{"id":401,"date":"2015-02-08T23:24:30","date_gmt":"2015-02-08T23:24:30","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T19:16:07","modified_gmt":"2021-07-10T22:16:07","slug":"agua_de_lastro_e_as_especies_exoticas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_salgada\/agua_de_lastro_e_as_especies_exoticas.html","title":{"rendered":"\u00c1gua de Lastro e as Esp\u00e9cies Ex\u00f3ticas"},"content":{"rendered":"\n

A \u00e1gua de lastro \u00e9 utilizada pelos navios para compensar a perda de peso decorrente sobretudo do desembarque de cargas. Dessa forma, sua capta\u00e7\u00e3o e descarte ocorrem principalmente em \u00e1reas portu\u00e1rias, permitindo a realiza\u00e7\u00e3o das opera\u00e7\u00f5es de desembarque e embarque de cargas nos navios. Os navios que transportam os maiores volumes de \u00e1gua de lastro s\u00e3o os navios tanques e os graneleiros.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n

Durante a opera\u00e7\u00e3o de lastreamento do navio, junto com a \u00e1gua tamb\u00e9m s\u00e3o capturados pequenos organismos que podem acabar sendo transportados e introduzidos em um outro porto previsto na rota de navega\u00e7\u00e3o. Teoricamente, qualquer organismo pequeno o suficiente para passar atrav\u00e9s do sistema de \u00e1gua de lastro pode ser transferido entre diferentes \u00e1reas portu\u00e1rias no mundo. Isso inclui bact\u00e9rias e outros micr\u00f3bios, v\u00edrus, pequenos invertebrados, algas, plantas, cistos, esporos, al\u00e9m de ovos e larvas de v\u00e1rios animais. Devido \u00e0 grande intensidade e abrang\u00eancia do tr\u00e1fego mar\u00edtimo internacional, a \u00e1gua de lastro \u00e9 considerada como um dos principais vetores respons\u00e1veis pela movimenta\u00e7\u00e3o transoce\u00e2nica e interoce\u00e2nica de organismos costeiros.<\/span><\/p>\n\n\n\n

As principais consequ\u00eancias negativas da introdu\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas e nocivas incluem: o desequil\u00edbrio ecol\u00f3gico das \u00e1reas invadidas, com a poss\u00edvel perda de biodiversidade; preju\u00edzos em atividades econ\u00f4micas utilizadoras de recursos naturais afetados e consequente desestabiliza\u00e7\u00e3o social de comunidades tradicionais; e a dissemina\u00e7\u00e3o de enfermidades em popula\u00e7\u00f5es costeiras, causadas pela introdu\u00e7\u00e3o de organismos patog\u00eanicos.<\/p>\n\n\n\n

As \u00e1reas portu\u00e1rias s\u00e3o particularmente vulner\u00e1veis \u00e0s bioinvas\u00f5es, uma vez que concentram atividades que podem transportar, introduzir e dispersar novas esp\u00e9cies, como as opera\u00e7\u00f5es com \u00e1gua de lastro, limpeza de cascos de navios e tr\u00e1fego de embarca\u00e7\u00f5es de diversos tipos e origens. Al\u00e9m disso, as seguintes condi\u00e7\u00f5es observadas nos portos tamb\u00e9m podem favorecer a introdu\u00e7\u00e3o, estabelecimento e dispers\u00e3o de esp\u00e9cies invasoras:<\/p>\n\n\n\n

\u00b7         <\/span>Similaridade ambiental entre portos de origem e destino;<\/p>\n\n\n\n

\u00b7         <\/span><\/span>Disponibilidade de nichos ecol\u00f3gicos;<\/span><\/p>\n\n\n\n

\u00b7         <\/span><\/span>Aus\u00eancia de organismos competidores, predadores ou parasitas;<\/span><\/p>\n\n\n\n

\u00b7         <\/span><\/span>Forte influ\u00eancia antropog\u00eanica;<\/span><\/p>\n\n\n\n

\u00b7         <\/span><\/span>Disponibilidade de substratos duros artificiais; e<\/span><\/p>\n\n\n\n

\u00b7         <\/span><\/span>Ambientes protegidos (ba\u00edas, estu\u00e1rios, enseadas).<\/span><\/p>\n\n\n\n

Algumas das esp\u00e9cies ex\u00f3ticas se tornaram pragas em pa\u00edses distantes de seus h\u00e1bitats naturais, podendo alterar o equil\u00edbrio ecol\u00f3gico local, e causar impactos negativos na pesca, na aquicultura e em outras atividades econ\u00f4micas. Isto ocorre porque em novos ambientes, alguns organismos ficam livres dos predadores naturais, e em condi\u00e7\u00f5es favor\u00e1veis acabam dominando a fauna local.<\/p>\n\n\n\n

A International Maritime Organization da ONU estima que em 1939, 497 esp\u00e9cies ex\u00f3ticas haviam sido introduzidas em ecossistemas de todo o mundo. Entre 1980 e 1998, esse n\u00famero subiu para 2.214 esp\u00e9cies. Um bom exemplo de organismo ex\u00f3tico que foi transportado pelos ambientes costeiros de todo mundo \u00e9 o vibri\u00e3o col\u00e9rico, que foi um grande problema nas d\u00e9cadas de 70 e 80, que ainda afeta a \u00cdndia. Outro invasor conhecido \u00e9 o mexilh\u00e3o zebra (Dreissena polymopha) introduzido nos Grandes Lagos nos Estados Unidos. Hoje, esta esp\u00e9cie infesta mais de 40% das \u00e1guas continentais americanas e causa impactos econ\u00f4micos severos, principalmente para os setores el\u00e9trico e industrial, pois este molusco coloniza massivamente os encanamentos e as passagens de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Para se ter id\u00e9ia da gravidade dos problemas com esp\u00e9cies ex\u00f3ticas, estima-se que somente os Estados Unidos tem o preju\u00edzo de 138 milh\u00f5es de d\u00f3lares por ano, incluindo-se os preju\u00edzos e gastos com controles de esp\u00e9cies ex\u00f3ticas aqu\u00e1ticas e terrestres.<\/p>\n\n\n\n

A mar\u00e9 vermelha que ocorreu em Guaraque\u00e7aba, litoral do Paran\u00e1, causando mortandade de peixes e causando s\u00e9rios problemas para a popula\u00e7\u00e3o local, foi causada por algumas esp\u00e9cies de microalgas ex\u00f3ticas. Embora n\u00e3o existam evid\u00eancias, \u00e9 prov\u00e1vel que estas esp\u00e9cies tenham alcan\u00e7ado nossos ambientes atrav\u00e9s da \u00e1gua de lastro.<\/p>\n\n\n\n

Evolu\u00e7\u00e3o das Diretrizes Internacionais<\/strong><\/p>\n\n\n\n

<\/strong>Em 1990, a Organiza\u00e7\u00e3o Mar\u00edtima Internacional (IMO) instituiu, junto ao Comit\u00ea de Prote\u00e7\u00e3o do Meio Ambiente Marinho (MEPC), um Grupo de Trabalho para tratar especificamente da \u00e1gua de lastro. Em 1991, atrav\u00e9s da Resolu\u00e7\u00e3o MEPC 50(31), foram publicadas as primeiras diretrizes internacionais para o gerenciamento da \u00e1gua de lastro pelos navios, cujo cumprimento tinha car\u00e1ter volunt\u00e1rio. Nos anos seguintes a MEPC aprimorou essas diretrizes e adotou outras duas resolu\u00e7\u00f5es sobre o assunto, a Resolu\u00e7\u00e3o A.774(18) de 1993 e a Resolu\u00e7\u00e3o A.868 (20) de 1997.<\/p>\n\n\n\n

Dentre as diretrizes definidas pela IMO at\u00e9 ent\u00e3o, a de maior destaque correspondeu \u00e0 realiza\u00e7\u00e3o da troca oce\u00e2nica da \u00e1gua de lastro. Em termos gerais, os navios foram recomendados a trocar a \u00e1gua contida nos seus tanques de lastro antes de alcan\u00e7arem a dist\u00e2ncia de 200 milhas n\u00e1uticas at\u00e9 a linha de costa do porto de destino. Al\u00e9m disso, os locais de troca deveriam possuir pelo menos 200 metros de profundidade e a troca volum\u00e9trica da \u00e1gua de lastro deveria atingir uma efici\u00eancia de 95%.<\/p>\n\n\n\n

Quando corretamente aplicada, a troca oce\u00e2nica poderia reduzir significativamente o risco da ocorr\u00eancia das bioinvas\u00f5es, uma vez que ela promoveria a substitui\u00e7\u00e3o da \u00e1gua de lastro captada em regi\u00f5es costeiras por \u00e1gua oce\u00e2nica, cujos par\u00e2metros f\u00edsico-qu\u00edmicos e biol\u00f3gicos permitiriam o seu descarte em um novo porto sem que houvesse risco significativo de acontecerem bioinvas\u00f5es. Em outras palavras, as esp\u00e9cies costeiras n\u00e3o conseguiriam sobreviver em ambientes oce\u00e2nicos e vice-versa. A tabela abaixo apresenta um resumo dos procedimentos para realiza\u00e7\u00e3o da troca oce\u00e2nica.<\/p>\n\n\n\n

\".\"

<\/span>Em 13 de fevereiro de 2004, a IMO adotou a Conven\u00e7\u00e3o Internacional para Controle e Gerenciamento da \u00c1gua de Lastro e Sedimentos de Navios. A Conven\u00e7\u00e3o entrar\u00e1 em vigor 12 meses ap\u00f3s ser ratificada por pelo menos 30 pa\u00edses que juntos representem no m\u00ednimo 35% da arquea\u00e7\u00e3o bruta da frota mercante mundial. O n\u00famero atualizado de ratifica\u00e7\u00f5es pode ser conferido na p\u00e1gina da IMO<\/span> <\/span>\u201cStatus das Conven\u00e7\u00f5es.\u201d<\/span> <\/span>O texto da Conven\u00e7\u00e3o foi aprovado pelo Brasil atrav\u00e9s do Decreto Legislativo no 148\/2010 de 15 de mar\u00e7o de 2010. Em 14 de abril de 2010 o Brasil depositou o instrumento de ratifica\u00e7\u00e3o junto \u00e0 IMO.<\/span><\/div>\n\n\n\n

Preven\u00e7\u00e3o e Tratamento<\/strong><\/p>\n\n\n\n

<\/strong>Um sistema de gerenciamento e controle pode reduzir a propabilidade de introdu\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies indesej\u00e1veis. A troca de \u00e1gua de lastro em alto-mar (profundidade superior a 500 metros) \u00e9 um dos mais efetivos m\u00e9todos preventivos, j\u00e1 que, o meio ambiente oce\u00e2nico n\u00e3o serve de h\u00e1bitat a organismos de \u00e1guas costeiras.<\/p>\n\n\n\n

Legisla\u00e7\u00e3o Nacional<\/strong><\/p>\n\n\n\n

<\/strong>No Brasil, o gerenciamento da \u00e1gua de lastro \u00e9 tratado pela NORMAM-20\/2005 da Diretoria de Portos e Costas, pela Resolu\u00e7\u00e3o ANVISA-RDC no 72\/2009 e na Lei no 9.966\/2000. De acordo com a legisla\u00e7\u00e3o nacional, al\u00e9m de possu\u00edrem o Plano de Gerenciamento da \u00c1gua de Lastro e de realizarem a troca oce\u00e2nica caso haja inten\u00e7\u00e3o de deslastrar, os navios devem fornecer \u00e0 Autoridade Mar\u00edtima e \u00e0 ANVISA o Formul\u00e1rio sobre \u00c1gua de Lastro devidamente preenchido.<\/p>\n\n\n\n

Curiosidades:<\/strong><\/p>\n\n\n\n

\n

Navios mercantes transportam mais que 80% das commodities mundiais e s\u00e3o essenciais para a economia mundial;<\/span><\/p>\n

Um cargueiro com capacidade de 200.000 toneladas pode carregar mais de 60.000 toneladas de \u00e1gua de lastro;<\/span><\/p>\n

Todos os navios cargueiros necessitam da \u00e1gua de lastro e n\u00e3o existem produtos substitutos para o lastreamento;<\/span><\/p>\n

A IMO estima que 12 bilh\u00f5es de toneladas de \u00e1gua de lastro s\u00e3o transportadas anualmente ao redor do mundo;<\/span><\/p>\n

A IMO estima que cerca de 4.500 esp\u00e9cies s\u00e3o transportadas pela \u00e1gua de lastro pela frota mundial a qualquer momento;<\/span><\/p>\n

A cada 9 semanas uma esp\u00e9cie marinha invade um novo ambiente em algum lugar do globo;<\/span><\/p>\n

O transporte de bens por navios tem aumentado constantemente, e novos destinos tem sido alcan\u00e7ados;<\/span><\/p>\n

As esp\u00e9cies marinhas ex\u00f3ticas s\u00e3o consideradas uma das quatro amea\u00e7as aos nossos oceanos.<\/span><\/p>\n<\/div>\n\n\n\n

Fontes: www.antaq.gov.br; www.mma.gov,br; \/www.portodesantos.com.br; Ariel Scheffer da Silva – Bi\u00f3logo – Instituto Ecoplan<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O uso da \u00e1gua de lastro faz parte dos procedimentos operacionais usuais do transporte aquavi\u00e1rio moderno, sendo fundamental para a sua seguran\u00e7a. Atrav\u00e9s da sua utiliza\u00e7\u00e3o planejada, \u00e9 poss\u00edvel controlar o calado e a estabilidade do navio, de forma a manter as tens\u00f5es estruturais do casco dentro de limites seguros. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":402,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1398],"tags":[1108,683],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/401"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=401"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/401\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":3584,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/401\/revisions\/3584"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/402"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=401"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=401"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=401"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}