{"id":2831,"date":"2009-05-04T12:52:59","date_gmt":"2009-05-04T12:52:59","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:00:30","modified_gmt":"2021-07-10T23:00:30","slug":"a_memoria_do_brasil_gravada_na_caatinga","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/unidades_de_conservacao\/artigos_ucs\/a_memoria_do_brasil_gravada_na_caatinga.html","title":{"rendered":"A Mem\u00f3ria do Brasil gravada na Caatinga"},"content":{"rendered":"\n

H\u00e1 50.000 anos, alguns homens deixaram suas marcas em pinturas e gravuras feitas em pedras e paredes rochosas. As pinturas e gravuras rupestres datam de 12.000 anos e est\u00e3o espalhadas em setecentos s\u00edtios arqueol\u00f3gicos. S\u00e3o 214 quil\u00f4metros de per\u00edmetro que abrigam ind\u00edcios da presen\u00e7a do homem pr\u00e9-hist\u00f3rico nas Am\u00e9ricas.<\/p>\n\n\n\n

Falo do Parque Nacional da Serra da Capivara, Patrim\u00f4nio Cultural da Humanidade segundo a UNESCO, com o mesmo grau de import\u00e2ncia da Catedral de Notre Dame. O Parque Nacional da Serra da Capivara fica na cidade de S\u00e3o Raimundo Nonato, a sudeste do Piau\u00ed, distante 300 quil\u00f4metros de Petrolina e 530 de Teresina, com uma superf\u00edcie de 97.933 hectares e um per\u00edmetro de 300 quil\u00f4metros.<\/p>\n\n\n\n

Hoje est\u00e3o ali 33 esp\u00e9cies de mam\u00edferos n\u00e3o-voadores, 24 de morcegos, 208 esp\u00e9cies de aves, 19 de lagartos, 17 de serpentes, 17 de r\u00e3s e sapos e mais de 1000 tipos de plantas.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 5 anos visitei a regi\u00e3o com meu filho Leonardo, ent\u00e3o com 10 anos. O garoto, impressionado com os desenhos antiq\u00fc\u00edssimos, os copiou num bloco. Ao aprontarmos as malas, me pediu que os deixasse com algu\u00e9m de l\u00e1. Toquei a campainha da Funda\u00e7\u00e3o Museu do Homem Americano e fui atendido pela antrop\u00f3loga Ni\u00e8de Guidon. Sensibilizada com o pedido do menino (que escrevera junto aos desenhos que \u201cn\u00e3o deixassem apag\u00e1-los\u201d), Ni\u00e8de nos convidou para um caf\u00e9. Foi ent\u00e3o que conheci, de perto, a batalha da incans\u00e1vel professora e de sua fant\u00e1stica equipe de colaboradores.<\/p>\n\n\n\n

Num tempo n\u00e3o muito longe, a ca\u00e7a aos animais silvestres era incentivada, assim como a explora\u00e7\u00e3o de cal em barrancos pr\u00e9-hist\u00f3ricos. Um trabalho constante e \u00e1rduo vem sendo feito para proteger, preservar e mant\u00ea-los. Tarefa dif\u00edcil que muitas vezes vai contra os interesses econ\u00f4micos de alguns poucos homens.<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio de Setembro, encontrei-me novamente com Ni\u00e8de Guidon, agora em S\u00e3o Paulo. Disse-me que o Parque Nacional continuava lutando para sobreviver. H\u00e1, por exemplo, verba para a cria\u00e7\u00e3o de um aeroporto – essencial para que a regi\u00e3o explore o turismo, mantendo-se auto-suficiente – dispon\u00edvel em Bras\u00edlia, mas o governo alega estar sem caixa para repass\u00e1-la.<\/p>\n\n\n\n

A funda\u00e7\u00e3o que ela preside tinha a promessa de obter recursos para o manejo do Parque Nacional atrav\u00e9s da Sudene. O \u00f3rg\u00e3o pediu uma s\u00e9rie de a\u00e7\u00f5es. Todas foram seguidas \u00e0 risca. Meses depois, FHC extinguiu a Sudene. Outra vez o parque ficou a ver navios e n\u00e3o avi\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Cansada de bater em portas governamentais (inclusive porque o ministro da Cultura nunca visitou o local em oito anos de governo), Ni\u00e8de vai iniciar uma nova luta: convencer o empresariado de que o Parque Nacional Serra da Capivara \u00e9 um excelente neg\u00f3cio. Para tanto, a funda\u00e7\u00e3o tem projetos arquitet\u00f4nicos aprovados para a constru\u00e7\u00e3o de hot\u00e9is e lodges, um parque tem\u00e1tico chamado Arke\u00f3polis, onde o turista conhecer\u00e1 a regi\u00e3o de forma l\u00fadica e at\u00e9 poder\u00e1 fazer sobrev\u00f4os em dirig\u00edveis sobre c\u00e2nions e outras forma\u00e7\u00f5es rochosas.<\/p>\n\n\n\n

Fica nesse espa\u00e7o de discuss\u00e3o o registro da luta da Fumdham pela dignidade desse espa\u00e7o brasileiro por excel\u00eancia. E que nosso futuro presidente comece seu mandato fazendo uma grande festa em S\u00e3o Raimundo Nonato, em plena caatinga. N\u00e3o pelos quinhentos anos do Brasil, como fez seu antecessor. Mas pelos quinhentos s\u00e9culos de povo brasileiro.<\/p>\n\n\n\n

O que era caatinga, o que era vegeta\u00e7\u00e3o, ser\u00e1 apenas deserto.<\/p>\n\n\n\n

Carlos Castelo Branco
\nFonte: Revista Eco 21, ano XII, N\u00ba 74, janeiro\/2003.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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