{"id":2375,"date":"2009-02-03T11:20:12","date_gmt":"2009-02-03T11:20:12","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:55","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:55","slug":"amianto_proibicao_uso_controlado_ou_imobilizacao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/residuos\/artigos\/amianto_proibicao_uso_controlado_ou_imobilizacao.html","title":{"rendered":"Amianto: proibi\u00e7\u00e3o, uso controlado ou imobiliza\u00e7\u00e3o?"},"content":{"rendered":"\n

O amianto ou asbesto \u00e9 uma fibra mineral natural que pertence ao grupo dos silicatos cristalinos hidratados. Asbestos t\u00eam origem grega e significa “incombust\u00edvel”. A palavra amianto \u00e9 de origem latina (amianthus) e quer dizer “incorrupt\u00edvel”. As duas palavras s\u00e3o sin\u00f4nimas, por\u00e9m o termo amianto \u00e9 mais empregado nos pa\u00edses de l\u00ednguas neolatinas, entre eles o Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas acreditam que o amianto foi formado na Pr\u00e9-Hist\u00f3ria, numa fase secund\u00e1ria da forma\u00e7\u00e3o da crosta terrestre. Nesse per\u00edodo, rochas de sil\u00edcio (como a peridotita, composta por magn\u00e9sio, s\u00edlica e ferro) foram alteradas fisicamente e pela press\u00e3o, pelo calor e pela \u00e1gua que lentamente infiltrava na superf\u00edcie. Associada ao magn\u00e9sio e \u00e0 s\u00edlica, a \u00e1gua transformou a rocha hospedeira no que se chama de serpentina mineral. Este cristalizou-se nas fendas da rocha-m\u00e3e, formando veios de fibras paralelas, com 1 a 40 mm de comprimento. As variedades de amianto desses dois grupos apresentam composi\u00e7\u00f5es qu\u00edmicas, caracter\u00edsticas f\u00edsicas e propriedades semelhantes, embora tamb\u00e9m distintas tanto nas aplica\u00e7\u00f5es como nos riscos \u00e0 sa\u00fade.<\/p>\n\n\n\n

As serpentinas, como se observa no esquema, t\u00eam como principal variedade a crisotila (que, em grego, significa “fibra de ouro”). Tamb\u00e9m conhecida como amianto branco, essa variedade corresponde \u00e0 cerca de 98,5% de todo amianto consumido no mundo. Suas fibras s\u00e3o curvas e sedosas. Os anfib\u00f3lios s\u00e3o fibras duras, retas e pontiagudas. Agrupa-se em cinco variedades principais: amosita (amianto marrom), crocidolita (amianto azul), antofilita, tremolita e actinolita. Do ponto de vista econ\u00f4mico, os dois primeiros s\u00e3o os mais importantes. Muito utilizados at\u00e9 os anos 70, atualmente est\u00e3o em desuso, por causa de seus efeitos sobre a sa\u00fade. Hoje, o amianto marrom e o amianto azul representam menos de 2% do consumo mundial, t\u00eam sua produ\u00e7\u00e3o localizada na \u00c1frica do Sul e seu uso est\u00e1 praticamente em extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

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Al\u00e9m de ser um material relativamente barato e de f\u00e1cil extra\u00e7\u00e3o, a estrutura fibrosa do amianto confere a ele propriedades f\u00edsicas e qu\u00edmicas especiais, que o torna virtualmente indestrut\u00edvel. Caracteriza-se por possuir propriedades que se destacam quando comparadas com outros materiais: alta resist\u00eancia mec\u00e2nica (comparada ao a\u00e7o); elevada superf\u00edcie espec\u00edfica, a qual indica o grau da abertura do material; incombustibilidade; baixa condutividade t\u00e9rmica; resist\u00eancia a produtos qu\u00edmicos, particularmente est\u00e1vel em diferentes valores de pH; capacidade de filtrar microorganismos e outras subst\u00e2ncias nocivas; boa capacidade de filtragem; boa capacidade de isola\u00e7\u00e3o el\u00e9trica e ac\u00fastica; elevada resist\u00eancia diel\u00e9trica; durabilidade, resistindo ao desgaste e ABras\u00e3o; flexibilidade; afinidade com cimentos, resinas e isolantes pl\u00e1sticos; parede externa de car\u00e1ter b\u00e1sico e compat\u00edvel com a \u00e1gua e facilidade para ser tecido ou fiado.<\/p>\n\n\n\n

Por conta destas propriedades as fibras de amianto crisotila s\u00e3o empregadas no Brasil e no mundo, em milhares de produtos industriais, sendo, cerca de 85% do seu uso na ind\u00fastria de cimento-amianto ou fibrocimento (folhas e caixas d’\u00e1gua), 10% em materiais de fric\u00e7\u00e3o (autope\u00e7as) e 5% em outras atividades, sendo t\u00eaxteis 3%, qu\u00edmicas\/pl\u00e1sticas 2%.<\/p>\n\n\n\n

O amianto foi, tamb\u00e9m, amplamente utilizado nas d\u00e9cadas de 40 e 50, na Am\u00e9rica do Norte, na Europa, na Austr\u00e1lia e no Jap\u00e3o, como isolante t\u00e9rmico e elemento de prote\u00e7\u00e3o contra o fogo. Essa aplica\u00e7\u00e3o era feita por jateamento (spray) de fibras e p\u00f3 de amianto principalmente em constru\u00e7\u00f5es met\u00e1licas, em caldeiras, geradores, vag\u00f5es e cabinas de navios e trens, visando proteger passageiros e instala\u00e7\u00f5es dos efeitos de um eventual inc\u00eandio. Nessa aplica\u00e7\u00e3o, os trabalhadores eram expostos a quantidades excessiva de fibras em suspens\u00e3o no ar. Por esse motivo, no in\u00edcio dos anos 70 o jateamento foi sendo progressivamente proibido em muitos pa\u00edses e praticamente j\u00e1 n\u00e3o existe no mundo inteiro.<\/p>\n\n\n\n

O uso comercial desenfreado do produto no \u00faltimo s\u00e9culo, levou a sua distribui\u00e7\u00e3o descontrolada pelo do mundo industrializado e a sua dispers\u00e3o no ambiente. Com isso, alguns pa\u00edses da Europa proibiram sua utiliza\u00e7\u00e3o, bem como os produtos que o contenham, devido \u00e0s doen\u00e7as ocupacionais relacionadas \u00e0 inala\u00e7\u00e3o de fibras de amianto. Asbestose, c\u00e2ncer de pulm\u00e3o, mesotelioma e afec\u00e7\u00f5es benignas da pleura s\u00e3o as doen\u00e7as, no aparelho respirat\u00f3rio, associadas \u00e0 exposi\u00e7\u00e3o \u00e0s fibras de amianto.<\/p>\n\n\n\n

Asbestose \u00e9 uma doen\u00e7a pulmonar relacionada \u00e0 prolongada inala\u00e7\u00e3o de poeira contendo alta concentra\u00e7\u00e3o de fibras de amianto. \u00c9 similar a silicose, causada pela exposi\u00e7\u00e3o \u00e0 s\u00edlica. As fibras alojam-se nos alv\u00e9olos pulmonares, e, para se defender, o organismo deposita sobre elas uma prote\u00edna semelhante a um “cimento” que cicatriza o alv\u00e9olo, impedindo que se encha de ar. Este processo, repetindo-se ao longo dos anos, pode tornar o pulm\u00e3o fibrosado e sem elasticidade, com dificuldades respirat\u00f3rias. O per\u00edodo m\u00e9dio de seu aparecimento \u00e9 de 15 anos.<\/p>\n\n\n\n

C\u00e2ncer de pulm\u00e3o \u00e9 semelhante ao c\u00e2ncer causado pelo fumo, de longe o principal motivo da doen\u00e7a. Do in\u00edcio da exposi\u00e7\u00e3o \u00e0s fibras de amianto at\u00e9 o aparecimento do c\u00e2ncer, passam-se em m\u00e9dia 20 anos. Estudos indicam que o risco deste c\u00e2ncer \u00e9 maior nos fumantes, ou seja, o fumo e as fibras o potencializam. Mesotelioma \u00e9 uma forma muito rara de tumor maligno que se desenvolve no mesot\u00e9lio, a membrana que envolve o pulm\u00e3o (pleura), o abd\u00f4men e seus \u00f3rg\u00e3os (perit\u00f4nio). O per\u00edodo m\u00e9dio de aparecimento da doen\u00e7a, desde o in\u00edcio da exposi\u00e7\u00e3o, \u00e9 de 30 a 40 anos<\/p>\n\n\n\n

Afec\u00e7\u00f5es benignas da pleura: al\u00e9m das doen\u00e7as descritas a exposi\u00e7\u00e3o \u00e0s fibras de amianto pode causar algumas altera\u00e7\u00f5es de pleura, como \u00e1reas de espessamento, derrames ou placas pleurais. S\u00e3o consideradas benignas porque raramente provocam alguma defici\u00eancia pulmonar, sendo interpretada apenas como um sinal de exposi\u00e7\u00e3o ao amianto. N\u00e3o h\u00e1 rela\u00e7\u00e3o com disfun\u00e7\u00f5es ou doen\u00e7as pulmonares, como asbestose e o c\u00e2ncer.<\/p>\n\n\n\n

Estudos m\u00e9dicos mostram que as fibras de amianto n\u00e3o provocam altera\u00e7\u00e3o em \u00f3rg\u00e3os como os rins, os aparelhos digestivos e a pele. S\u00f3 o pulm\u00e3o pode ser afetado devido \u00e0 inala\u00e7\u00e3o das fibras de amianto, mesmo assim, sob determinadas condi\u00e7\u00f5es. S\u00e3o sugeridos tr\u00eas fatores que determinam a periculosidade das fibras: dimens\u00f5es, durabilidade e dosagem. A dimens\u00e3o \u00e9 um fator importante pois determina se a fibra ser\u00e1 transportada pelo ar e, portanto, respir\u00e1vel; fibras maiores do que 3 mm de di\u00e2metro e 50-100 mm de comprimento n\u00e3o s\u00e3o capazes de penetrar nos pulm\u00f5es. Das fibras que se alojam nos pulm\u00f5es, as mais curtas do que 3 mm podem ser removidas por meio de mecanismos de defesa do organismo, de modo que as concentra\u00e7\u00f5es n\u00e3o se tornem muito altas ou a dosagem muito prolongada; as fibras mais perigosas, mesmo que em pequenas dosagens s\u00e3o as quimicamente dur\u00e1veis, de 5-10 mm de comprimento e 0-1 mm de di\u00e2metro.<\/p>\n\n\n\n

Feixes de fibras que s\u00e3o capazes de se separar em di\u00e2metros de 0-1 mm sem diminui\u00e7\u00e3o no comprimento, s\u00e3o particularmente perigosas, pertencendo a crisotila \u00e0 categoria dos mais nocivos pois cada fibra desta variedade se separa num di\u00e2metro m\u00e9dio de 0,25 mm. Al\u00e9m disso, h\u00e1 demonstra\u00e7\u00f5es de que um dos fatores respons\u00e1veis pela atividade biol\u00f3gica das fibras de asbesto crisotila est\u00e1 relacionado com a sua estrutura qu\u00edmica, particularmente em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 reatividade superficial do mineral.<\/p>\n\n\n\n

O amianto no Brasil At\u00e9 o final dos anos 30, o Brasil importava todo o amianto que consumia. No in\u00edcio da d\u00e9cada de 40, come\u00e7aram a ser pesquisadas no pa\u00eds pequenas jazidas, como a de Pontalina, no sul de Goi\u00e1s. Por\u00e9m essa produ\u00e7\u00e3o ainda era insuficiente para as necessidades do mercado. Esse quadro come\u00e7ou a mudar em 1939, com a funda\u00e7\u00e3o da S.A. Minera\u00e7\u00e3o de Amianto – SAMA, que no ano seguinte implantou no munic\u00edpio de Po\u00e7\u00f5es, na Bahia, a mina de S\u00e3o F\u00e9lix. Essa unidade chegou a ter trezentos funcion\u00e1rios, mas foi desativada em 1967 por esgotamento de suas reservas. Nesse per\u00edodo, houve explora\u00e7\u00e3o de outras minas – entre as quais a de S\u00e3o Jo\u00e3o do Piau\u00ed e a da regi\u00e3o de Batalha, em Alagoas.<\/p>\n\n\n\n

A jazida que deu ao Brasil a auto-sufici\u00eancia no setor de cobertura foi a mina de Cana Brava, em 1962. Ela est\u00e1 localizada em Mina\u00e7u (GO), cuja reserva estimada \u00e9 suficiente para o suprimento do mercado interno por cerca de cinq\u00fcenta anos. Segundo a SAMA, a mina de Cana Brava produz fibras de amianto com alta pureza (sem contamina\u00e7\u00e3o) e com dimens\u00f5es que a qualificam especialmente para a ind\u00fastria do cimento-amianto, caracter\u00edsticas dificilmente s\u00e3o encontradas em outras regi\u00f5es produtoras. Assim, a mina de Cana Brava \u00e9 a \u00fanica em opera\u00e7\u00e3o no pa\u00eds, sendo explorada a c\u00e9u aberto. Sua produ\u00e7\u00e3o inicial, em 1967, era de 400 toneladas anuais. Em 1971, atingiu 17 mil toneladas, subindo para 140 mil em 1979, at\u00e9 alcan\u00e7ar sua m\u00e9dia atual de 200 mil toneladas por ano. Desde 1980, a mina atende \u00e0 totalidade do consumo nacional, evitando os gastos de importa\u00e7\u00e3o, que superam os US$ 100 milh\u00f5es anuais, e ainda exporta de 30 a 40% de sua produ\u00e7\u00e3o para dezenas de pa\u00edses, encabe\u00e7ados por Jap\u00e3o, Tail\u00e2ndia, \u00cdndia e para o Mercosul, trazendo ao pa\u00eds divisas superiores a US$ 30 milh\u00f5es anuais.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, trouxe grande desenvolvimento econ\u00f4mico e social \u00e0 regi\u00e3o, desde o in\u00edcio das atividades de extra\u00e7\u00e3o e minera\u00e7\u00e3o das fibras de amianto crisotila. Ao redor da mina de Cana Brava, tornou-se um pr\u00f3spero munic\u00edpio, Mina\u00e7u, com cerca de 60 mil habitantes, beneficiados de v\u00e1rias formas por sua atividade. <\/p>\n\n\n\n

O governador de Goi\u00e1s, Marconi Perillo, preocupado com o impacto s\u00f3cio-econ\u00f4mico da regi\u00e3o com o banimento do amianto crisotila, em artigo de esclarecimento, publicado no jornal Folha de S\u00e3o Paulo (19\/03\/2001), saiu em favor \u00e0 explora\u00e7\u00e3o do amianto por se preocupar com as milhares de fam\u00edlias que, de alguma forma, tiram seu sustento do min\u00e9rio. Segundo ele, a proibi\u00e7\u00e3o da crisotila adv\u00e9m de interesses econ\u00f4micos internacionais, pela disputa de mercado, em substituir o mineral por fibras alternativas. Ainda nesse artigo, Perillo diz que a esp\u00e9cie de amianto explorada no Brasil n\u00e3o traz conseq\u00fc\u00eancias mal\u00e9ficas \u00e0 sa\u00fade humana, como a esp\u00e9cie explorada na Europa (anfib\u00f3lio), visto que institui\u00e7\u00f5es s\u00e9rias de pesquisa comprovaram o fato, e que a hist\u00f3ria da nocividade se baseia em estudos realizados no exterior, fornecidos pelo lobby que luta pelo banimento.<\/p>\n\n\n\n

Est\u00e1 claro que h\u00e1 um jogo de interesse envolvido. De um lado est\u00e1 o perigo causado pela inala\u00e7\u00e3o das fibras de amianto, que pode condenar os trabalhadores \u00e0 morte, de outro est\u00e1 a preocupa\u00e7\u00e3o do governo de Goi\u00e1s com a situa\u00e7\u00e3o de desemprego, em Mina\u00e7u, que o banimanto acarretaria, e ainda h\u00e1 a quest\u00e3o do interesse econ\u00f4mico em substituir as fibras por outras alternativas, na briga pelo mercado.<\/p>\n\n\n\n

O amianto \u00e9 um material quase \u00fanico no seu conjunto de propriedades. Em geral, para substitu\u00ed-lo s\u00e3o necess\u00e1rias v\u00e1rias outras subst\u00e2ncias, o que, ainda assim, raramente tem significado vantagem na compara\u00e7\u00e3o com o amianto. Alguns dos produtos alternativos j\u00e1 desenvolvidos foram inviabilizados por apresentarem custo muito superior, al\u00e9m de exigir investimentos em equipamentos e tecnologia. H\u00e1 tamb\u00e9m a dificuldade t\u00e9cnica do desempenho do substituto, especialmente em aplica\u00e7\u00f5es como freios de ve\u00edculos pesados (caminh\u00f5es e trens) e sistemas de veda\u00e7\u00e3o e isolamento na ind\u00fastria aeroespacial. At\u00e9 hoje, nesses usos, nenhum outro produto ofereceu a efici\u00eancia e a seguran\u00e7a do amianto. E h\u00e1 ainda a quest\u00e3o do risco \u00e0 sa\u00fade: as novas fibras devem ser mais seguras. No entanto, as pesquisas m\u00e9dicas indicam que os efeitos do amianto sobre a sa\u00fade s\u00e3o comuns \u00e0 maioria das fibras, ou seja, em dimens\u00f5es e doses suficientes, as fibras alternativas com durabilidade e persist\u00eancia no tecido pulmonar podem ter efeitos nocivos semelhantes, por v\u00e1rios anos. \u00c9 preciso ponderar: enquanto o amianto tem sido estudado exaustivamente h\u00e1 mais de cinq\u00fcenta anos, conhecendo-se bem os limites de seus efeitos sobre os trabalhadores expostos em v\u00e1rias condi\u00e7\u00f5es, as demais fibras s\u00e3o de uso mais recente (10 a 20 anos), e ser\u00e1 necess\u00e1rio um per\u00edodo mais longo para que sua a\u00e7\u00e3o, a longo prazo, seja conhecida.<\/p>\n\n\n\n

Considerando esses aspectos, a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Sa\u00fade publicou o Crit\u00e9rio de Sa\u00fade ambiental 151, no qual recomenda: “Todas as fibras respir\u00e1veis biopersistentes devem ser testadas quanto \u00e0 toxicidade e \u00e0 carcinog\u00eanese. Exposi\u00e7\u00f5es a essas fibras devem ser controladas da mesma maneira que para o amianto”. Ou seja, todas as fibras respir\u00e1veis devem estar dentro do limite de toler\u00e2ncia, em que n\u00e3o h\u00e1 risco \u00e0 sa\u00fade do trabalhador. Em virtude disto, houve uma preocupa\u00e7\u00e3o muito grande para retirar a propriedade fibrosa da superf\u00edcie do amianto. Tr\u00eas m\u00e9todos de impermeabiliza\u00e7\u00e3o de amianto foram desenvolvidos: i) vitrifica\u00e7\u00e3o in situ por efeito Joule; ii) fus\u00e3o das fibras de amianto utilizando-se plasma (processo INERTAM); iii) destrui\u00e7\u00e3o das fibras em matriz v\u00edtrea de fosfato.<\/p>\n\n\n\n

O m\u00e9todo de vitrifica\u00e7\u00e3o in situ baseia-se no princ\u00edpio de que os vidros fundidos conduzem eletricidade. Como o solo \u00e9 bastante rico em sil\u00edcio (solo arenoso e\/ou argiloso) o seu aquecimento em temperaturas elevadas (1400 – 1800\u00b0C) resulta na forma\u00e7\u00e3o de uma massa fundida [passagem do estado s\u00f3lido para o estado l\u00edquido, por exemplo como na transforma\u00e7\u00e3o do gelo (\u00e1gua no estado s\u00f3lido) para \u00e1gua no estado l\u00edquido]. Nesta condi\u00e7\u00e3o este material l\u00edquido conduz corrente el\u00e9trica. O aquecimento do amianto, em alta temperatura, resulta na forma\u00e7\u00e3o de um vidro. Esta t\u00e9cnica depende das propriedades do solo, da morfologia e da condutividade. Depende do tamanho de gr\u00e3o, do contato entre eles, da presen\u00e7a de \u00edons de metais alcalinos e alcalinos terrosos, depende da quantidade de oxig\u00eanio nestes \u00edons, da mobilidade dos \u00edons, da viscosidade do material fundido e presen\u00e7a de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

O processo INERTAM consiste no tratamento do amianto a ser vitrificado sobre o efeito de plasma quente at\u00e9 o ponto que permite a obten\u00e7\u00e3o de uma massa v\u00edtrea inerte, n\u00e3o se comportando como fibras de amianto. Este m\u00e9todo \u00e9 muito caro e implica no transporte do amianto, em sacas, at\u00e9 o local para tratamento. O m\u00e9todo que envolve a destrui\u00e7\u00e3o de amianto em matrizes fosfatos baseia-se no tratamento das fibras de amianto pelo uso de uma subst\u00e2ncia coloidal, chamada coacervato. Esta subst\u00e2ncia, parecida com um gel, \u00e9 formada a partir de um pol\u00edmero inorg\u00e2nico de fosfato, um sal de c\u00e1lcio e \u00e1gua, os quais n\u00e3o apresentam quaisquer riscos \u00e0 sa\u00fade e que se encontram em pequenas quantidades na pr\u00f3pria \u00e1gua que bebemos e no creme dental que utilizamos. Este m\u00e9todo foi desenvolvido pelo prof. Vast da Universidade de Lille, Fran\u00e7a. A vantagem deste m\u00e9todo na destrui\u00e7\u00e3o das fibras de amianto se deve ao fato de que o coacervato \u00e9 capaz de molhar e de envolver as fibras, tornando-as facilmente manipul\u00e1veis. Ainda, o coacervato atua como agente fundente, ou seja, reduz a temperatura de fus\u00e3o destas fibras minerais, permitindo assim a sua destrui\u00e7\u00e3o em temperaturas inferiores a 1000\u00b0C.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores Marco Antonio Utrera Martines e V\u00e9ronique Andri\u00e8s (P\u00f3s-Doutorandos), Daniela Grando (Mestrando) e os professores doutores Younes Messaddeq e Sidney Jos\u00e9 Lima Ribeiro, do grupo de Materiais Fot\u00f4nicos do Instituto de Qu\u00edmica da Unesp – Araraquara, pesquisam a imobiliza\u00e7\u00e3o de fibras de amianto crisotila, a partir de solu\u00e7\u00e3o de polifosfato de s\u00f3dio e de coacervatos de c\u00e1lcio, de magn\u00e9sio e de zinco. Outro trabalho desenvolvido pelo grupo \u00e9 a destrui\u00e7\u00e3o das fibras de amianto em pisos cer\u00e2micos utilizando-se coacervatos de c\u00e1lcio. Os resultados obtidos a partir desta proposi\u00e7\u00e3o sugerem que se possam obter diversos materiais potencialmente interessantes, atrav\u00e9s de tratamentos t\u00e9rmicos adequados. Pode-se obter, por exemplo, materiais cer\u00e2micos com elevada estabilidade mec\u00e2nica e t\u00e9rmica a semelhan\u00e7a dos chamados cimento-amianto, assim como materiais comp\u00f3sitos coacervato-amianto com propriedades t\u00e9rmicas interessantes. Outro aspecto importante deste projeto de pesquisa \u00e9 a destrui\u00e7\u00e3o das fibras de amianto pela forma\u00e7\u00e3o de vidros quando aquecido a temperatura acima de 800\u00b0C.<\/p>\n\n\n\n

Este projeto de pesquisa, no valor de R$ 40.000,00, \u00e9 financiado pela Fapesp. Os pesquisadores Marco Utrera Martines e Daniela Grando tamb\u00e9m s\u00e3o bolsistas da Fapesp.<\/p>\n\n\n\n

Por Marco Antonio Utrera Martines, Daniela Grando Sidney, Jos\u00e9 Lima Ribeiro e Younes Messadeq*<\/em>\n<\/em><\/p>\n\n\n\n

(*) Marco Antonio Utrera Martines \u00e9 p\u00f3s-doutorando no IQ\/Unesp. Daniela Grando \u00e9 mestranda no IQ-Unesp. Younes Messadeq e Sidney Jos\u00e9 Lima Ribeiro s\u00e3o professo<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"