{"id":2825,"date":"2009-04-30T15:50:49","date_gmt":"2009-04-30T15:50:49","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:00:31","modified_gmt":"2021-07-10T23:00:31","slug":"floresta_da_tijuca_um_resgate_do_nome_imposto_pela_historia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/unidades_de_conservacao\/artigos_ucs\/floresta_da_tijuca_um_resgate_do_nome_imposto_pela_historia.html","title":{"rendered":"Floresta da Tijuca: um resgate do nome imposto pela hist\u00f3ria"},"content":{"rendered":"\n
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\u00c9 fant\u00e1stica a iniciativa de se ampliar o Parque Nacional da Tijuca. Tal medida h\u00e1 muito se imp\u00f5e. Est\u00e3o de parab\u00e9ns todos aqueles que durante os \u00faltimos cinco anos se bateram por essa amplia\u00e7\u00e3o que finalmente garantir\u00e1 ao Parque a integridade do que resta de corredor ecol\u00f3gico entre os maci\u00e7os da Tijuca e da Pedra Branca. Especial elogio deve ser feito \u00e0 atual dire\u00e7\u00e3o do PNT e aos diversos setores da Sociedade Civil que, desde a confer\u00eancia \u201cCape Town e Rio de Janeiro – A Gest\u00e3o de Parques em \u00c1reas Urbanas do Terceiro Mundo\u201d, que primeiro propugnou por essa id\u00e9ia, sempre se bateram por sua consecu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Aproveito este momento de mudan\u00e7a, entretanto para trazer \u00e0 baila outra quest\u00e3o que h\u00e1 muito se imp\u00f5e: a do nome do nosso querido Parque. Como \u00e9 sabido a \u201cFloresta\u201d, como carinhosamente todos a conhecemos, foi primeiro elevada a Parque em 1961, com o nome de Parque Nacional do Rio de Janeiro. Em 1967, por iniciativa do professor Alceo Magnini e colaboradores, o nome do Parque foi mudado para Parque Nacional da Tijuca.<\/p>\n\n\n\n

A l\u00f3gica por tr\u00e1s da mudan\u00e7a \u00e9 absolutamente cristalina. Era o caso de dar ao Parque o nome de sua principal atra\u00e7\u00e3o, no caso o Maci\u00e7o da Tijuca. Ocorre, contudo, que jamais o nome pegou. Quando fui diretor do Parque da Tijuca nos anos de 1999 e 2000, o Parque Nacional da Tijuca continuava conhecido como Parque Nacional da Floresta da Tijuca ou, mais singelamente, por Floresta da Tijuca. O Ministro do Meio Ambiente, o Prefeito do Rio de Janeiro, os Secret\u00e1rios Estadual e Municipal de Meio Ambiente, a imprensa, os mapas tur\u00edsticos, e a absoluta maioria dos usu\u00e1rios s\u00f3 chamavam o PNT de Floresta da Tijuca. N\u00e3o importa se a Vista Chinesa, a Pedra da G\u00e1vea, as Paineiras ou Sumar\u00e9 n\u00e3o est\u00e3o na Floresta, para a televis\u00e3o, o r\u00e1dio, e a popula\u00e7\u00e3o tudo \u00e9 parte da Floresta.<\/p>\n\n\n\n

A origem do nome vem de 1861, quando foi criada a Floresta Nacional da Tijuca, a ser formada por propriedades que o Estado desapropriara mediante indeniza\u00e7\u00e3o, naquela altura, j\u00e1 uma extens\u00e3o significativa de terras. Percebe-se da\u00ed a origem de um nome que se transformar\u00e1 para sempre em toda sorte de confus\u00e3o para os cariocas.<\/p>\n\n\n\n

O termo Floresta, quando referente \u00e0 Tijuca, desde seus prim\u00f3rdios n\u00e3o guarda rela\u00e7\u00e3o com uma parcela de mata, mas com uma unidade administrativa, que era diferente da Floresta das Paineiras ou da Floresta do Andara\u00ed Grande, hoje tamb\u00e9m parte do Parque Nacional da Tijuca. Recorremos a Alu\u00edsio de Azevedo, que em Livro de uma Sogra mostra bem que a Floresta da Tijuca, em sua concep\u00e7\u00e3o, era uma \u00e1rea bem delimitada que sequer abarcava os terrenos que incluem a Cascatinha: \u201cRealizamos um belo passeio \u00e0 Floresta da Tijuca… foi deliciosa a subida at\u00e9 o alto da serra, por entre as vegeta\u00e7\u00f5es e os penhascos da estrada. N\u00e3o quisemos nos deter na Cascatinha, e continuamos a subir para a Floresta\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m \u00e9 interessante a passagem do romance Sonhos d\u2019Ouro, de Jos\u00e9 de Alencar, publicado em 1872, no qual podemos ver claramente que o termo Floresta da Tijuca sequer designava uma por\u00e7\u00e3o de selva existente, mas sim uma mata a plantar: \u201clembrou-se o mo\u00e7o de subir at\u00e9 a Floresta, um dos mais lindos s\u00edtios da Tijuca. O nome pomposo do lugar n\u00e3o \u00e9 por hora mais do que uma promessa; quando por\u00e9m crescerem as mudas de \u00e1rvores de lei, que a paci\u00eancia e inteligente esfor\u00e7o do engenheiro Archer t\u00eam alinhado aos milhares pelas encostas, uma selva frondosa cobrir\u00e1 o largo dorso da montanha onde nascem os ricos mananciais.\u201d<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 140 anos atr\u00e1s, a bela Floresta da Tijuca que deu origem ao Parque n\u00e3o existia. Em lugar das \u00e1rvores havia uma centena de pequenas e m\u00e9dias ch\u00e1caras, algumas para o veraneio das fam\u00edlias ricas da Corte, outras o retrato da decad\u00eancia das outrora opulentas planta\u00e7\u00f5es de caf\u00e9 que transformaram a Tijuca no motor econ\u00f4mico do Imp\u00e9rio. Hoje, o reflorestamento j\u00e1 deu resultado e ligou em uma s\u00f3 mata as diversas florestas da Tijuca, da G\u00e1vea Pequena, do Andara\u00ed, dos Ciganos e das Paineiras. Para o habitante contempor\u00e2neo do Rio, ela \u00e9 uma s\u00f3, basta olhar para qualquer morro da cidade e ver \u00e1rvores que pronto: l\u00e1 est\u00e1 a Floresta da Tijuca. Para os cariocas, tudo \u00e9 Floresta da Tijuca, a ponto de que a imprensa local afirma freq\u00fcentemente que \u201cEntre os destaques da Floresta da Tijuca est\u00e3o as Paineiras, o Corcovado, o Mirante Dona Marta…\u201d. Apenas a burocracia insiste em achar que a luxuriante Floresta da Tijuca do S\u00e9culo 21 segue tendo os acanhados limites da desbastada Floresta da Tijuca de meados do S\u00e9culo 19. \u00c9 hora de aproveitar a expans\u00e3o de seus limites para dar, ao Parque, o nome que ele realmente tem: Floresta da Tijuca. At\u00e9 o Presidente da Rep\u00fablica se rendeu \u00e0 realidade de que o melhor nome \u00e9 aquele pelo qual somos conhecidos e incorporou \u201cLula\u201d ao seu, passando a se chamar Lu\u00eds In\u00e1cio Lula da Silva.<\/p>\n\n\n\n

A Ministra Marina Silva anunciou no s\u00e1bado 5\/6\/04, na sede do Parque, no Rio de Janeiro, a amplia\u00e7\u00e3o do Parque Nacional da Tijuca, de 3,2 mil hectares para 3,95 mil hectares (quase quatro mil campos de futebol). Com a amplia\u00e7\u00e3o, o Parque criado em 1961 passa a incorporar o Parque Lage e a \u00e1rea chamada de conjunto Pretos Forros\/Covanca. Al\u00e9m disso, foram corrigidos os limites da Unidade de Conserva\u00e7\u00e3o, chegando a um aumento real de 753 hectares. O Decreto 03\/2004, que pela primeira vez amplia uma \u00e1rea de preserva\u00e7\u00e3o urbana, foi publicado no Di\u00e1rio Oficial da Uni\u00e3o de Sexta-feira.<\/p>\n\n\n\n

A Floresta da Tijuca \u00e9 considerada a maior \u00e1rea de mata em meio urbano do mundo, e foi declarada Reserva da Biosfera em 1991. O Parque \u00e9 administrado pelo IBAMA em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro. \u201cNa \u00e1rea incorporada do Parque Lage ser\u00e3o realizados eventos p\u00fablicos, a\u00e7\u00f5es de cunho social e de educa\u00e7\u00e3o ambiental. J\u00e1 o conjunto Pretos Forros\/Covanca ser\u00e1 destinado principalmente para pesquisas\u201d, disse S\u00f4nia Peixoto, chefa do Parque.<\/p>\n\n\n\n

A Unidade de Conserva\u00e7\u00e3o \u00e9 uma importante \u00e1rea de lazer e pr\u00e1tica de esportes dispon\u00edvel para os quase 6 milh\u00f5es de cariocas, os grandes beneficiados com a amplia\u00e7\u00e3o, al\u00e9m de ser atra\u00e7\u00e3o tur\u00edstica nacional e internacional.<\/p>\n\n\n\n

As diversas estradas e trilhas do Parque permitem visit\u00e1-lo a p\u00e9, de bicicleta, motocicleta, autom\u00f3vel ou \u00f4nibus. No local, existem s\u00edmbolos da cidade e do Pa\u00eds, como a est\u00e1tua do Cristo Redentor, a Vista Chinesa, a Capela Mayrink, o Barrac\u00e3o, a Gruta Paulo e Virg\u00ednia, o Lago das Fadas e o A\u00e7ude da Solid\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A Floresta da Tijuca tamb\u00e9m abriga valiosos remanescentes da Mata Atl\u00e2ntica, o bioma mais amea\u00e7ado do Pa\u00eds. Mais de um milh\u00e3o e meio de pessoas visitam o local a cada ano. Al\u00e9m disso, o Parque tem como fun\u00e7\u00f5es proteger uma amostra de Mata Atl\u00e2ntica dentro de uma regi\u00e3o metropolitana e as nascentes que abastecem a popula\u00e7\u00e3o urbana em seu entorno, como as dos rios Carioca e Maracan\u00e3, al\u00e9m de resguardar a animais e plantas, alguns amea\u00e7ados ou em perigo de extin\u00e7\u00e3o. At\u00e9 meados do S\u00e9culo 17, a \u00e1rea do Parque Nacional da Tijuca permaneceu praticamente intocada. A partir da\u00ed, foi ocupada por atividades agr\u00edcolas, como a da cana-de-a\u00e7\u00facar, no S\u00e9culo 17, e caf\u00e9, nos S\u00e9culos 18 e 19.<\/p>\n\n\n\n

Atualmente, o Parque sofre com a polui\u00e7\u00e3o e com expans\u00e3o urbana descontrolada. No seu entorno vivem 46 comunidades.<\/p>\n\n\n\n

* Pedro da Cunha e Menezes Escritor, diplomata e ex-Diretor do Parque Nacional da Floresta da Tijuca.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"