{"id":81,"date":"2009-02-06T17:47:17","date_gmt":"2009-02-06T17:47:17","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:31","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:31","slug":"a_piscicultura_em_tanque-rede_como_alternativa_no_pantanal","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_doce\/a_piscicultura_em_tanque-rede_como_alternativa_no_pantanal.html","title":{"rendered":"A Piscicultura em tanque-rede como Alternativa no Pantanal"},"content":{"rendered":"\n

Com cerca de 89 mil km\u00b2, o Pantanal sul-mato-grossense possui uma superf\u00edcie plana, com altitudes que variam de 100 m a 300 m em sua parte inund\u00e1vel, correspondendo a praticamente 25% da \u00e1rea total do estado do Mato Grosso do Sul (MS). Nas cheias pode ficar recoberto por uma l\u00e2mina d\u2019\u00e1gua cont\u00ednua de at\u00e9 25 km de largura. Possui clima quente e \u00famido, com primavera e ver\u00e3o muito quentes, e com inverno ameno, mas que eventualmente pode apresentar baixas temperaturas. Soma-se a estas caracter\u00edsticas o potencial h\u00eddrico proveniente da bacia do alto Paraguai (BAP) e pode-se concluir \u00e9 poss\u00edvel realizar o cultivo de peixes em praticamente toda a bacia. Por\u00e9m, as caracter\u00edsticas ambientais da plan\u00edcie pantaneira, que ocupa grande parte da BAP, impedem o desenvolvimento da piscicultura tradicional devido a sua inunda\u00e7\u00e3o peri\u00f3dica e nos obriga a buscar formas alternativas de cultivo, entre elas a utiliza\u00e7\u00e3o de tanques-redes, que consiste num sistema intensivo de cultivo e utiliza altas densidades de estocagem por m\u00b3.<\/p>\n\n\n\n

A piscicultura em tanque-rede \u00e9 uma t\u00e9cnica relativamente barata e simples, se comparada \u00e0 piscicultura tradicional em viveiros de terra. Essa t\u00e9cnica pode ser utilizada para aproveitar uma grande variedade de ambientes aqu\u00e1ticos, dispensando o alagamento de novas terras e reduzindo os gastos com a constru\u00e7\u00e3o de viveiros. No Brasil, a despeito do grande potencial que representam os seus quase seis milh\u00f5es de hectares de \u00e1guas represadas nos a\u00e7udes e grandes reservat\u00f3rios, constru\u00eddos principalmente com a finalidade de gera\u00e7\u00e3o de energia hidroel\u00e9trica, e, em Mato Grosso do Sul, com seu imenso recurso h\u00eddrico natural dispon\u00edvel, a produ\u00e7\u00e3o comercial de peixes em tanques-redes est\u00e1 apenas come\u00e7ando. <\/p>\n\n\n\n

Incentivando-se a implanta\u00e7\u00e3o e o desenvolvimento dessa atividade atrav\u00e9s do uso de tanques-redes poder\u00e1 haver um grande incremento na produ\u00e7\u00e3o brasileira de pescado, criando-se a\u00ed as condi\u00e7\u00f5es para instalar a fase de industrializa\u00e7\u00e3o que poder\u00e1 fazer de nossa regi\u00e3o e nosso Pa\u00eds um exportador de peixes de \u00e1gua doce. Mas para o sucesso do empreendimento, informa\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas sobre o crescimento das diferentes esp\u00e9cies de import\u00e2ncia econ\u00f4mica tornam-se necess\u00e1rias, a fim de se verificar quais s\u00e3o as mais produtivas em um sistema economicamente vi\u00e1vel e ambientalmente seguro, pois al\u00e9m da necessidade de se desenvolver um sistema de cultivo adequado \u00e0 regi\u00e3o, \u00e9 preciso conhecer as esp\u00e9cies mais promissoras para este sistema. Entre os peixes do Pantanal, muitos apresentam caracter\u00edsticas zoot\u00e9cnicas, organol\u00e9pticas e mercadol\u00f3gicas bastante atrativas para a piscicultura. Al\u00e9m disso, um dos aspectos mais importantes a serem considerados na implanta\u00e7\u00e3o da piscicultura \u00e9 a viabilidade econ\u00f4mica do projeto a ser implantado. Atualmente, o cultivo intensivo de peixes, quando realizado de forma adequada, \u00e9 uma das melhores alternativas de investimento em cria\u00e7\u00e3o animal e vem ganhando muitos adeptos entre os fazendeiros do MS. <\/p>\n\n\n\n

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Como tend\u00eancia regional pode-se afirmar que a pesca est\u00e1 propensa a sofrer restri\u00e7\u00f5es e que a sustentabilidade dos recursos pesqueiros na BAP vai depender cada vez mais da ado\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas que considerem os aspectos sociais e econ\u00f4micos, bem como das limita\u00e7\u00f5es ambientais. Essa situa\u00e7\u00e3o \u00e9 favor\u00e1vel ao crescimento da piscicultura, bem como pela potencialidade da BAP. Com o dom\u00ednio da tecnologia de reprodu\u00e7\u00e3o e cria\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies de interesse econ\u00f4mico, como o pintado (Pseudoplatystoma corruscans), o cachara (Pseudoplatystoma fasciatum), o pacu (Piaractus mesopotamicus) e a piraputanga (Brycon microlepis), a piscicultura pode colaborar com a redu\u00e7\u00e3o da press\u00e3o de pesca sobre os estoques naturais dessas esp\u00e9cies, as mais visadas pela pesca profissional artesanal no MS.<\/p>\n\n\n\n

A piscicultura no Pantanal apresenta-se como uma importante alternativa na produ\u00e7\u00e3o de prote\u00edna animal. Como a demanda por carne de peixe \u00e9 crescente, a tend\u00eancia \u00e9 o aumento da comercializa\u00e7\u00e3o e industrializa\u00e7\u00e3o, com a conseq\u00fcente adequa\u00e7\u00e3o \u00e0 produ\u00e7\u00e3o, objetivando atender um consumidor exigente quanto \u00e0 qualidade, diversidade e pre\u00e7o. Atualmente se comercializa no estado do Mato Grosso do Sul cerca de 2.000 t\/ano de pescado oriundo da piscicultura. Entretanto, esse volume ainda \u00e9 muito baixo, pois estima-se que o potencial de consumo no Estado seja de 10.000 t\/ano. Logo, h\u00e1 uma oportunidade de crescimento para a produ\u00e7\u00e3o gerada pela piscicultura, evitando-se que o mercado regional seja atendido por peixes de outras regi\u00f5es. Para se mudar esse quadro, \u00e9 necess\u00e1rio buscar alternativas que alavanquem a piscicultura, investindo-se na pesquisa de um sistema de cultivo que se encaixe nas necessidades da sociedade, visando atender as demandas internas, a conserva\u00e7\u00e3o ambiental, a produ\u00e7\u00e3o de empregos nas piscigranjas e o aumento da renda do setor.<\/p>\n\n\n\n

Outro fator favor\u00e1vel \u00e0 piscicultura \u00e9 a proibi\u00e7\u00e3o da pesca durante o per\u00edodo de defeso da piracema, que compreende a migra\u00e7\u00e3o reprodutiva dos peixes rio acima. Esse per\u00edodo pode variar de 3 a 4 meses, entre novembro e janeiro ou fevereiro. Nesse per\u00edodo de defeso h\u00e1 uma diminui\u00e7\u00e3o da oferta ou mesmo falta de pescado no mercado, favorecendo, assim, o suprimento desse peixe atrav\u00e9s da piscicultura. Al\u00e9m disso, para o desenvolvimento da piscicultura no Pantanal, \u00e9 necess\u00e1rio o estabelecimento de uma pol\u00edtica especifica, com uma legisla\u00e7\u00e3o e fiscaliza\u00e7\u00e3o pr\u00f3prias. \u00c9 preciso consider\u00e1-la uma atividade zoot\u00e9cnica, diferenciando-a da pesca extrativa, uma vez que ambas s\u00f3 possuem em comum o produto final, o pescado. <\/p>\n\n\n\n

Um fator desfavor\u00e1vel que ocorre na plan\u00edcie pantaneira e que prejudica o desenvolvimento da piscicultura \u00e9 o fen\u00f4meno natural da dequada. Esse fen\u00f4meno ocorre principalmente no rio Paraguai e resulta da deple\u00e7\u00e3o de oxig\u00eanio e do aumento da concentra\u00e7\u00e3o de g\u00e1s carb\u00f4nico na \u00e1gua devido aos processos oxidativos da mat\u00e9ria org\u00e2nica que entra em contato com a \u00e1gua na \u00e9poca das cheias. Assim, a dequada dificulta o sistema de cultivo em tanque-rede, pois limita a utiliza\u00e7\u00e3o dos corpos d’\u00e1gua durante os meses em que n\u00e3o est\u00e1 presente. Como a maioria das esp\u00e9cies nativas cultivadas na regi\u00e3o possui um ciclo de cria\u00e7\u00e3o superior a 10-12 meses, e o per\u00edodo sem a dequada fica geralmente entre 6 e 9 meses, n\u00e3o h\u00e1 possibilidade da utiliza\u00e7\u00e3o destes locais para o cultivo. Mesmo possuindo viveiros escavados na parte alta do Pantanal, para dar suporte \u00e0 alevinagem (fase inicial de cultivo), haveria uma concentra\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o em um per\u00edodo determinado do ano, logo antes da ocorr\u00eancia desse fen\u00f4meno, o que prejudicaria o fluxo de caixa dos produtores e deixaria margem para que as ind\u00fastrias ou os atravessadores diminu\u00edssem muito o pre\u00e7o do peixe neste per\u00edodo de grande oferta, acarretando um preju\u00edzo para o produtor, muitas vezes sem possibilidade de recupera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Portanto, nem todos os rios e regi\u00f5es da BAP possuem condi\u00e7\u00f5es para o desenvolvimento vi\u00e1vel da piscicultura em tanques-redes. Devem ser escolhidos, obrigatoriamente, os locais em que n\u00e3o h\u00e1 ocorr\u00eancia da dequada. Al\u00e9m disso, \u00e9 preciso considerar as dificuldades log\u00edsticas (transporte, m\u00e3o-de-obra, acessibilidade, etc.) dentro do Pantanal, pois como s\u00e3o aproximadamente 89 mil km\u00b2, tendo v\u00e1rias regi\u00f5es muito distantes e com dif\u00edcil acesso para se poder criar peixes de forma econ\u00f4mica. Uma forma de se conhecer os locais adequados para o cultivo de peixes na BAP seria atrav\u00e9s da realiza\u00e7\u00e3o de um zoneamento que levasse em considera\u00e7\u00e3o os aspectos mais relevantes para o sucesso da cria\u00e7\u00e3o, como clima, topografia e log\u00edstica.<\/p>\n\n\n\n

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Marco Aur\u00e9lio Rotta (rotta@cpap.embrapa.br), \u00e9 Eng.\u00ba Agr\u00f4nomo, M.Sc. em Zootecnia, pesquisador da Embrapa Pantanal, na \u00e1rea de Sistemas de Produ\u00e7\u00e3o Aq\u00fc\u00edcola.<\/p>\n\n\n\n

Por Marco Aur\u00e9lio Rotta<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A piscicultura no Pantanal apresenta-se como uma importante alternativa na produ\u00e7\u00e3o de prote\u00edna animal. Como a demanda por carne de peixe \u00e9 crescente, a tend\u00eancia \u00e9 o aumento da comercializa\u00e7\u00e3o e industrializa\u00e7\u00e3o. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":82,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1384],"tags":[687,641,945,946],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/81"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=81"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/81\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5281,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/81\/revisions\/5281"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/82"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=81"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=81"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=81"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}