{"id":2725,"date":"2009-04-22T16:29:20","date_gmt":"2009-04-22T16:29:20","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:01:15","modified_gmt":"2021-07-10T23:01:15","slug":"biodiversidade_araneologica_na_cidade_de_sao_paulo_a_urbanizacao_afeta_a_riqueza_de_especies","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/urbano\/artigos_urbano\/biodiversidade_araneologica_na_cidade_de_sao_paulo_a_urbanizacao_afeta_a_riqueza_de_especies.html","title":{"rendered":"Biodiversidade Araneol\u00f3gica na cidade de S\u00e3o Paulo: a urbaniza\u00e7\u00e3o afeta a riqueza de esp\u00e9cies?"},"content":{"rendered":"\n

A ecologia urbana \u00e9 uma \u00e1rea de pesquisa relativamente recente e o ambiente urbano, consequentemente, \u00e9 um ecossistema ainda pouco conhecido. O adensamento urbano leva a uma concentra\u00e7\u00e3o de recursos e de res\u00edduos, a altera\u00e7\u00f5es na paisagem, no clima, no sistema de drenagem, uso do solo, altera\u00e7\u00f5es estas que criam in\u00fameros novos microecossistemas, como rodovias e estradas de ferro, cintur\u00f5es verdes e cemit\u00e9rios, parques, \u00e1reas residenciais, comerciais e industriais, lix\u00f5es, etc (para um tratamento detalhado do funcionamento destes microecossistemas antropizados, veja Gilbert, 1989). A fauna atual das cidades \u00e9 afetada por in\u00fameros fatores, tanto ecol\u00f3gicos quanto hist\u00f3ricos, sendo um reflexo n\u00e3o apenas de uma depaupera\u00e7\u00e3o da composi\u00e7\u00e3o faun\u00edstica original (anterior aos processos de urbaniza\u00e7\u00e3o), mas tamb\u00e9m da repetida introdu\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies ex\u00f3genas; ela \u00e9 fruto n\u00e3o apenas desta diversidade atual de microecossistemas urbanos, mas tamb\u00e9m de fluxos de fauna entre tais microecossistemas, de efeitos de borda e de gradientes locais e gerais de urbaniza\u00e7\u00e3o; as interven\u00e7\u00f5es humanas regulares, tais como t\u00e9cnicas de jardinagem, uso de pesticidas, herbicidas e inseticidas constituem um \u00faltimo e importante fator que define a composi\u00e7\u00e3o faun\u00edstica nas cidades. Dessa forma, as cidades emergem como um sistema ecol\u00f3gico complexo, com uma din\u00e2mica muito particular, e que merece aten\u00e7\u00e3o da comunidade cient\u00edfica n\u00e3o apenas pelo interesse acad\u00eamico de compreens\u00e3o das vari\u00e1veis que o determinam, mas tamb\u00e9m, e principalmente, pelo fato de que as esp\u00e9cies que o comp\u00f5em frequentemente adquirem import\u00e2ncia econ\u00f4mica, est\u00e9tica ou afetiva, requerendo muitas vezes medidas de controle populacional (Robinson, 1996).<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
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O manejo da fauna urbana se torna t\u00e3o mais vi\u00e1vel de um ponto de vista econ\u00f4mico, quanto mais conhecida \u00e9 sua composi\u00e7\u00e3o, abund\u00e2ncia, distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica, e padr\u00f5es sazonais\/di\u00e1rios de atividade. Tal caracteriza\u00e7\u00e3o b\u00e1sica da fauna urbana ainda \u00e9 muito prec\u00e1ria em uma cidade como S\u00e3o Paulo, fazendo-se necess\u00e1rio um esfor\u00e7o de coleta e centraliza\u00e7\u00e3o de tais informa\u00e7\u00f5es para que se possa subsidiar pol\u00edticas p\u00fablicas de manejo da paisagem.<\/p>\n\n\n\n

Inventariando a fauna urbana<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Uma das primeiras provid\u00eancias neste sentido \u00e9 a realiza\u00e7\u00e3o de um invent\u00e1rio da fauna da cidade. Nossa equipe no Laborat\u00f3rio de Artr\u00f3podes concluiu recentemente um levantamento de dois anos da fauna araneol\u00f3gica em \u00e1reas da zona oeste da cidade de S\u00e3o Paulo, utilizando-se de um protocolo de coleta (Coddington et al., 1991) com ajustes para trabalho diurno.<\/p>\n\n\n\n

Amostramos igualmente duas \u00e1reas verdes (reserva da CUASO, cidade Universit\u00e1ria, e Parque Municipal da Previd\u00eancia) e \u00e1reas urbanizadas p\u00fablicas cont\u00edguas a tais remanescentes de mata.<\/p>\n\n\n\n

Em uma segunda fase do projeto realizamos coletas manuais nos quintais das resid\u00eancias e no interior das resid\u00eancias, nestas mesmas \u00e1reas. Para coletas nas casas foram deixados potes pl\u00e1sticos nos quais os moradores depositavam as aranhas encontradas no per\u00edodo de uma semana. Todo o material foi triado, morfoespeciado, e depositado na cole\u00e7\u00e3o do Instituto Butant\u00e3.<\/p>\n\n\n\n

Paralelamente a esta amostragem sistematizada, realizamos um levantamento das aranhas que foram trazidas ao Laborat\u00f3rio de Artr\u00f3podes neste mesmo per\u00edodo, oriundas da cidade de S\u00e3o Paulo, de modo a completar a listagem com esp\u00e9cies menos freq\u00fcentes ou pouco amostradas atrav\u00e9s dos m\u00e9todos tradicionais de coleta.<\/p>\n\n\n\n

Riqueza de esp\u00e9cies: cidade X mata<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O resultado de todo este esfor\u00e7o nos pareceu bastante surpreendente. Coletamos um n\u00famero elevado de esp\u00e9cies tanto nas reservas quanto nas \u00e1reas urbanizadas, perfazendo um total de 240 esp\u00e9cies na cidade como um todo. Dentre os v\u00e1rios estimadores de riqueza utilizados o que apresentou melhor desempenho (maior estabiliza\u00e7\u00e3o no final da curva) foi o Chao 1, que estimou a riqueza (n\u00famero de esp\u00e9cies) araneol\u00f3gica da cidade de S\u00e3o Paulo em 314,25 esp\u00e9cies. A t\u00edtulo de compara\u00e7\u00e3o, em uma coleta semelhante (que se utilizou dos mesmos m\u00e9todos \u2013 sem as modifica\u00e7\u00f5es que introduzimos nas \u00e1reas urbanas \u2013 ao longo de 6 meses) realizada no Parque Estadual da Serra da Cantareira, extensa \u00e1rea de mata preservada na zona norte do Munic\u00edpio de S\u00e3o Paulo, foram obtidas cerca de 350 esp\u00e9cies de aranhas. Se considerarmos este mesmo esfor\u00e7o de coleta em nossos dados, veremos que nos primeiros 6 meses de nossa pesquisa coletamos 160 esp\u00e9cies, um n\u00famero n\u00e3o muito diferente das 350 esp\u00e9cies obtidas na mata preservada da Serra da Cantareira. O que podemos concluir destas an\u00e1lises preliminares \u00e9 que o estabelecimento de uma malha urbana, desde que ela permita a presen\u00e7a de parques, \u00e1reas verdes, pra\u00e7as, \u00e1reas de lazer e mesmo terrenos baldios (ou seja, desde que ela seja semelhante \u00e0s \u00e1reas por n\u00f3s amostradas), n\u00e3o afeta significativamente a riqueza de esp\u00e9cies de aranhas.<\/p>\n\n\n\n

Riqueza de esp\u00e9cies dentro da cidade: \u00e1reas verdes X urbanizadas<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Embora as \u00e1reas verdes tenham mais esp\u00e9cies (202 spp) que as \u00e1reas urbanizadas (137 spp), a diferen\u00e7a entre elas foi bem menor do que esper\u00e1vamos. Mais surpreendente ainda \u00e9 o fato de que, dentre as esp\u00e9cies coletadas, cerca de 25% ocorre apenas nas \u00e1reas urbanizadas, contra 50% de esp\u00e9cies exclusivas das \u00e1reas verdes (o restante ocorrendo em ambos os sistemas). Isto significa que ao menos metade das esp\u00e9cies de \u00e1reas urbanizadas n\u00e3o s\u00e3o provenientes das matas cont\u00edguas, e que um quarto do total de esp\u00e9cies s\u00f3 existe em fun\u00e7\u00e3o das atividades antr\u00f3picas. Embora a urbaniza\u00e7\u00e3o pare\u00e7a ter um pequeno efeito sobre a riqueza de esp\u00e9cies, ela \u00e9 decisiva para a sua composi\u00e7\u00e3o: a malha urbana apresenta uma fauna rica e extremamente caracter\u00edstica.<\/p>\n\n\n\n

A abund\u00e2ncia (n\u00famero de indiv\u00edduos) tamb\u00e9m \u00e9 maior nas \u00e1reas verdes, que totalizaram 65% dos exemplares coletados, mas este maior n\u00famero de indiv\u00edduos \u00e9 devido basicamente ao tamb\u00e9m maior n\u00famero de esp\u00e9cies: ambas as \u00e1reas apresentam um n\u00famero m\u00e9dio de 6 exemplares por esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n

Dessa forma, a urbaniza\u00e7\u00e3o, desde que preservando trechos da cobertura original, parece favorecer um n\u00famero surpreendentemente elevado de esp\u00e9cies de aranhas, e n\u00e3o apenas de esp\u00e9cies introduzidas. Estas esp\u00e9cies caracteristicamente urbanas s\u00e3o provavelmente relictos da fauna de ecossistemas de paisagem aberta previamente existentes na cidade, tais como manchas de cerrado, campos sujos e campos limpos.<\/p>\n\n\n\n

Mais estudos s\u00e3o necess\u00e1rios para o detalhamento da din\u00e2mica de ocupa\u00e7\u00e3o das \u00e1reas urbanas pelas aranhas e para se avaliar o impacto desses animais no conjunto da comunidade urbana. A partir dos resultados do conjunto de tais pesquisas \u00e9 que se pode delinear formas integradas e racionais de controle da fauna araneol\u00f3gica urbana.<\/p>\n\n\n\n

Refer\u00eancias Bibliogr\u00e1ficas<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Coddington, J.A., C.E. Griswold, D. Silva D\u00e1vila, E. Pe\u00f1aranda & S.F. Larcher. 1991. Designing and testing sampling protocols to estimate biodiversity in tropical ecosystems. In Dudley, E.C. (ed.) The unity of evolutionary biology: proceedings of the fourth International Congress of Systematic and Evolutionary Biology. Dioscorides Press, Portland, pp.44-60.<\/p>\n\n\n\n

Colwell, R.K. & J.A. Coddington. 1994. Estimating terrestrial biodiversity through extrapolation. Phil. Trans. R. Soc. Lond. B 345: 101-118.<\/p>\n\n\n\n

Gilbert, O.L. 1991. The ecology of urban habitats. Chapman & Hall, London, 369pp.<\/p>\n\n\n\n

Robinson, W.H. 1996. Urban entomology. Chapman & Hall, London, 430pp.<\/p>\n\n\n\n

Por Hilton Ferreira Japyass\u00fa e Antonio Brescovit
\nFonte:Laborat\u00f3rio de Artr\u00f3podes\/ Instituto Butantan\/ Av. Vital Brazil 1500\/ 05503-900\/ S\u00e3o Paulo \u2013 SP<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

“…As cidades emergem como um sistema ecol\u00f3gico complexo, com uma din\u00e2mica muito particular, e que merece aten\u00e7\u00e3o da comunidade cient\u00edfica n\u00e3o apenas pelo interesse acad\u00eamico de compreens\u00e3o das vari\u00e1veis que o determinam, mas tamb\u00e9m, e principalmente, pelo fato de que as esp\u00e9cies que o comp\u00f5em frequentemente adquirem import\u00e2ncia econ\u00f4mica, est\u00e9tica ou afetiva, requerendo muitas vezes medidas de controle populacional.” <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":2726,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1571],"tags":[1017,92],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2725"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2725"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2725\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4181,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2725\/revisions\/4181"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2726"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2725"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2725"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2725"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}