{"id":2709,"date":"2009-04-17T14:21:11","date_gmt":"2009-04-17T14:21:11","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:01:17","modified_gmt":"2021-07-10T23:01:17","slug":"leptospirose","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/urbano\/artigos_urbano\/leptospirose.html","title":{"rendered":"Leptospirose"},"content":{"rendered":"\n
A leptospirose \u00e9 uma doen\u00e7a infecciosa febril, aguda, potencialmente grave, causada por uma bact\u00e9ria, a Leptospira interrogans. \u00c9 uma zoonose (doen\u00e7a de animais) que ocorre no mundo inteiro, exceto nas regi\u00f5es polares. Em seres humanos, ocorre em pessoas de todas as idades e em ambos os sexos. Na maioria (90%) dos casos de leptospirose a evolu\u00e7\u00e3o \u00e9 benigna.<\/p>\n\n\n\n
Transmiss\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n A leptospirose \u00e9 primariamente uma zoonose. Acomete roedores e outros mam\u00edferos silvestres e \u00e9 um problema veterin\u00e1rio relevante, atingindo animais dom\u00e9sticos (c\u00e3es, gatos) e outros de import\u00e2ncia econ\u00f4mica (bois, cavalos, porcos, cabras, ovelhas). Esses animais, mesmo quando vacinados, podem tornar-se portadores assintom\u00e1ticos e eliminar a L. interrogans junto com a urina.<\/p>\n\n\n\n O rato de esgoto (Rattus novergicus) \u00e9 o principal respons\u00e1vel pela infec\u00e7\u00e3o humana, em raz\u00e3o de existir em grande n\u00famero e da proximidade com seres humanos. A L. interrogans multiplica-se nos rins desses animais sem causar danos, e \u00e9 eliminada pela urina, \u00e0s vezes por toda a vida do animal. O homem \u00e9 infectado casual e transitoriamente, e n\u00e3o tem import\u00e2ncia como transmissor da doen\u00e7a. A transmiss\u00e3o de uma pessoa para outra \u00e9 muito pouco prov\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n A L. interrogans eliminada junto com a urina de animais sobrevive no solo \u00famido ou na \u00e1gua, que tenham pH neutro ou alcalino. N\u00e3o sobrevive em \u00e1guas com alto teor salino. A L. interrogans penetra atrav\u00e9s da pele e de mucosas (olhos, nariz, boca) ou atrav\u00e9s da ingest\u00e3o de \u00e1gua e alimentos contaminados. A presen\u00e7a de pequenos ferimentos na pele facilita a penetra\u00e7\u00e3o, que pode ocorrer tamb\u00e9m atrav\u00e9s da pele \u00edntegra, quando a exposi\u00e7\u00e3o \u00e9 prolongada.<\/p>\n\n\n\n Riscos<\/strong><\/p>\n\n\n\n No Brasil, como em outros pa\u00edses em desenvolvimento, a maioria das infec\u00e7\u00f5es ocorre atrav\u00e9s do contato com \u00e1guas de enchentes contaminadas por urina de ratos. Nesses pa\u00edses, a inefic\u00e1cia ou inexist\u00eancia de rede de esgoto e drenagem de \u00e1guas pluviais, a coleta de lixo inadequada e as conseq\u00fcentes inunda\u00e7\u00f5es s\u00e3o condi\u00e7\u00f5es favor\u00e1veis \u00e0 alta endemicidade e \u00e0s epidemias. Atinge, portanto, principalmente a popula\u00e7\u00e3o de baixo n\u00edvel s\u00f3cio-econ\u00f4mico da periferia das grandes cidades, que \u00e9 obrigada a viver em condi\u00e7\u00f5es que tornam inevit\u00e1vel o contato com roedores e \u00e1guas contaminadas. A infec\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m pode ser adquirida atrav\u00e9s da ingest\u00e3o de \u00e1gua e alimentos contaminados com urina de ratos ou por meio de contato com urina de animais de estima\u00e7\u00e3o (c\u00e3es, gatos), mesmo quando esses s\u00e3o vacinados. A limpeza de fossas domiciliares, sem prote\u00e7\u00e3o adequada, \u00e9 uma das causas mais freq\u00fcentes de aquisi\u00e7\u00e3o da doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n Existe risco ocupacional para as pessoas que t\u00eam contato com \u00e1gua e terrenos alagados (limpadores de fossas e bueiros, lavradores de planta\u00e7\u00f5es de arroz, trabalhadores de rede de esgoto, militares) ou com animais (veterin\u00e1rios, pessoas que manipulam carne). Em pa\u00edses mais desenvolvidos, com infra-estrutura de saneamento mais adequada, a popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 menos exposta ao cont\u00e1gio. \u00c9 mais comum que a infec\u00e7\u00e3o ocorra a partir de animais de estima\u00e7\u00e3o e em pessoas que se exp\u00f5em a \u00e1gua contaminada, em raz\u00e3o de atividades recreativas ou profissionais.<\/p>\n\n\n\n Entre 1985 e 1997, foram notificados 35.403 casos de leptospirose, com 3.821 \u00f3bitos (letalidade m\u00e9dia de 12,5%). Apenas os casos mais graves (ict\u00e9ricos) s\u00e3o, geralmente, diagnosticados e, eventualmente, notificados. A leptospirose sem icter\u00edcia \u00e9, freq\u00fcentemente, confundida com outras doen\u00e7as (dengue, gripe), ou n\u00e3o leva \u00e0 procura de assist\u00eancia m\u00e9dica. A notifica\u00e7\u00e3o, portanto, representa apenas uma pequena parcela (provavelmente cerca de 10%) do n\u00famero real de casos no Brasil.<\/p>\n\n\n\n Medidas de prote\u00e7\u00e3o individual<\/strong><\/p>\n\n\n\n Recomenda-se ao viajante que adote as medidas de prote\u00e7\u00e3o contra doen\u00e7as adquiridas atrav\u00e9s do contato com a \u00e1gua e da ingest\u00e3o de \u00e1gua e alimentos.<\/p>\n\n\n\n O risco de adquirir leptospirose pode ser reduzido, atrav\u00e9s de algumas medidas:<\/p>\n\n\n\n O uso generalizado de antibi\u00f3ticos profil\u00e1ticos \u00e9 ineficaz para evitar ou controlar epidemias de leptospirose. Al\u00e9m de ser tecnicamente inadequado, desvia inutilmente recursos humanos e financeiros.<\/p>\n\n\n\n A quimioprofilaxia est\u00e1 indicada apenas para indiv\u00edduos, como trabalhadores e militares em manobras, que ir\u00e3o se expor a risco em \u00e1reas de alta endemicidade por per\u00edodo relativamente curto.<\/p>\n\n\n\n A vacina n\u00e3o confere imunidade permanente e n\u00e3o est\u00e1 dispon\u00edvel para seres humanos no Brasil. Em alguns pa\u00edses \u00e9 utilizada a vacina\u00e7\u00e3o contra sorotipos espec\u00edficos em pessoas sob exposi\u00e7\u00e3o ocupacional em \u00e1reas de alto risco. A vacina dispon\u00edvel para animais evita a doen\u00e7a, mas n\u00e3o impede a infec\u00e7\u00e3o nem a transmiss\u00e3o para seres humanos.<\/p>\n\n\n\n Recomenda\u00e7\u00f5es para \u00e1reas com risco de transmiss\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n Manifesta\u00e7\u00f5es<\/strong><\/p>\n\n\n\n A maioria das pessoas infectadas pela Leptospira interrogans desenvolve sintomas discretos ou n\u00e3o apresenta manifesta\u00e7\u00f5es da doen\u00e7a. As manifesta\u00e7\u00f5es da leptospirose, quando ocorrem, em geral aparecem entre 2 e 30 dias ap\u00f3s a infec\u00e7\u00e3o (per\u00edodo de incuba\u00e7\u00e3o m\u00e9dio de dez dias).<\/p>\n\n\n\n As manifesta\u00e7\u00f5es iniciais s\u00e3o febre alta de in\u00edcio s\u00fabito, sensa\u00e7\u00e3o de mal estar, dor de cabe\u00e7a constante e acentuada, dor muscular intensa, cansa\u00e7o e calafrios. Dor abdominal, n\u00e1useas, v\u00f4mitos e diarr\u00e9ia s\u00e3o freq\u00fcentes, podendo levar \u00e0 desidrata\u00e7\u00e3o. \u00c9 comum que os olhos fiquem acentuadamente avermelhados (hiperemia conjuntival) e alguns doentes podem apresentar tosse e faringite. Ap\u00f3s dois ou tr\u00eas dias de aparente melhora, os sintomas podem ressurgir, ainda que menos intensamente. Nesta fase \u00e9 comum o aparecimento manchas avermelhadas no corpo (exantema) e pode ocorrer meningite, que em geral tem boa evolu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n A maioria das pessoas melhora em quatro a sete dias. Em cerca de 10% dos pacientes, a partir do terceiro dia de doen\u00e7a surge icter\u00edcia (olhos amarelados), que caracteriza os casos mais graves. Esses casos s\u00e3o mais comuns (90%) em adultos jovens do sexo masculino, e raros em crian\u00e7as. Aparecem manifesta\u00e7\u00f5es hemorr\u00e1gicas (equimoses, sangramentos em nariz, gengivas e pulm\u00f5es) e pode ocorrer funcionamento inadequado dos rins, o que causa diminui\u00e7\u00e3o do volume urin\u00e1rio e, \u00e0s vezes, an\u00faria total. O doente pode ficar torporoso e em coma. A forma grave da leptospirose \u00e9 denominada doen\u00e7a de Weil. A evolu\u00e7\u00e3o para a morte pode ocorrer em cerca de 10% das formas graves. As manifesta\u00e7\u00f5es iniciais da leptospirose s\u00e3o semelhantes \u00e0s de outras doen\u00e7as, como febre amarela, dengue, mal\u00e1ria, hantavirose e hepatites.<\/p>\n\n\n\n A presun\u00e7\u00e3o do diagn\u00f3stico de leptospirose \u00e9 feita com base na hist\u00f3ria de exposi\u00e7\u00e3o ao risco (inunda\u00e7\u00f5es, limpeza de bueiros e fossas, contato com animais de estima\u00e7\u00e3o) e na exclus\u00e3o, atrav\u00e9s de exames laboratoriais, da possibilidade de outras doen\u00e7as. Mesmo que tenham hist\u00f3ria de risco para leptospirose, pessoas que estiveram em uma \u00e1rea de transmiss\u00e3o de febre amarela e mal\u00e1ria, e que apresentem febre, durante ou ap\u00f3s a viagem, devem ter essas doen\u00e7as investigadas. A leptospirose grave, que evolui com icter\u00edcia, diminui\u00e7\u00e3o do volume urin\u00e1rio e sangramentos \u00e9 semelhante \u00e0 forma grave da febre amarela. A diferencia\u00e7\u00e3o pode ser feita com facilidade atrav\u00e9s de exames laboratoriais. A icter\u00edcia \u00e9 rara nos casos de dengue.<\/p>\n\n\n\n Nas hepatites, em geral, quando surge a icter\u00edcia a febre desaparece. \u00c9 importante que a pessoa, quando apresentar-se febril ap\u00f3s uma exposi\u00e7\u00e3o de risco para leptospirose, procure um Servi\u00e7o de Sa\u00fade rapidamente. N\u00e3o se justifica a utiliza\u00e7\u00e3o generalizada de antibi\u00f3ticos para a popula\u00e7\u00e3o em per\u00edodos de epidemias. \u00c9 mais racional diagnosticar e tratar precocemente os casos suspeitos.<\/p>\n\n\n\n A confirma\u00e7\u00e3o do diagn\u00f3stico de leptospirose n\u00e3o tem import\u00e2ncia para o tratamento da pessoa doente, mas \u00e9 fundamental para a ado\u00e7\u00e3o de medidas que reduzam o risco de ocorr\u00eancia de uma epidemia em \u00e1rea urbana. Pode ser feita atrav\u00e9s de exames sorol\u00f3gicos (microaglutina\u00e7\u00e3o pareada, com uma amostra de sangue colhida logo no in\u00edcio da doen\u00e7a e outra duas semanas ap\u00f3s), ou do isolamento da bact\u00e9ria em cultura (que tem maior chance de ser feito durante a primeira semana de doen\u00e7a).<\/p>\n\n\n\n O tratamento da pessoa com leptospirose \u00e9 feito fundamentalmente com hidrata\u00e7\u00e3o. N\u00e3o deve ser utilizado medicamentos para dor ou para febre que contenham \u00e1cido acetil-salic\u00edlico (AAS, Aspirina, Melhoral etc.), que podem aumentar o risco de sangramentos. Os antiinflamat\u00f3rios (Voltaren, Profenid etc.) tamb\u00e9m n\u00e3o devem ser utilizados pelo risco de efeitos colaterais, como hemorragia digestiva e rea\u00e7\u00f5es al\u00e9rgicas. Quando o diagn\u00f3stico \u00e9 feito at\u00e9 o quarto dia de doen\u00e7a, devem ser empregados antibi\u00f3ticos (doxiciclina, penicilinas), uma vez que reduzem as chances de evolu\u00e7\u00e3o para a forma grave. As pessoas com leptospirose sem icter\u00edcia podem ser tratadas no domic\u00edlio. As que desenvolvem meningite ou icter\u00edcia devem ser internadas. As formas graves da doen\u00e7a necessitam de tratamento intensivo e medidas terap\u00eauticas como di\u00e1lise peritonial para tratamento da insufici\u00eancia renal.<\/p>\n\n\n\n Fontes parciais: A leptospirose \u00e9 primariamente uma zoonose. Acomete roedores e outros mam\u00edferos silvestres e \u00e9 um problema veterin\u00e1rio relevante, atingindo animais dom\u00e9sticos (c\u00e3es, gatos) e outros de import\u00e2ncia econ\u00f4mica (bois, cavalos, porcos, cabras, ovelhas). Esses animais, mesmo quando vacinados, podem tornar-se portadores assintom\u00e1ticos e eliminar a L. interrogans junto com a urina. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1571],"tags":[746,546],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2709"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2709"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2709\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4183,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2709\/revisions\/4183"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2709"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2709"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2709"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}
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