{"id":390,"date":"2009-03-03T13:48:09","date_gmt":"2009-03-03T13:48:09","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:15:36","modified_gmt":"2021-07-10T23:15:36","slug":"impactos_do_lixo_marinho_e_acao_praia_local_lixo_global","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_salgada\/impactos_do_lixo_marinho_e_acao_praia_local_lixo_global.html","title":{"rendered":"Impactos do lixo marinho e A\u00e7\u00e3o \u201cPraia Local, Lixo Global\u201d"},"content":{"rendered":"\n

Atualmente, o lixo deixou de ser apenas um problema sanit\u00e1rio em zonas urbanas e tornou-se um dos principais grupos de poluentes em ecossistemas marinhos, inclusive em \u00e1reas n\u00e3o urbanizadas. Juntamente com outros grupos de poluentes, como petr\u00f3leo, metais pesados e nutrientes, o lixo tem amea\u00e7ado a sa\u00fade do ambiente marinho de diversas maneiras. <\/p>\n\n\n\n

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Os impactos ambientais mais evidentes est\u00e3o relacionados \u00e0 morte de animais. Esse problema tem sido considerado t\u00e3o grave, que j\u00e1 existem registros de ingest\u00e3o ou enredamento em lixo para a maioria das esp\u00e9cies existentes de mam\u00edferos, aves e tartarugas marinhas. Muitos animais confundem res\u00edduos pl\u00e1sticos com seu alimento natural. Sua ingest\u00e3o pode causar o bloqueio do trato digestivo e\/ou sensa\u00e7\u00e3o de inani\u00e7\u00e3o, matando ou causando s\u00e9rios problemas \u00e0 sobreviv\u00eancia do animal. O enredamento em materiais sint\u00e9ticos, como res\u00edduos de pesca, tamb\u00e9m \u00e9 muito perigoso. Isso tem afetado especialmente popula\u00e7\u00f5es de animais com h\u00e1bitos curiosos, como focas e gaivotas, seja no Hava\u00ed ou em ilhas sub-ant\u00e1rticas. <\/p>\n\n\n\n

Em estudos realizados sobre a quantidade e composi\u00e7\u00e3o de res\u00edduos flutuantes, em praias, e\/ou depositados no leito marinho, os pl\u00e1sticos s\u00e3o os mais freq\u00fcentes. Fatores como seu elevado tempo de decomposi\u00e7\u00e3o, sua abundante utiliza\u00e7\u00e3o pela sociedade moderna e inefic\u00e1cia ou inexist\u00eancia de programas de gerenciamento de res\u00edduos s\u00f3lidos explicam essa constata\u00e7\u00e3o. Um tipo de pl\u00e1stico pouco conhecido s\u00e3o as esf\u00e9rulas pl\u00e1sticas, nibs ou pellets. Os nibs possuem poucos mil\u00edmetros de di\u00e2metro e s\u00e3o mat\u00e9ria prima para a fabrica\u00e7\u00e3o de produtos pl\u00e1sticos, sendo perdidos em grande quantidade durante seu manuseio e transporte. Na Nova Zel\u00e2ndia, por exemplo, foram verificados dep\u00f3sitos com mais de 100.000 esf\u00e9rulas por metro linear de praia. No Brasil, os nibs j\u00e1 foram observados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Bahia, mas provavelmente ocorrem em todo litoral. Apesar do pequeno tamanho, os nibs causam grande preocupa\u00e7\u00e3o, visto que in\u00fameras esp\u00e9cies de aves t\u00eam ingerido esse tipo de material e, al\u00e9m do dano f\u00edsico, os nibs podem ser vetores de poluentes qu\u00edmicos, como agrot\u00f3xicos, aderidos em sua superf\u00edcie externa. <\/p>\n\n\n\n

O lixo depositado nas praias brasileiras pode ter sido deixado pelos banhistas, transportado pelos rios que cruzam zonas urbanas ou trazido pelas correntes marinhas. Juntos, os ventos al\u00edsios (de nordeste) e o padr\u00e3o de circula\u00e7\u00e3o superficial do oceano Atl\u00e2ntico Sul favorecem o transporte dos res\u00edduos flutuantes jogados no mar pelos navios para as praias brasileiras. Uma breve caminhada pelas praias da Costa dos Coqueiros, no litoral norte da Bahia, pode mostrar algumas surpresas, como ac\u00famulo na areia do lixo jogado no mar por navios estrangeiros. Foi isso que aconteceu no ver\u00e3o de 2001 numa caminhada de 10,3 km entre as praias do Forte e Imbassa\u00ed, motivando a cria\u00e7\u00e3o da A\u00e7\u00e3o \u201cPraia Local, Lixo Global\u201d (www.globalgarbage.org) com objetivo de monitorar o problema e buscar solu\u00e7\u00f5es. <\/p>\n\n\n\n

Na Costa dos Coqueiros, os impactos do lixo \u00e0 vida marinha s\u00e3o agravados por se tratar de \u00e1rea de reprodu\u00e7\u00e3o de tartarugas marinhas, com intensas atividades do Projeto TAMAR. Isso significa que al\u00e9m dos obst\u00e1culos naturais, as tartarugas precisam superar o lixo flutuante e aquele depositado na praia para garantir sua sobreviv\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m dos danos \u00e0 vida marinha, o lixo no litoral da Bahia entra em conflito com uma das principais atividades econ\u00f4micas da regi\u00e3o: o turismo. As pesquisas realizadas no Brasil e em outros pa\u00edses mostram que o lixo nas praias tamb\u00e9m pode causar ferimentos nos banhistas, diminui\u00e7\u00e3o das atividades tur\u00edsticas e danos a embarca\u00e7\u00f5es. Por exemplo, na \u00c1frica do Sul, o preju\u00edzo causado pelo lixo ao turismo \u00e9 da ordem de milh\u00f5es de d\u00f3lares; no litoral sul do Brasil foi observado que cerca de 20% dos banhistas j\u00e1 sofreram algum tipo de ferimento associado a lixo em praia; enquanto em algumas regi\u00f5es dos Estados Unidos o entupimento da entrada de \u00e1gua para a refrigera\u00e7\u00e3o do motor com pl\u00e1sticos \u00e9 a principal causa de danos a embarca\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

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O monitoramento da chegada do lixo internacional em cerca de 70 km de praias praticamente desabitadas no litoral norte da Bahia a partir de 2001 registrou embalagens de mais de 60 pa\u00edses. Estados Unidos, It\u00e1lia e \u00c1frica do Sul s\u00e3o os pa\u00edses com maior n\u00famero de embalagens. O pl\u00e1stico \u00e9 o material mais freq\u00fcente, seguido por metais. Isso aumenta ainda mais a gravidade do problema, considerando o elevado tempo de decomposi\u00e7\u00e3o destes materiais. Atualmente o monitoramento \u00e9 realizado em um trecho de 141,5 km entre Mangue Seco e Praia do Forte. A inten\u00e7\u00e3o \u00e9 expandir as atividades para o maior n\u00famero de localidades poss\u00edveis. <\/p>\n\n\n\n

Outro poluente pouco conhecido que tem sido monitorado s\u00e3o os sinalizadores (lightsticks) utilizados na pesca de espinhel ou por mergulhadores. Esses sinalizadores s\u00e3o uma embalagem de pl\u00e1stico contento l\u00edquido oleoso que produz luminosidade por aproximadamente 12 horas. Perdidos ou jogados no mar, os sinalizadores tamb\u00e9m se acumulam nas praias. Eles t\u00eam sido utilizados inconseq\u00fcentemente pela popula\u00e7\u00e3o local para acender fogo, como chaveiros, lubrificantes e at\u00e9 mesmo como bronzeadores, \u00f3leo para massagens contra dores musculares e para curar micoses, vitiligo e reumatismo! Apesar dos fabricantes afirmarem que seu produto n\u00e3o \u00e9 t\u00f3xico no caso de contato acidental com a pele, o resultado do seu uso sist\u00eamico e cont\u00ednuo \u00e9 desconhecido em longo prazo, podendo se tornar um problema de sa\u00fade p\u00fablica se n\u00e3o for devidamente investigado e avaliado. <\/p>\n\n\n\n

A solu\u00e7\u00e3o dos problemas aqui descritos passa essencialmente pelo conhecimento cient\u00edfico das origens e impactos dos poluentes em ambiente marinho, afinal apenas problemas devidamente conhecidos podem ser gerenciados. Atualmente a A\u00e7\u00e3o \u201cPraia Local, Lixo Global\u201d conta com tr\u00eas programas em a\u00e7\u00e3o. O programa \u201cID Garbage\u201d busca a identifica\u00e7\u00e3o das origens do lixo encontrado nas praias da Costa dos Coqueiros, intimamente associado ao programa \u201cAmigos do Lixo\u201d, que re\u00fane pessoas de todo mundo interessadas em recolher e catalogar o lixo encontrado nas caminhadas na Costa dos Coqueiros. J\u00e1 o programa \u201cOnda Verde\u201d \u00e9 uma iniciativa que tem o apoio de atletas e surfistas como Wilson Nora e Armando Daltro, buscando a difus\u00e3o das id\u00e9ias de \u201cPraia Local, Lixo Global\u201d no mundo do Surf. <\/p>\n\n\n\n

A expans\u00e3o do trabalho e a busca pela diminui\u00e7\u00e3o da polui\u00e7\u00e3o marinha por res\u00edduos s\u00f3lidos dependem muito de novas articula\u00e7\u00f5es. Nesse sentido est\u00e1 sendo realizada uma associa\u00e7\u00e3o com a expedi\u00e7\u00e3o Aventura no Brasil Costal (www.aventuranobrasilcostal.com.br), programa idealizado pelo jornalista cient\u00edfico Luiz Peaz\u00ea, que tem o objetivo de difundir assuntos ligados \u00e0 gest\u00e3o costeira e educa\u00e7\u00e3o ambiental atrav\u00e9s expedi\u00e7\u00e3o em cruzeiro \u00e0 vela ao longo da costa brasileira, de sul a norte e de norte a sul, intermitente por no m\u00ednimo cinco anos. Os objetivos e ideais convergentes de ambos projetos apontam para uma excelente parceria. Assim, a metodologia e a\u00e7\u00f5es de \u201cPraia Local, Lixo Global\u201d poder\u00e3o ser difundidas em praias de todo Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Isaac Rodrigues dos Santos (Ocean\u00f3grafo) & Ana Cl\u00e1udia Friedrich (Mestre em Engenharia Oce\u00e2nica), membros da comiss\u00e3o cient\u00edfica de \u201cPraia Local, Lixo Global\u201d; & Fabiano Prado Barretto, gerente de projetos e idealizador de \u201cPraia Local, Lixo Global\u201d. <\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Os impactos ambientais mais evidentes est\u00e3o relacionados \u00e0 morte de animais. Esse problema tem sido considerado t\u00e3o grave, que j\u00e1 existem registros de ingest\u00e3o ou enredamento em lixo para a maioria das esp\u00e9cies existentes de mam\u00edferos, aves e tartarugas marinhas. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":391,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1398],"tags":[56,36,329],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/390"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=390"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/390\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4755,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/390\/revisions\/4755"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/391"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=390"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=390"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=390"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}