{"id":58,"date":"2015-02-05T12:32:44","date_gmt":"2015-02-05T12:32:44","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T19:16:08","modified_gmt":"2021-07-10T22:16:08","slug":"chuva_de_beber_cisternas_para_50_mil_familias_do_semi-arido","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_doce\/chuva_de_beber_cisternas_para_50_mil_familias_do_semi-arido.html","title":{"rendered":"Chuva de beber: cisternas para 50 mil fam\u00edlias do semi-\u00e1rido"},"content":{"rendered":"\n

As chuvas come\u00e7am, finalmente, a se constitu\u00edrem em fonte direta para atenuar a escassez de \u00e1gua nos dois extremos do Brasil, a pobre zona rural do Nordeste semi-\u00e1rido e a rica regi\u00e3o metropolitana de S\u00e3o Paulo. A primeira experi\u00eancia \u00e9 o Programa Um Milh\u00e3o de Cisternas Rurais (P1MC), lan\u00e7ado em 2000, para fazer do c\u00e9u um manancial de \u00e1gua pot\u00e1vel para cerca de 5 milh\u00f5es de pessoas nos pr\u00f3ximos cinco anos no interior do Nordeste, a\u00e7oitado por frequentes secas.<\/span><\/p>\n\n\n\n

O P1MC, premiado como \u201cuma solu\u00e7\u00e3o definitiva para a falta de \u00e1gua pot\u00e1vel\u201d na regi\u00e3o, \u00e9 uma parceria do Minist\u00e9rio do Desenvolvimento Social e Combate \u00e0 Fome (MDS) e da Articula\u00e7\u00e3o no Semi-\u00c1rido Brasileiro (ASA), uma rede de 750 ONGs, sindicais, comunit\u00e1rias e eclesi\u00e1sticas.<\/p>\n\n\n\n

Na semi-\u00e1rida Regi\u00e3o Nordeste do Brasil chove pelo menos 200 mil\u00edmetros nos anos mais secos, o suficiente para abastecer cinco pessoas por ano com o armazenamento da \u00e1gua que cai no telhado.<\/p>\n\n\n\n

Atualmente, durante a seca, as pessoas, em geral as m\u00e3es de fam\u00edlia, t\u00eam de caminhar v\u00e1rias horas em busca de \u00e1gua nos a\u00e7udes compartilhados com animais e parasitas, a \u00fanica fonte dispon\u00edvel, mas tamb\u00e9m causa de diarr\u00e9ias e da elevada mortalidade infantil da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

S\u00e3o incont\u00e1veis as horas perdidas nesse \u201cir e vir, a lata de \u00e1gua pesando em meus bra\u00e7os, roubando meu tempo, levando minhas for\u00e7as e minha juventude, minando nossas esperan\u00e7as\u201d, descreveu Josefa Cabral do Nascimento, uma vi\u00fava de 56 anos, em um testemunho \u00e0 ASA. Como uma das primeiras beneficiadas do programa, Josefa disse que n\u00e3o p\u00f4de \u201cconter as l\u00e1grimas… de felicidade, de vida nova\u201d, ao ver constru\u00edda ao lado de sua casa a cisterna com que sonhou durante d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

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Placas pr\u00e9-fabricadas de cimento facilitam a constru\u00e7\u00e3o das cisternas pela pr\u00f3pria popula\u00e7\u00e3o, em um trabalho coletivo volunt\u00e1rio que permite reduzir o custo, que gira em pouco mais de R$ 1.000.<\/span><\/p>\n\n\n\n

Trata-se de tanques cil\u00edndricos com uma parte colocada em um buraco no solo e capacidade para 16 mil litros. N\u00e3o se trata simplesmente de p\u00f4r fim \u00e0 sede, aos parasitas intestinais generalizados e ao sacrif\u00edcio de buscar \u00e1gua longe, sempre a cargo das mulheres, disse Jo\u00e3o Amorim, gerente operacional do P1MC. Apenas comunidades organizadas participam do programa.<\/p>\n\n\n\n

As pessoas beneficiadas t\u00eam de fazer um curso de dois dias sobre cuidados que devem ter, como jogar fora as primeiras \u00e1guas que caem, pois limpam o telhado. Tamb\u00e9m devem tratar a \u00e1gua com cloro, para garantir sua descontamina\u00e7\u00e3o. O P1MC compreende conhecimentos sobre o meio ambiente local e melhores formas de viver nele, como indica seu nome completo, que \u00e9 Programa de Forma\u00e7\u00e3o e Mobiliza\u00e7\u00e3o Social para a Conviv\u00eancia com o Semi-\u00c1rido: Um Milh\u00e3o de Cisternas Rurais.<\/p>\n\n\n\n

A organiza\u00e7\u00e3o comunit\u00e1ria \u00e9 a chave para resolver outros problemas. O Programa contou com escassos recursos em sua fase de testes, suficientes para apenas cinco mil cisternas. Agora, inclu\u00eddo nos programas sociais do governo do Presidente Luiz In\u00e1cio Lula da Silva, conta com contribui\u00e7\u00f5es do Minist\u00e9rio da Seguran\u00e7a Alimentar para a constru\u00e7\u00e3o imediata de 12.040 cisternas, informou Amorim. Outras 20 mil ser\u00e3o constru\u00eddas com contribui\u00e7\u00f5es da Federa\u00e7\u00e3o Brasileira de Bancos (FEBRABAN).<\/p>\n\n\n\n

A meta \u00e9 atingir 50 mil cisternas at\u00e9 o final do pr\u00f3ximo semestre, acelerando o ritmo nos pr\u00f3ximos anos com a ades\u00e3o de novos \u201cs\u00f3cios\u201d p\u00fablicos e privados, para chegar a completar um milh\u00e3o em 2008, disse o gerente do projeto.<\/p>\n\n\n\n

A Associa\u00e7\u00e3o Programa Um Milh\u00e3o de Cisternas (AP1MC) \u00e9 uma OSCIP (Organiza\u00e7\u00e3o da Sociedade Civil de Interesse P\u00fablico) que comp\u00f5e a Articula\u00e7\u00e3o Semi\u00e1rido Brasileiro (ASA). Criada em 2002, com o objetivo de gerenciar o Programa Um Milh\u00e3o de Cisternas (P1MC), a Associa\u00e7\u00e3o, em 2007, tamb\u00e9m passou a fazer a gest\u00e3o do Programa Uma Terra e Duas \u00c1guas (P1+2).<\/p>\n\n\n\n

Desde que surgiu, em 2003, at\u00e9 a data de 29\/12\/2014 foram constru\u00eddas somente 564.212 cisternas, n\u00e3o atingindo o objetivo inicial do programa, como citado anteriormente, onde a meta seria um milh\u00e3o de cisternas em 2008. A constru\u00e7\u00e3o beneficiou mais de 2 milh\u00f5es de pessoas. Para que esses resultados pudessem ser alcan\u00e7ados, a ASA conta com a parceria de pessoas f\u00edsicas, empresas privadas, ag\u00eancias de coopera\u00e7\u00e3o e do governo federal.<\/p>\n\n\n\n

A \u00e1rea de atua\u00e7\u00e3o do P1MC \u00e9 a zona rural do semi-\u00e1rido brasileiro, constitu\u00edda pelos nove estados da Regi\u00e3o Nordeste (Maranh\u00e3o, Piau\u00ed, Cear\u00e1, Rio Grande do Norte, Para\u00edba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia) e mais a regi\u00e3o setentrional de Minas Gerais e o norte do Esp\u00edrito Santo, abrangendo 1.300 munic\u00edpios. Sua \u00e1rea total \u00e9 de 974.752 km2, sendo 86,5% dela localizada no Nordeste, 11% em Minas Gerais e 2,5% no Esp\u00edrito Santo.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 o momento, os principais parceiros da ASA no P1MC t\u00eam sido o MDS e a FEBRABAN, cujos conv\u00eanios firmados t\u00eam permitido a continuidade e expans\u00e3o do programa, atendendo a centenas de milhares de fam\u00edlias de pequenos agricultores do semi\u00e1rido brasileiro, particularmente os sertanejos da regi\u00e3o Nordeste.<\/p>\n\n\n\n

Para que se tenha uma ideia da magnitude dessa participa\u00e7\u00e3o, em 2001 foram constru\u00eddas 500 cisternas, com recursos do MDS. Em 2002, esse n\u00famero saltou para 7 mil, quase dobrando no ano seguinte (11 mil cisternas), e, em 2004, superou a marca de 36 mil unidades. Segundo a Assessoria de Comunica\u00e7\u00e3o do MDS, entre janeiro de 2003 e abril de 2005 o Governo Federal foi o respons\u00e1vel direto pelo financiamento de 65% das cisternas constru\u00eddas na regi\u00e3o. Nesse per\u00edodo, foram investidos R$ 72 milh\u00f5es, que possibilitaram a constru\u00e7\u00e3o de 50 mil cisternas e atendimento a 250 mil moradores das zonas rurais do semi-\u00e1rido nordestino e tamb\u00e9m na regi\u00e3o setentrional de Minas Gerais e norte do Esp\u00edrito Santo.<\/p>\n\n\n\n

No decorrer de 2005, o MDS foram investidos outros R$ 68 milh\u00f5es para essa finalidade, dos quais R$ 30 milh\u00f5es foram repassados para a ASA no primeiro semestre, para a constru\u00e7\u00e3o de mais 20 mil cisternas rurais (Carta Capital, No. 441, de 11 de maio de 2005). A FEBRABAN, por sua vez, em maio de 2003 assinou um Acordo de Coopera\u00e7\u00e3o T\u00e9cnica com a AP1MC para que esta constru\u00edsse 10 mil cisternas, atendendo a aproximadamente 50 mil fam\u00edlias rurais do semi-\u00e1rido, com acesso a \u00e1gua pot\u00e1vel para consumo humano, melhorando a qualidade de vida dessas fam\u00edlias.<\/p>\n\n\n\n

O Programa tamb\u00e9m dever\u00e1 fortalecer as organiza\u00e7\u00f5es da sociedade civil envolvidas na sua execu\u00e7\u00e3o, assim como implementar um processo de forma\u00e7\u00e3o que considere a educa\u00e7\u00e3o para a conviv\u00eancia com o semi-\u00e1rido e a participa\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o beneficiada nas pol\u00edticas p\u00fablicas como sujeito de direitos.<\/p>\n\n\n\n

Em uma realidade totalmente diferente do empobrecido Nordeste, a Grande S\u00e3o Paulo, capital econ\u00f4mica do Brasil, enfrenta uma nova amea\u00e7a de racionamento de \u00e1gua. Chuvas menos freq\u00fcentes do que o normal no in\u00edcio deste ano agravaram uma crise que \u00e9 estrutural, com mananciais contaminados e afetados pelo desmatamento nas proximidades.<\/p>\n\n\n\n

A Companhia de Saneamento B\u00e1sico do Estado de S\u00e3o Paulo (SABESP) calcula que seu atual sistema atender\u00e1 somente at\u00e9 2010 as necessidades da regi\u00e3o metropolitana, onde vivem 17 milh\u00f5es dos 172 milh\u00f5es de habitantes do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o \u00e9 um problema de escassez de chuva. A Grande S\u00e3o Paulo tamb\u00e9m vive o drama das inunda\u00e7\u00f5es em todos os seus ver\u00f5es, quando chove muito. Por isso, as \u00e1guas constituem um duplo tormento e captar as fornecidas pelas chuvas pode atenu\u00e1-los.<\/p>\n\n\n\n

O volume captado ser\u00e1 sempre pequeno em rela\u00e7\u00e3o ao que inunda a cidade, mas seria importante para amenizar o \u00edmpeto da torrente em seu cl\u00edmax, disse Ivanildo Hespanhol, professor da Escola Polit\u00e9cnica da Universidade de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n

Com esse objetivo, as autoridades locais est\u00e3o construindo, h\u00e1 anos, os chamados piscin\u00f5es, grandes tanques que servem para reter parte das \u00e1guas da chuva. Essa alternativa poderia ser adotada por numerosos edif\u00edcios e resid\u00eancias, com o aproveitamento da \u00e1gua da chuva para usos que n\u00e3o exijam potabilidade, como limpeza, vasos sanit\u00e1rios e irriga\u00e7\u00e3o, disse Hespanhol, descartando seu uso para beber, devido \u00e0 contamina\u00e7\u00e3o do ar. Alguns edif\u00edcios de S\u00e3o Paulo usam esse sistema, buscando reduzir custos. A \u00e1gua \u00e9 o segundo maior gasto nos edif\u00edcios de apartamentos, perdendo apenas para o pagamento de sal\u00e1rios dos funcion\u00e1rios, segundo as administradoras. A prefeitura paulistana estimula projetos nesse sentido.<\/p>\n\n\n\n

Entretanto, s\u00e3o iniciativas sem crit\u00e9rio, pois aproveitar as chuvas \u00e9 uma quest\u00e3o de engenharia, afirmou Hespanhol. O armazenamento dessas \u00e1guas deveria ser feito diretamente no teto, para uso nos grifos, evitando o gasto de energia para bombear a \u00e1gua, por exemplo. Isso muda o edif\u00edcio, devendo estar previsto desde sua constru\u00e7\u00e3o, acrescentou. Al\u00e9m da capta\u00e7\u00e3o de \u00e1gua pluvial, mais vi\u00e1vel em ind\u00fastrias e outras atividades que ocupam \u00e1reas extensas com muito consumo h\u00eddrico, deve-se combinar o reuso da \u00e1gua servida e tratada. No futuro ser\u00e3o necess\u00e1rias tubula\u00e7\u00f5es distintas para separar a \u00e1gua pot\u00e1vel das demais, explicou o engenheiro, especialista em reuso de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

M\u00e1rio Osava – Jornalista
\nFonte: Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 96, Novembro 2004. (www.eco21.com.br)
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