{"id":575,"date":"2008-12-18T09:38:00","date_gmt":"2008-12-18T09:38:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:53","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:53","slug":"relatorio_britanico_condena_as_sementes_transgenicas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/biotecnologia\/artigos_de_biotecnologia\/relatorio_britanico_condena_as_sementes_transgenicas.html","title":{"rendered":"Relat\u00f3rio brit\u00e2nico condena as sementes transg\u00eanicas"},"content":{"rendered":"\n
\"\"\/<\/figure>\n\n\n\n
\"\"\/<\/figure>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n
\"ab\"\/<\/figure>\n\n\n\n

O mais importante estudo sobre o comportamento das plantas transg\u00eanicas jamais feito em escala nacional, foi elaborado ao longo de 4 anos pela tetracenten\u00e1ria academia cient\u00edfica brit\u00e2nica, a Royal Society of London, e assestou um golpe mortal \u00e0 ind\u00fastria de alimentos geneticamente modificados no Reino Unido e, por extens\u00e3o, na Europa.<\/p>\n\n\n\n

O informe, publicado no dia 21 de Mar\u00e7o \u00faltimo num dos mais s\u00e9rios ve\u00edculos de informa\u00e7\u00e3o cient\u00edfica, o Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences da Royal Society resultou numa vit\u00f3ria para as plantas convencionais. A s\u00e9rie de experi\u00eancias constatou que as plantas geneticamente modificadas causam s\u00e9rios danos \u00e0 fauna e flora silvestre.<\/p>\n\n\n\n

O documento final \u00e9 o resultado de uma s\u00e9rie de 4 estudos realizados em grande escala em 65 fazendas (Farm-Scale Evaluations – FSEs) com planta\u00e7\u00e3o de colza de Inverno, confirmou o destino dos organismos geneticamente modificados (OGM) no Reino Unido: a sua rejei\u00e7\u00e3o, ao menos no futuro pr\u00f3ximo. Os estudos demonstraram que os poderosos pesticidas que essas plantas tolerariam, causam significativos danos \u00e0s terras rurais, \u00e1reas que hoje se encontram devastadas pela agricultura intensiva.<\/p>\n\n\n\n

A quarta e \u00faltima experi\u00eancia apontou que os OGMs causam graves danos \u00e0s flores selvagens, borboletas, abelhas e, provavelmente, \u00e0s aves canoras afetando toda a cadeia alimentar e de reprodu\u00e7\u00e3o da biodiversidade natural.<\/p>\n\n\n\n

Plantios com sementes convencionais e sementes resistentes aos agrot\u00f3xicos mais conhecidos foram comparados em 65 fazendas diferentes ao longo de todo o Reino Unido. Os resultados foram contundentes revelando que a biodiversidade estava mais bem preservada nos plantios convencionais de colza e beterraba. Paradoxalmente, o mesmo n\u00e3o aconteceu com o milho OGM, sendo que ele, pela press\u00e3o popular, n\u00e3o \u00e9 mais cultivado na Inglaterra.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas monitoraram cuidadosamente as flores selvagens, gramas, sementes, abelhas, borboletas e outros invertebrados. Os n\u00fameros s\u00e3o impressionantes: ao longo dos 5 anos da experi\u00eancia, os cientistas analisaram amostras de milh\u00f5es das denominadas \u201cervas daninhas\u201d, acompanharam de perto dois milh\u00f5es de insetos e fizeram 7000 visitas de campo.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de terem encontrado quantidades similares de ervas daninhas nos dois tipos de plantas, as ervas daninhas de folhas largas como as alsinas eram menos predominantes em plantas geneticamente modificadas. Havia menos abelhas e borboletas em plantas transg\u00eanicas.<\/p>\n\n\n\n

Somente uma das 4 experi\u00eancias demonstrou que o cultivo de plantas geneticamente modificadas pode ser menos prejudicial \u00e0s aves, flores e insetos do que seus similares n\u00e3o-transg\u00eanicos.<\/p>\n\n\n\n

A experi\u00eancia foi falha, pois o pesticida que a planta convencional em quest\u00e3o exigia estava j\u00e1 fora banido pela Uni\u00e3o Europ\u00e9ia.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo assim, em 2004, o Governo brit\u00e2nico concedeu uma licen\u00e7a para que uma planta \u2013 o milho conhecido como Chardon LL, criado pelo setor qu\u00edmico do Grupo Bayer \u2013 fosse cultivada, abrindo caminho para a era dos transg\u00eanicos na Gr\u00e3-Bretanha, apesar dos irados protestos dos ambientalistas. Entretanto, apenas tr\u00eas semanas depois, a Bayer retirou o seu pedido sob a justificativa de que o clima regulat\u00f3rio seria inibit\u00f3rio. Isso aconteceu ap\u00f3s o gigante estadunidense da biotecnologia Monsanto, l\u00edder mundial em transg\u00eanicos, ter se retirado da Europa, parecendo tamb\u00e9m estar cansado de lutar. Desde ent\u00e3o, a ind\u00fastria de transg\u00eanicos na Gr\u00e3-Bretanha ficou intimidada, apesar de alguns membros do Governo, em particular o Primeiro-Ministro Tony Blair, ter apoiado secretamente os OGMs desde o princ\u00edpio. A pol\u00edtica oficial brit\u00e2nica \u00e9 descrita como neutra e baseada apenas em informa\u00e7\u00f5es cient\u00edficas. Os resultados agora divulgados tornam menos prov\u00e1vel que outras grandes empresas agr\u00edcolas queiram apostar neste tipo de cultivo e ter que passar por todo o longo processo de experi\u00eancias \u2013 e oposi\u00e7\u00e3o popular \u2013 que o com\u00e9rcio de plantas transg\u00eanicas na Gr\u00e3-Bretanha acarretaria.<\/p>\n\n\n\n

Em face de esta realidade, o Secret\u00e1rio do Meio Ambiente, Tim Yeo, prometeu que n\u00e3o mais ser\u00e3o cultivadas plantas geneticamente modificadas com intuito comercial at\u00e9 que a ci\u00eancia prove que elas n\u00e3o s\u00e3o prejudiciais aos seres humanos nem ao meio ambiente; e, principalmente, sem que haja um termo de responsabilidade para os casos de contamina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de a experi\u00eancia cient\u00edfica n\u00e3o ter pesquisado a respeito da catastr\u00f3fica extin\u00e7\u00e3o das aves de fazenda acontecida ao longo dos \u00faltimos 50 anos, importantes ornitologistas declararam que os resultados indicam que o cultivo de colza transg\u00eanica provavelmente aumentar\u00e1 o problema.<\/p>\n\n\n\n

O presidente do setor de conserva\u00e7\u00e3o da Real Sociedade para a Prote\u00e7\u00e3o dos P\u00e1ssaros, David Gibbons, afirmou que os pesticidas usados nas colzas transg\u00eanicas mataram as flores selvagens de folha larga, como as alsin\u00e1ceas e as anserinas (erva-de-santa-maria), nutrientes importantes para a alimenta\u00e7\u00e3o de aves canoras como cotovias, pardais e piscos-chilreiros. \u201cAs ervas daninhas de folha larga s\u00e3o uma parte importante da alimenta\u00e7\u00e3o da maioria das aves de fazenda. Poucos p\u00e1ssaros se alimentam de semente de grama, mas para a maioria a perda das ervas de folha larga seria prejudicial. Estas ervas s\u00e3o important\u00edssimas para as aves de fazenda e o cultivo cont\u00ednuo dessa planta traria danos que acabariam com a esperan\u00e7a de revertermos seu decl\u00ednio\u201d, afirmou o Dr. Gibbons<\/p>\n\n\n\n

Segundo Les Firbank, do Centro para a Ecologia e Hidrologia de Lancaster, que chefiou o projeto, havia um ter\u00e7o a menos de sementes de flores de folhas largas nas fazendas de transg\u00eanicos, em compara\u00e7\u00e3o com os lugares onde foram cultivadas colzas tradicionais. \u201cEssas diferen\u00e7as ainda estavam presentes dois anos depois de a semente ter sido plantada\u2026 Ent\u00e3o temos uma diferen\u00e7a biol\u00f3gica significativa que se mant\u00e9m esta\u00e7\u00e3o ap\u00f3s esta\u00e7\u00e3o\u201d, declarou ele.<\/p>\n\n\n\n

A semente de colza foi projetada para ser mais resistente ao pesticida que mataria as plantas tradicionais. Isso significa que os fazendeiros poderiam usar herbicidas de m\u00faltipla a\u00e7\u00e3o. \u201cTodas as evid\u00eancias que obtivemos das experi\u00eancias apontam que as diferen\u00e7as entre os tratamentos se devem aos herbicidas: \u00e9 da natureza dos produtos qu\u00edmicos\u201d, afirmou o Dr. Firbank.<\/p>\n\n\n\n

Christopher Pollock, Presidente do Comit\u00ea Geral de Trabalhos Cient\u00edficos, que supervisionou as experi\u00eancias, declarou: \u201cO que \u00e9 bom para o fazendeiro nem sempre \u00e9 bom para as popula\u00e7\u00f5es naturais de ervas daninhas, insetos, aves e borboletas que tamb\u00e9m vivem neste espa\u00e7o. As experi\u00eancias com plantas transg\u00eanicas s\u00e3o um fato \u00fanico na Gr\u00e3-Bretanha e esta foi a primeira vez que cientistas avaliaram o impacto ambiental de uma nova forma de cultivo antes que ela fosse posta em pr\u00e1tica\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Fundada em 1660, a Royal Society of London \u00e9 a mais antiga academia cient\u00edfica existente no mundo, sendo tamb\u00e9m uma institui\u00e7\u00e3o n\u00e3o-governamental. No seu quadro de membros atual se contam 65 Pr\u00eamios Nobel e 1300 cientistas correspondentes em diversos pa\u00edses. Ao longo da sua hist\u00f3ria, a institui\u00e7\u00e3o promoveu debates hist\u00f3ricos entre os quais se destaca a discuss\u00e3o das teorias de Darwin sobre a origem das esp\u00e9cies, a Teoria da Relatividade e o advento do DNA. Isaac Newton, Charles Darwin, Albert Einstein, Francis Crick, James Watson e Stephen Hawking, s\u00e3o \u2013 ou foram \u2013 alguns dos seus membros mais relevantes.<\/p>\n\n\n\n

Os quatro testes<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Teste 1: Sementes de \u00f3leo de colza semeadas na Primavera, Outubro de 2003.<\/p>\n\n\n\n

Testes feitos por toda a na\u00e7\u00e3o descobriram que sementes de \u00f3leo de colza biotecnol\u00f3gicas semeadas na primavera poderiam ser mais prejudiciais a v\u00e1rias esp\u00e9cies de seres selvagens do que seu similar convencional. Havia menos borboletas em torno de plantas transg\u00eanicas, onde existiam menos ervas daninhas. Veredicto: transg\u00eanicos reprovados.<\/p>\n\n\n\n

Teste 2: Beterraba a\u00e7ucareira, Outubro de 2003<\/p>\n\n\n\n

Descobriu-se que as plantas transg\u00eanicas poderiam ser mais danosas para o seu meio ambiente do que plantas que n\u00e3o foram geneticamente modificadas. Foram registradas mais abelhas e borboletas ao redor de plantas convencionais, devido ao maior n\u00famero de ervas daninhas. Veredicto: transg\u00eanicos reprovados.<\/p>\n\n\n\n

Teste 3: Milho, Outubro de 2003<\/p>\n\n\n\n

Verificou-se que a produ\u00e7\u00e3o de milho biotecnol\u00f3gico \u00e9 menos danosa a outras plantas e animais em compara\u00e7\u00e3o com as plantas convencionais. Houve um crescimento maior de ervas daninhas ao redor dos milhos biotecnol\u00f3gicos, atraindo assim mais borboletas, abelhas e sementes de ervas daninhas. Veredicto: transg\u00eanicos aprovados, mas os cr\u00edticos declaram o estudo inv\u00e1lido.<\/p>\n\n\n\n

Teste 4: Sementes de \u00f3leo de colza semeadas no inverno, Mar\u00e7o de 2005<\/p>\n\n\n\n

Testes mostram que em terras semeadas com plantas biotecnol\u00f3gicas cresciam menos ervas daninhas de folhas largas. Isso causou impacto sobre a quantidade de abelhas e borboletas, que se alimentavam desse tipo de erva daninha. Veredicto: transg\u00eanicos reprovados.<\/p>\n\n\n\n

Meio s\u00e9culo de debates<\/strong><\/p>\n\n\n\n

1953: James Watson e Francis Crick desemaranham a forma em dupla-h\u00e9lice do DNA, o que tornou poss\u00edvel a biotecnologia.<\/p>\n\n\n\n

1983: Kary Mullis, Pr\u00eamio Nobel de Qu\u00edmica de 1993, descobre a rea\u00e7\u00e3o em cadeia da polimerase, que permite que pedacinhos do DNA sejam copiados com rapidez. Os EUA distribuem patentes para que empresas possam produzir plantas transg\u00eanicas. A Ag\u00eancia de Prote\u00e7\u00e3o Ambiental dos EUA aprova o lan\u00e7amento do primeiro produto transg\u00eanico: o tabaco resistente a v\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

1987: A batata \u00e9 a primeira planta transg\u00eanica do Reino Unido.<\/p>\n\n\n\n

1994: O tomate Flavr Savr \u00e9 aprovado pela FDA dos EUA, abrindo caminho para mais produtos transg\u00eanicos.<\/p>\n\n\n\n

1997: A popula\u00e7\u00e3o descobre que a soja transg\u00eanica est\u00e1 sendo usada em comidas processadas no Reino Unido, sem que a informa\u00e7\u00e3o esteja no r\u00f3tulo.<\/p>\n\n\n\n

Junho de 1998: O Pr\u00edncipe Charles incita o debate ao declarar que n\u00e3o comeria nem serviria produtos OGM aos seus amigos e familiares.<\/p>\n\n\n\n

Julho de 1998: English Nature, o \u00f3rg\u00e3o consultor do governo quanto \u00e0 vida selvagem, pede que sejam feitas morat\u00f3rias sobre o cultivo de plantas transg\u00eanicas enquanto seus efeitos ainda estiverem sendo pesquisados.<\/p>\n\n\n\n

Fevereiro de 1999: Michael Meacher, o Ministro do Meio Ambiente, convence as empresas de transg\u00eanicos a concordarem com uma morat\u00f3ria at\u00e9 que as experi\u00eancias com pesticidas tenham terminado.<\/p>\n\n\n\n

Primavera de 2000: Come\u00e7am as experi\u00eancias com plantas transg\u00eanicas em \u00e1reas rurais.<\/p>\n\n\n\n

Outubro de 2003: Resultados preliminares provam que duas das tr\u00eas plantas geneticamente modificadas prejudicam o meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

Mar\u00e7o de 2004: Membros do minist\u00e9rio aprovam o primeiro cultivo qualificado de plantas transg\u00eanicas no Reino Unido.<\/p>\n\n\n\n

Por Erik von Farfan (Jornalista)
\nFonte: Revista Eco 21, ano XV, N\u00ba 101 abril\/2005.
\n<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O mais importante estudo sobre o comportamento das plantas transg\u00eanicas jamais feito em escala nacional, foi elaborado ao longo de 4 anos pela tetracenten\u00e1ria academia cient\u00edfica brit\u00e2nica, a Royal Society of London, e assestou um golpe mortal \u00e0 ind\u00fastria de alimentos geneticamente modificados no Reino Unido e, por extens\u00e3o, na Europa. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":576,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1407],"tags":[23,15,425,424],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/575"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=575"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/575\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5856,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/575\/revisions\/5856"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/576"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=575"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=575"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=575"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}