{"id":2559,"date":"2009-04-06T16:22:21","date_gmt":"2009-04-06T16:22:21","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:01:49","modified_gmt":"2021-07-10T23:01:49","slug":"sistemas_agroflorestais_aspectos_ambientais_e_socio-economicos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agropecuario\/artigo_agropecuario\/sistemas_agroflorestais_aspectos_ambientais_e_socio-economicos.html","title":{"rendered":"Sistemas Agroflorestais: aspectos ambientais e s\u00f3cio-econ\u00f4micos"},"content":{"rendered":"\n

Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Com o recente reconhecimento e a conscientiza\u00e7\u00e3o da import\u00e2ncia dos valores ambientais, econ\u00f4micos e sociais das florestas, pode-se perceber, no cen\u00e1rio mundial, fortes tend\u00eancias para mudan\u00e7as significativas na forma de uso da terra, com a utiliza\u00e7\u00e3o de sistemas produtivos sustent\u00e1veis que considerem, al\u00e9m da produtividade biol\u00f3gica, os aspectos s\u00f3cio-econ\u00f4micos e ambientais. Diante desse fato, e dado ao car\u00e1ter de m\u00faltiplo prop\u00f3sito das \u00e1rvores, os Sistemas Agroflorestais (SAFs) constituem-se em alternativas sustent\u00e1veis para aumentar os n\u00edveis de produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola, animal e florestal.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
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Os SAFs referem-se a uma ampla variedade de formas de uso da terra, onde \u00e1rvores e arbustos s\u00e3o cultivados de forma interativa com cultivos agr\u00edcolas, pastagens e\/ou animais, visando a m\u00faltiplos prop\u00f3sitos, constituindo-se numa op\u00e7\u00e3o vi\u00e1vel de manejo sustentado da terra. Esses sistemas s\u00e3o classificados de acordo com a natureza e arranjo de seus componentes, podendo ser assim denominados: Silviagr\u00edcolas, aqueles constitu\u00eddos de \u00e1rvores e\/ou de arbustos com culturas agr\u00edcolas; Silvipastoris, cultivos de \u00e1rvores e\/ou de arbustos com pastagens e\/ou animais; e Agrossilvipastoris, cultivo de \u00e1rvores e\/ou arbustos com culturas agr\u00edcolas, pastagens e\/ou animais (Medrado, 2000).<\/p>\n\n\n\n

O objetivo desses sistemas \u00e9 a cria\u00e7\u00e3o de diferentes estratos vegetais, procurando imitar um bosque natural, onde as \u00e1rvores e\/ou os arbustos, pela influ\u00eancia que exercem no processo de ciclagem de nutrientes e no aproveitamento da energia solar, s\u00e3o considerados os elementos estruturais b\u00e1sicos e a chave para a estabilidade do sistema. No Brasil, diagn\u00f3sticos regionais e resultados de pesquisas demonstram que os SAFs s\u00e3o de grande aplicabilidade em \u00e1reas com atividades agr\u00edcola e pecu\u00e1ria. V\u00e1rios autores t\u00eam postulado que os SAFs respondem em parte a problemas de desmatamento e degrada\u00e7\u00e3o de diferentes ecossistemas (Montoya, 2000; Ribaski & Montoya, 2000 & S\u00e1nchez, 2000). Por meio deles \u00e9 realizado um melhor aproveitamento dos diferentes estratos da vegeta\u00e7\u00e3o obtendo-se com isso, melhor diversifica\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o, do uso da terra, da m\u00e3o-de-obra, da renda e da produ\u00e7\u00e3o de servi\u00e7os ambientais. Os SAFs tamb\u00e9m apresentam-se como eficientes reservat\u00f3rios de g\u00e1s carb\u00f4nico (CO2) e constituem-se em fonte renov\u00e1vel de energia, al\u00e9m de prestarem-se \u00e0 recupera\u00e7\u00e3o de solos marginais e\/ou degradados.<\/p>\n\n\n\n

Benef\u00edcios dos SAFs Para as Condi\u00e7\u00f5es Ambientais<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Entre os benef\u00edcios ambientais dos SAFs, destacam-se o melhor controle de temperatura, da umidade relativa do ar e da umidade do solo. Esses elementos clim\u00e1ticos alteram-se bastante em condi\u00e7\u00f5es de \u00e1reas abertas, sem \u00e1rvores. Nos SAFs, a presen\u00e7a do componente arb\u00f3reo contribui para regular a temperatura do ar, reduzindo sua varia\u00e7\u00e3o ao longo do dia e, conseq\u00fcentemente, tornando o ambiente mais est\u00e1vel, o que traz benef\u00edcios \u00e0s plantas e aos animais componentes desses sistemas.<\/p>\n\n\n\n

Porf\u00edrio da Silva et al. (1998), constataram que a presen\u00e7a da esp\u00e9cie arb\u00f3rea Grevillea robusta, em pastagens da regi\u00e3o noroeste do Paran\u00e1, teve influ\u00eancia sobre algumas vari\u00e1veis microclim\u00e1ticas como a temperatura e a umidade do ar e, por conseguinte, no d\u00e9ficit de press\u00e3o de vapor d’\u00e1gua. Segundo os autores, as quedas de temperatura impostas pela sombra das \u00e1rvores refletem em r\u00e1pidas diminui\u00e7\u00f5es de press\u00e3o de vapor d’\u00e1gua, o que traz conseq\u00fc\u00eancias positivas ao desenvolvimento da pastagem, favorecendo seu crescimento pelo aumento da sua transpira\u00e7\u00e3o. O microclima existente debaixo da copa das \u00e1rvores beneficia os animais dom\u00e9sticos, mantendo-os confort\u00e1veis \u00e0 sombra, ao contr\u00e1rio da exposi\u00e7\u00e3o \u00e0 insola\u00e7\u00e3o direta ou \u00e0s baixas temperaturas do inverno (Montoya & Baggio, 1992). Esse \u00e9 um aspecto importante, pois os bovinos tendem a pastejar preferencialmente nas horas mais frescas do dia e, certamente, em n\u00e3o havendo o componente arb\u00f3reo como agente regulador de temperatura, o consumo da pastagem torna-se limitado, tanto por raz\u00f5es de desequil\u00edbrio do balan\u00e7o t\u00e9rmico quanto por restri\u00e7\u00f5es do hor\u00e1rio de pastejo.<\/p>\n\n\n\n

Outra altera\u00e7\u00e3o causada pela presen\u00e7a das \u00e1rvores nos SAFs, diz respeito \u00e0 temperatura do solo que, normalmente, \u00e9 menor no interior da floresta. Isto evidencia a import\u00e2ncia do estrato herb\u00e1ceo e da serapilheira como agentes reguladores das condi\u00e7\u00f5es t\u00e9rmicas no solo da floresta. O principal efeito do sombreamento, proporcionado pelas \u00e1rvores, \u00e9 sobre as temperaturas extremas da superf\u00edcie do solo, as quais diminuem significativamente. A modifica\u00e7\u00e3o do microclima, na presen\u00e7a do componente arb\u00f3reo, repercute sobre o balan\u00e7o h\u00eddrico do solo, contribuindo para a eleva\u00e7\u00e3o da umidade dispon\u00edvel para as plantas sob a copa das \u00e1rvores (Ovalle & Avenda\u00f1o, 1994). Maiores teores de umidade nos solos debaixo de coberturas florestais, tamb\u00e9m foram observados por Bhojvaid & Timmer (1998), o que foi atribu\u00eddo \u00e0 redu\u00e7\u00e3o da radia\u00e7\u00e3o que chega ao solo, que influi significativamente na taxa de evapora\u00e7\u00e3o de \u00e1gua, concorrendo para a manuten\u00e7\u00e3o da sua umidade.<\/p>\n\n\n\n

O maior teor de umidade no solo favorece a atividade microbiana, resultando em acelera\u00e7\u00e3o da decomposi\u00e7\u00e3o da mat\u00e9ria org\u00e2nica e possibilitando o aumento da sua mineraliza\u00e7\u00e3o. Hang et al. (1995) avaliando um sistema silvipastoril, no semi-\u00e1rido argentino, constataram que durante um ano seco, uma \u00fanica chuva induziu aumento marcante na mineraliza\u00e7\u00e3o de nutrientes, destacando que nesse processo o nitrog\u00eanio correlacionou-se significativamente com a umidade no solo.<\/p>\n\n\n\n

Com rela\u00e7\u00e3o aos ventos, sabe-se que, tanto as culturas agr\u00edcolas, quanto as pastagens podem ter seu crescimento comprometido devido a danos f\u00edsicos causados pela agita\u00e7\u00e3o mec\u00e2nica. Submetidas a ventos fortes, as folhas batem-se umas nas outras, dobram-se e, com freq\u00fc\u00eancia, s\u00e3o rotacionadas sobre o eixo longitudinal de suas hastes. Esses movimentos, em geral, produzem quebras permanentes, murchamento, desseca\u00e7\u00e3o, cloroses e necroses nas pontas das folhas. A atenua\u00e7\u00e3o da velocidade do vento, obtida pela presen\u00e7a organizada de \u00e1rvores como quebra-ventos, pode resultar em incremento do rendimento das culturas agr\u00edcolas e das pastagens devido a: economia de \u00e1gua – resultante da menor evapora\u00e7\u00e3o do solo e das plantas; menor oscila\u00e7\u00e3o das temperaturas diurnas e noturnas, o que evita choques t\u00e9rmicos; redu\u00e7\u00e3o dos riscos de danos f\u00edsicos nas folhas; e otimiza\u00e7\u00e3o do suprimento de CO2.<\/p>\n\n\n\n

Benef\u00edcios dos SAFs na Fertilidade do Solo<\/strong><\/p>\n\n\n\n

As esp\u00e9cies arb\u00f3reas melhoram os solos por numerosos processos, principalmente quando s\u00e3o usadas em SAFs, onde as esp\u00e9cies s\u00e3o cultivadas na mesma \u00e1rea. As \u00e1rvores influenciam na quantidade e na disponibilidade de nutrientes dentro da zona de atua\u00e7\u00e3o do sistema radicular das culturas associadas, atrav\u00e9s do acr\u00e9scimo de nitrog\u00eanio pela fixa\u00e7\u00e3o biol\u00f3gica de N2, da recupera\u00e7\u00e3o de nutrientes abaixo do sistema radicular das culturas agr\u00edcolas e\/ou pastagens, da redu\u00e7\u00e3o das perdas de nutrientes por processos como lixivia\u00e7\u00e3o e eros\u00e3o e do aumento da disponibilidade de nutrientes pela sua maior libera\u00e7\u00e3o na mat\u00e9ria org\u00e2nica do solo. As ra\u00edzes profundas das \u00e1rvores podem interceptar os nutrientes que foram lixiviados das camadas superficiais e se acumularam no subsolo, geralmente fora do alcance do sistema radicular das culturas agr\u00edcolas e\/ou pastagens, e retorn\u00e1-los \u00e0 superf\u00edcie na forma de serapilheira. Pesquisas na parte ocidental do Qu\u00eania, na \u00c1frica, mostraram que \u00e1rvores de crescimento r\u00e1pido como Calliandra calothyrsus, Sesbania sesban e Eucalyptus grandis, com alta exig\u00eancia em nitrog\u00eanio, retiraram nitrato do subsolo, que estava acumulado sob o sistema radicular de culturas agr\u00edcolas anuais (Buresh & Tian, 1997). Tamb\u00e9m na \u00c1frica, \u00e1rvores dispersas, particularmente em regi\u00f5es semi-\u00e1ridas, s\u00e3o reconhecidas e difundidas como ilhas de solos melhorados (Rhoades, 1997). A esp\u00e9cie Faidherbia albida \u00e9 conhecida pelo seu “efeito albida”, que se refere ao maior crescimento\/rendimento das culturas ou plantas herb\u00e1ceas debaixo da copa das \u00e1rvores quando comparado ao crescimento\/rendimento dessas plantas em campo aberto (Buresh & Tian, 1997). Numerosos estudos mostram que a quantidade de mat\u00e9ria org\u00e2nica (M.O.) \u00e9 mais alta na camada superficial dos solos debaixo de \u00e1rvores do que em \u00e1reas abertas (Buresh & Tian, 1997; Kang, 1997; Rao et al., 1997; Bhojvaid & Timmer, 1998 e Ribaski, 2000). Por exemplo, num sistema agroflorestal com Leucaena leucocephala, Kang (1997) faz refer\u00eancia \u00e0 obten\u00e7\u00e3o de 12,3 g\/kg de carbono (C) debaixo das copas das \u00e1rvores e 9,4 g\/kg entre as fileiras, em compara\u00e7\u00e3o com 5,9 g\/kg de C nas parcelas sem \u00e1rvores.<\/p>\n\n\n\n

As \u00e1rvores tamb\u00e9m podem contribuir para o processo de restabelecimento da fauna do solo, fator importante para a decomposi\u00e7\u00e3o de res\u00edduos de plantas. A decomposi\u00e7\u00e3o de M.O. \u00e9 amplamente controlada pela biota do solo, particularmente a macrofauna (Tian et al., 1992). Esses microorganismos s\u00e3o importantes para disponibilizar os nutrientes nos sistemas de baixo “input”, onde as culturas, em grande parte, dependem de nutrientes liberados de materiais org\u00e2nicos ao inv\u00e9s de fertilizantes inorg\u00e2nicos. Na \u00cdndia, estudos realizados para determinar os efeitos das \u00e1rvores (Prosopis juliflora) de 5, 7 e 30 anos de idade, sobre as propriedades f\u00edsicas, qu\u00edmicas e biol\u00f3gicas do solo, mostraram que o crescimento das \u00e1rvores alterou o microclima e a umidade do solo, e aumentou a concentra\u00e7\u00e3o de M.O. e os teores dos nutrientes pot\u00e1ssio (K), c\u00e1lcio (Ca) e magn\u00e9sio (Mg) troc\u00e1veis, melhorando a fertilidade do solo (Bhojvaid & Timmer, 1998).<\/p>\n\n\n\n

Nas \u00e1reas cultivadas do planeta, depois da \u00e1gua, o nitrog\u00eanio (N) \u00e9 o nutriente mais limitante do crescimento e da produ\u00e7\u00e3o das plantas. Normalmente s\u00e3o adicionados aos solos fertilizantes nitrogenados visando a melhoria da produtividade dos cultivos. Entretanto, nos pa\u00edses do terceiro mundo, essa pr\u00e1tica de manejo, eficaz e proveitosa, est\u00e1 limitada a poucos cultivos, pois raramente o pequeno produtor utiliza esse insumo agr\u00edcola de alto custo nas culturas de subsist\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Algumas \u00e1rvores usadas em SAFs, principalmente as leguminosas, t\u00eam potencial para fornecer nitrog\u00eanio em quantidades suficientes para aumentar a produ\u00e7\u00e3o das culturas associadas. A Sesbania sesban \u00e9 capaz de substituir a aplica\u00e7\u00e3o de fertilizantes nitrogenados para se obter rendimentos de milho de aproximadamente 4 t\/ha (Sanchez & Palm 1996). Na associa\u00e7\u00e3o do cultivo de feij\u00e3o e milho com bracatinga (Mimosa scabrella), Carpanezzi & Carpanezzi (1992) constataram que a esp\u00e9cie florestal fornece ao solo quantidades consider\u00e1veis de N, K, Ca, Mg e f\u00f3sforo (P). Admitindo-se que 75% do nitrog\u00eanio total, oriundo da biomassa dec\u00eddua, seja assimil\u00e1vel em rela\u00e7\u00e3o ao nitrog\u00eanio fornecido pela aduba\u00e7\u00e3o mineral, a bracatinga seria capaz de complementar a aplica\u00e7\u00e3o do fertilizante qu\u00edmico na ordem de 49 kg\/ha.<\/p>\n\n\n\n

Os “inputs” org\u00e2nicos tamb\u00e9m t\u00eam importante vantagem sobre os fertilizantes inorg\u00e2nicos, com rela\u00e7\u00e3o ao efeito residual e \u00e0 sustentabilidade. Grande parte do nitrog\u00eanio que existe na cobertura morta e que n\u00e3o \u00e9 aproveitado pelas culturas, fica incorporado de forma ativa ou pouco ativa dentro da mat\u00e9ria org\u00e2nica do solo, enquanto que parte consider\u00e1vel do nitrog\u00eanio proveniente dos fertilizantes qu\u00edmicos, n\u00e3o aproveitado pelas culturas, fica sujeito a perdas por lixivia\u00e7\u00e3o e por desnitrifica\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Nos SAFs, a sombra produzida pelas \u00e1rvores \u00e9 um dos fatores respons\u00e1veis pelo aumento da disponibilidade de nitrog\u00eanio no solo, pois evid\u00eancias mostram que a taxa de mineraliza\u00e7\u00e3o \u00e9 estimulada pelo sombreamento. De acordo com Wilson (1990), a melhoria do ambiente do solo sob a copa das \u00e1rvores, possibilita atividade microbiana mais efetiva na decomposi\u00e7\u00e3o da mat\u00e9ria org\u00e2nica, o que resulta numa maior libera\u00e7\u00e3o do nitrog\u00eanio mineralizado. Esta influ\u00eancia \u00e9 particularmente importante na agricultura onde o n\u00edvel de nitrog\u00eanio do solo constitui em limita\u00e7\u00e3o ao desenvolvimento das culturas agr\u00edcolas ou pastagens.<\/p>\n\n\n\n

Benef\u00edcios dos SAFs sobre os Cultivos Associados<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A presen\u00e7a do componente arb\u00f3reo nos SAFs pode influir de maneira diferente no desenvolvimento do estrato vegetal herb\u00e1ceo, pois suas ra\u00edzes competem com as ra\u00edzes das plantas herb\u00e1ceas e a sua copa intercepta a luz necess\u00e1ria para a fotoss\u00edntese. Assim, o crescimento das culturas em associa\u00e7\u00e3o com esp\u00e9cies arb\u00f3reas pode ser prejudicado ou favorecido, dependendo de fatores como o grau de sombreamento proporcionado pelas \u00e1rvores, a competi\u00e7\u00e3o entre as plantas, com rela\u00e7\u00e3o \u00e0 \u00e1gua e nutrientes no solo, e a toler\u00e2ncia das esp\u00e9cies \u00e0 sombra. A toler\u00e2ncia ao sombreamento, condi\u00e7\u00e3o essencial em associa\u00e7\u00f5es entre culturas agr\u00edcolas e pastagens com \u00e1rvores, pode variar sensivelmente entre esp\u00e9cies. Por exemplo, muitas gram\u00edneas crescem melhor debaixo da sombra da copa das \u00e1rvores e produzem maior quantidade de forragem, al\u00e9m de possu\u00edrem melhor qualidade nutritiva (menor conte\u00fado de fibra e maior conte\u00fado de prote\u00edna bruta) quando comparadas \u00e0s que crescem a pleno sol.<\/p>\n\n\n\n

No cerrado brasileiro, Carvalho et al. (1997) observaram que a produ\u00e7\u00e3o de mat\u00e9ria seca de seis gram\u00edneas forrageiras estabelecidas em sub-bosque de angico-vermelho (Anadenanthera macrocarpa) foi afetada de modo diferente pelas condi\u00e7\u00f5es ambientais prevalecentes, advindas da competi\u00e7\u00e3o com a esp\u00e9cie arb\u00f3rea. Na Costa Rica, Bustamante et al. (1998), ao avaliar oito esp\u00e9cies de gram\u00edneas em monocultura e associadas \u00e0 Erythrina poeppigiana, tamb\u00e9m constataram que a toler\u00e2ncia das gram\u00edneas forrageiras \u00e0 sombra foi bastante vari\u00e1vel. Entretanto, a maioria delas foi beneficiada pela presen\u00e7a da leguminosa arb\u00f3rea, produzindo mais biomassa por hectare que quando cultivada pura.<\/p>\n\n\n\n

Acredita-se que os SAFs promovam ciclagem de nutrientes mais eficiente do que aquela que ocorre nas lavouras e pastagens tradicionais sem \u00e1rvores. Essa hip\u00f3tese \u00e9 baseada parcialmente em estudos realizados em ecossistemas de florestas naturais e na suposi\u00e7\u00e3o de que as \u00e1rvores nos SAFs transferir\u00e3o de forma semelhante os nutrientes para as culturas associadas. De acordo com Botero & Russo (1998), a ciclagem de nutrientes minerais, em termos de sustentabilidade, \u00e9 maior nos sistemas silvipastoris que nas pastagens tradicionais sem \u00e1rvores. No Vale do Cauca, na Col\u00f4mbia, as an\u00e1lises dos teores de nutrientes nas fezes de vacas lactantes, que pastejavam num sistema silvipastoril com Pithecellobium dulce associado \u00e0s forrageiras Brachiaria decumbens e Centrosema ocutifolium, foram comparadas com os teores dos mesmos elementos encontrados nas fezes dos animais que pastejavam Brachiaria decumbens pura. Os resultados mostraram superioridade no sistema silvipastoril, em termos de concentra\u00e7\u00e3o dos elementos na mat\u00e9ria seca, para todos os nutrientes analisados nas fezes.<\/p>\n\n\n\n

O aumento da concentra\u00e7\u00e3o de nitrog\u00eanio em plantas cultivadas sob intensidade luminosa reduzida, de forma artificial ou na presen\u00e7a de um componente arb\u00f3reo, ocorre com bastante freq\u00fc\u00eancia (Wilson, 1990; Carvalho et al., 1997; Ram\u00edrez, 1997 e Ribaski, 2000) e pode ser considerado como um dos fatores respons\u00e1veis pela melhoria da qualidade da pastagem, o que favorece a produ\u00e7\u00e3o animal. Alp\u00edzar (1985), na Costa Rica, ao realizar avalia\u00e7\u00f5es de reservas org\u00e2nicas e minerais de uma pastagem de Cynodon plectostachyus em condi\u00e7\u00f5es de monocultivo e associadas \u00e0 E. poeppigiana e Cordia alliodora, concluiu que os pastos sombreados pelas \u00e1rvores apresentaram melhor qualidade nutritiva, uma vez que os percentuais de nitrog\u00eanio encontrados na forragem debaixo de E. poeppigiana e C. alliodora foram considerados adequados para suprir as necessidades nutritivas de bovinos; o mesmo n\u00e3o ocorreu com os teores de nitrog\u00eanio presentes na pastagem sem \u00e1rvores.<\/p>\n\n\n\n

Na explora\u00e7\u00e3o de plantas forrageiras, um dos aspectos mais importantes a ser considerado \u00e9 o valor nutritivo, o qual \u00e9 definido em fun\u00e7\u00e3o da composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica e da digestibilidade da forragem produzida. A associa\u00e7\u00e3o de pastagens com \u00e1rvores pode trazer benef\u00edcios em termos de disponibilidade e de valor nutritivo da forragem, tendo em vista a caracter\u00edstica apresentada por diversas esp\u00e9cies arb\u00f3reas em adicionar nutrientes ao ecossistema, principalmente em se tratando de leguminosas arb\u00f3reas fixadoras de nitrog\u00eanio (Alp\u00edzar, 1985). Ram\u00edrez (1997) concluiu que a inclus\u00e3o das leguminosas arb\u00f3reas Prosopis juliflora e L. leucocephala em pastagens de C. plectostachyus teve um efeito positivo sobre a composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica do solo, com respeito ao N, C, P, Ca, Mg e K, devido a maior aporte de mat\u00e9ria org\u00e2nica no solo e, consequentemente, maior ciclagem de nutrientes. Esses fatores aumentaram a produ\u00e7\u00e3o e a qualidade nutritiva de forragem da gram\u00ednea, al\u00e9m de possibilitar maior disponibilidade de material forrageiro total consum\u00edvel no sistema.<\/p>\n\n\n\n

Diversas esp\u00e9cies de gram\u00edneas, ao se desenvolverem debaixo da copa das \u00e1rvores, apresentam maior concentra\u00e7\u00e3o de prote\u00edna bruta (PB), quando comparadas \u00e0quelas que crescem em plena exposi\u00e7\u00e3o solar (Botero & Russo, 1998; Hern\u00e1ndez et al., 1998 e Ribaski, 2000). O processo de amadurecimento fisiol\u00f3gico da pastagem implica em redu\u00e7\u00e3o de sua qualidade, principalmente pela diminui\u00e7\u00e3o dos teores de PB e aumento da concentra\u00e7\u00e3o de fibras. A baixa concentra\u00e7\u00e3o de prote\u00edna na dieta resulta em baixa digestibilidade de suas fibras. Dessa forma, as \u00e1rvores, ao promoverem o sombreamento das pastagens, reduzem os extremos microclim\u00e1ticos, proporcionando eleva\u00e7\u00e3o do conte\u00fado prot\u00e9ico e favorecendo a digestibilidade da forragem obtida. Entretanto, na literatura existem resultados bastante conflitantes com rela\u00e7\u00e3o \u00e0 influ\u00eancia da intensidade luminosa sobre a digestibilidade. De acordo com Samarakoon et al. (1990), o efeito do sombreamento na digestibilidade “in vitro” pode ser positivo, negativo ou nulo, dependendo do balan\u00e7o das altera\u00e7\u00f5es nos demais componentes dos tecidos vegetais. Assim sendo, n\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel generalizar nem prever a extens\u00e3o em que a digestibilidade de uma determinada esp\u00e9cie ser\u00e1 alterada quando cultivada \u00e0 sombra.<\/p>\n\n\n\n

Os SAFs na Recupera\u00e7\u00e3o de \u00c1reas Degradadas<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O tema recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas tem sido objeto de numerosos estudos, constituindo-se numa linha de pesquisa priorit\u00e1ria, em raz\u00e3o do grau avan\u00e7ado de perturba\u00e7\u00e3o que atinge, tanto grandes \u00e1reas de prote\u00e7\u00e3o ambiental como do setor agr\u00edcola e industrial, com o uso de tecnologia moderna. Pesquisas sobre a recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas, inicialmente davam \u00eanfase a trabalhos de revegeta\u00e7\u00e3o, baseados na interven\u00e7\u00e3o no ambiente (substrato, vegeta\u00e7\u00e3o, fauna, etc.), corrigindo ou acrescentando o cen\u00e1rio anterior \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o. Visavam ao estabelecimento de um “tape verde” (efeito paisagismo) com esp\u00e9cies agressivas e de r\u00e1pido crescimento. Atualmente, outra estrat\u00e9gia na recupera\u00e7\u00e3o \u00e9 baseada no principio da sucess\u00e3o ecol\u00f3gica que consiste na implanta\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies pioneiras, iniciais e tardias at\u00e9 chegar ao cl\u00edmax; \u00e9 a mudan\u00e7a temporal da composi\u00e7\u00e3o em esp\u00e9cies e da estrutura de comunidades em uma \u00e1rea. \u00c9 o processo que ocorre mediante a substitui\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies em rela\u00e7\u00e3o as suas adapta\u00e7\u00f5es ao substrato, \u00e0 irradia\u00e7\u00e3o luminosa e \u00e0 competitividade, culminando em sistemas mais estruturados, diversos e complexos que os iniciais (Poggiani, 1990; Maschio et al., 1992; Curcio et al., 1998).<\/p>\n\n\n\n

O uso dos SAFs na recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas vem sendo objeto de numerosos estudos (Budowski,1981; Nair, 1987). Hoje os SAFs n\u00e3o apenas encerram a id\u00e9ia de recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas (restaura\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica), mas carregam uma abordagem hol\u00edstica, envolvendo aspectos sociais, econ\u00f4micos e ambientais. O potencial dos SAFs para a recupera\u00e7\u00e3o, conserva\u00e7\u00e3o e aumento da fertilidade do solo est\u00e1 baseado na acumula\u00e7\u00e3o de dados t\u00e9cnico-cient\u00edficos que mostram que as \u00e1rvores e outros tipos de vegeta\u00e7\u00e3o, quando associadas com outros componentes, cultivos agr\u00edcolas ou pastagens, exercem influ\u00eancia positiva sobre a base do recurso da qual o sistema depende (Budowski, 1981, Wiersum, 1986; Szott et al., 1991, Ribaski, 2000). Desse modo, as pr\u00e1ticas agroflorestais podem ser aplicadas de diversas formas na recupera\u00e7\u00e3o de solos degradados. Baggio (1992) e Carpanezzi (1998) mencionam que a chave para o sucesso de um SAF est\u00e1 na escolha da esp\u00e9cie arb\u00f3rea, dos componentes do sistema e do regime de manejo. A seguir s\u00e3o apresentadas algumas formas de degrada\u00e7\u00e3o dos solos e os principais benef\u00edcios das pr\u00e1ticas agroflorestais na recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas:<\/p>\n\n\n\n

  • \u00e1reas desmatadas e degradadas pela derrubada e queima de \u00e1rvores, que favorecem a emiss\u00e3o de gases como o CO2, a exposi\u00e7\u00e3o do solo diretamente \u00e0 chuva, o que provocando eros\u00e3o e assoreamento dos rios, desequil\u00edbrios na flora e fauna, com conseq\u00fcente empobrecimento biol\u00f3gico. Essas \u00e1reas podem ser melhoradas e\/ou recuperadas pela aplica\u00e7\u00e3o de pr\u00e1ticas agroflorestais como o sistema taungya, cultivos seq\u00fcenciais, pousio melhorado, \u00e1rvores multiestrato, esp\u00e9cies de uso m\u00faltiplo, entre outros.<\/li>
  • \u00e1reas erodidas pela \u00e1gua de chuvas, acarretando perdas de solo, reduzindo sua capacidade para armazenar nutrientes e \u00e1gua, provocando alto \u00edndice de escorrimento de solo e compacta\u00e7\u00e3o do solo. Essas \u00e1reas degradadas podem ser recuperadas pela utiliza\u00e7\u00e3o de pr\u00e1ticas agroflorestais como barreiras vivas, forma\u00e7\u00e3o lenta de terra\u00e7os para uso agr\u00edcola, estabiliza\u00e7\u00e3o de vo\u00e7orocas, cultivos em renques, \u00e1rvores em contorno e \u00e1rvores sobre curvas de n\u00edvel, entre outras.<\/li>
  • \u00e1reas de baixa fertilidade e mal drenadas que, geralmente, provocam perdas de mat\u00e9ria org\u00e2nica e de nutrientes, principalmente de nitratos, e impedimentos f\u00edsicos ao desenvolvimento de ra\u00edzes, com crescimento reduzido de \u00e1rvores e de defici\u00eancia de nutrientes nos cultivos anuais. Podem ser recuperadas com pr\u00e1ticas agroflorestais como cultivos em renques, cultivos em faixas, folhagem florestal como fonte de adubo, \u00e1rvores em torno de cultivos agr\u00edcolas e de pastagens, entre outros.<\/li>
  • \u00e1reas secas (\u00e1ridas) com solos com camadas duras, apresentando dificuldade de armazenar \u00e1gua e nutrientes; altas temperaturas afetando a evapotranspira\u00e7\u00e3o e o len\u00e7ol fre\u00e1tico. Podem ser recuperadas com a utiliza\u00e7\u00e3o de pr\u00e1ticas agroflorestais como barreiras vivas, quebra-ventos, cercas vivas, \u00e1rvores em torno de cultivos e pastagens, entre outros.<\/li>
  • \u00e1reas de encostas (declividade acentuada); geralmente s\u00e3o \u00e1reas desprovidas de florestas, com alto \u00edndice de eros\u00e3o e com dificuldade na forma\u00e7\u00e3o de uma cobertura permanente do solo. Podem ser recuperadas pela utiliza\u00e7\u00e3o de pr\u00e1ticas agroflorestais como fileira de \u00e1rvores sobre terra\u00e7os, cultivo em faixas e barreiras vivas.<\/li>
  • \u00e1reas de pousio e\/ou \u00e1reas marginais, de pouco valor ecol\u00f3gico e econ\u00f4mico. Podem ser recuperadas por pr\u00e1ticas agroflorestais como pousio melhorado e \u00e1rvores em multiestratos.<\/li>
  • \u00e1reas de pastagens degradadas com cobertura vegetal deficiente, expondo o solo aos efeitos prejudiciais da eros\u00e3o h\u00eddrica e e\u00f3lica. Podem ser recuperadas por pr\u00e1ticas agroflorestais como arboriza\u00e7\u00e3o de pastagens e bancos forrageiros, entre outros.<\/li><\/ul>\n\n\n\n

    Sistemas Agroflorestais e os Impactos S\u00f3cio-econ\u00f4micos<\/strong><\/p>\n\n\n\n

    A atividade florestal brasileira representa 2,2% do produto interno bruto (PIB), verificando-se exporta\u00e7\u00f5es da ordem de 3,3 e 3,5 bilh\u00f5es de d\u00f3lares nos anos de 1997 e 1999, respectivamente, com uma participa\u00e7\u00e3o equivalente a 7,0% das exporta\u00e7\u00f5es brasileiras, superadas apenas pela soja. Essa atividade \u00e9 de significativa import\u00e2ncia social, pois assegura a manuten\u00e7\u00e3o de 700 mil empregos diretos e 2 milh\u00f5es de empregos indiretos (SBS, 1998), onde n\u00e3o existe sazonalidade na utiliza\u00e7\u00e3o de m\u00e3o-de-obra, pois as demandas caracterizadas pelas diferentes atividades inerentes ao setor florestal s\u00e3o cont\u00ednuas ao longo do tempo. De acordo com dados da SBS (1998), a demanda anual de madeira no Brasil \u00e9 estimada em 350 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos, sendo que a produ\u00e7\u00e3o de florestas plantadas, principalmente, com esp\u00e9cies dos g\u00eaneros Eucalyptus e Pinus, n\u00e3o atinge a metade dessa necessidade. H\u00e1, portanto, um d\u00e9ficit significativo de madeira que vem sendo suprido atrav\u00e9s do corte de florestas naturais. Al\u00e9m da utiliza\u00e7\u00e3o da madeira para fins diversos, destaca-se tamb\u00e9m a crescente demanda por produtos n\u00e3o madeir\u00e1veis, como resinas, l\u00e1tex, produtos aliment\u00edcios, taninos, mat\u00e9ria prima para a industria farmac\u00eautica e plantas medicinais.<\/p>\n\n\n\n

    Essa mesma tend\u00eancia se observa tamb\u00e9m em n\u00edvel mundial, onde cresce sensivelmente a demanda por produtos de base florestal. Assim, a introdu\u00e7\u00e3o de \u00e1rvores nas propriedades rurais, atrav\u00e9s das diferentes modalidades agroflorestais, representa importante papel na sustentabilidade dos diferentes ecossistemas brasileiros. Pr\u00e1ticas florestais convencionais ainda n\u00e3o s\u00e3o atrativas para m\u00e9dios e pequenos produtores por problemas de fluxo de caixa e longos per\u00edodos de investimento. Contudo, esse comportamento vem mudando pela utiliza\u00e7\u00e3o de SAFs, que permite a diversifica\u00e7\u00e3o de produtos florestais e agr\u00edcolas na mesma unidade de \u00e1rea, e gera\u00e7\u00e3o de renda e de empregos. Os benef\u00edcios de produ\u00e7\u00e3o, s\u00f3cio-econ\u00f4micos e ambientais manifestam-se a m\u00e9dio e longo prazo. Rodigheri (1997) e Montoya (1999) demonstraram que, quando cultivos agr\u00edcolas s\u00e3o introduzidos simultaneamente e\/ou seq\u00fcencialmente nas entrelinhas de esp\u00e9cies florestais, al\u00e9m do aproveitamento da aplica\u00e7\u00e3o de fertilizantes nas esp\u00e9cies, tais cultivos contribuem para a amortiza\u00e7\u00e3o do custo de implanta\u00e7\u00e3o florestal, logo nos primeiros anos.<\/p>\n\n\n\n

    Montoya & Baggio (1992) constataram que, quando introduz-se o componente arb\u00f3reo em \u00e1reas de pecu\u00e1ria, o custo de implanta\u00e7\u00e3o das \u00e1rvores inicialmente pode reduzir a renda da propriedade. Entretanto, essa redu\u00e7\u00e3o pode ser, em parte, compensada pela receita obtida pelo ganho de peso do gado, ou pelo aumento da produ\u00e7\u00e3o de leite beneficiado pelo sombreamento. Percebe-se, tamb\u00e9m, que as propriedades rurais n\u00e3o est\u00e3o aproveitando seu potencial de transforma\u00e7\u00e3o da mat\u00e9ria-prima florestal e agroflorestal em bens mais elaborados, deixando de agregar valor dentro da cadeia produtiva florestal e agroflorestal. Como exemplo de mat\u00e9ria-prima florestal, o produtor vende uma \u00e1rvore em p\u00e9 (toras de pinus) ao pre\u00e7o reduzido de 2,4 d\u00f3lares o metro c\u00fabico. Se o produtor ao inv\u00e9s de vender as toras em p\u00e9 beneficiar a madeira, serrando-a e secando-a, aumentar\u00e1 seu valor agregado, pois a madeira serrada de pinus vale 87 d\u00f3lares o metro c\u00fabico, ou seja um valor 36 vezes mais alto.<\/p>\n\n\n\n

    Da mesma forma, os produtos agroflorestais t\u00eam valor agregado, a partir do processamento da produ\u00e7\u00e3o. Contudo, essa agrega\u00e7\u00e3o de valor s\u00f3 vai acontecer na medida em que o produtor se especializar numa boa condu\u00e7\u00e3o, com desbastes e podas planejadas, no processo do beneficiamento da madeira e de outros produtos agroflorestais. Isso pode ser feito atrav\u00e9s da organiza\u00e7\u00e3o de pequenas e m\u00e9dias serrarias, marcenarias, ou pela participa\u00e7\u00e3o em um empreendimento de maior porte, atrav\u00e9s de associa\u00e7\u00f5es de produtores. Assim, al\u00e9m de ser uma alternativa para o aproveitamento de \u00e1reas marginalizadas ou de menor valor da propriedade, a atividade agroflorestal torna-se uma forma de diversifica\u00e7\u00e3o da renda e uma nova alternativa para o uso da m\u00e3o-de-obra, pela flexibilidade do calend\u00e1rio das opera\u00e7\u00f5es culturais. No contexto regional, a import\u00e2ncia econ\u00f4mica e social \u00e9 inquestion\u00e1vel na medida em que a cadeia agroflorestal pode vir a ser uma forma de dinamizar a regi\u00e3o em um novo eixo de desenvolvimento com maior participa\u00e7\u00e3o de produtores rurais, de empres\u00e1rios do setor urbano e da popula\u00e7\u00e3o economicamente ativa, que n\u00e3o encontra ocupa\u00e7\u00e3o dentro da pr\u00f3pria regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

    Considera\u00e7\u00f5es Finais<\/strong><\/p>\n\n\n\n

    A utiliza\u00e7\u00e3o de \u00e1reas com vegeta\u00e7\u00e3o florestal para agricultura ou pecu\u00e1ria tem resultado quase sempre em um acentuado processo de eros\u00e3o h\u00eddrica ou e\u00f3lica e, conseq\u00fcentemente, na degrada\u00e7\u00e3o do solo, contamina\u00e7\u00e3o e assoreamento dos aq\u00fc\u00edferos, na redu\u00e7\u00e3o da flora e fauna, em altera\u00e7\u00f5es de microclimas e de ciclos biogeoqu\u00edmicos (ciclo do carbono, da \u00e1gua, do nitrog\u00eanio), al\u00e9m de implicar na supress\u00e3o de \u00e1reas produtoras de alimento. A utiliza\u00e7\u00e3o de SAFs \u00e9 uma op\u00e7\u00e3o vi\u00e1vel que concorre para melhor utiliza\u00e7\u00e3o do solo, para reverter os processos de degrada\u00e7\u00e3o dos recursos produtivos, para aumentar a disponibilidade de madeira, de alimentos e de “servi\u00e7os ambientais” (conserva\u00e7\u00e3o dos solos, controle dos ventos, redu\u00e7\u00e3o na contamina\u00e7\u00e3o da \u00e1gua e do ar, recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas, entre outros). Adicionalmente a esses aspectos, a introdu\u00e7\u00e3o do componente florestal no sistema, constitui-se em alternativa de aumento de emprego e da renda rural. Apesar do reconhecimento dos benef\u00edcios dos SAFs, o seu conhecimento e uso ainda s\u00e3o limitados. Isto representa uma oportunidade para o desenvolvimento de maiores a\u00e7\u00f5es de pesquisa, para a valoriza\u00e7\u00e3o dos benef\u00edcios ambientais e de maiores incentivos econ\u00f4micos que venham a estimular sua implanta\u00e7\u00e3o. Estes mecanismos s\u00e3o necess\u00e1rios para assegurar a sustentabilidade dos sistemas agroflorestais, a equidade social e a prote\u00e7\u00e3o ambiental.<\/p>\n\n\n\n

    Refer\u00eancias Bibliogr\u00e1ficas:<\/strong><\/p>\n\n\n\n

    ALP\u00cdZAR, L. Resultados del “experimento central” del CATIE: Asociaciones de pastos y arboles de sombra. In: BEER, J.W.; FASSBENDER, H.W.; HEUVELDOP, J. (Eds) Avances en la investigacion agroforestal, Turrialba: CATIE, 1985, p.237-243.<\/p>\n\n\n\n

    BAGGIO, A.J. Alternativas agroflorestais para recupera\u00e7\u00e3o de solos degradados na regi\u00e3o Sul do Pa\u00eds. In: SIMP\u00d3SIO NACIONAL DE RECUPERA\u00c7\u00c3O DE \u00c1REAS DEGRADADAS, 1992, Curitiba. Anais. Colombo: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu\u00e1ria, 1992. v.1. p. 126-131.<\/p>\n\n\n\n

    BHOJVAID, P.P.; TIMMER, V.R. Soil dynamics in age sequence of Prosopis juliflora planted for sodic soil restoration in \u00cdndia. Forest Ecology and Management, v.106, n.2-3, p.181-193, 1998.<\/p>\n\n\n\n

    BOTERO, R.; RUSSO, R.O. Utilizaci\u00f3n de \u00e1rboles y arbustos fijadores de nitr\u00f3geno en sistemas sostenibles de producci\u00f3n animal en suelos \u00e1cidos tropicales. Conferencia electr\u00f3nica.<\/p>\n\n\n\n

    Jorge Ribaski, Luciano Javier Montoya, Honorino Roque Rodigheri<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

    O objetivo desses sistemas \u00e9 a cria\u00e7\u00e3o de diferentes estratos vegetais, procurando imitar um bosque natural, onde as \u00e1rvores e\/ou os arbustos, pela influ\u00eancia que exercem no processo de ciclagem de nutrientes e no aproveitamento da energia solar, s\u00e3o considerados os elementos estruturais b\u00e1sicos e a chave para a estabilidade do sistema. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":2560,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1551],"tags":[1224,680,56,387],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2559"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2559"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2559\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4247,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2559\/revisions\/4247"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2560"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2559"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2559"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2559"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}