{"id":2368,"date":"2009-02-02T17:37:04","date_gmt":"2009-02-02T17:37:04","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:56","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:56","slug":"a_farra_dos_sacos_plasticos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/residuos\/artigos\/a_farra_dos_sacos_plasticos.html","title":{"rendered":"A farra dos sacos pl\u00e1sticos"},"content":{"rendered":"\n
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O Brasil \u00e9 definitivamente o para\u00edso dos sacos pl\u00e1sticos. Todos os supermercados, farm\u00e1cias e boa parte do com\u00e9rcio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. N\u00e3o importa o tamanho do produto que se tenha \u00e0 m\u00e3o, aguarde a sua vez porque ele ser\u00e1 embalado num saquinho pl\u00e1stico. O pior \u00e9 que isso j\u00e1 foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um saco pl\u00e1stico. Nossa depend\u00eancia \u00e9 tamanha, que quando ele n\u00e3o est\u00e1 dispon\u00edvel, costumamos reagir com reclama\u00e7\u00f5es indignadas.<\/p>\n\n\n\n

Quem recusa a embalagem de pl\u00e1stico \u00e9 considerado, no m\u00ednimo, ex\u00f3tico. Outro dia fui comprar l\u00e2minas de barbear numa farm\u00e1cia e me deparei com uma situa\u00e7\u00e3o curiosa. A caixinha com as l\u00e2minas cabia perfeitamente na minha pochete. Meu plano era levar para casa assim mesmo. Mas num gesto autom\u00e1tico, a funcion\u00e1ria registrou a compra e enfiou rapidamente a m\u00edsera caixinha num saco onde caberiam seguramente outras dez. Pelas raz\u00f5es que explicarei abaixo, recusei gentilmente a embalagem.<\/p>\n\n\n\n

A plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o ingl\u00eas Alexander Parkes inventou o primeiro pl\u00e1stico em 1862. O novo material sint\u00e9tico reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civiliza\u00e7\u00e3o moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de pl\u00e1sticos na natureza tornou o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental de grandes propor\u00e7\u00f5es. Feitos de resina sint\u00e9tica originadas do petr\u00f3leo, esses sacos n\u00e3o s\u00e3o biodegrad\u00e1veis e levam s\u00e9culos para se decompor na natureza. Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos s\u00e3o feitos de cadeias moleculares inquebr\u00e1veis, e \u00e9 imposs\u00edvel definir com precis\u00e3o quanto tempo levam para desaparecer no meio natural.<\/p>\n\n\n\n

No Complexo do Alem\u00e3o, pl\u00e1sticos n\u00e3o biodegrad\u00e1veis se juntam ao lixo nas ruas.<\/p>\n\n\n\n

No caso espec\u00edfico das sacolas de supermercado, por exemplo, a mat\u00e9ria-prima \u00e9 o pl\u00e1stico filme, produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). No Brasil s\u00e3o produzidas 210 mil toneladas anuais de pl\u00e1stico filme, que j\u00e1 representa 9,7% de todo o lixo do pa\u00eds. Abandonados em vazadouros, esses sacos pl\u00e1sticos impedem a passagem da \u00e1gua – retardando a decomposi\u00e7\u00e3o dos materiais biodegrad\u00e1veis – e dificultam a compacta\u00e7\u00e3o dos detritos.<\/p>\n\n\n\n

Essa realidade que tanto preocupa os ambientalistas no Brasil, j\u00e1 justificou mudan\u00e7as importantes na legisla\u00e7\u00e3o – e na cultura – de v\u00e1rios pa\u00edses europeus. Na Alemanha, por exemplo, a plasticomania deu lugar \u00e0 sacolamania. Quem n\u00e3o anda com sua pr\u00f3pria sacola a tiracolo para levar as compras \u00e9 obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de sacos pl\u00e1sticos. O pre\u00e7o \u00e9 salgado: o equivalente a sessenta centavos a unidade.<\/p>\n\n\n\n

A guerra contra os sacos pl\u00e1sticos ganhou for\u00e7a em 1991, quando foi aprovada uma lei que obriga os produtores e distribuidores de embalagens a aceitar de volta e a reciclar seus produtos ap\u00f3s o uso. E o que fizeram os empres\u00e1rios? Repassaram imediatamente os custos para o consumidor. Al\u00e9m de anti-ecol\u00f3gico, ficou bem mais caro usar sacos pl\u00e1sticos na Alemanha.<\/p>\n\n\n\n

Na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto de nove centavos de libra irlandesa por cada saco pl\u00e1stico. A cria\u00e7\u00e3o da taxa fez multiplicar o n\u00famero de irlandeses indo \u00e0s compras com suas pr\u00f3prias sacolas de pano, de palha, e mochilas. Em toda a Gr\u00e3-Bretanha, a rede de supermercados CO-OP mobilizou a aten\u00e7\u00e3o dos consumidores com uma campanha original e ecol\u00f3gica: todas as lojas da rede ter\u00e3o seus produtos embalados em sacos pl\u00e1sticos 100% biodegrad\u00e1veis. At\u00e9 dezembro deste ano, pelo menos 2\/3 de todos os saquinhos usados na rede ser\u00e3o feitos de um material que, segundo testes em laborat\u00f3rio, se decomp\u00f5e dezoito meses depois de descartados. Com um detalhe interessante: se por acaso n\u00e3o houver contato com a \u00e1gua, o pl\u00e1stico se dissolve assim mesmo, porque serve de alimento para microorganismos encontrados na natureza.<\/p>\n\n\n\n

Mau exemplo: lix\u00e3o em SP recebe 250 toneladas por dia.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o h\u00e1 desculpas para n\u00f3s brasileiros n\u00e3o estarmos igualmente preocupados com a multiplica\u00e7\u00e3o indiscriminada de sacos pl\u00e1sticos na natureza. O pa\u00eds que sediou a Rio-92 (Confer\u00eancia Mundial da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente) e que tem uma das legisla\u00e7\u00f5es ambientais mais avan\u00e7adas do planeta, ainda n\u00e3o acordou para o problema do descarte de embalagens em geral, e dos sacos pl\u00e1sticos em particular.<\/p>\n\n\n\n

(…)<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 preciso declarar guerra contra a plasticomania e se rebelar contra a aus\u00eancia de uma legisla\u00e7\u00e3o espec\u00edfica para a gest\u00e3o dos res\u00edduos s\u00f3lidos. H\u00e1 muitos interesses em jogo. Qual \u00e9 o seu?<\/p>\n\n\n\n

O jornalista Andr\u00e9 Trigueiro \u00e9 redator e apresentador do Jornal das Dez, da Globonews, desde 1996. Na R\u00e1dio Viva Rio AM (1180 kwz ), Trigueiro apresenta o programa Conex\u00e3o Verde, de segunda a sexta. Nele, aborda temas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustent\u00e1vel. O jornalista \u00e9 p\u00f3s-graduado em Meio Ambiente pela MEB COPPE\/UFRJ (2001).<\/p>\n\n\n\n

Por Andr\u00e9 Trigueiro<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"