{"id":2533,"date":"2009-04-03T14:33:07","date_gmt":"2009-04-03T14:33:07","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:01:53","modified_gmt":"2021-07-10T23:01:53","slug":"sol_sal_e_seca","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agropecuario\/artigo_agropecuario\/sol_sal_e_seca.html","title":{"rendered":"Sol, sal e seca"},"content":{"rendered":"\n
\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
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Uma regi\u00e3o que n\u00e3o tem a capacidade de produzir alimentos est\u00e1 condenada \u00e0 pobreza. Sobre uma agricultura bem sucedida \u00e9 poss\u00edvel organizar um sistema social e econ\u00f4mico mais complexo. Por\u00e9m, na aus\u00eancia de um setor prim\u00e1rio forte, a regra \u00e9 que a regi\u00e3o seja condenada \u00e0 exclus\u00e3o. A agricultura \u00e9 fraca ou inexistente quando o solo, o clima ou ambos s\u00e3o adversos. Embora as regi\u00f5es de pobreza end\u00eamica mais acentuada concentrem-se na \u00c1frica e no sudeste asi\u00e1tico, existem enclaves de pobreza tamb\u00e9m no semi-\u00e1rido nordestino. Enxotado para a marginalidade de um mercado globalizado que exige regularidade de produ\u00e7\u00e3o, ao sertanejo restaria a agricultura de subsist\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Ajuda da pesquisa<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A Embrapa sempre foi sens\u00edvel \u00e0s agruras sociais dos produtores rurais, buscando alternativas tecnol\u00f3gicas que permitam ao agricultor galgar degraus na busca da inclus\u00e3o social. A Embrapa Semi-\u00c1rido (Petrolina-PE), localizada no pol\u00edgono das secas, tem entre suas prioridades a busca de uma agricultura regional sustent\u00e1vel. Uma das pesquisas combina o fornecimento de \u00e1gua de qualidade com o destino adequado do res\u00edduo salino do tratamento da \u00e1gua. A l\u00f3gica \u00e9 o aproveitamento do res\u00edduo, um material altamente poluente, para produzir alimento animal. Para entender a quest\u00e3o, \u00e9 preciso saber que os solos do semi-\u00e1rido comp\u00f5em-se de rochas sedimentares do tipo cristalino, de baixa permeabilidade, em que a \u00e1gua subterr\u00e2nea circula lentamente. Essa \u00e9 uma das causas da saliniza\u00e7\u00e3o dos aq\u00fc\u00edferos nordestinos, onde foram constatadas concentra\u00e7\u00f5es salinas de 1 g\/l, muito acima do m\u00e1ximo admitido para o consumo humano (250 mg\/l).<\/p>\n\n\n\n

Dessaliniza\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A solu\u00e7\u00e3o para obter \u00e1gua pot\u00e1vel \u00e9 a dessaliniza\u00e7\u00e3o, tendo sido instaladas mais de mil unidades na regi\u00e3o. O processo consiste em for\u00e7ar a \u00e1gua, sob press\u00e3o, a passar por uma membrana semiperme\u00e1vel, a qual ret\u00e9m as mol\u00e9culas de sal e permite a passagem da \u00e1gua. Essa membrana precisa ser lavada para retirar os sais retidos na filtragem. Na sa\u00edda do dessalinizador, h\u00e1 uma vertente de \u00e1gua pot\u00e1vel e outra com a \u00e1gua resultante da lavagem, saturada com sal, possuindo um alto potencial de impacto no ambiente. A \u00e1gua dessalinizada torna-se pot\u00e1vel, no entanto \u00e9 preciso dar um uso ao res\u00edduo salino, que torna impr\u00f3prio para cultivo o solo que receba a \u00e1gua da lavagem. O potencial poluidor \u00e9 muito alto, pois, embora raras, as chuvas que caem na regi\u00e3o arrastar\u00e3o o sal para mananciais e fontes de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Reciclagem<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A solu\u00e7\u00e3o proposta pela Embrapa \u00e9 a cria\u00e7\u00e3o de til\u00e1pias, pois os peixes reciclam parte do sal contido na \u00e1gua. Entretanto, como h\u00e1 necessidade de oxigena\u00e7\u00e3o constante, parcela da \u00e1gua do tanque deve ser substitu\u00edda diariamente. A \u00e1gua proveniente dos tanques de cria\u00e7\u00e3o de peixes \u00e9 utilizada para irriga\u00e7\u00e3o. Pode parecer estranho que uma \u00e1gua saturada com cloreto de s\u00f3dio possa servir de substrato adequado a um vegetal. Entretanto, a recomenda\u00e7\u00e3o dos pesquisadores \u00e9 o uso da erva-sal (Atriplex nummularia), conhecida por sua alta toler\u00e2ncia a ambientes salinos.<\/p>\n\n\n\n

Sede e Fome Zero!<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A erva-sal \u00e9 origin\u00e1ria de \u00e1reas secas da Austr\u00e1lia. Foi introduzida no Nordeste, onde se adaptou bem ao regime pluviom\u00e9trico inconstante e de baixa precipita\u00e7\u00e3o (m\u00e9dia anual inferior a 250 mm). Al\u00e9m da seca, a erva-sal tolera a salinidade do solo, por ser uma planta hal\u00f3fita. Os estudos da Embrapa mostraram que a erva-sal tolera concentra\u00e7\u00f5es de at\u00e9 36 g\/l, o que equivale \u00e0 salinidade das \u00e1guas oce\u00e2nicas. Experimentos da Embrapa mostraram que a erva-sal pode retirar at\u00e9 1,2 ton\/ha\/ano de sal da \u00e1gua. Essas caracter\u00edsticas n\u00e3o seriam \u00fateis, n\u00e3o fora a erva-sal uma planta com boas qualidades nutricionais, compar\u00e1vel \u00e0 alfafa. A erva-sal pode produzir 6 ton\/ha de mat\u00e9ria seca, em ciclos que podem ser inferiores a um ano. Os macronutrientes exigidos pela planta, como nitrog\u00eanio e f\u00f3sforo, que se encontram em baixos teores nos solos nordestinos, s\u00e3o fornecidos pelos excrementos dos peixes.<\/p>\n\n\n\n

Piloto<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A Embrapa mant\u00e9m um projeto piloto em Petrolina, onde um dessalinizador atende \u00e0s 56 fam\u00edlias da comunidade. A comunidade produz 1 ton\/ano de peixes, em tanques de 300 mil litros. A \u00e1gua dos tanques vai irrigar a planta\u00e7\u00e3o de erva-sal, sendo que um hectare cultivado suporta 200 caprinos, durante seis meses. Com o uso da t\u00e9cnica desenvolvida pela Embrapa, essa comunidade ter\u00e1 atendida a sua demanda de \u00e1gua pot\u00e1vel e de alimento, al\u00e9m de dispor de uma fonte extra de renda.<\/p>\n\n\n\n

D\u00e9cio Luiz Gazzoni \u00e9 Engenheiro Agr\u00f4nomo, pesquisador da Embrapa Soja.
\nHomepage www.gazzoni.pop.com.br<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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