{"id":2574,"date":"2009-04-07T14:15:57","date_gmt":"2009-04-07T14:15:57","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:01:46","modified_gmt":"2021-07-10T23:01:46","slug":"os_agricultores_necessitam_de_um_sistema_educativo_que_lhes_ajude_a_resolver_os_seus_problemas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agropecuario\/artigo_agropecuario\/os_agricultores_necessitam_de_um_sistema_educativo_que_lhes_ajude_a_resolver_os_seus_problemas.html","title":{"rendered":"Os Agricultores necessitam de um Sistema Educativo que lhes ajude a resolver os seus Problemas"},"content":{"rendered":"\n

Desde a sua origem este \u00e9 um documento diferente. Este artigo \u00e9 o resultado de uma consulta eletr\u00f4nica informal realizada com o prop\u00f3sito de discutir como a educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica poderia oferecer uma contribui\u00e7\u00e3o mais significativa ao desenvolvimento rural da Am\u00e9rica Latina. A consulta foi inovadora no sentido de que recolheu as opini\u00f5es dos educadores e institui\u00e7\u00f5es educativas, mas tamb\u00e9m dos usu\u00e1rios e benefici\u00e1rios do sistema educativo. Aproximadamente 400 institui\u00e7\u00f5es e pessoas de 19 pa\u00edses latino-americanos enviaram contribui\u00e7\u00f5es para a elabora\u00e7\u00e3o do artigo.O autor deste texto manifesta os seus mais sinceros agradecimentos pelas valiosas colabora\u00e7\u00f5es recebidas. No entanto, eventuais debilidades do artigo s\u00e3o de sua exclusiva responsabilidade.<\/p>\n\n\n\n

Nos pa\u00edses da Am\u00e9rica Latina a magnitude, complexidade e urg\u00eancia dos problemas rurais ultrapassaram, h\u00e1 muito tempo, as possibilidades de que os governos possam solucion\u00e1-los, especialmente porque tentam faz\u00ea-lo atrav\u00e9s do modelo convencional de depend\u00eancia estatal. A inefici\u00eancia do modelo e a insufici\u00eancia de recursos para financi\u00e1-lo s\u00e3o cada vez mais evidentes. Esta realidade est\u00e1 exigindo que as fam\u00edlias rurais se tornem mais autodependentes na solu\u00e7\u00e3o dos problemas que as afetam. Lamentavelmente, na atualidade muitas dessas fam\u00edlias n\u00e3o est\u00e3o em condi\u00e7\u00f5es de faz\u00ea-lo. Entre outras raz\u00f5es, porque n\u00e3o possuem os conhecimentos, habilidades e atitudes que s\u00e3o necess\u00e1rios para poder assumir tal protagonismo; n\u00e3o por culpa delas, evidentemente, mas porque n\u00e3o lhes foram proporcionadas \u00e0s oportunidades de adquirir tais compet\u00eancias, nem de exercer o referido protagonismo.<\/p>\n\n\n\n

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Ao n\u00e3o possu\u00edrem tais conhecimentos, muitas fam\u00edlias rurais simplesmente n\u00e3o podem desenvolver-se; entre outros motivos porque n\u00e3o conseguem corrigir as suas pr\u00f3prias inefici\u00eancias, melhorar o seu desempenho no trabalho e incrementar a sua produtividade. Mas esta \u00e9 apenas a primeira parte do grande problema. Adicionalmente, a inadequada forma\u00e7\u00e3o e capacita\u00e7\u00e3o dos agricultores incidem negativamente na produtividade ou rendimento dos demais fatores de produ\u00e7\u00e3o, que geralmente s\u00e3o escassos: a terra, os animais, as obras de infra-estrutura, a maquinaria e os insumos modernos. Em outras palavras, a inefici\u00eancia do fator de produ\u00e7\u00e3o mais abundante (m\u00e3o-de-obra) \u00e9 uma causa adicional da insufici\u00eancia dos fatores de produ\u00e7\u00e3o mais escassos.<\/p>\n\n\n\n

Felizmente, at\u00e9 os governos mais carentes de recursos financeiros podem come\u00e7ar a ruptura do c\u00edrculo vicioso da pobreza rural. Ser\u00e3o bem sucedidos neste prop\u00f3sito se concentrarem os seus esfor\u00e7os no desenvolvimento das capacidades latentes dos habitantes rurais para conseguir que eles se tornem mais eficientes. A maior efici\u00eancia dos agricultores permitir\u00e1 que os fatores escassos passem a ser mais produtivos e, conseq\u00fcentemente, menos insuficientes.<\/p>\n\n\n\n

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\u00c9 necess\u00e1rio estimular o autodesenvolvimento dos habitantes rurais. Adotando tal estrat\u00e9gia, a a\u00e7\u00e3o priorit\u00e1ria dos governos consistiria em criar as condi\u00e7\u00f5es para desenvolver as potencialidades dos cidad\u00e3os rurais, elevar a sua autoconfian\u00e7a e estimular as suas iniciativas em prol da autogest\u00e3o e do associativismo. Tudo isto com o prop\u00f3sito de gerar vontades e capacidades locais de autodesenvolvimento individual, familiar, produtivo e comunit\u00e1rio. \u00c9 necess\u00e1rio que os governos assumam esta atribui\u00e7\u00e3o de proporcionar \u00e0s fam\u00edlias rurais esta nova educa\u00e7\u00e3o orientada a diminuir as suas depend\u00eancias e vulnerabilidades. Porque lamentavelmente muitos pais de fam\u00edlia n\u00e3o est\u00e3o em condi\u00e7\u00f5es de ensinar aos seus filhos tais conhecimentos e atitudes; pois a maioria deles nem sequer teve a oportunidade de adquiri-los. Os servi\u00e7os de extens\u00e3o rural tampouco podem desempenhar satisfatoriamente esta fun\u00e7\u00e3o porque est\u00e3o muito debilitados. Ent\u00e3o, quem poder\u00e1 faz\u00ea-lo?<\/p>\n\n\n\n

Felizmente, existe uma institui\u00e7\u00e3o que est\u00e1 sempre presente no meio rural, geralmente proporcionando o ensino do primeiro ao oitavo ano: a escola b\u00e1sica ou fundamental rural. Historicamente, esta institui\u00e7\u00e3o contribuiu para o desenvolvimento das pessoas, das fam\u00edlias e das comunidades rurais.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, ela disp\u00f5e de um enorme potencial, que ainda n\u00e3o foi adequadamente aproveitado, para formar futuros agricultores que queiram, saibam e possam atuar como eficientes solucionadores dos problemas existentes no meio rural. Conseq\u00fcentemente, a referida escola, depois de adequar os seus conte\u00fados curriculares, se credencia como uma das institui\u00e7\u00f5es com maior potencial para assumir esta tarefa de “energizar e empoderar” as fam\u00edlias rurais para que elas possam promover um desenvolvimento mais autogestion\u00e1rio e sustent\u00e1vel. Entre outras raz\u00f5es, porque:<\/p>\n\n\n\n

1. A escola b\u00e1sica \u00e9 praticamente a \u00fanica institui\u00e7\u00e3o p\u00fablica de car\u00e1ter permanente que est\u00e1 presente na maioria das comunidades rurais;<\/p>\n\n\n\n

2. Para muitos habitantes do campo a passagem pela referida escola \u00e9 uma das mais importantes oportunidades em suas vidas para adquirir as compet\u00eancias que, no mundo contempor\u00e2neo, s\u00e3o indispens\u00e1veis para sobreviver economicamente da agricultura. \u00c9 necess\u00e1rio, portanto, obter o m\u00e1ximo proveito desta grande oportunidade; inclusive porque, devido \u00e0 facilidade e baixo custo de sua implanta\u00e7\u00e3o, esta medida pode ser adotada imediatamente, inclusive pelos governos mais debilitados e empobrecidos.<\/p>\n\n\n\n

Na realidade, v\u00e1rios governos latino-americanos j\u00e1 est\u00e3o promovendo mudan\u00e7as para melhorar a qualidade do ensino b\u00e1sico. Infelizmente, as reformas que est\u00e3o sendo propostas n\u00e3o est\u00e3o contribuindo para responder \u00e0s necessidades pr\u00f3prias dos agricultores nem para solucionar os problemas espec\u00edficos do meio rural. Entre outros motivos, porque esta “nova” educa\u00e7\u00e3o apenas est\u00e1 formando pessoas com mais conhecimentos; por\u00e9m n\u00e3o est\u00e1 formando-as com os conhecimentos, habilidades, valores e atitudes adequados \u00e0s necessidades de vida e de trabalho, que elas enfrentam nas atividades cotidianas dos seus lares, propriedades e comunidades rurais.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de serem reconhecidamente necess\u00e1rias e urgentes, as reformas da educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica rural ainda est\u00e3o sendo inibidas ou dificultadas pelos seguintes problemas:<\/p>\n\n\n\n

Primeiro problema<\/strong>: Pensar que qualquer adequa\u00e7\u00e3o curricular depende, tal como ocorria antigamente, da iniciativa, dos complicados processos burocr\u00e1ticos e da decis\u00e3o das altas esferas do minist\u00e9rio ou secretaria estadual de educa\u00e7\u00e3o. Esta desinforma\u00e7\u00e3o, evidentemente, n\u00e3o estimula as iniciativas das pessoas que poderiam e desejariam promover a reforma, come\u00e7ando-a nas pr\u00f3prias comunidades rurais. Felizmente, em muitos pa\u00edses e estados os governos j\u00e1 adotaram medidas de descentraliza\u00e7\u00e3o, desconcentra\u00e7\u00e3o e delega\u00e7\u00e3o educativa, e os que ainda n\u00e3o o fizeram est\u00e3o come\u00e7ando a faz\u00ea-lo. Esta descentraliza\u00e7\u00e3o permite que uma parte consider\u00e1vel dos conte\u00fados curriculares das escolas b\u00e1sicas rurais seja elaborada ao n\u00edvel dos munic\u00edpios e com a participa\u00e7\u00e3o da comunidade. Esta, pelo fato de estar mais pr\u00f3xima dos problemas cotidianos da vida rural, tem um melhor conhecimento vivencial das necessidades dos habitantes do campo. Isto significa que as adequa\u00e7\u00f5es curriculares j\u00e1 podem ser efetuadas pelas autoridades municipais e pelos professores das escolas das pr\u00f3prias comunidades rurais; contando com a participa\u00e7\u00e3o de v\u00e1rias institui\u00e7\u00f5es, tais como as ag\u00eancias de extens\u00e3o rural, as ONG’s que promovem o desenvolvimento rural, as cooperativas e associa\u00e7\u00f5es de agricultores e os integrantes das cadeias agroalimentares.<\/p>\n\n\n\n

No mundo contempor\u00e2neo, as empresas que oferecem produtos ou servi\u00e7os necessitam “consultar o cliente”. As escolas b\u00e1sicas rurais tamb\u00e9m dever\u00e3o faz\u00ea-lo, ouvindo as institui\u00e7\u00f5es da sua \u00e1rea de influ\u00eancia. Os ofertantes e demandantes da educa\u00e7\u00e3o municipal poder\u00e3o obter proveito dessa bem-vinda descentraliza\u00e7\u00e3o; atrav\u00e9s da qual os governos nacionais e estaduais est\u00e3o convidando-os a que exer\u00e7am o seu antigo desejo de participa\u00e7\u00e3o popular.<\/p>\n\n\n\n

Por que \u00e9 necess\u00e1ria a participa\u00e7\u00e3o dos n\u00e3o educadores na reforma dos conte\u00fados curriculares?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Porque s\u00e3o exatamente eles que est\u00e3o em melhores condi\u00e7\u00f5es de trazer os problemas concretos do mundo rural para dentro da escola, a fim de que ela ensine conte\u00fados que realmente ajudem a solucion\u00e1-los. Estes usu\u00e1rios podem propor, com maior realismo e objetividade, quais s\u00e3o os conhecimentos, habilidades e atitudes que os alunos necessitam adquirir; para que, depois de egressos, possam ser produtores rurais mais eficientes e menos dependentes ou vulner\u00e1veis nas suas rela\u00e7\u00f5es com os intermedi\u00e1rios, as agroind\u00fastrias, os super e hiper-mercados e outros.<\/p>\n\n\n\n

Por estas raz\u00f5es, os problemas da educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica rural j\u00e1 n\u00e3o devem ser solucionados exclusivamente pelos protagonistas tradicionais do sistema centralizado de educa\u00e7\u00e3o formal, especialmente se esses protagonistas n\u00e3o possuem viv\u00eancias da problem\u00e1tica rural. Os n\u00e3o educadores, em defesa dos seus pr\u00f3prios interesses, necessitam assumir uma maior participa\u00e7\u00e3o no melhoramento da educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica rural.<\/p>\n\n\n\n

Isto requer uma colabora\u00e7\u00e3o rec\u00edproca entre os educadores e os usu\u00e1rios da educa\u00e7\u00e3o. Ser\u00e1 mais f\u00e1cil unir estes esfor\u00e7os e come\u00e7ar a reforma a n\u00edvel municipal; de baixo para cima e n\u00e3o necessariamente de cima para baixo; nas pr\u00f3prias comunidades e n\u00e3o necessariamente na capital do pa\u00eds ou do estado.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Problema:<\/strong> Com a boa inten\u00e7\u00e3o de promover a reforma educativa ideal, v\u00e1rios governos est\u00e3o consumindo demasiado tempo e recursos em formular reformas muito amplas e profundas. Estas, devido \u00e0 sua complexidade e alto custo, dificilmente podem ser levadas \u00e0 pr\u00e1tica, com a urg\u00eancia requerida pelo mundo rural; porque os governos est\u00e3o debilitados, desfinanciados e endividados. Enquanto isto ocorre, se est\u00e1 desperdi\u00e7ando a oportunidade de efetuar a reforma educativa poss\u00edvel. Em um mundo t\u00e3o competitivo como o atual, o impacto que a reforma produzir\u00e1 no desenvolvimento rural depender\u00e1, em grande parte, da rapidez com a qual ela seja realizada. Ser\u00e3o premiados pelas oportunidades da globaliza\u00e7\u00e3o os agricultores daqueles pa\u00edses que fizerem a reforma educativa antes dos demais. Os agricultores dos pa\u00edses retardat\u00e1rios ser\u00e3o, como de fato j\u00e1 est\u00e3o sendo, severamente castigados pelas amea\u00e7as da globaliza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 por este importante motivo adicional que \u00e9 recomend\u00e1vel iniciar, hoje, a reforma que \u00e9 poss\u00edvel efetuar hoje, come\u00e7ando por aquelas mudan\u00e7as que, ao serem mais simples e menos dependentes de decis\u00f5es e de recursos externos, n\u00e3o t\u00eam motivos para que a sua ado\u00e7\u00e3o continue sendo adiada. \u00c9 recomend\u00e1vel inici\u00e1-la “com o que se pode fazer e com os recursos que j\u00e1 est\u00e3o dispon\u00edveis”.<\/p>\n\n\n\n

Terceiro problema:<\/strong> Considerar que a adequa\u00e7\u00e3o da educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica rural significa alocar recursos adicionais ao sistema educativo, ampliar a cobertura, incrementar a quantidade de horas, dias e anos de perman\u00eancia das crian\u00e7as nas escolas, instalar computadores e melhorar a infra-estrutura f\u00edsica; bem como incluir nos curr\u00edculos conte\u00fados do mundo contempor\u00e2neo (sexualidade, meio ambiente, g\u00eanero, drogas, direitos humanos, etc). \u00c9 evidente que estas medidas s\u00e3o necess\u00e1rias, por\u00e9m devemos reconhecer que elas s\u00e3o insuficientes porque n\u00e3o cont\u00e9m nenhuma inova\u00e7\u00e3o que contribua, de maneira significativa, a solucionar os problemas espec\u00edficos do mundo rural.<\/p>\n\n\n\n

Esta maior quantidade de conhecimentos descontextualizados n\u00e3o \u00e9 suficiente para que as referidas escolas formem egressos que possam atuar como transformadores das realidades adversas e geradores de solu\u00e7\u00f5es para os problemas existentes no meio rural. Estas reformas ainda n\u00e3o incorporaram a seguinte reivindica\u00e7\u00e3o que \u00e9 priorit\u00e1ria para o mundo rural: reduzir o evidente desencontro ou desconex\u00e3o, que atualmente existe, entre o que se ensina nas escolas b\u00e1sicas rurais e o que os alunos realmente necessitam e desejam aprender. A elevada deser\u00e7\u00e3o e reprova\u00e7\u00e3o no meio rural n\u00e3o se devem tanto \u00e0 falta de recursos ou de instala\u00e7\u00f5es, ou ao despreparo dos professores para a sua miss\u00e3o, nem \u00e0 baixa capacidade de aprendizagem das crian\u00e7as. Em grande medida, os alunos rurais abandonam prematuramente a escola porque n\u00e3o conseguem perceber utilidade e aplicabilidade aos conte\u00fados que lhes s\u00e3o ensinados, pois eles n\u00e3o respondem aos seus interesses e aspira\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Educa\u00e7\u00e3o Rural: Para que? E para quem?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Uma educa\u00e7\u00e3o com conte\u00fados \u00fateis e aplic\u00e1veis \u00e9 o fator mais importante e eficaz para melhorar a qualidade de vida dos habitantes rurais. No entanto, para a absoluta maioria desses habitantes a referida qualidade de vida depende fundamentalmente da capacidade que tenham os agricultores para produzir, incorporar valor e comercializar as suas colheitas, com a efici\u00eancia que lhes permita aumentar a sua renda; sem renda suficiente n\u00e3o ter\u00e3o acesso aos benef\u00edcios que acompanham o desenvolvimento. Enquanto n\u00e3o se ensinar aos alunos como melhorar a efici\u00eancia da agricultura e, atrav\u00e9s desta, a alimenta\u00e7\u00e3o, a sa\u00fade e a renda dos habitantes rurais, de pouco servir\u00e1 ensinar-lhes aqueles conte\u00fados urbanos, abstratos e long\u00ednquos, que lhes s\u00e3o irrelevantes.<\/p>\n\n\n\n

Em virtude da sua precoce incorpora\u00e7\u00e3o \u00e0s atividades agr\u00edcolas do n\u00facleo familiar, os estudantes rurais disp\u00f5em de um tempo limitado para freq\u00fcentar a escola. Conseq\u00fcentemente \u00e9 necess\u00e1rio otimizar este tempo, eliminando dos curr\u00edculos alguns conte\u00fados que s\u00e3o irrelevantes e descontextualizados da realidade rural; substituindo-os por outros que, ao serem originados a partir das necessidades pr\u00f3prias do meio rural, tenham maior utilidade e aplicabilidade na solu\u00e7\u00e3o dos problemas l\u00e1 existentes. Estas escolas rurais n\u00e3o podem continuar sendo-o apenas no nome. Elas necessitam adquirir personalidade pr\u00f3pria e serem rurais nos conte\u00fados, nos m\u00e9todos, nas atitudes, comportamentos e valores.<\/p>\n\n\n\n

Todos estes antecedentes recomendam “agriculturalizar” e “ruralizar” os seus programas de estudos, de modo que as distintas disciplinas sejam adaptadas \u00e0s necessidades do meio rural. Os seus curr\u00edculos dever\u00e3o incluir conte\u00fados, te\u00f3ricos e pr\u00e1ticos, sobre os seguintes temas: produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola, processamento, conserva\u00e7\u00e3o e comercializa\u00e7\u00e3o de produtos agropecu\u00e1rios, administra\u00e7\u00e3o rural, desenvolvimento comunit\u00e1rio, organiza\u00e7\u00e3o dos agricultores, associativismo e cooperativismo, higiene, preven\u00e7\u00e3o de enfermidades e primeiros socorros, hortas caseiras, alimenta\u00e7\u00e3o e nutri\u00e7\u00e3o, educa\u00e7\u00e3o familiar, etc.<\/p>\n\n\n\n

Embora os recursos sejam aparentemente muito escassos, n\u00e3o se pode ignorar que a maior riqueza educativa j\u00e1 se encontra nas pr\u00f3prias escolas. O ensino de valores, atitudes e comportamentos necess\u00e1rios para formar o novo cidad\u00e3o rural, pode apoiar-se solidamente atrav\u00e9s do que se denomina curr\u00edculo invis\u00edvel ou curr\u00edculo oculto. A sua aplica\u00e7\u00e3o \u00e9 uma medida que pode ser concretizada com m\u00ednima depend\u00eancia de recursos externos. Em muitos casos \u00e9 poss\u00edvel obter valiosos resultados educativos aproveitando os exemplos positivos existentes na \u00e1rea de influ\u00eancia da escola. Tais exemplos permitem ensinar valores desej\u00e1veis, bons h\u00e1bitos e costumes pessoais e familiares, atitudes de solidariedade, melhores pr\u00e1ticas produtivas e comerciais; e atrav\u00e9s destas refer\u00eancias, conseguir mudan\u00e7as significativas nos educandos.<\/p>\n\n\n\n

Capacita\u00e7\u00e3o “In loco” e pr\u00e1tica do auto-estudo.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O agro moderno requer que o agricultor seja independente, desejoso de superar-se, criativo, solid\u00e1rio e cooperador, eficiente no uso dos recursos, cuidadoso com o meio ambiente, consciente dos direitos e deveres pr\u00f3prios e de terceiros. A agricultura contempor\u00e2nea necessita de l\u00edderes rurais que sejam capazes de transformar a realidade produtiva e comunit\u00e1ria, com qualidade e efici\u00eancia. Adicionalmente se requer que as fam\u00edlias rurais adquiram novas habilidades motoras e intelectuais, a fim de que estejam melhor preparadas para solucionar os seus problemas cotidianos.<\/p>\n\n\n\n

Para contribuir ao atingimento destes objetivos tamb\u00e9m \u00e9 necess\u00e1rio criar uma cultura e um ambiente escolar que permitam o aprendizado e o desenvolvimento destas atitudes, valores e comportamentos na vida cotidiana da escola. \u00c9 necess\u00e1rio que exista coer\u00eancia entre o que se predica e o que se pratica nas atividades escolares. Felizmente, muitas destas inova\u00e7\u00f5es n\u00e3o requerem de decis\u00f5es governamentais de alto n\u00edvel, pois dependem dos valores, das atitudes e dos comportamentos dos diretores, professores e alunos. Conseq\u00fcentemente \u00e9 poss\u00edvel adot\u00e1-las ao n\u00edvel municipal e faz\u00ea-lo imediatamente.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 evidente que tal reforma demanda a atualiza\u00e7\u00e3o e capacita\u00e7\u00e3o dos professores, para que possam desempenhar esta fun\u00e7\u00e3o de formadores dos futuros agentes de autodesenvolvimento das fam\u00edlias rurais. Isto exige o apoio dos governos para financiar este processo de capacita\u00e7\u00e3o. Tamb\u00e9m requer a participa\u00e7\u00e3o das faculdades de ci\u00eancias agr\u00e1rias e pedagogia e dos servi\u00e7os de extens\u00e3o rural, no desenho dos programas e materiais necess\u00e1rios para a capacita\u00e7\u00e3o dos docentes in loco; porque esta capacita\u00e7\u00e3o dever\u00e1 ser realizada em servi\u00e7o, a fim de reduzir a necessidade de afast\u00e1-los das suas atividades. Adicionalmente, estas tr\u00eas institui\u00e7\u00f5es poder\u00e3o proporcionar-lhes textos sobre desenvolvimento agr\u00edcola e rural, colaborar na capacita\u00e7\u00e3o dos professores, e quando for o caso, indicar-lhes endere\u00e7os de e-mails e de p\u00e1ginas Web. Atrav\u00e9s destas medidas, de f\u00e1cil ado\u00e7\u00e3o, poder\u00e3o dispor de material bibliogr\u00e1fico adequado \u00e0s suas necessidades e estudar nos seus pr\u00f3prios munic\u00edpios.<\/p>\n\n\n\n

Que tipo de educa\u00e7\u00e3o necessitam os agricultores e o mundo rural?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

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Efetuando esta “agriculturaliza\u00e7\u00e3o e ruraliza\u00e7\u00e3o” dos curr\u00edculos das referidas escolas, os futuros agricultores ter\u00e3o conhecimentos e atitudes que lhes ajudar\u00e3o a assumir um maior e mais eficiente protagonismo na corre\u00e7\u00e3o das inefici\u00eancias da agricultura e do agroneg\u00f3cio.<\/p>\n\n\n\n

Outorgando \u00e0s fam\u00edlias rurais esta nova educa\u00e7\u00e3o, todos os instrumentos cl\u00e1ssicos de desenvolvimento rural – infra-estrutura, maquinaria, cr\u00e9dito, insumos modernos, garantias de comercializa\u00e7\u00e3o, servi\u00e7os sociais, etc – ser\u00e3o mais eficazes ao serem utilizados com maior efici\u00eancia pelos seus benefici\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 conveniente esclarecer que a desej\u00e1vel universaliza\u00e7\u00e3o da educa\u00e7\u00e3o deve considerar o contexto no qual ser\u00e1 aplicada e os interesses das fam\u00edlias e comunidades rurais. Em nome de uma universaliza\u00e7\u00e3o mal entendida se est\u00e1 “educando” as crian\u00e7as do meio rural para que admirem um mundo que n\u00e3o \u00e9 o seu, com toda a carga de valores e ilus\u00f5es que isto significa. Quando crescerem, evidentemente, pensar\u00e3o que a sua realiza\u00e7\u00e3o pessoal dever\u00e1 ser procurada e encontrada fora do meio rural. As conseq\u00fc\u00eancias deste grave equ\u00edvoco se manifestam atrav\u00e9s do \u00eaxodo rural que provoca a deplor\u00e1vel mis\u00e9ria imperante nas periferias urbanas. O setor agropecu\u00e1rio necessita de escolas b\u00e1sicas que valorizem e dignifiquem os agricultores e o mundo rural; que ensinem \u00e0s crian\u00e7as a identificarem os recursos e as oportunidades de desenvolvimento existentes no seu pr\u00f3prio meio; que lhes ensinem a transformar as potencialidades l\u00e1 existentes em atividades econ\u00f4micas que gerem trabalho e renda para as suas fam\u00edlias, nas suas pr\u00f3prias unidades produtivas e comunidades.<\/p>\n\n\n\n

Em resumo, o setor agropecu\u00e1rio est\u00e1 necessitando de uma educa\u00e7\u00e3o b\u00e1sica rural mais realista e objetiva; com conte\u00fados curriculares mais pertinentes e mais funcionais \u00e0s suas necessidades produtivas e familiares. Em outras palavras, uma educa\u00e7\u00e3o com conte\u00fados mais \u00fateis, que as fam\u00edlias rurais possam aplicar na solu\u00e7\u00e3o dos seus problemas cotidianos; e com m\u00e9todos que desenvolvam as potencialidades latentes das crian\u00e7as e ajudem-nas a transformarem-se em eficientes protagonistas do agroneg\u00f3cio e do desenvolvimento rural.<\/p>\n\n\n\n

Fotos: FIEP – Paran\u00e1
\nFonte: Polan Lacki – Oficial Superior de Educa\u00e7\u00e3o e Extens\u00e3o Agr\u00edcola, SDRE C-612, FAO – Roma, It\u00e1lia.
\nTel. 39 06 5705 5886 – Fax. 39 06 57055246 – E-Mail: Polan.Lacki@fao.org<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Nos pa\u00edses da Am\u00e9rica Latina a magnitude, complexidade e urg\u00eancia dos problemas rurais ultrapassaram, h\u00e1 muito tempo, as possibilidades de que os governos possam solucion\u00e1-los, especialmente porque tentam faz\u00ea-lo atrav\u00e9s do modelo convencional de depend\u00eancia estatal. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1551],"tags":[21,1234],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2574"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2574"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2574\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4234,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2574\/revisions\/4234"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2574"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2574"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2574"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}