{"id":2818,"date":"2009-04-30T14:57:29","date_gmt":"2009-04-30T14:57:29","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:00:33","modified_gmt":"2021-07-10T23:00:33","slug":"salvando_o_atol_das_rocas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/unidades_de_conservacao\/artigos_ucs\/salvando_o_atol_das_rocas.html","title":{"rendered":"Salvando o Atol das Rocas"},"content":{"rendered":"\n

Quase ningu\u00e9m soube. Mas no final do ano passado, a Esta\u00e7\u00e3o Cient\u00edfica da Reserva Biol\u00f3gica do Atol das Rocas esteve prestes a interromper suas atividades por conta de m\u00edseros 35 mil Reais. Esse era o dinheiro que o IBAMA devia ao dono do veleiro de 12 metros utilizado pela equipe respons\u00e1vel pela esta\u00e7\u00e3o para cruzar as 144 milhas n\u00e1uticas que separam Natal, no Rio Grande do Norte, de um dos mais importantes santu\u00e1rios ecol\u00f3gicos marinhos que existem na costa brasileira.<\/p>\n\n\n\n

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\u201cQuando o dono do barco me disse que ele n\u00e3o podia continuar nos transportando de \u2018gra\u00e7a\u2019, tive um ataque\u201d, conta Z\u00e9lia Brito, a chefe da turma do Ibama \u2013 ela e mais tr\u00eas pessoas \u2013 que cuida de toda a biodiversidade que existe no atol. O ataque era mais do que justificado. Sem ter como colocar uma equipe em Rocas e sustent\u00e1-la l\u00e1, o Brasil estava pondo em risco todo o trabalho de fiscaliza\u00e7\u00e3o, preserva\u00e7\u00e3o e pesquisa realizado nos 360 quil\u00f4metros quadrados de estrutura de recifes, e nas \u00e1guas at\u00e9 mil metros de profundidade em seu entorno, que formam a Reserva Biol\u00f3gica.<\/p>\n\n\n\n

Para a maioria das pessoas, talvez n\u00e3o houvesse raz\u00e3o para tanto alarme por causa de um monte de pedras semi-submersas no meio do oceano. Rocas, no entanto, \u00e9 important\u00edssimo para a vida marinha no Atl\u00e2ntico. Suas \u00e1guas servem de ber\u00e7\u00e1rio para v\u00e1rias esp\u00e9cies, algumas delas \u2013 como tartarugas, meros, tubar\u00f5es lixa, lagostas pintadas e arraias manta \u2013 amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o. \u201cEssa fauna se reproduz ali e, pelas correntes, vai realimentar pesqueiros distantes\u201d, explica Z\u00e9lia.<\/p>\n\n\n\n

Quem literalmente salvou esse peda\u00e7o da nossa p\u00e1tria do abandono oficial foi um empres\u00e1rio carioca, Paulo Tupinamb\u00e1, dono da Haztec, empresa que presta consultoria e servi\u00e7os na \u00e1rea ambiental. Ele assumiu sozinho os custos de opera\u00e7\u00e3o da Esta\u00e7\u00e3o Cient\u00edfica durante um ano. Z\u00e9lia lembrou-se de Tupinamb\u00e1 em Dezembro de 2003, quando recebeu a not\u00edcia de que, por conta da pinda\u00edba do IBAMA, o transporte regular para Rocas iria acabar.<\/p>\n\n\n\n

Ela o conheceu no pr\u00f3prio atol, onde Tupinamb\u00e1 aportou movido pela curiosidade de um filho adolescente. O menino teve que fazer um trabalho escolar sobre at\u00f3is e descobriu que em todo o Atl\u00e2ntico Sul havia apenas um, Rocas, justamente na costa do Brasil. O pai comprou a curiosidade do filho e resolveu agu\u00e7\u00e1-la. Meteu um projeto no IBAMA para fazer um v\u00eddeo educativo para crian\u00e7as sobre o lugar. Ganhou a autoriza\u00e7\u00e3o para realiz\u00e1-lo e apareceu por l\u00e1 em 2002. \u201cEle me disse que se eu precisasse de algo era s\u00f3 ligar\u201d, recorda Z\u00e9lia. T\u00e3o logo soube que ficaria sem meios de chegar \u00e0s Rocas, Z\u00e9lia passou a m\u00e3o no telefone e ligou para Tupinamb\u00e1. Ele pediu que colocasse em suas m\u00e3os, o mais r\u00e1pido poss\u00edvel, uma proposta de financiamento do trabalho na Esta\u00e7\u00e3o Cient\u00edfica. Z\u00e9lia e seus funcion\u00e1rios partiram para o atol num barco da Marinha brasileira \u2013 que ajuda a fiscalizar a \u00e1rea da Reserva Biol\u00f3gica \u2013 antes do Natal de 2003.<\/p>\n\n\n\n

Voltaram no fim de Janeiro e formalizaram o pedido de dinheiro ao empres\u00e1rio. Ele topou na hora dar os 148 mil reais para sustentar todo o trabalho da Esta\u00e7\u00e3o Cient\u00edfica durante um ano. O dinheiro cobre os custos de transporte, alimenta\u00e7\u00e3o, manuten\u00e7\u00e3o e paga pelos equipamentos de monitoramento e pesquisa. Paga tamb\u00e9m sal\u00e1rio a dois dos ajudantes de Z\u00e9lia, que at\u00e9 ent\u00e3o trabalhavam como volunt\u00e1rios, apenas na base do amor a Rocas. De quebra, Tupinamb\u00e1 colocou em cima da mesa mais 50 mil reais para financiar projetos de interesse da Esta\u00e7\u00e3o Cient\u00edfica.<\/p>\n\n\n\n

O primeiro deles dever\u00e1 ser uma esta\u00e7\u00e3o meteorol\u00f3gica proposta por professores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. A entrada em cena de Tupinamb\u00e1 (e seu dinheiro) causou grande al\u00edvio ao cora\u00e7\u00e3o de Z\u00e9lia, que h\u00e1 13 anos cuida de Rocas. \u201cO IBAMA pode fechar, o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente pode fechar, mas no que depender de mim, Rocas n\u00e3o fecha\u201d, garante. Prova de que fala s\u00e9rio \u00e9 que mesmo depois de ter conseguido financiamento privado para a opera\u00e7\u00e3o sob seu comando, ela continua entregando quase metade de seu sal\u00e1rio de 2.700 reais \u00e0 causa pela preserva\u00e7\u00e3o do atol. O dinheiro paga as pilhas das lanternas que sua equipe utiliza quanto est\u00e1 l\u00e1 e pelo seu equipamento pessoal de mergulho.<\/p>\n\n\n\n

Manoel Francisco Brito – Jornalista. Diretor de O ECO
\nFonte: Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 95, Outubro 2004. (www.eco21.com.br)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Rocas, no entanto, \u00e9 important\u00edssimo para a vida marinha no Atl\u00e2ntico. Suas \u00e1guas servem de ber\u00e7\u00e1rio para v\u00e1rias esp\u00e9cies, algumas delas \u2013 como tartarugas, meros, tubar\u00f5es lixa, lagostas pintadas e arraias manta \u2013 amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o. \u201cEssa fauna se reproduz ali e, pelas correntes, vai realimentar pesqueiros distantes\u201d, explica Z\u00e9lia. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":2819,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1580],"tags":[57,1306],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2818"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2818"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2818\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4073,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2818\/revisions\/4073"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2819"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2818"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2818"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2818"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}