{"id":577,"date":"2008-12-18T09:53:14","date_gmt":"2008-12-18T09:53:14","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:53","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:53","slug":"cerrado_esta_ameacado_pelo_algodao_transgenico","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/biotecnologia\/artigos_de_biotecnologia\/cerrado_esta_ameacado_pelo_algodao_transgenico.html","title":{"rendered":"Cerrado est\u00e1 amea\u00e7ado pelo algod\u00e3o transg\u00eanico"},"content":{"rendered":"\n
\"ab\"\/<\/figure>\n\n\n\n

A Comiss\u00e3o T\u00e9cnica Nacional de Biosseguran\u00e7a (CTNBio) liberou, sem estudos dos poss\u00edveis efeitos negativos no meio ambiente, o plantio e a produ\u00e7\u00e3o de tr\u00eas variedades de algod\u00e3o transg\u00eanico para plantio comercial, uma da Bayer e duas da multinacional Monsanto, colocando em risco a biodiversidade do Cerrado, sem aguardar a san\u00e7\u00e3o presidencial \u00e0 Lei de Biosseguran\u00e7a, que regulamenta o processo de libera\u00e7\u00e3o dos transg\u00eanicos. A variedade \u201cBollgard\u201d (com tecnologia Bt) liberada \u00e9 uma planta inseticida.<\/p>\n\n\n\n

A CTNBio aprovou a libera\u00e7\u00e3o do algod\u00e3o \u201cBollgard\u201d, com base em 23 estudos feitos pela pr\u00f3pria Monsanto. O \u00fanico integrante da CTNBio a votar contra foi Rubens Nodari, representante do Minist\u00e9rio do Meio Ambiente, que solicitou um estudo de impacto ambiental e questionou os estudos realizados pela parte interessada. O estudo do impacto ambiental nas terras brasileiras \u00e9 fundamental e deveria ser de responsabilidade de entidades aut\u00f4nomas.<\/p>\n\n\n\n

A Monsanto j\u00e1 teve \u00eaxito na CTNbio agindo da mesma forma em 1998; isto \u00e9, apresentando \u201cestudos\u201d de efici\u00eancia agron\u00f4mica produzidos por ela mesma. Na \u00e9poca conseguiu aprova\u00e7\u00e3o para a soja Roundup Ready, sem apresentar nenhum estudo sobre poss\u00edveis efeitos negativos tanto para a sa\u00fade humana quanto para o meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

\u201cOs cientistas que aprovaram a libera\u00e7\u00e3o do algod\u00e3o n\u00e3o t\u00eam nenhuma responsabilidade com a biodiversidade nacional nem com o Pa\u00eds. Agiram de olho no mercado, para atender os interesses da Monsanto; s\u00e3o desqualificados para a atividade de biosseguran\u00e7a\u201d, disse o Deputado Federal Edson Duarte (PV), a respeito da decis\u00e3o da CTNBio. No ano passado Edson Duarte encaminhou uma den\u00fancia sobre a entrada ilegal de sementes de algod\u00e3o transg\u00eanico. Quatro meses depois, ao inv\u00e9s de buscar conter o contrabando e a contamina\u00e7\u00e3o dos campos, a CTNBio liberou a venda de sementes de algod\u00e3o contaminado.<\/p>\n\n\n\n

O Deputado pretende convocar o Presidente da CTNBio para explicar na C\u00e2mara, em audi\u00eancia p\u00fablica, os motivos que o levaram a decidir pela libera\u00e7\u00e3o das sementes de algod\u00e3o transg\u00eanico.<\/p>\n\n\n\n

O algod\u00e3o \u201cBollgard\u201d da Monsanto, tratado com um gene de resist\u00eancia a antibi\u00f3tico, \u00e9 uma planta de poliniza\u00e7\u00e3o cruzada, ou seja, seu p\u00f3len pode fecundar outras plantas distantes. A regi\u00e3o do Cerrado \u00e9 centro de origem do algod\u00e3o e as variedades selvagens podem ser contaminadas com o p\u00f3len de plantas transg\u00eanicas, gerando a perda das esp\u00e9cies nativas.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Ventura Barbeiro, Engenheiro agr\u00f4nomo do Greenpeace \u201cos atuais integrantes da CTNBio est\u00e3o aproveitando os seus \u00faltimos dias de poder para liberar apressadamente todos os pedidos que beneficiam as grandes corpora\u00e7\u00f5es de biotecnologia; a aprova\u00e7\u00e3o antes da san\u00e7\u00e3o presidencial \u00e0 Lei de Biosseguran\u00e7a \u00e9 um ato ilegal e irrespons\u00e1vel. A libera\u00e7\u00e3o traduz-se em ato ilegal e arbitr\u00e1rio, que viola decis\u00e3o judicial em vigor.<\/p>\n\n\n\n

A decis\u00e3o judicial vigente \u00e9 aquela proferida nos autos da A\u00e7\u00e3o Civil P\u00fablica que pro\u00edbe a libera\u00e7\u00e3o de qualquer variedade de semente transg\u00eanica. Permanecem preservadas as compet\u00eancias dos Minist\u00e9rios incumbidos da aplica\u00e7\u00e3o da legisla\u00e7\u00e3o vigente de exigir e conduzir pr\u00e9vio Estudo de Impacto Ambiental (EIA\/RIMA) e licenciamento ambiental.<\/p>\n\n\n\n

A motiva\u00e7\u00e3o da CTNBio em apressar a libera\u00e7\u00e3o \u00e9 parte de uma estrat\u00e9gia para garantir a libera\u00e7\u00e3o desse cultivar assim que o Presidente Lula sancione a Lei de Biosseguran\u00e7a. A nova Lei de Biosseguran\u00e7a, pretende em seus Artigos 30, 32 e 34 \u201cconvalidar\u201d os atos ilegais e inconstitucionais praticados pela CTNBio tornando permanente os registros provis\u00f3rios concedido por esta Comiss\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Com a san\u00e7\u00e3o presidencial, as decis\u00f5es tomadas antes do dia da san\u00e7\u00e3o tornam-se definitivas. \u201cIsso \u00e9 um esc\u00e2ndalo, um ato imoral, que a sociedade brasileira n\u00e3o pode tolerar; a libera\u00e7\u00e3o de uma planta com dois genes que podem conferir resist\u00eancia a antibi\u00f3ticos para microorganismos \u00e9 uma irresponsabilidade\u201d, disse o engenheiro agr\u00f4nomo do Greenpeace, Ventura Barbeiro.<\/p>\n\n\n\n

A Comiss\u00e3o T\u00e9cnica Nacional de Biosseguran\u00e7a sofrer\u00e1 modifica\u00e7\u00f5es com a nova Lei, passando de 18 para 27 integrantes. Ao demandar um tempo maior para a composi\u00e7\u00e3o da nova equipe, esse fato impedir\u00e1 momentaneamente libera\u00e7\u00f5es comerciais de alimentos transg\u00eanicos para a pr\u00f3xima safra; por isso, a pressa nessa aprova\u00e7\u00e3o. A Lei de Biosseguran\u00e7a aguarda uma decis\u00e3o presidencial sobre o veto de dois pol\u00eamicos artigos que atribuem poder total \u00e0 CTNBio sobre o tema transg\u00eanicos e tornam facultativa a realiza\u00e7\u00e3o de estudos de impacto ambiental e dos efeitos dos transg\u00eanicos sobre a sa\u00fade humana e animal.<\/p>\n\n\n\n

O algod\u00e3o \u201cBollgard\u201d tamb\u00e9m \u00e9 chamado de \u201cBt\u201d teve inserido em seu c\u00f3digo gen\u00e9tico o gene \u201cCry1Ac\u201d da bact\u00e9ria Bacilus thuringiensis, que codifica prote\u00ednas t\u00f3xicas, fazendo o papel de agrot\u00f3xico. A planta tamb\u00e9m recebeu dois genes da bact\u00e9ria Escherichia coli, que confere resist\u00eancia aos antibi\u00f3ticos espectinomicina e estreptomicina. Esses genes, o nptII e o aad podem ser incorporados por bact\u00e9rias, transferindo a esses microorganismos resist\u00eancia a antibi\u00f3ticos. Um gene do v\u00edrus do mosaico da couve-flor tamb\u00e9m foi inserido nesse pacote.<\/p>\n\n\n\n

Essa variedade de algod\u00e3o inseticida produz prote\u00ednas t\u00f3xicas que podem comprometer toda a cadeia ecol\u00f3gica do Cerrado. A flor do algodoeiro natural atrai muitas abelhas e vespas selvagens devido \u00e0 sua grande quantidade de n\u00e9ctar; como o \u201cBollgard\u201d n\u00e3o poliniza, todos os insetos, que s\u00e3o essenciais para as in\u00fameras formas de vida da regi\u00e3o, podem desaparecer pelo efeito da prote\u00edna t\u00f3xica.<\/p>\n\n\n\n

No Cerrado, 35% das plantas silvestres dependem de abelhas e vespas para a poliniza\u00e7\u00e3o. O desaparecimento desses agentes polinizadores causar\u00e1 a extin\u00e7\u00e3o de muitas plantas. Em resumo, o algod\u00e3o transg\u00eanico inseticida \u00e9 uma amea\u00e7a muito s\u00e9ria \u00e0 nossa biodiversidade.<\/p>\n\n\n\n

Em Janeiro deste ano a Monsanto foi condenada a pagar multa de 1,5 milh\u00e3o de d\u00f3lares por ter subornado funcion\u00e1rios do governo indon\u00e9sio para que esta mesma semente fosse liberada no pa\u00eds sem a realiza\u00e7\u00e3o de um estudo de impacto ambiental. A Monsanto tamb\u00e9m assumiu as demais acusa\u00e7\u00f5es de suborno ocorridas na Indon\u00e9sia entre 1997 e 2002, que somam mais de US$ 750 mil em propinas. O algod\u00e3o Bt na Indon\u00e9sia, que foi vendido com promessas de produzir entre 3 e 4 ton.\/ha produziu, em m\u00e9dia, 1,1 tonelada. Em 74% da \u00e1rea com algod\u00e3o Bt a produtividade foi menor que 1 ton\/ha, segundo documento da Science in Society.<\/p>\n\n\n\n

Na \u00cdndia, um estudo realizado em 2002 no Estado de Andhra Pradesh, mostrou que o algod\u00e3o Bt produziu 35% menos que as variedades convencionais (Qayum e Sakkhari, 2002). Isso representa a metade da produ\u00e7\u00e3o prometida pela Monsanto.<\/p>\n\n\n\n

Como a fibra do algod\u00e3o Bt \u00e9 mais curta que a das outras variedades n\u00e3o-transg\u00eanicas, o pre\u00e7o alcan\u00e7ado no mercado foi 10% menor, o que motivou os agricultores a misturarem os algod\u00f5es. O controle de lagartas nos primeiros 90 dias do cultivo foi 10% melhor no algod\u00e3o Bt, mas ele se revelou mais suscet\u00edvel que o algod\u00e3o n\u00e3o-transg\u00eanico a outras pragas, como insetos sugadores. Resultado: n\u00e3o houve redu\u00e7\u00e3o significativa no uso de agrot\u00f3xicos.<\/p>\n\n\n\n

Estudo de 2002 da Ag\u00eancia de Prote\u00e7\u00e3o Ambiental da China mostrou que o algod\u00e3o Bt foi efetivo no controle de lagartas, mas apresentou efeitos adversos sobre inimigos naturais da lagarta e n\u00e3o reduziu o ataque de outras pragas. O estudo tamb\u00e9m revelou que a lagarta pode desenvolver resist\u00eancia \u00e0 planta Bt. Outro estudo de 2004 registra que a aplica\u00e7\u00e3o de inseticidas n\u00e3o diminuiu no algod\u00e3o Bt, pois o ataque de outras pragas (af\u00eddeos) demandou o uso de outros inseticidas.<\/p>\n\n\n\n

Erik von Farfan – Jornalista e ambientalista.
\nFonte: Revista Eco 21, ano XV, N\u00ba 100, mar\u00e7o\/2005.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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