{"id":389,"date":"2009-03-03T13:42:24","date_gmt":"2009-03-03T13:42:24","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:15:36","modified_gmt":"2021-07-10T23:15:36","slug":"um_so_mundo_um_so_oceano","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_salgada\/um_so_mundo_um_so_oceano.html","title":{"rendered":"Um s\u00f3 mundo, um s\u00f3 oceano"},"content":{"rendered":"\n

Celebrando o Dia Mundial dos Oceanos (8 de Junho), cabem estas reflex\u00f5es. Os pa\u00edses ricos e pobres est\u00e3o interligados como nunca antes pela economia, o com\u00e9rcio, as correntes migrat\u00f3rias e por um corpo de \u00e1gua que cobre 70% da superf\u00edcie da Terra, do qual depende nossa pr\u00f3pria sobreviv\u00eancia. Do mesmo modo que s\u00f3 existe um mundo, tamb\u00e9m h\u00e1 apenas um oceano. Mas, o oceano est\u00e1 morrendo. <\/p>\n\n\n\n

Os sinais de perigo n\u00e3o se fazem esperar: a) vazamentos de petr\u00f3leo nas costas espanholas, lixo sanit\u00e1rio nas praias de Long Island Sound, nos Estados Unidos; b) morte de golfinhos e baleias ao longo da costa do Estado da Calif\u00f3rnia, nos Estados Unidos; c) um ter\u00e7o dos recifes de corais est\u00e3o degradados, sem possibilidades de recupera\u00e7\u00e3o, e outro ter\u00e7o em risco iminente; d) noventa por cento dos peixes predadores oce\u00e2nicos, como o atum, o tubar\u00e3o ou o bacalhau, j\u00e1 est\u00e3o se extinguindo; e) alarme sobre potenciais fiscos \u00e0 sa\u00fade humana provenientes de subst\u00e2ncias qu\u00edmicas cancer\u00edgenas presentes no salm\u00e3o de criadouro; etc. <\/p>\n\n\n\n

A pesca indiscriminada est\u00e1 matando o oceano. A revolu\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica que tornou poss\u00edvel a captura de volumes cada vez maiores de pescado, junto com a explora\u00e7\u00e3o populacional dos litorais, os subs\u00eddios \u00e0s frotas pesqueiras nos pa\u00edses desenvolvidos e um incessante aumento da demanda por produtos do mar parecem ter se combinado de tal forma que geraram uma amea\u00e7a global de conseq\u00fc\u00eancias imprevis\u00edveis para futuras gera\u00e7\u00f5es. <\/p>\n\n\n\n

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A incessante expans\u00e3o das frotas pesqueiras dos pa\u00edses ricos, apoiadas por elevados subs\u00eddios da ordem de US$ 15 bilh\u00f5es anuais, causou a devasta\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies. A pesca ilegal est\u00e1 aumentando, a regulamenta\u00e7\u00e3o do setor pesqueiro \u00e9 ineficiente e os pescadores pobres pagam pelas conseq\u00fc\u00eancias.<\/p>\n\n\n\n

A demanda continua aumentando devido a um aumento da renda, principalmente nos pa\u00edses desenvolvidos, mas tamb\u00e9m nos pa\u00edses em desenvolvimento. O consumo de pescado duplicou nos \u00faltimos 30 anos, passando de 45 milh\u00f5es para cem milh\u00f5es de toneladas anuais, e estima-se que at\u00e9 2020 chegar\u00e1 a 28 milh\u00f5es de toneladas. As redes de superexplora\u00e7\u00e3o pesqueira chegaram \u00e0s profundezas dos belos, mas fr\u00e1geis, recifes de corais, em busca de ex\u00f3ticas esp\u00e9cies em risco de extin\u00e7\u00e3o, que, apesar disso, s\u00e3o oferecidas em luxuosos restaurantes em numerosas cidades.<\/p>\n\n\n\n

Quase a metade da popula\u00e7\u00e3o mundial, cerca de tr\u00eas bilh\u00f5es de pessoas, vive a n\u00e3o mais de 60 milhas do litoral. Esta concentra\u00e7\u00e3o e as atividades de constru\u00e7\u00e3o causam um aumento da polui\u00e7\u00e3o e destrui\u00e7\u00e3o do h\u00e1bitat marinho. O esgoto sem tratamento e os produtos qu\u00edmicos est\u00e3o causando a devasta\u00e7\u00e3o de estu\u00e1rios como a Ba\u00eda de Chesapeake, nos Estados Unidos, ou criando verdadeiras zonas mortas nas proximidades do Golfo do M\u00e9xico. A isto se soma o impacto da mudan\u00e7a clim\u00e1tica devido \u00e0 atividade humana, que j\u00e1 est\u00e1 ocasionando perigosos impactos nos ecossistemas marinhos. Por causa dos fen\u00f4menos associados \u00e0 mudan\u00e7a clim\u00e1tica, verifica-se surgimento de enfermidades. <\/p>\n\n\n\n

Entretanto, ainda h\u00e1 espa\u00e7o para a esperan\u00e7a. Em 2002, a C\u00fapula Mundial de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel de Johanesburg fez um chamado \u00e0 comunidade internacional para propor objetivos ambiciosos, embora alcan\u00e7\u00e1veis, como a recupera\u00e7\u00e3o, at\u00e9 2015, de exist\u00eancias de peixes at\u00e9 atingir n\u00edveis de sustentabilidade. Agora, trata-se de impulsionar, na pr\u00e1tica, as a\u00e7\u00f5es que nos levem a esse resultado. Os pa\u00edses desenvolvidos devem liderar este processo. Como na agricultura, esses pa\u00edses devem ser os primeiros a eliminar os nocivos subs\u00eddios e outras pol\u00edticas protecionistas que conduzem \u00e0 pesca indiscriminada. <\/p>\n\n\n\n

Alguns pa\u00edses est\u00e3o mostrando que se pode progredir na dire\u00e7\u00e3o correta. A redu\u00e7\u00e3o do excesso de capacidade pesqueira no Chile e a recupera\u00e7\u00e3o de licen\u00e7as cedidas a estrangeiros para favorecer frotas nacionais sujeitas a melhores controles na Nam\u00edbia s\u00e3o dois claros exemplos que levam \u00e0 restaura\u00e7\u00e3o de exist\u00eancias b\u00e1sicas de peixes. <\/p>\n\n\n\n

O Banco Mundial, junto a s\u00f3cios como o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), a Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas para a Agricultura e a Alimenta\u00e7\u00e3o (FAO) e o Fundo de Conserva\u00e7\u00e3o da Vida Silvestre (WWF), entre outros, est\u00e1 trabalhando em um novo enfoque em rela\u00e7\u00e3o ao oceano, que come\u00e7a na linha divis\u00f3ria das \u00e1guas dos rios e continua at\u00e9 as zonas costeiras e o mar. Somente se for dada prioridade \u00e0s estreitas liga\u00e7\u00f5es entre terra e \u00e1gua, entre sa\u00fade humana e oce\u00e2nica, entre manejo sustent\u00e1vel e benef\u00edcios renov\u00e1veis, nos converteremos em promotores respons\u00e1veis do Planeta Azul do qual depende nossa vida e o futuro das pr\u00f3ximas gera\u00e7\u00f5es. <\/p>\n\n\n\n

Ian Johnson – Vice-presidente de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel do Banco Mundial<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"