{"id":2707,"date":"2009-04-28T16:08:00","date_gmt":"2009-04-28T16:08:00","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:00:50","modified_gmt":"2021-07-10T23:00:50","slug":"o_mercado_ambiental_do_brasil","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/urbano\/artigos_urbano\/o_mercado_ambiental_do_brasil.html","title":{"rendered":"O mercado ambiental do Brasil"},"content":{"rendered":"\n

Freq\u00fcentemente, os meios de comunica\u00e7\u00e3o de massa provocam na popula\u00e7\u00e3o a falsa expectativa, de que medidas implementadas para solucionar um problema ser\u00e3o diretamente proporcionais \u00e0 divulga\u00e7\u00e3o que foi dada ao fato. Quando se trata da quest\u00e3o ambiental, entre outros temas, sabemos que isto absolutamente n\u00e3o corresponde aos fatos. O Brasil, com sua diversidade de biomas, sua extens\u00e3o territorial, e, principalmente, sua disparidade social, padece de problemas ambientais, amplamente divulgados, para os quais as solu\u00e7\u00f5es est\u00e3o longe de terem sido encaminhadas. As cidades brasileiras concentram cerca de 70% da popula\u00e7\u00e3o brasileira e grande parte dos problemas ambientais do Pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

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A situa\u00e7\u00e3o \u00e9 similar a de cidades de outros pa\u00edses e per\u00edodos hist\u00f3ricos, condicionados por fatores econ\u00f4micos e sociais semelhantes. Investimentos em meio ambiente no Brasil, principalmente para minorar os problemas ambientais urbanos, totalizaram cerca de US$ 3 bilh\u00f5es em 2004, aproximadamente 0,5% do PIB brasileiro. Comparados com outros setores da economia do Pa\u00eds s\u00e3o investimentos diminutos, refletindo uma vis\u00e3o econ\u00f4mica de curto prazo e ignor\u00e2ncia do inter-relacionamento entre as atividades econ\u00f4micas e a natureza. Para a maioria dos agentes, governos e empres\u00e1rios, a quest\u00e3o ambiental ainda n\u00e3o \u00e9 priorit\u00e1ria, pois requer aloca\u00e7\u00e3o de recursos que – sob uma \u00f3tica imediatista e limitada – n\u00e3o trazem retorno significativo e n\u00e3o s\u00e3o priorit\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

Em termos de investimento, o maior segmento do mercado ambiental brasileiro \u00e9 o de saneamento b\u00e1sico, que inclui o tratamento de \u00e1gua e de esgoto dom\u00e9stico. Trata-se de um dos maiores problemas enfrentados nos centros urbanos de todo o Pa\u00eds. Segundo dados publicados pelo IBGE (2002) ao redor de 23% dos domic\u00edlios (cerca de 9,9 milh\u00f5es de unidades), n\u00e3o contavam com abastecimento de \u00e1gua pela rede p\u00fablica. Quanto ao esgoto dom\u00e9stico, somente 47,2% dos domic\u00edlios estavam ligados \u00e0s redes coletoras, mas apenas 20% do volume coletado s\u00e3o tratados; sendo que os dados atuais n\u00e3o s\u00e3o muito diferentes dos de 2002.<\/p>\n\n\n\n

Os valores investidos em novos projetos de saneamento alcan\u00e7aram aproximadamente US$1,3 bilh\u00e3o em 2004, representando cerca de 0,02% do PIB. Muito abaixo, portanto, do limite m\u00ednimo de 1% do PIB, estabelecido pela Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Sa\u00fade para pa\u00edses com IDH (\u00cdndice de Desenvolvimento Humano) equivalente ao do Brasil. O problema \u00e9 de tal gravidade, que segundo o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade 65% das interna\u00e7\u00f5es hospitalares no Pa\u00eds s\u00e3o decorrentes da m\u00e1 qualidade (ou inexist\u00eancia) dos servi\u00e7os de saneamento.<\/p>\n\n\n\n

Outro impacto ambiental negativo decorrente da falta de infra-estrutura para o tratamento dos efluentes, \u00e9 a crescente degrada\u00e7\u00e3o ambiental dos cursos de \u00e1gua. Dados preliminares de uma pesquisa ainda em andamento, informam que cerca de 70% dos rios das regi\u00f5es Sudeste e Sul est\u00e3o contaminados, principalmente por efluentes dom\u00e9sticos, provocando o desaparecimento de muitos tipos de peixes e outras esp\u00e9cies aqu\u00e1ticas. O custo do desaparecimento destas esp\u00e9cies e da destrui\u00e7\u00e3o de seus h\u00e1bitats ainda n\u00e3o foi contabilizado. Outro impacto negativo, mais facilmente mensur\u00e1vel, \u00e9 o aumento dos custos de tratamento da \u00e1gua bruta, retirada dos rios polu\u00eddos e destinada ao consumo humano.<\/p>\n\n\n\n

O problema do saneamento n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o recente quanto parece. Desde a d\u00e9cada de 1950, investimentos feitos por governos estaduais e municipais n\u00e3o v\u00eam acompanhando o aumento da demanda, causada pelo r\u00e1pido crescimento populacional nas cidades. Some-se a isto, a falta de planejamento urbano e a constante redu\u00e7\u00e3o dos or\u00e7amentos, a fim de atender programas de ajuste econ\u00f4mico. Com rela\u00e7\u00e3o \u00e0 \u00e1gua, a situa\u00e7\u00e3o sempre foi diferente: era rapidamente fornecida, j\u00e1 que sem ela n\u00e3o era poss\u00edvel abrir novos loteamentos, aumentando as receitas municipais com a cobran\u00e7a de impostos e taxas.<\/p>\n\n\n\n

O segundo mais importante segmento do mercado ambiental \u00e9 o de gerenciamento de res\u00edduos urbanos, principalmente o lixo dom\u00e9stico. Estima-se que este mercado – junto com o de res\u00edduos industriais -, movimentou cerca de US$1.5 bilh\u00f5es em 2004. O valor parece consider\u00e1vel, mas pouco representa para um pa\u00eds que gera diariamente cerca de 110.000 toneladas de lixo. Deste volume, aproximadamente 70% \u00e9 regularmente coletado por servi\u00e7os institu\u00eddos pelos munic\u00edpios. Depois da coleta come\u00e7a a segunda fase do problema: a destina\u00e7\u00e3o final do lixo dom\u00e9stico. Problema, porque s\u00e3o poucos os munic\u00edpios brasileiros que disp\u00f5em de um aterro sanit\u00e1rio, constru\u00ed\u00addo segundo normas t\u00e9cnicas recomendadas pelas ag\u00eancias ambientais. A maioria dos 5.507 munic\u00edpios utiliza-se de buracos cavados no solo, \u201clix\u00f5es\u201d, sem qualquer tipo de isolamento, onde s\u00e3o jogados os res\u00edduos municipais.<\/p>\n\n\n\n

Em muitas cidades, para agravar a situa\u00e7\u00e3o, aos res\u00edduos dom\u00e9sticos se juntam os res\u00edduos hospitalares e at\u00e9 os industriais – perigosa conviv\u00eancia, tolerada ou ignorada pelo poder municipal. A reciclagem, bastante analisada pelos meios de comunica\u00e7\u00e3o, \u00e9 praticada somente em cerca de 300 munic\u00edpios brasileiros, pouco representando para a economia. A legisla\u00e7\u00e3o que poderia impulsionar este setor ainda espera uma aprova\u00e7\u00e3o do Congresso.<\/p>\n\n\n\n

Quanto aos res\u00edduos perigosos industriais, dados pesquisados pela Associa\u00e7\u00e3o Brasileira de Empresas de Tratamento Recupera\u00e7\u00e3o e Disposi\u00e7\u00e3o de Res\u00edduos Especiais (ABETRE) e pelo Departamento de Meio Ambiente da C\u00e2mara Brasil-Alemanha, d\u00e3o conta de que anualmente s\u00e3o geradas, em todo o Pa\u00eds, cerca de 2,7 milh\u00f5es de toneladas. A maior parte destes res\u00edduos prov\u00e9m de atividades industriais, principalmente nas regi\u00f5es Sul e Sudeste.<\/p>\n\n\n\n

Cerca de 20% deste volume \u00e9 disposto corretamente em aterros sanit\u00e1rios Classe I ou incinerado. Outra parte dos res\u00edduos \u00e9 estocada, geralmente nas pr\u00f3prias empresas geradoras, aguardando uma destina\u00e7\u00e3o final (que pode demorar anos). Muitas empresas ainda consideram altos os custos de destina\u00e7\u00e3o final de res\u00edduos, dispon\u00edveis no mercado. Ainda resta-nos fazer uma breve refer\u00eancia \u00e0 polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica.<\/p>\n\n\n\n

Segundo dados da ag\u00eancia ambiental de S\u00e3o Paulo (CETESB) cerca de 85% da polui\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica urbana \u00e9 gerada por ve\u00edculos automotores. Os 15% restantes ficam por conta das atividades industriais. Para minorar a polui\u00e7\u00e3o nos grandes centros j\u00e1 foram ensaiados diversos programas de controle de emiss\u00e3o veicular, por\u00e9m sem sucesso.<\/p>\n\n\n\n

Na cidade de S\u00e3o Paulo, por exemplo, foi iniciado um programa de controle de emiss\u00e3o veicular volunt\u00e1rio em 1997. No Estado, a CETESB tamb\u00e9m j\u00e1 apresentou duas propostas em \u00e9pocas diferentes (a \u00faltima em 2002), sem que nenhuma delas se concretizasse. A atual administra\u00e7\u00e3o da cidade de S\u00e3o Paulo pretende instituir o controle da emiss\u00e3o veicular a partir de 2006. A proposta j\u00e1 esta sendo criticada em diversos aspectos, principalmente por representar mais uma taxa cobrada do propriet\u00e1rio do ve\u00edculo.<\/p>\n\n\n\n

As not\u00edcias na m\u00eddia, sozinhas, da mesma forma que a elabora\u00e7\u00e3o de Leis e a cria\u00e7\u00e3o de programas nos moldes atuais, n\u00e3o trar\u00e3o a solu\u00e7\u00e3o para os problemas ambientais. Continuamos esperando que as administra\u00e7\u00f5es (federal, estaduais ou municipais) criem mecanismos que possibilitem \u00e0 sociedade participar ativamente no desenvolvimento de implementa\u00e7\u00e3o das solu\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias; ou, pelo menos, que n\u00e3o as impe\u00e7am.<\/p>\n\n\n\n

Por Ricardo Rose, Jornalista e Diretor de Meio Ambiente da C\u00e2mara de Com\u00e9rcio Brasil-Alemanha
\nFonte: Revista Eco 21, ano XV, N\u00ba 103 junho\/2005.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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