oper\u00e1rios. Milhares de trabalhadores do campo e as suas fam\u00edlias est\u00e3o expostos a perigosos agrot\u00f3xicos nas terras onde laboram. Igualmente eles s\u00e3o obrigados a aceitar sal\u00e1rios e condi\u00e7\u00f5es de trabalho inferiores ao n\u00edvel m\u00e9dio. O racismo ambiental tamb\u00e9m se expande pelo entorno das fun\u00e7\u00f5es exploradoras e escravizantes das empresas manufatureiras de roupa, da ind\u00fastria microeletr\u00f4nica e das ind\u00fastrias extrativistas. Uma percentagem desproporcionadamente elevada de trabalhadores que se defrontam a condi\u00e7\u00f5es trabalhistas e de seguran\u00e7a m\u00ednimas s\u00e3o imigrantes, mulheres e pessoas de cor.<\/p>\n\n\n\n

Por Robert Bullard – Soci\u00f3logo e Diretor do Environmental Justice Resource Center
\nFonte: Revista Eco 21, ano XV, N\u00ba 98, janeiro\/2005.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O conceito \u201cracismo ambiental\u201d se refere a qualquer pol\u00edtica, pr\u00e1tica ou diretiva que afete ou prejudique, de formas diferentes, volunt\u00e1ria ou involuntariamente, a pessoas, grupos ou comunidades por motivos de ra\u00e7a ou cor. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":889,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1437],"tags":[23,82,84,83],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/888"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=888"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/888\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5734,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/888\/revisions\/5734"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/889"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=888"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=888"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=888"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}