{"id":3072,"date":"2010-08-12T17:55:14","date_gmt":"2010-08-12T17:55:14","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T19:16:33","modified_gmt":"2021-07-10T22:16:33","slug":"guarana_fruta_nativa_da_amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/amazonia\/floresta_amazonica\/guarana_fruta_nativa_da_amazonia.html","title":{"rendered":"Guaran\u00e1 fruta nativa da Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n

O Guaran\u00e1, arbusto da fam\u00edlia das Sapind\u00e1ceas, muito comum no Amazonas e no Par\u00e1 \u00e9 tamb\u00e9m conhecido como naranazeiro, uaran\u00e1, guarana\u00fava e guarana\u00edna. Foi descoberto em 1821 por Humboldt em contato com tribos ind\u00edgenas que viviam na Amaz\u00f4nia, munic\u00edpio hoje chamado de  Mau\u00e9s. Os \u00edndios consideravam o guaran\u00e1 sagrado e utilizavam a pasta como rem\u00e9dio. Os frutos do guaran\u00e1 s\u00e3o pequenos e vermelhos, apresentam-se em cachos. A medicina natural considera-os alimento capaz de revigorar as perdas org\u00e2nicas.  O guaranazeiro foi estudado pela primeira vez, em 1826, por Von Martius. Nesta \u00e9poca, j\u00e1 se difundiam na Europa informa\u00e7\u00f5es sobre as qualidades terap\u00eauticas da planta.
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\"Frutos
Frutos do Guaran\u00e1.<\/span><\/div>\n\n\n\n

Mau\u00e9s, maior produtor de guaran\u00e1 na Amaz\u00f4nia  <\/strong> 
A cidade de Mau\u00e9s, no Amazonas, munic\u00edpio maior produtor da planta na Amaz\u00f4nia, colhe e vende tudo o que planta – cerca de 180 toneladas anuais, produzidas por pouco mais de 3 mil pequenos agricultores. At\u00e9 os anos 80, Mau\u00e9s era l\u00edder absoluta na produ\u00e7\u00e3o do guaran\u00e1, com 90% da pequena produ\u00e7\u00e3o brasileira, mas a amplia\u00e7\u00e3o do uso comercial da semente, incorporada pela ind\u00fastria farmac\u00eautica e de beleza, animou milhares de agricultores no baixo sul da Bahia, na antiga zona cacaueira a plantarem o produto. Em menos de dez anos, com plantios mais novos e produtivos, a Bahia se transformou no maior produtor nacional, com 2.500 a 3 mil toneladas de sementes anuais. Mau\u00e9s nunca perdeu a coroa de melhor produtora do Brasil, mas quer voltar a ser o principal p\u00f3lo de produ\u00e7\u00e3o.    

Descri\u00e7\u00e3o da descoberta do guaran\u00e1 por um padre europeu    <\/strong>
Em 1664, o Pe. Felipe Bettendorf, descreveu como encontrou no Amazonas o guaran\u00e1: “T\u00eam os Andirazes em seus matos uma frutinha a qual secam e depois pisam, fazendo delas umas bolas que estimam como os brancos o seu ouro. Chama-se guaran\u00e1. Desfeitas com uma pedrinha em cuia d\u2019\u00e1gua, d\u00e3o tanta for\u00e7a como bebida que indo \u00e0 ca\u00e7a um dia at\u00e9 outro n\u00e3o sentem fome, al\u00e9m do que tiram febres, c\u00e3ibras e dores de cabe\u00e7a”. <\/p>\n\n\n\n

Caracter\u00edsticas da planta e beneficiamento <\/strong>  
O guaranazeiro \u00e9 um arbusto suberecto ou escandente com copa que varia de 9 a 12 m\u00b2. Possui duas variedades: PAULLINIA CUPANA H. B. K. t\u00edpica, encontrada nas bacias fluviais do Alto Orenoco e Alto Rio Negro e a PAULLINIA CUPANA var. sorbilis (Mart.) Duck, encontrada nos munic\u00edpios de Mau\u00e9s, Parintins, recentemente introduzida em outros Munic\u00edpios. A colheita, se realiza entre outubro e janeiro quando os frutos est\u00e3o maduros. Os cachos s\u00e3o colhidos com as m\u00e3os e colocados em atur\u00e1s ou jamaxis e transportados para os barrac\u00f5es.    <\/p>\n\n\n\n

Inicia-se ent\u00e3o o beneficiamento tradicional, que obedece as seguintes etapas: Fermenta\u00e7\u00e3o, para amolecer a casca dos frutos.     Despolpamento, para retirada da casca e do arilo. Lavagem, coloca-se o produto despolpado em um paneiro e este dentro d\u2019\u00e1gua, as sementes v\u00e3o para o fundo enquanto a casca sobe \u00e0 superf\u00edcie. Lava-se ent\u00e3o o guaran\u00e1 para libert\u00e1-lo da massa branca aderente.
Torrefa\u00e7\u00e3o, \u00e9 feita em fornos de barro ou tachos de ferro, cobre ou argila. As sementes s\u00e3o revolvidas com um rodo e, ap\u00f3s torradas, s\u00e3o colocadas em paneiros para esfriar.    <\/p>\n\n\n\n

Retirada da casquilha da semente conforme a tradi\u00e7\u00e3o – as sementes s\u00e3o colocadas em sacos e batidas com varas, depois se passa por peneiras. Esse trabalho tamb\u00e9m pode ser feito em pil\u00f5es ou em m\u00e1quinas. Tritura\u00e7\u00e3o, feita em pil\u00f5es de madeira ou piladeiras mec\u00e2nicas. Ao preparar o bast\u00e3o do guaran\u00e1, acrescenta-se \u00e1gua aos poucos at\u00e9 formar uma pasta. Panifica\u00e7\u00e3o, com o uso das m\u00e3os os “padeiros” compactam a massa, expulsando o ar e dando-lhe forma cil\u00edndrica.    <\/p>\n\n\n\n

Defuma\u00e7\u00e3o, os bast\u00f5es s\u00e3o levados para o “moquiador” onde passam cerca de quarenta e oito horas sobre o fogo, para retirar a \u00e1gua e evitar rachaduras posteriores. Devidamente “assados” s\u00e3o levados ao “fumeiro” onde passam no m\u00ednimo quarenta e cinco dias. O “fumeiro” \u00e9 uma casa de barro, hermeticamente fechada, com v\u00e1rias prateleiras de madeira onde s\u00e3o colocados os bast\u00f5es, primeiro nas inferiores, pr\u00f3ximas ao fogo, e transferidos para as superiores at\u00e9 a \u00faltima prateleira completamente “curados”. A lenha mais usada \u00e9 o Murici (Birsonima sp) que produz mais fuma\u00e7a que calor e possui uma resina cujo odor empresta sabor caracter\u00edstico ao p\u00e3o de guaran\u00e1.     <\/p>\n\n\n\n

Sater\u00e9-Maw\u00e9, Os filhos do Guaran\u00e1<\/strong>   
Inventores da cultura do Guaran\u00e1, os Sater\u00e9-Maw\u00e9 transformaram a Paullinia cupana<\/em>, uma trepadeira silvestre da fam\u00edlia das Sapind\u00e1ceas, em arbusto cultivado, introduzindo seu plantio e beneficiamento. O guaran\u00e1 \u00e9 uma planta nativa da regi\u00e3o das terras altas da bacia hidrogr\u00e1fica do rio Mau\u00e9s-A\u00e7u, que coincide precisamente com o territ\u00f3rio tradicional Sater\u00e9-Maw\u00e9. Os Sater\u00e9-Maw\u00e9 se v\u00eaem como inventores da cultura dessa planta, auto-imagem justificada no plano ideol\u00f3gico por meio do mito da origem, segundo o qual seriam os Filhos do Guaran\u00e1. O guaran\u00e1 \u00e9 o produto por excel\u00eancia da economia sater\u00e9-maw\u00e9, sendo, dos seus produtos comerciais, o que obt\u00e9m maior pre\u00e7o no mercado. \u00c9 poss\u00edvel ainda pensar que a voca\u00e7\u00e3o para o com\u00e9rcio demonstrada pelos Sater\u00e9-Maw\u00e9 se explique pela import\u00e2ncia do guaran\u00e1 na sua organiza\u00e7\u00e3o social e econ\u00f4mica.<\/p>\n\n\n\n

A primeira descri\u00e7\u00e3o do guaran\u00e1 e sua import\u00e2ncia para os Sater\u00e9-Maw\u00e9 data de 1669, ano que coincide com o primeiro contato do grupo com os brancos. O padre Jo\u00e3o Felipe Betendorf descrevia, em 1669, que “tem os Andirazes em seus matos uma frutinha que chamam guaran\u00e1, a qual secam e depois pisam, fazendo dela umas bolas, que estimam como os brancos o seu ouro, e desfeitas com uma pedrinha, com que as v\u00e3o ro\u00e7ando, e em uma cuia de \u00e1gua bebida, d\u00e1 t\u00e3o grandes for\u00e7as, que indo os \u00edndios \u00e0 ca\u00e7a, um dia at\u00e9 o outro n\u00e3o t\u00eam fome, al\u00e9m do que faz urinar, tira febres e dores de cabe\u00e7a e c\u00e3ibras”.<\/p>\n\n\n\n

Em 1819, o naturalista Carl von Martius recolheu na regi\u00e3o de Mau\u00e9s uma amostra de guaran\u00e1, denominado-a Paullinia sorbilis<\/em>. Martius observou que na \u00e9poca j\u00e1 existia intenso com\u00e9rcio de guaran\u00e1, enviado a locais distantes como o Mato Grosso e a Bol\u00edvia. Assim, em 1868, Ferreira Pena escreve: ”Cada ano descem pelo Madeira mercadores da Bol\u00edvia e Mato-Grosso dirigindo-se \u00e0 Serpa e Vila Bela Imperatriz, para onde trazem seus g\u00eaneros de exporta\u00e7\u00e3o e donde recebem os de importa\u00e7\u00e3o. Da\u00ed antes de regressarem v\u00e3o a Mau\u00e9s, donde levam mil arrobas de guaran\u00e1, regressando ent\u00e3o em ub\u00e1s, carregadas daqueles e deste \u00faltimo g\u00eanero, que eles v\u00e3o vender nos departamentos de Beni, Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba na Bol\u00edvia e nas povoa\u00e7\u00f5es do Guapor\u00e9 e seus afluentes”.<\/p>\n\n\n\n

O com\u00e9rcio do guaran\u00e1 sempre foi intenso na regi\u00e3o de Mau\u00e9s, n\u00e3o s\u00f3 o realizado pelos Sater\u00e9-Maw\u00e9, mas tamb\u00e9m pelos civilizados. A procura deste produto deve-se \u00e0s propriedades de estimulante, regulador intestinal, antiblenorr\u00e1gico, t\u00f4nico cardiovascular e afrodis\u00edaco. No entanto, \u00e9 como estimulante que o guaran\u00e1, depois de beneficiado, \u00e9 mais procurando, pois cont\u00e9m alto teor de cafe\u00edna (de 4 a 5%), superior ao ch\u00e1 (2%) e ao caf\u00e9 (1%). Existe uma distin\u00e7\u00e3o entre o guaran\u00e1 de excelente qualidade beneficiado pelos Sater\u00e9-Maw\u00e9, chamado guaran\u00e1 das terras, guaran\u00e1 das terras altas e guaran\u00e1 do Marau e o guaran\u00e1 beneficiado pelos civilizados na regi\u00e3o de Mau\u00e9s, chamado guaran\u00e1 de Luz\u00e9ia, antigo nome desta cidade, de qualidade inferior porque produzido sem os conhecimentos e apuro das pr\u00e1ticas tradicionais dos \u00edndios. <\/p>\n\n\n\n

O guaran\u00e1 das terras sempre foi o mais procurado e, no entanto, os Sater\u00e9-Maw\u00e9 vendem, no m\u00e1ximo, duas toneladas do produto por ano, e apenas nos anos de excelente safra. J\u00e1 o guaran\u00e1 de Luz\u00e9ia, muito inferior, \u00e9 produzido em larga escala; s\u00f3 uma empresa de comercializa\u00e7\u00e3o do produto em Mau\u00e9s afirma vender 40 toneladas anuais<\/p>\n\n\n\n

Funda\u00e7\u00e3o Joaquim Nabuco<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O Guaran\u00e1, arbusto da fam\u00edlia das Sapind\u00e1ceas, muito comum no Amazonas e no Par\u00e1 \u00e9 tamb\u00e9m conhecido como naranazeiro, uaran\u00e1, guarana\u00fava e guarana\u00edna. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":3073,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1607],"tags":[216,662,699,1324,213],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3072"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=3072"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3072\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":3655,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3072\/revisions\/3655"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/3073"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=3072"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=3072"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=3072"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}