{"id":2365,"date":"2009-02-02T16:53:15","date_gmt":"2009-02-02T16:53:15","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:58","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:58","slug":"lixo_ou_rejeitos_reaproveitaveis","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/residuos\/artigos\/lixo_ou_rejeitos_reaproveitaveis.html","title":{"rendered":"Lixo ou rejeitos reaproveit\u00e1veis?"},"content":{"rendered":"\n

Fomos acostumados a associar esta palavra \u00e0 sujeira, imundice, restos. Derivada do latim lix (cinza), o lixo tecnicamente \u00e9 conhecido como \u201cRes\u00edduo S\u00f3lido Urbano\u201d (RSU). Se at\u00e9 o come\u00e7o da Revolu\u00e7\u00e3o Industrial o lixo era composto basicamente de restos e sobras de alimentos, a partir dessa era passou a ser identificado, tamb\u00e9m, por todo e qualquer material descartado e rejeitado pela sociedade.<\/p>\n\n\n\n

O desenvolvimento para o conforto e o bem-estar humanos produzido a partir da Revolu\u00e7\u00e3o Industrial levou \u00e0 intensifica\u00e7\u00e3o do material descartado, ocasionando um aumento da quantidade de res\u00edduos gerados e n\u00e3o utilizados pelo Homem, muitos deles provocando a contamina\u00e7\u00e3o do meio ambiente e trazendo riscos \u00e0 sa\u00fade humana, basicamente nas \u00e1reas urbanas.<\/p>\n\n\n\n

Pior. O crescimento das \u00e1reas urbanas n\u00e3o levou em considera\u00e7\u00e3o a necessidade de adequa\u00e7\u00e3o de locais espec\u00edficos para dep\u00f3sito e tratamento dos res\u00edduos s\u00f3lidos. No Brasil de hoje, por exemplo, estima-se que a produ\u00e7\u00e3o anual de lixo esteja em torno de 44 milh\u00f5es de toneladas, sendo que a maior parte dos res\u00edduos recolhidos nos centros urbanos \u00e9 simplesmente jogada sem qualquer cuidado em dep\u00f3sitos existentes nas periferias das cidades. De acordo com o IBGE, 74% dos munic\u00edpios brasileiros depositam lixo hospitalar a c\u00e9u aberto e apenas 57% separam os dejetos nos hospitais.<\/p>\n\n\n\n

A mis\u00e9ria socioecon\u00f4mica brasileira faz com que o lixo acabe se transformando numa fonte de sustento para milhares de pessoas, adultos e crian\u00e7as, homens e mulheres. Segundo a UNICEF, 45 mil crian\u00e7as e adolescentes brasileiros vivem da garimpagem do lixo. S\u00e3o filhos de fam\u00edlias muito pobres que ajudam os pais a catar embalagens pl\u00e1sticas, pap\u00e9is, latinhas de alum\u00ednio, a separar vidros e restos de comida. Os meninos e meninas de todas as idades ganham m\u00edseros R$ 1 a R$ 6 di\u00e1rios, mas que ajudam a aumentar a renda de suas fam\u00edlias.<\/p>\n\n\n\n

Essa triste constata\u00e7\u00e3o torna-se ainda pior pelo fato de que, ainda segundo a UNICEF, em alguns \u201clix\u00f5es\u201d, mais de 30% das crian\u00e7as em idade escolar nunca pisaram nas salas de aula. Em Olinda (PE), sofrem preconceito e discrimina\u00e7\u00e3o e s\u00e3o conhecidas como \u201ccrian\u00e7as do lixo\u201d. As crian\u00e7as de Olinda e de Campo Grande (MS) j\u00e1 chegaram a representar 50% da m\u00e3o-de-obra nos \u201clix\u00f5es\u201d. Na capital sul-mato-grossense, dados oficiais apontam que 33,3% dos trabalhadores do \u201clix\u00e3o\u201d local t\u00eam menos de 12 anos. <\/p>\n\n\n\n

Uma das iniciativas louv\u00e1veis – e que vai de encontro a essa vergonhosa situa\u00e7\u00e3o – \u00e9 o Projeto \u201cAmigos do Lixo\u201d, implantado na cidade de Guaratinguet\u00e1 (SP). Os volunt\u00e1rios que criaram esse projeto se viram preocupados com as prec\u00e1rias condi\u00e7\u00f5es de vida dos catadores de lixo e com a preserva\u00e7\u00e3o do meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

Antes estigmatizados como \u201ccatadores\u201d que perambulavam pelas ruas da cidade e pelo lix\u00e3o do munic\u00edpio em busca de sustento em condi\u00e7\u00f5es desumanas, essas pessoas s\u00e3o atualmente conhecidas como agentes ambientais. Foi preciso apenas capacit\u00e1-los profissionalmente e conscientiz\u00e1-los a respeito da preserva\u00e7\u00e3o ambiental. Resultado: os agentes ambientais est\u00e3o agora organizados, capacitados, identificados e uniformizados, trabalhando sob o sistema de cooperativa.<\/p>\n\n\n\n

Das tr\u00eas op\u00e7\u00f5es tecnol\u00f3gicas b\u00e1sicas para a disposi\u00e7\u00e3o adequada de RSU (aterros sanit\u00e1rios, reciclagem\/compostagem e incinera\u00e7\u00e3o), destacamos a import\u00e2ncia das unidades de reciclagem e compostagem. S\u00e3o alternativas importantes todas as vezes que se verificarem a exist\u00eancia de mercados para absor\u00e7\u00e3o de materiais recicl\u00e1veis produzidos.<\/p>\n\n\n\n

A falta de novas \u00e1reas para a implanta\u00e7\u00e3o de aterros sanit\u00e1rios (ou \u201clix\u00f5es\u201d, ou aterros controlados) \u00e9 um fator que tem contribu\u00eddo para a implementa\u00e7\u00e3o de sistemas de compostagem. Estudos apontam que as t\u00e9cnicas utilizadas pela compostagem s\u00e3o capazes de reduzir \u00e0 metade a massa de lixo processada e, num prazo de 60 a 90 dias, levar \u00e0 obten\u00e7\u00e3o de um composto org\u00e2nico para utiliza\u00e7\u00e3o na agricultura sem causar danos ao meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 est\u00e1 mais do que claro que, definitivamente, lixo \u201cn\u00e3o \u00e9 lixo\u201d. Em nosso Pa\u00eds, por exemplo, estima-se que t\u00e9cnicas como a reciclagem pode fazer com que as 44 milh\u00f5es de toneladas anuais estimadas de lixo produzam pelo menos 30% da energia gerada na Hidrel\u00e9trica Binacional de Itaipu.
Luciano Basto Oliveira cita algumas \u201crotas para aproveitamento energ\u00e9tico do lixo\u201d: a utiliza\u00e7\u00e3o do seu poder calor\u00edfico por meio da queima direta ou da gaseifica\u00e7\u00e3o; o aproveitamento calor\u00edfico do biog\u00e1s ou GDL; ou a produ\u00e7\u00e3o de um combust\u00edvel s\u00f3lido a partir dos restos alimentares, \u201ca celulignina, para ser queimada em caldeiras e mover turbinas a vapor ou um combustor externo e mover turbina a g\u00e1s – sendo poss\u00edvel o aproveitamento do ciclo combinado\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Mais: a reciclagem desses res\u00edduos s\u00f3lidos geraria um invej\u00e1vel incremento de R$ 10 bilh\u00f5es na economia e criaria um milh\u00e3o de empregos, al\u00e9m, \u00e9 claro, de proporcionar o reaproveitamento de produtos para a fabrica\u00e7\u00e3o de novos utens\u00edlios, o que representa economia de mat\u00e9ria prima e de energia.
Este exerc\u00edcio de pensamento nos leva a defender a opini\u00e3o de Francisco Luiz Rodrigues e Vilma Maria Gravinatto de que o conceito que temos de \u201clixo\u201d pode ser evolu\u00eddo para \u201ccoisas que podem ser \u00fateis e aproveit\u00e1veis pelo Homem\u201d. Mas lixo tamb\u00e9m \u00e9 arte. Que o diga V\u00edctor Delf\u00edn, um artista que usa sucata e res\u00edduos diversos, para \u201cconstruir\u201d, na linguagem da escultura, uma variada gama de obras extraordin\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

Antonio Carlos Teixeira – Jornalista, editor da revista Cadernos de Seguro, p\u00f3s-graduando em Ci\u00eancias Ambientais pela UFRJ <\/em>\n<\/em><\/p>\n\n\n\n

Fonte: Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 87, Fevereiro 2004. <\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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