{"id":583,"date":"2008-12-18T10:35:00","date_gmt":"2008-12-18T10:35:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:51","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:51","slug":"frutas_nativas_do_cerrado_qualidade_nutricional_e_sabor_peculiar","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/biotecnologia\/artigos_de_biotecnologia\/frutas_nativas_do_cerrado_qualidade_nutricional_e_sabor_peculiar.html","title":{"rendered":"Frutas nativas do cerrado: qualidade nutricional e sabor peculiar"},"content":{"rendered":"\n
\"Araticum<\/figure>\n\n\n\n
Araticum – Annora Crassiflora Mart..
Foto por T\u00e2nia Agostini Costa.
<\/span><\/div>\n\n\n\n

O Cerrado destaca-se pela riqueza de sua biodiversidade, que pode ser interpretada pela vasta extens\u00e3o territorial, pela posi\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica privilegiada, pela heterogeneidade vegetal, e por ser cortado pelas tr\u00eas maiores bacias hidrogr\u00e1ficas da Am\u00e9rica do Sul. Os frutos das esp\u00e9cies nativas do cerrado oferecem um elevado valor nutricional, al\u00e9m de atrativos sensoriais como, cor, sabor e aroma peculiares e intensos, ainda pouco explorados comercialmente.<\/p>\n\n\n\n

Algumas frutas nativas do cerrado, como o araticum, o buriti, a cagaita e o pequi, apresentam teores de vitaminas do complexo B, tais como as vitaminas B 1 , B 2 e PP, equivalentes ou superiores aos encontrados em frutas como o abacate, a banana e a goiaba, tradicionalmente consideradas como boas fontes destas vitaminas. Entretanto, grande parte das frutas nativas em regi\u00f5es t\u00edpicas de clima tropical \u00e9, especialmente, rica em caroten\u00f3ides. Os frutos de palmeiras, como o buriti, o tucum\u00e3, o dend\u00ea, a maca\u00faba e a pupunha s\u00e3o fontes potenciais de caroten\u00f3ides pr\u00f3-vitamina A.<\/p>\n\n\n\n

Aproximadamente 600 caroten\u00f3ides s\u00e3o encontrados na natureza, constituindo o maior grupo de corantes naturais, cuja colora\u00e7\u00e3o pode variar entre o amarelo claro, o alaranjado e o vermelho. Alguns podem ser convertidos em vitamina A; outros est\u00e3o associados \u00e0 redu\u00e7\u00e3o do risco de c\u00e2ncer e de outras doen\u00e7as cr\u00f4nico-degenerativas, sem que estes sejam primeiro convertidos em vitamina A. Esta \u00faltima fun\u00e7\u00e3o tem sido atribu\u00edda ao potencial antioxidante dos caroten\u00f3ides, que s\u00e3o capazes de seq\u00fcestrar formas altamente reativas de oxig\u00eanio e desativar radicais livres.<\/p>\n\n\n\n

A Dra. D\u00e9lia Rodriguez-Amaya, professora e pesquisadora da Unicamp, \u00e9 reconhecida internacionalmente pela avalia\u00e7\u00e3o dos alimentos brasileiros como fontes de caroten\u00f3ides. Segundo a autora, o buriti (Mauritia Vinifera) constitui uma das principais fontes de pr\u00f3-vitamina A encontradas na biodiversidade brasileira (6.490 microgramas de retinol equivalente por 100g de polpa). O elevado potencial pr\u00f3-vitam\u00ednico deste fruto \u00e9 resultado dos altos teores de beta-caroteno, principal fonte pr\u00f3-vitamina A encontrada no reino vegetal. Estudos realizados pela Dra. T\u00e2nia da Silveira Agostini-Costa, pesquisadora da Embrapa, em parceria com Dr. Daniel Barrera-Arellano, professor da Unicamp, refor\u00e7am o potencial pr\u00f3-vitamina A do buriti. Segundo trabalhos desenvolvidos por estes pesquisadores, um grama de \u00f3leo de buriti apresentou 1.181 microgramas de beta-caroteno, o que faz deste \u00f3leo uma das maiores fontes de pr\u00f3-vitamina A (18.339 microgramas de retinol equivalente por 100 g de \u00f3leo).<\/p>\n\n\n\n

O buriti n\u00e3o apresenta um consumo regular em todas as regi\u00f5es do Brasil; os frutos s\u00e3o consumidos, principalmente na forma de sucos e doces caseiros, pela popula\u00e7\u00e3o local de algumas \u00e1reas espec\u00edficas das regi\u00f5es Norte e Central. O Professor Jos\u00e9 Guilherme Mariath e colaboradores da Universidade Federal da Para\u00edba e do Instituto de Tecnologia de Pernambuco avaliaram o efeito da suplementa\u00e7\u00e3o alimentar com o doce de buriti sobre a manifesta\u00e7\u00e3o cl\u00ednica da hipovitaminose A em regi\u00f5es t\u00edpicas do semi-\u00e1rido. Os autores conclu\u00edram que a suplementa\u00e7\u00e3o alimentar de crian\u00e7as com idade entre 4 e 12 anos com 12g de doce de buriti por dia, durante 20 dias, foi suficiente para recuperar quadros de hipovitaminose A, com evid\u00eancias cl\u00ednicas de xeroftalmia, que \u00e9 um sintoma cl\u00ednico da defici\u00eancia de vitamina A caracterizado pela perda da vis\u00e3o. Embora o valor pr\u00f3-vitamina A do doce de buriti n\u00e3o tenha sido excessivamente elevado (134 microgramas de retinol equivalente), os excelentes resultados obtidos parecem confirmar a influ\u00eancia positiva da composi\u00e7\u00e3o lip\u00eddica do fruto (29%), que se conservou no doce (6,5%), favorecendo um aumento da biodisponibilidade, ou seja, um melhor aproveitamento dos caroten\u00f3ides pr\u00f3-vitamina A pelo organismo.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m das palmeiras, outras frutas nativas do cerrado brasileiro, de consumo regional bastante difundido, como o araticum e o pequi, tamb\u00e9m, s\u00e3o importantes fontes de caroten\u00f3ides. Frutos de araticum ou marolo (Annona crassiflora Mart.) procedentes de popula\u00e7\u00f5es nativas do sul de Minas Gerais apresentaram teores de pr\u00f3-vitamina A que variaram entre 70 e 105 retinol equivalente por 100g de polpa. A gel\u00e9ia caseira de araticum, processada termicamente, conservou melhor os teores de caroten\u00f3ides, de vitamina C e o potencial pr\u00f3-vitamina A do que o licor caseiro que foi obtido por infus\u00e3o alco\u00f3lica a frio. Vitaminas e antioxidantes s\u00e3o altamente inst\u00e1veis e suscept\u00edveis a degrada\u00e7\u00f5es durante o processamento p\u00f3s-colheita. A natureza do produto e as condi\u00e7\u00f5es de processamento e estocagem podem afet\u00e1-los, comprometendo a apar\u00eancia, o aroma e o valor nutritivo do alimento.<\/p>\n\n\n\n

Os valores pr\u00f3-vitamina A determinados no pequi (Caryocar brasiliensis) procedentes dos estados do Piau\u00ed e do Mato Grosso do Sul, respectivamente, variam entre 54 e 494 microgramas de retinol equivalente por 100g de polpa. A Dra. Maria Isabel Ramos e os seus colaboradores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul avaliaram o efeito do cozimento convencional do pequi sobre o teor de caroten\u00f3ides pr\u00f3-vitam\u00ednicos. A polpa fatiada de pequi foi cozida com arroz, de acordo com culin\u00e1ria regional. Embora o cozimento tenha comprometido 25% do valor pr\u00f3-vitam\u00ednico do fruto, ainda conservou 375 microgramas de retinol equivalente por 100g de polpa cozida, contribuindo significativamente para o enriquecimento da dieta.<\/p>\n\n\n\n

O Minist\u00e9rio da Sa\u00fade do Brasil tem estimulado a implementa\u00e7\u00e3o de programas de educa\u00e7\u00e3o alimentar para incentivar o consumo de alimentos ricos em vitamina A e em outros nutrientes. Muitos destes alimentos, como as frutas nativas, apresentam custo acess\u00edvel, mesmo para as popula\u00e7\u00f5es mais carentes. O uso sustentado destas fruteiras nativas pode ser uma excelente op\u00e7\u00e3o para melhorar a sa\u00fade da popula\u00e7\u00e3o brasileira e para agregar valor aos recursos naturais dispon\u00edveis no cerrado, melhorando a renda das pequenas comunidades rurais e favorecendo a preserva\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies nativas.<\/p>\n\n\n\n

Refer\u00eancias Bibliogr\u00e1ficas<\/p>\n\n\n\n

ALMEIDA, S. P. & AGOSTINI-COSTA, T. S. Frutas Nativas do cerrado: caracteriza\u00e7\u00e3o f\u00edsico-qu\u00edmica e fonte potencial de nutrientes. In: Cerrado: ambiente e flora . Bras\u00edlia: Embrapa Cerrados, Segunda edi\u00e7\u00e3o revisada e ampliada (no prelo).<\/p>\n\n\n\n

MARIATH, J. G. R.; LIMA, M. C. C.; SANTOS, L. M. P. Vitamin A activity of buriti ( Mauritia vinifera Mart ) and its effectiveness in the treatment and prevention of xerophthalmia. American Journal of Clinical Nutrition , v. 49, n. 5, p. 849-853, 1989.<\/p>\n\n\n\n

RAMOS, M. I. L.; UMAKI, M. C. S.; HIANE, P. A.; RAMOS-FILHO, M.M. Efeito do cozimento convencional sobre os caroten\u00f3ides pr\u00f3-vitam\u00ednicos A da polpa do pequi ( Caryocar brasiliense Camb ). Boletim CEPPA , v. 19, n.1, p.23-32, 2001.<\/p>\n\n\n\n

RODRIGUEZ-AMAYA, D. B. Assessment of the provitamin A contents of foods \u2013 the Brazilian experience. Journal of Food Composition and Analysis, v. 9, p.196-230, 1996.<\/p>\n\n\n\n

T\u00e2nia Agostini-Costa e Roberto Fontes Vieira – Embrapa Recursos Gen\u00e9ticos e Biotecnologia<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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