{"id":2995,"date":"2009-10-13T10:49:08","date_gmt":"2009-10-13T10:49:08","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:00:18","modified_gmt":"2021-07-10T23:00:18","slug":"saiba_mais_sobre_os_indios_guarani","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/indios\/artigos\/saiba_mais_sobre_os_indios_guarani.html","title":{"rendered":"Saiba mais sobre os \u00edndios Guarani"},"content":{"rendered":"\n

No tempo em que os europeus chegaram \u00e0 Am\u00e9rica do Sul, no s\u00e9culo XVI, os guarani deviam ser mais de um milh\u00e3o de pessoas e ocupavam um territ\u00f3rio de dezenas de milh\u00f5es de hectares, desde o litoral de S\u00e3o Paulo, quase toda a regi\u00e3o Sul, at\u00e9 parte da Argentina e uma larga parcela do Paraguai – onde, at\u00e9 hoje, o guarani \u00e9 l\u00edngua oficial, falada por muito mais gente do que o espanhol, principalmente entre os camponeses do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Apesar das similaridades culturais, os guarani nunca constitu\u00edram uma unidade s\u00f3cio-pol\u00edtica, mas, como acontecia no caso dos tupi, no litoral entre S\u00e3o Paulo e o Maranh\u00e3o, quem aprendia a l\u00edngua em um determinado local conseguia se comunicar com gente de quase todas as outras regi\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Ao longo da hist\u00f3ria, as diferentes comunidades guarani tiveram variadas denomina\u00e7\u00f5es. Atualmente, no Brasil, existem tr\u00eas grupos: os guarani mbya, no litoral do Sudeste e no Rio Grande do Sul, principalmente; os guarani nhandeva, ou simplesmente guarani, como eles se auto-denominam, no sul de Mato Grosso do Sul, interior do Paran\u00e1 e de S\u00e3o Paulo; e os guarani kaiow\u00e1, que, em territ\u00f3rio brasileiro, s\u00e3o encontrados apenas no sul de Mato Grosso do Sul. No Paraguai, os kaiow\u00e1 s\u00e3o conhecidos como pai tavyter\u00e3, e os nhandeva, por chirip\u00e1, ou ava katu et\u00e9. Em outros pa\u00edses, h\u00e1 mais grupos guarani, como os chiriguanos, na Bol\u00edvia.<\/p>\n\n\n\n

Grosso modo, os mbya foram os guarani que formaram as miss\u00f5es jesu\u00edticas, no s\u00e9culo XVII. Os kaiow\u00e1, por sua vez, habitavam uma regi\u00e3o muito erma, as densas florestas da serra do Amambai, onde hoje se localiza a fronteira entre o Mato Grosso do Sul e o Paraguai, entre os rios Apa e Miranda – era a chamada prov\u00edncia do Itatim. Por causa das dificuldades de acesso, eles permaneceram praticamente isolados at\u00e9 meados do s\u00e9culo XIX.<\/p>\n\n\n\n

Depois da Guerra do Paraguai (1864-1870), que, em parte, teve como palco o territ\u00f3rio kaiow\u00e1, esses \u00edndios passaram a ter cada vez mais o contato com os brancos. Nos anos 1880, o governo brasileiro concedeu ao ga\u00facho Thomas Larangeiras o direito de explorar a erva-mate nativa numa vasta regi\u00e3o entre o sul de Mato Grosso, o oeste do Paran\u00e1 e o leste do Paraguai, com mais de cinco milh\u00f5es de hectares de extens\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Progressivamente, at\u00e9 os anos 1940, quando entrou em decad\u00eancia, essa atividade incorporou os kaiow\u00e1 e nhandeva da regi\u00e3o \u00e0 economia nacional, a partir da contrata\u00e7\u00e3o de sua m\u00e3o-de-obra no extrativismo, em troca de bens de consumo como o charque e o sal. Em seguida, entre os anos 50 e 70, os \u00edndios continuaram trabalhando na “limpeza” das fazendas de colonos vindos de todas as partes do pa\u00eds que se instalavam na regi\u00e3o depois que Get\u00falio Vargas instituiu, em 1943, a Col\u00f4nia Agr\u00edcola Nacional, em Dourados (MS).<\/p>\n\n\n\n

As fazendas da regi\u00e3o experimentaram grande impulso, principalmente a partir dos anos 70, quando a economia local se integrou ao mercado internacional, sobretudo com a soja e o gado de corte. Com a mecaniza\u00e7\u00e3o e a especializa\u00e7\u00e3o em torno dessas atividades, a presen\u00e7a ind\u00edgena nos fundos de fazenda passou a ser, na maioria dos casos, dispens\u00e1vel e indesej\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

A forma tradicional de organiza\u00e7\u00e3o social kaiow\u00e1 e guarani se d\u00e1 em fam\u00edlias extensas (para entender o que \u00e9 isso, imagine aquelas fotos de fam\u00edlia que n\u00f3s, brancos, conseguimos tirar poucas vezes na vida, quando se re\u00fanem todos os tios, primos, netos, bisnetos…). At\u00e9 cem pessoas moravam numa mesma casa, geralmente perto de um c\u00f3rrego ou rio, em uma regi\u00e3o de floresta que oferecesse boa terra para plantio, ca\u00e7a e pesca. As fam\u00edlias eram lideradas pelo casal mais idoso, experiente e que demonstrasse boas habilidades xaman\u00edsticas – para curar e manter a sa\u00fade das pessoas, al\u00e9m de boas lavouras e boa ca\u00e7a, todos sinais de uma boa rela\u00e7\u00e3o com os deuses.<\/p>\n\n\n\n

Cerca de tr\u00eas a quatro dessas fam\u00edlias extensas habitavam a poucos quil\u00f4metros umas das outras, formando um tekoha, o que equivale a nossa id\u00e9ia de comunidade. Embora n\u00e3o haja um p\u00e1tio central ou casas pr\u00f3ximas, essas fam\u00edlias eram ligadas por casamentos entre seus membros e festas peri\u00f3dicas em que trocavam presentes e realizavam refei\u00e7\u00f5es conjuntas – o que mantinha seus la\u00e7os de solidariedade, coopera\u00e7\u00e3o e amizade.<\/p>\n\n\n\n

Nos anos 70, dezenas dessas fam\u00edlias extensas, cada vez mais espremidas nos fundos de fazenda, foram levadas aleatoriamente para oito reservas ind\u00edgenas que haviam sido demarcadas pelo Servi\u00e7o de Prote\u00e7\u00e3o ao \u00cdndio, entre as d\u00e9cadas de 10 e 40. Essas reservas ficam propositalmente pr\u00f3ximas das cidades da regi\u00e3o, como Caarap\u00f3, Amamba\u00ed e Dourados.<\/p>\n\n\n\n

O objetivo dessa demarca\u00e7\u00e3o era o de promover a progressiva “civiliza\u00e7\u00e3o” dos \u00edndios. No in\u00edcio do s\u00e9culo XX, imperava entre nossa elite intelectual o pensamento evolucionista, segundo o qual esses povos “selvagens” estavam apenas num est\u00e1gio “menos avan\u00e7ado” de cultura. Em contato com os brancos, eles naturalmente se tornariam como n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n

Com as fam\u00edlias trazidas aleatoriamente para as oito \u00e1reas, os problemas nessas reservas foram se acumulando. A falta de espa\u00e7o para plantar e a demanda cada vez mais intensa dos mais jovens por bens produzidos pelos brancos levou \u00e0 intensifica\u00e7\u00e3o da changa, o trabalho por contrato nas fazendas e nas planta\u00e7\u00f5es das usinas de cana que se instalaram na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Por exemplo, na reserva de Dourados, a maior cidade da regi\u00e3o, no final dos anos 50, a popula\u00e7\u00e3o era de menos de mil pessoas. Hoje \u00e9 de quase dez mil. Problemas como os altos \u00edndices de suic\u00eddios, viol\u00eancia e desestrutura\u00e7\u00e3o de fam\u00edlias nucleares podem estar relacionados a essa superpopula\u00e7\u00e3o, segundo avaliam antrop\u00f3logos e historiadores.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, os cerca de 30 mil guarani e kaiow\u00e1 do Mato Grosso do Sul ocupam cerca de 40 mil hectares. D\u00e1 pouco mais de um hectare por pessoa, ou cinco hectares para uma fam\u00edlia nuclear. Os especialistas estimam que seriam necess\u00e1rios pelo menos 40 hectares por fam\u00edlia para garantir o modo de produ\u00e7\u00e3o tradicional, com uma agricultura de coivara com rota\u00e7\u00e3o dos terrenos. (Ag\u00eancia Brasil). <\/p>\n\n\n\n

Ag\u00eancia Brasil<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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