{"id":2505,"date":"2009-04-03T09:44:18","date_gmt":"2009-04-03T09:44:18","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:01:56","modified_gmt":"2021-07-10T23:01:56","slug":"cercas_ecologicas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agropecuario\/artigo_agropecuario\/cercas_ecologicas.html","title":{"rendered":"Cercas Ecol\u00f3gicas"},"content":{"rendered":"\n

Por Jos\u00e9 An\u00edbal Comastri Filho e Sandra Aparecida Santos<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Cercas constru\u00eddas para manejo de gado em algumas regi\u00f5es\/ecossistemas naturais e de grande biodiversidade, tais como o Pantanal, podem causar impacto negativo sobre algumas esp\u00e9cies de animais silvestres, especialmente os grandes herb\u00edvoros, tais como o cervo do Pantanal (Blastocerus dichotomus), o veado mateiro (Mazama americana), o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus) a ema (Rhea americana) e a anta (Tapirus terrestris).<\/p>\n\n\n\n

As peculiaridades da regi\u00e3o pantaneira, marcada por secas e cheias, dificultaram a ocupa\u00e7\u00e3o e interfer\u00eancia antr\u00f3pica. A pr\u00e1tica da pecu\u00e1ria extensiva, favorecida pela riqueza de recursos naturais, vem sendo desenvolvida h\u00e1 s\u00e9culos.<\/p>\n\n\n\n

Para manter esta riqueza em biodiversidade, os produtores desenvolvem uma pecu\u00e1ria extensiva com um m\u00ednimo de interfer\u00eancia no ambiente, cujos \u00edndices zoot\u00e9cnicos ainda s\u00e3o relativamente baixos. Entretanto, nos \u00faltimos anos, v\u00eam crescendo as press\u00f5es econ\u00f4micas para aumento da produtividade, agravando ainda mais os efeitos da redu\u00e7\u00e3o da capacidade produtiva das fazendas e a descapitaliza\u00e7\u00e3o do setor, acentuado devido \u00e0 divis\u00e3o constante das terras, por venda ou heran\u00e7a. Muitas fazendas est\u00e3o sendo vendidas para fazendeiros e at\u00e9 mesmo para pessoas de outros ramos de atividade, que pouco conhecem a regi\u00e3o, colocando em risco a conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade do Pantanal.<\/p>\n\n\n\n

Quando se diz que o homem pantaneiro vem conservando o Pantanal h\u00e1 cerca de 200 anos, n\u00e3o \u00e9 simplesmente pelo fato dele apenas colocar os bovinos em grandes extens\u00f5es de terra e deixa-los por conta dos campos naturais. Muitos pensam assim, isto \u00e9 muito c\u00f4modo, mas n\u00e3o \u00e9 verdade. O homem pantaneiro convivendo na regi\u00e3o, aprendeu a respeitar os limites da natureza, fato este que pode ser observado atrav\u00e9s de pequenas atitudes de manejo, como no simples ato de construir uma cerca.<\/p>\n\n\n\n

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Muitos fazendeiros que v\u00eam de outras regi\u00f5es, chegam aqui e come\u00e7am a implantar novas tecnologias, \u00e0s vezes sem crit\u00e9rios. Porque os fazendeiros tradicionais n\u00e3o optaram por este tipo de cerca? Porque eles sempre usaram uma cerca de quatro fios? Esta atitude p\u00f4de ser vista tempos depois durante uma cheia extrema. Animais silvestres como o cervo tentaram passar por esta mesma cerca para fugir da inunda\u00e7\u00e3o em busca de locais mais seguros e com alimenta\u00e7\u00e3o, mas foram impedidos pela cerca. Resultado: morreram de fome.<\/p>\n\n\n\n

Estes casos ocorrem geralmente em situa\u00e7\u00f5es de cheias extremas, onde os animais silvestres tentam passar por este tipo de cerca para fugir da inunda\u00e7\u00e3o ou quando s\u00e3o perseguidos. Na verdade, nas regi\u00f5es onde transitam grandes herb\u00edvoros silvestres, as cercas deveriam ser ajustadas de modo que a altura do \u00faltimo fio at\u00e9 o solo fosse adequada para a movimenta\u00e7\u00e3o desses animais.<\/p>\n\n\n\n

Um cerca ecol\u00f3gica deve ser constru\u00edda e ajustada, em fun\u00e7\u00e3o das caracter\u00edsticas edafo-clim\u00e1ticas da regi\u00e3o, do tamanho dos animais silvestres existentes e principalmente atrav\u00e9s do conhecimento das necessidades territoriais e do comportamento espacial e temporal dos animais silvestres. Bookhout (1994) descreve algumas especifica\u00e7\u00f5es\/recomenda\u00e7\u00f5es para a constru\u00e7\u00e3o\/ajustes de cercas para facilitar a movimenta\u00e7\u00e3o de ungulados.<\/p>\n\n\n\n

Cabe descrever aqui um coment\u00e1rio feito por um antigo fazendeiro da regi\u00e3o, o saudoso Sr. Laurindo de Barros: “O uso de cercas com cinco ou seis arames \u00e9 totalmente desnecess\u00e1ria, cara e anti-ecol\u00f3gica, pois n\u00e3o permite o tr\u00e2nsito livre dos animais silvestres. Cercas com cinco fios de arame s\u00f3 s\u00e3o usadas por alguns fazendeiros nas divisas da propriedade. Bezerro ao p\u00e9 da vaca n\u00e3o passa debaixo do arame deixando a invernada em que sua m\u00e3e est\u00e1 para ir para outra invernada, portanto, o uso de cerca de cinco ou seis arames s\u00f3 serve para encurralar os animais. E n\u00f3s s\u00f3 usamos arame liso, pois o arame farpado risca o couro provocando bicheiras”<\/p>\n\n\n\n

Diante desses fatos, al\u00e9m de verificarmos a import\u00e2ncia das cercas ecol\u00f3gicas para a regi\u00e3o pantaneira, tamb\u00e9m podemos constatar a import\u00e2ncia de se valorizar e conservar a cultura e a origem do homem pantaneiro, que muito vem contribuindo para a conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade do Pantanal.<\/p>\n\n\n\n

Fontes: Jos\u00e9 An\u00edbal Comastri Filho (comastri@cpap.embrapa.br) e Sandra Aparecida Santos (sasantos@cpap.embrapa.br), s\u00e3o pesquisadores da Embrapa Pantanal. <\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Um cerca ecol\u00f3gica deve ser constru\u00edda e ajustada, em fun\u00e7\u00e3o das caracter\u00edsticas edafo-clim\u00e1ticas da regi\u00e3o, do tamanho dos animais silvestres existentes e principalmente atrav\u00e9s do conhecimento das necessidades territoriais e do comportamento espacial e temporal dos animais silvestres. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":2506,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1551],"tags":[1206],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2505"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2505"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2505\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4272,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2505\/revisions\/4272"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2506"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2505"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2505"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2505"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}