{"id":2822,"date":"2009-04-30T15:16:00","date_gmt":"2009-04-30T15:16:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:00:31","modified_gmt":"2021-07-10T23:00:31","slug":"aqui_jaz_uma_rodovia_ecologica","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/unidades_de_conservacao\/artigos_ucs\/aqui_jaz_uma_rodovia_ecologica.html","title":{"rendered":"Aqui jaz uma rodovia ecol\u00f3gica"},"content":{"rendered":"\n

H\u00e1 um o\u00e1sis verde de 34 mil hectares no cora\u00e7\u00e3o de Minas Gerais. \u00c9 o Parque Nacional da Serra do Cip\u00f3, Patrim\u00f4nio Natural da Humanidade que concentra o maior n\u00famero de flores por metro quadrado do pa\u00eds. Em 1995, toda essa riqueza ambiental seria valorizada com a inaugura\u00e7\u00e3o da MG-10, primeira \u201crodovia ecol\u00f3gica\u201d do Brasil. Ela s\u00f3 tem um defeito: nunca saiu do papel.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n

O trecho corresponde a uma boa parte da antiga Estrada Real, principal rota do ouro e dos diamantes das Minas Gerais nos s\u00e9culos XVIII e XIX. O tra\u00e7ado original passava pela Serra do Cip\u00f3, chegando at\u00e9 a cidade hist\u00f3rica de Diamantina. A regi\u00e3o \u00e9 dotada de grande diversidade biol\u00f3gica. O relevo acidentado, formado por encostas rochosas, serve de ref\u00fagio para o tamandu\u00e1-mirim, o veado campeiro, o lobo guar\u00e1, a paca, o quati, o tatu, a capivara e a on\u00e7a pintada. V\u00e1rios rios e quedas d\u2019\u00e1gua serpenteiam aquele peda\u00e7o de cerrado. A cachoeira do Tabuleiro, terceira maior do Brasil com 273 metros de altura, \u00e9 o cart\u00e3o postal da regi\u00e3o. No alto das montanhas, o campo rupestre, bioma raro e delicado, desenvolve-se com facilidade.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n

Um para\u00edso que parece amea\u00e7ado pelo descaso. Na altura do km 3, 800 metros da rodovia abandonada foram um dia canteiro de obras. Gal\u00f5es de \u00f3leo cheios ficaram para tr\u00e1s \u2013 abertos, com seu conte\u00fado vazando no solo, o que amea\u00e7a o verde e as \u00e1guas. A fina camada de asfalto esfarelou-se. Pelo menos 15 quil\u00f4metros da estrada ainda s\u00e3o de terra. Outros 15 t\u00eam buracos que assustam at\u00e9 os motoristas acostumados a dirigir no Norte e Nordeste do pa\u00eds. Nos 30 quil\u00f4metros restantes o asfalto ainda \u00e9 razo\u00e1vel. Mas o trecho est\u00e1 longe de cumprir as 25 exig\u00eancias que autorizaram sua pavimenta\u00e7\u00e3o e regulamentam uma obra ecol\u00f3gica. Nada de quatro pistas, acostamentos, ciclovias, bueiros para escoamento das \u00e1guas das chuvas, passarelas ou prote\u00e7\u00f5es para os carros em desfiladeiros, como dizia o projeto.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n

Em quase dez anos de obra incompleta, ora reiniciada, ora paralisada, tr\u00eas governos estaduais revezaram-se na inapet\u00eancia em consolidar a rodovia ecol\u00f3gica. As fontes oficiais n\u00e3o revelam o valor original do projeto, mas o chefe da Divis\u00e3o de Meio Ambiente do Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER\/MG), Murilo Fonte Boa, d\u00e1 um exemplo da desimport\u00e2ncia pol\u00edtica da MG-10. Segundo ele, a Rodominas, construtora respons\u00e1vel pela pavimenta\u00e7\u00e3o em 2001, abandonou o trabalho por causa de um atraso no pagamento. O ent\u00e3o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, que tinha anunciado a destina\u00e7\u00e3o de R$22 milh\u00f5es para a obra, preparava-se para deixar o governo do Estado e o fantasma da Lei de Responsabilidade Fiscal rondava o Pal\u00e1cio da Liberdade. Resultado: o dinheiro n\u00e3o foi liberado. Sobre a atua\u00e7\u00e3o dos governos anterior (Eduardo Azeredo) e posterior (A\u00e9cio Neves), Fonte Boa nada soube informar.<\/p>\n\n\n\n

Em julho, o enredo ganhou novo cap\u00edtulo. O governador A\u00e9cio Neves mandou abrir nova licita\u00e7\u00e3o para concluir a rodovia ecol\u00f3gica. Dos 15 quil\u00f4metros de terra restantes, tr\u00eas ser\u00e3o de cal\u00e7amento, para diminuir o impacto ambiental na Serra do Cip\u00f3. As obras far\u00e3o parte do Pr\u00f3-Acesso, programa de asfaltamento das rodovias mineiras. Mas ainda falta muito para a estrada sair da rota do desperd\u00edcio de tempo, da malversa\u00e7\u00e3o de recursos p\u00fablicos e do desastre ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Por Matheus Leit\u00e3o e Raquel Coutinho
\nFonte: www.oeco.com.br
\nFotos: Matheus Leit\u00e3o<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"