{"id":2490,"date":"2009-04-02T15:17:03","date_gmt":"2009-04-02T15:17:03","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:01:59","modified_gmt":"2021-07-10T23:01:59","slug":"consideracoes_sobre_a_extensao_rural_no_brasil","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agropecuario\/artigo_agropecuario\/consideracoes_sobre_a_extensao_rural_no_brasil.html","title":{"rendered":"Considera\u00e7\u00f5es sobre a extens\u00e3o rural no Brasil"},"content":{"rendered":"\n

Por Frederico Olivieri Lisita<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O modelo produtivo agropecu\u00e1rio adotado no Brasil a partir da d\u00e9cada de 1960 foi implantado gra\u00e7as a uma a\u00e7\u00e3o conjunta e organizada pelo trip\u00e9: ensino, pesquisa e extens\u00e3o. Isto \u00e9, universidades, \u00f3rg\u00e3os de pesquisa e de extens\u00e3o rural foram os respons\u00e1veis pela introdu\u00e7\u00e3o dos pacotes tecnol\u00f3gicos voltados para a utiliza\u00e7\u00e3o intensiva de insumos e m\u00e1quinas, com o objetivo do aumento da produtividade.<\/p>\n\n\n\n

A extens\u00e3o rural no Brasil nasceu sob o comando do capital, com forte influ\u00eancia norte-americana e visava superar o atraso na agricultura. Para tanto, havia a necessidade de \u201ceducar\u201d o povo rural, para que ele passasse a adquirir equipamentos e insumos industrializados necess\u00e1rios \u00e0 moderniza\u00e7\u00e3o de sua atividade agropecu\u00e1ria, com isso ele passaria do atraso para a \u201cmodernidade\u201d. O modelo serviria para que o homem rural entrasse na din\u00e2mica da sociedade de mercado, produzindo mais, com melhor qualidade e maior rendimento.<\/p>\n\n\n\n

Um modelo \u201ctecnicista\u201d, isto \u00e9, com estrat\u00e9gias de desenvolvimento e interven\u00e7\u00e3o que levam em conta apenas os aspectos t\u00e9cnicos da produ\u00e7\u00e3o, sem observar as quest\u00f5es culturais, sociais ou ambientais. Com ra\u00edzes \u201cdifusionistas\u201d, pois visa apenas divulgar, impor ou estender um conceito, sem levar em conta as experi\u00eancias e os objetivos das pessoas atendidas.<\/p>\n\n\n\n

Fases da extens\u00e3o rural no Brasil<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A primeira fase, chamada \u201chumanismo assistencialista\u201d, prevaleceu desde 1948 at\u00e9 o in\u00edcio da d\u00e9cada de 1960, nela os objetivos do extensionista eram o de aumentar a produtividade agr\u00edcola e, conseq\u00fcentemente, melhorar o bem estar das fam\u00edlias rurais com aumento da renda e diminui\u00e7\u00e3o da m\u00e3o-de-obra necess\u00e1ria para produzir. Em geral, as equipes locais eram formadas por um extensionista da \u00e1rea agr\u00edcola e um da \u00e1rea de Economia Dom\u00e9stica.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de levar em conta os aspectos humanos, os m\u00e9todos dos extensionistas nessa \u00e9poca tamb\u00e9m eram marcados por a\u00e7\u00f5es paternalistas. Isto \u00e9, n\u00e3o \u201cproblematizavam\u201d com os agricultores, apenas procuravam induzir mudan\u00e7as de comportamento por meio de metodologias preestabelecidas, as quais n\u00e3o favoreciam o florescimento da consci\u00eancia cr\u00edtica nos indiv\u00edduos, atendendo apenas as suas necessidades imediatas.<\/p>\n\n\n\n

A segunda fase, que orientou as a\u00e7\u00f5es dos extensionistas no per\u00edodo de abund\u00e2ncia de cr\u00e9dito agr\u00edcola subsidiado (1964 a 1980), era chamada de \u201cdifusionismo produtivista\u201d, baseando-se na aquisi\u00e7\u00e3o por parte dos produtores, de um pacote tecnol\u00f3gico modernizante, com uso intensivo de capital (m\u00e1quinas e insumos industrializados). A extens\u00e3o rural servia como instrumento para a introdu\u00e7\u00e3o do homem do campo na din\u00e2mica da economia de mercado. A Assist\u00eancia T\u00e9cnica e Extens\u00e3o Rural (ATER) visava o aumento da produtividade e \u00e0 mudan\u00e7a da mentalidade dos produtores, do \u201ctradicional\u201d para o \u201cmoderno\u201d.<\/p>\n\n\n\n

A extens\u00e3o era um empreendimento que visava persuadir os produtores, para que esses adotassem as novas tecnologias. Seus conhecimentos emp\u00edricos n\u00e3o interessavam, bem como suas reais necessidades n\u00e3o eram levadas em conta. A extens\u00e3o assumiu um car\u00e1ter tutorial e paternalista.<\/p>\n\n\n\n

Foi durante esse per\u00edodo que surgiu a Empresa Brasileira de Assist\u00eancia T\u00e9cnica e Extens\u00e3o Rural (EMBRATER) e houve grande expans\u00e3o do servi\u00e7o de extens\u00e3o rural no pa\u00eds. Para se ter uma id\u00e9ia, em 1960 apenas 10% dos munic\u00edpios no Brasil contavam com esse servi\u00e7o e em 1980 a extens\u00e3o rural chegou a 77,7%. Entretanto, como o papel dos extensionistas era condicionado pela exist\u00eancia do cr\u00e9dito agr\u00edcola, os pequenos agricultores familiares que n\u00e3o tiveram acesso ao cr\u00e9dito tamb\u00e9m ficaram \u00e0 margem do servi\u00e7o de extens\u00e3o rural.<\/p>\n\n\n\n

Do in\u00edcio dos anos 1980 at\u00e9 os dias atuais, devido principalmente ao t\u00e9rmino do cr\u00e9dito agr\u00edcola subsidiado, iniciou-se no pa\u00eds uma nova proposta de extens\u00e3o rural, que preconizava a constru\u00e7\u00e3o de uma \u201cconsci\u00eancia cr\u00edtica\u201d nos extensionistas. O \u201cplanejamento participativo\u201d era um instrumento de liga\u00e7\u00e3o entre os assessores e os produtores, com bases na pedagogia da liberta\u00e7\u00e3o desenvolvida por Paulo Freire. Essa fase foi chamada de \u201chumanismo cr\u00edtico\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Seus defensores afirmam que as metodologias de interven\u00e7\u00e3o rural devem pautar-se por princ\u00edpios participativos, que levem em conta os aspectos culturais do p\u00fablico alvo. A grande diferen\u00e7a de orienta\u00e7\u00e3o entre as metodologias de extens\u00e3o na era do \u201cdifusionismo produtivista\u201d e da era do \u201chumanismo cr\u00edtico\u201d \u00e9 a quest\u00e3o da participa\u00e7\u00e3o ativa dos agricultores.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, apesar de haver uma orienta\u00e7\u00e3o para seguir princ\u00edpios participativos, a maioria das empresas de ATER continua com a mesma orienta\u00e7\u00e3o b\u00e1sica: \u201cincluir\u201d o pequeno agricultor familiar na l\u00f3gica do mercado, torn\u00e1-lo cada vez mais dependente dos insumos industrializados, subordinando-o ao capital industrial.<\/p>\n\n\n\n

O desafio dos \u00f3rg\u00e3os de pesquisa, universidades e movimentos sociais \u00e9 o de criar estrat\u00e9gias para colocar em pr\u00e1tica metodologias participativas de ATER, que incluam os agricultores familiares desde a concep\u00e7\u00e3o at\u00e9 a aplica\u00e7\u00e3o das tecnologias, transformando-os em agentes no processo, valorizando seus conhecimentos e respeitando seus anseios. A Embrapa Pantanal vem conduzindo atividades de pesquisa e transfer\u00eancia de tecnologia utilizando metodologias dial\u00f3gicas, que valorizam a experi\u00eancia e respeitam os objetivos do produtor rural, promovendo a soma de conhecimentos pesquisador-agricultor, s\u00e3o estimulados o trabalho em grupo e o associativismo para, dessa forma, potencializar o processo participativo.<\/p>\n\n\n\n

Frederico Olivieri Lisita (lisita@cpap.embrapa.br) \u00e9 pesquisador da Embrapa Pantanal e mestre em Administra\u00e7\u00e3o Rural\/Desenvolvimento.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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