{"id":2328,"date":"2009-01-15T15:10:02","date_gmt":"2009-01-15T15:10:02","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:34:52","modified_gmt":"2021-07-10T23:34:52","slug":"30-11-04o_dia_em_que_o_brasil_chegou_ao_polo_sul_geografico","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/natural\/artigos\/30-11-04o_dia_em_que_o_brasil_chegou_ao_polo_sul_geografico.html","title":{"rendered":"30-11-04:o dia em que o Brasil chegou ao P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico"},"content":{"rendered":"\n

Jefferson Cardia Sim\u00f5es, 46 anos, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tornou-se o primeiro brasileiro a percorrer o manto de gelo ant\u00e1rtico e a atingir o P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico (90 graus Sul) por terra \u00e0s 21:30 horas da Ter\u00e7a-feira 30 de Novembro de 2004. O feito, realizado no \u00e2mbito da Travessia Cient\u00edfica Chileno-Brasileira da Ant\u00e1rtica (a primeira por pa\u00edses latino-americanos) percorreu no total 1.140 quil\u00f4metros em 16 dias a partir da Esta\u00e7\u00e3o Polar chilena em Patriot Hills (80 graus, 18 minutos Sul; 81 Graus, 23 minutos Oeste).<\/p>\n\n\n\n

Durante a travessia, o grupo formado por 12 chilenos e Sim\u00f5es, navegou sobre gelo com at\u00e9 3 mil metros de espessura, muitas vezes sobre enormes fendas. A menor temperatura enfrentada foi dia 28\/11\/04, menos 33,4 graus cent\u00edgrados, a sensa\u00e7\u00e3o t\u00e9rmica caiu a menos 52 graus cent\u00edgrados.<\/p>\n\n\n\n

O P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico est\u00e1 a 3.116 km ao Sul da Esta\u00e7\u00e3o Brasileira Ant\u00e1rtica Comandante Ferraz, e a mais de 2.400 ao Sul da regi\u00e3o onde velejadores brasileiros estiveram no passado. Trata-se de um feito in\u00e9dito, e mais importante, por meios pr\u00f3prios. Sim\u00f5es considera que a parte mais importante da travessia foi realizada no retorno. A partir do dia 2\/12\/04, o comboio formado por um trator polar e v\u00e1rios tren\u00f3s com laborat\u00f3rios e acomoda\u00e7\u00e3o retornou lentamente para Patriot Hills, realizando diversos estudos sobre o gelo na Ant\u00e1rtica e as suas intera\u00e7\u00f5es com o clima.<\/p>\n\n\n\n

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O grande objetivo da expedi\u00e7\u00e3o \u00e9 avan\u00e7ar na investiga\u00e7\u00e3o do papel da Ant\u00e1rtica nas mudan\u00e7as ambientais globais, principalmente no controle do clima da Am\u00e9rica do Sul. Sim\u00f5es perfurou v\u00e1rios po\u00e7os no gelo ant\u00e1rtico para coletar amostras da neve que caiu ao longo dos \u00faltimos 400 anos. As pesquisas desta travessia fazem parte do International Trans-Antarctic Scientific Expeditions (ITASE) do Comit\u00ea Cient\u00edfico internacional sobre Pesquisas Ant\u00e1rticas (SCAR), e apoiadas pelo PNUMA.<\/p>\n\n\n\n

O outro brasileiro da equipe, Francisco Aquino, tamb\u00e9m professor da UFRGS, permaneceu na base chilena Patriot Hills para monitorar a viagem do grupo.<\/p>\n\n\n\n

Jefferson Cardia Sim\u00f5es \u00e9 o principal explorador e cientista polar brasileiro. Ao longo de uma carreira de vinte anos, realizou 13 expedi\u00e7\u00f5es a Ant\u00e1rtica e 2 ao \u00c1rtico. Durante este per\u00edodo, viveu mais de 20 meses em geleiras. Foi o primeiro brasileiro a obter um Ph.D. em Glaciologia, em 1990 pelo Instituto de Pesquisas Polares da famosa Universidade de Cambridge. Hoje, \u00e9 um dos l\u00edderes do Programa Ant\u00e1rtico Brasileiro (PROANTAR). Vive com a esposa e dois filhos adolescentes em Porto Alegre.<\/p>\n\n\n\n

A expedi\u00e7\u00e3o conta com o apoio do CNPq, Petrobras, MMA, Secretaria da Comiss\u00e3o Interministerial para os Recursos do Mar e a Academia Brasileira de Ci\u00eancias.<\/p>\n\n\n\n

Chegada ao P\u00f3lo Sul Geog<\/strong>r\u00e1fico<\/strong><\/p>\n\n\n\n

No dia 30 de Novembro de 2004 chegamos a 5 quil\u00f4metros da Base Amundsen-Scott e a\u00ed aguardamos a chegada de nossa escolta. Isto \u00e9 necess\u00e1rio, pois a periferia da esta\u00e7\u00e3o dos EUA est\u00e1 repleta de antenas e experimentos cient\u00edficos. N\u00e3o seria um bom cart\u00e3o de visita destruir algum experimento que est\u00e1 sendo realizado h\u00e1 mais de 30 anos!<\/p>\n\n\n\n

Chegamos \u00e0s 21:30h no P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico, batia um vento forte e a sensa\u00e7\u00e3o t\u00e9rmica caiu a menos 52 graus cent\u00edgrados. Como de praxe, cumprimentos e fotografias (dif\u00edcil de serem tomadas na baixa temperatura). Nos \u00faltimos dias tinha notado uma tens\u00e3o disfar\u00e7ada exposta por preocupa\u00e7\u00f5es como arrumar bandeiras, limpar o comboio e at\u00e9 a prepara\u00e7\u00e3o de uma recep\u00e7\u00e3o dentro de nossa habita\u00e7\u00e3o. De qualquer maneira, foi um feito, um pa\u00eds latino-americano atravessar a Ant\u00e1rtica com v\u00e1rios m\u00f3dulos preparados para investiga\u00e7\u00e3o cient\u00edfica. Claro, demonstra\u00e7\u00e3o do interesse pol\u00edtico chileno pela Ant\u00e1rtica. E, evidentemente, para todos isto representava o resultado de 18 meses de prepara\u00e7\u00e3o \u00e1rdua e abnega\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Separados por n\u00e3o mais de 70 metros existem na verdade dois marcos, o P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico propriamente dito e o \u201cp\u00f3lo cerimonial\u201d. O primeiro \u00e9 exatamente onde passa o eixo imagin\u00e1rio de rota\u00e7\u00e3o da Terra. Todos os anos, no dia primeiro de Janeiro, um cientista reposiciona este marco, pois o gelo est\u00e1 em constante movimento (o P\u00f3lo em si \u00e9 fixo). J\u00e1 o \u201cp\u00f3lo cerimonial\u201d, onde h\u00e1 uma bola de alum\u00ednio, marca a cria\u00e7\u00e3o do Tratado da Ant\u00e1rtica em 1959 e est\u00e1 circundado pelas bandeiras dos 12 pa\u00edses que originalmente assinaram o documento.<\/p>\n\n\n\n

Estacionamos o comboio a 650 metros da esta\u00e7\u00e3o norte-americana, na frente de um avi\u00e3o russo que chegou ao p\u00f3lo anos atr\u00e1s e n\u00e3o conseguiu decolar! Nos pr\u00f3ximos dias aproveitaremos para fazer pequenos consertos no trator, preparar os equipamentos, iniciar nossas perfura\u00e7\u00f5es, e \u00e9 claro visitar a esta\u00e7\u00e3o dos EUA.<\/p>\n\n\n\n

O P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico encontra-se no Plat\u00f4 Ant\u00e1rtico, a 2.835 metros de altitude, a temperatura m\u00e9dia \u00e9 de apenas menos 49 graus cent\u00edgrados, no inverno pode cair a menos 82 graus cent\u00edgrados! O centro deste plat\u00f4 \u00e9 um dos lugares mais secos do mundo, no P\u00f3lo s\u00f3 cai 8,6 cm de neve (dado em equivalente de \u00e1gua) ao longo de todo o ano. Por outro lado, a velocidade m\u00e9dia do vento n\u00e3o ultrapassa 20 quil\u00f4metros por hora, nada se comparado as rajadas de at\u00e9 320 km\/h na costa do Continente. A espessura do gelo aqui atinge 2.800 metros e se move 9 metros por ano em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 costa!<\/p>\n\n\n\n

Atr\u00e1s do marco do P\u00f3lo Geogr\u00e1fico Sul existe uma placa comemorando a chegada ao local dos dois primeiros exploradores: o noruegu\u00eas Roald Amundsen (14\/12\/1911) e o brit\u00e2nico Robert Falcon Scott (17\/1\/1912). Duas frases est\u00e3o na placa: \u201cEnt\u00e3o n\u00f3s chegamos e pudemos plantar nossa bandeira no P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico (Amundsen). Scott, que ao chegar ao p\u00f3lo encontrou uma barraca de Amundsen, foi mais melanc\u00f3lico: \u201cO P\u00f3lo. Sim, mas sob circunst\u00e2ncias muito diferentes do que esper\u00e1vamos\u201d. Scott e seus 4 companheiros morreriam na viagem de volta a costa. O nome da esta\u00e7\u00e3o do EUA \u00e9 em homenagem a estes dois exploradores.<\/p>\n\n\n\n

Percep\u00e7\u00f5es<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Um dia depois de nossa chegada caminhei sozinho os 650 metros que nos separava do P\u00f3lo Geogr\u00e1fico. Na Esta\u00e7\u00e3o Amundsen-Scott era oficialmente 4 horas da manh\u00e3 (n\u00f3s usamos o hor\u00e1rio chileno, 1 hora atrasada em rela\u00e7\u00e3o ao Brasil, na Esta\u00e7\u00e3o o hor\u00e1rio \u00e9 o da Nova Zel\u00e2ndia, 15 horas adiantada em rela\u00e7\u00e3o ao Brasil), assim ningu\u00e9m estava trabalhando e fazia um sil\u00eancio total, o vento havia diminu\u00eddo.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, atr\u00e1s de mim, existe a imensa esta\u00e7\u00e3o norte-americana, mas no mais o vazio total! Olhando para o imenso e des\u00e9rtico plat\u00f4, onde as fei\u00e7\u00f5es mais proeminentes s\u00e3o pequenas dunas (sastruguis) com 30 cm de altura, rapidamente compreendem-se algumas das opini\u00f5es dos exploradores do per\u00edodo her\u00f3ico (in\u00edcio do S\u00e9culo 20). Robert Scott ao chegar aqui em 1912, exclamou \u201cMeu Deus, que lugar horr\u00edvel\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, este ambiente silencioso e vasto leva para uma introspec\u00e7\u00e3o e uma paz interior. \u00c9 o nada no meio do nada branco, com pouqu\u00edssimo estimulo externo. Hora de avaliar o que foi conseguido at\u00e9 aqui.<\/p>\n\n\n\n

Para mim representou 20 anos dedicados \u00e0 Ci\u00eancia Ant\u00e1rtica e ao Programa Ant\u00e1rtico Brasileiro (PROANTAR). Em particular, tendo sido treinado no centro de pesquisas fundado em homenagem aos expedicion\u00e1rios de Scott, o Scott Polar Research Institute (SPRI) da Universidade de Cambridge, tive uma satisfa\u00e7\u00e3o especial. Era como se pudesse finalmente juntar-me a experi\u00eancia de todos meus colegas do SPRI e os exploradores hist\u00f3ricos.<\/p>\n\n\n\n

Chegar ao P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico em si hoje n\u00e3o \u00e9 t\u00e3o dif\u00edcil, basta pegar carona com um dos avi\u00f5es do programa ant\u00e1rtico norte-americano. Mas atravessar o agressivo manto de gelo e com meios pr\u00f3prios, como nossos colegas chilenos e eu fizemos, ainda \u00e9 um privil\u00e9gio; poucas expedi\u00e7\u00f5es o fizeram nos \u00faltimos 100 anos, e esta foi a primeira realizada por um brasileiro.<\/p>\n\n\n\n

In\u00edcio das nossas perfura\u00e7\u00f5es do gelo<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Realizamos a primeira perfura\u00e7\u00e3o da neve para obter testemunhos (cilindros de gelo). Nosso s\u00edtio de perfura\u00e7\u00e3o era a 3 quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia, alguns dias tivemos que fazer esta marcha a p\u00e9 (ida-e-volta), pois o trator estava em manuten\u00e7\u00e3o. Mas o pior \u00e9 manusear o equipamento nesta baixa temperatura, a 10 metros de profundidade a neve estava a menos 49 graus cent\u00edgrados e n\u00f3s t\u00ednhamos que usar luvas finas de pl\u00e1stico para n\u00e3o contaminar as amostras. Atingimos 31 m de profundidade, isto dar\u00e1 aproximadamente 180 anos de dados ambientais. Sa\u00edamos desgastados do p\u00f3lo, ainda bem que os outros s\u00edtios de perfura\u00e7\u00e3o ser\u00e3o mais quentes.<\/p>\n\n\n\n

Despedida 9 de dezembro<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Nos despedimos no \u201cDomo\u201d da administra\u00e7\u00e3o da Esta\u00e7\u00e3o e fomos escoltados at\u00e9 5 km ao Norte, a partir da\u00ed iniciamos nossa volta. Espero um dia voltar aqui, talvez numa travessia ant\u00e1rtica totalmente brasileira!<\/p>\n\n\n\n

Amundsen-Scott: Hist\u00f3rico e estrutura<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A primeira Esta\u00e7\u00e3o no P\u00f3lo foi erguida no ver\u00e3o de 1957-58 durante o Ano Geof\u00edsico Nacional. Naquele momento foi uma importante decis\u00e3o pol\u00edtica dos cientistas, tanto como demonstra\u00e7\u00e3o de for\u00e7a quanto para neutralizar todas as reivindica\u00e7\u00f5es territoriais sobre o Continente Branco. Hoje esta Esta\u00e7\u00e3o j\u00e1 est\u00e1 sob alguns metros de neve e a \u00e1rea ao redor dela est\u00e1 interditada para evitar acidentes.<\/p>\n\n\n\n

Em 1970-71 foi constru\u00edda a segunda esta\u00e7\u00e3o, na forma de um domo geod\u00e9sico. O Domo, como todos chamam, tem 50 metros de di\u00e2metro e 15 de altura, cor de papel de alum\u00ednio. V\u00e1rios corredores (tubos de a\u00e7o) ligam o Domo \u00e0s garagens, carpintaria, geradores de energia. Tubos, isolados do intenso frio, levam \u00e1gua pot\u00e1vel, esgoto, cabos el\u00e9tricos, telef\u00f4nicos e a rede de computadores. Ali\u00e1s a Internet, bastante veloz, \u00e9 de uso comum. S\u00f3 que \u00e9 necess\u00e1rio aguardar que algum sat\u00e9lite esteja acima do horizonte (entre as 2h e \u00e0s 13h).<\/p>\n\n\n\n

Todo este complexo est\u00e1 hoje soterrado sobre a neve que acumulou ao longo destas 3 d\u00e9cadas. Ali\u00e1s, esta foi a id\u00e9ia dos engenheiros, a neve \u00e9 \u00f3timo isolante t\u00e9rmico, protegendo a Esta\u00e7\u00e3o da atmosfera, isolando-a contra varia\u00e7\u00f5es de temperatura e ventos fortes. S\u00f3 que a neve aqui est\u00e1 entre menos 20 e menos 49 graus cent\u00edgrados, esta \u00e9 a temperatura dentro do Domo! Aos poucos tudo isto est\u00e1 sendo transferido para a nova Esta\u00e7\u00e3o e o Domo ser\u00e1 demolido em 3 anos.<\/p>\n\n\n\n

Uma nova Esta\u00e7\u00e3o est\u00e1 em constru\u00e7\u00e3o e envolve, durante o ver\u00e3o, mais de 120 pessoas e 330 v\u00f4os de H\u00e9rcules C-130 (com skis). Todo o material \u00e9 trazido via a\u00e9rea a partir da costa (na Esta\u00e7\u00e3o McMurdo dos EUA). No total o custo dever\u00e1 ultrapassar 150 milh\u00f5es de d\u00f3lares at\u00e9 a sua conclus\u00e3o em 2005-2006.<\/p>\n\n\n\n

Em vez de deixar esta nova Esta\u00e7\u00e3o (de aproximadamente 6.100 metros quadrados) ser soterrada pela neve, ela \u00e9 constru\u00edda sob colunas que ser\u00e3o constantemente elevadas por macacos hidr\u00e1ulicos, mantendo a esta\u00e7\u00e3o na superf\u00edcie, quando completa, ter\u00e1 110 pessoas. V\u00e1rios m\u00f3dulos de acomoda\u00e7\u00e3o e para pesquisa e inclusive uma estufa para prover algum vegetal fresco j\u00e1 est\u00e3o funcionando. Esta Esta\u00e7\u00e3o fica na frente do marco do P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico.<\/p>\n\n\n\n

Devido \u00e0 constru\u00e7\u00e3o da nova Esta\u00e7\u00e3o, existe uma verdadeira vila com dezenas de casas na superf\u00edcie. Aqui vive a maioria dos trabalhadores da constru\u00e7\u00e3o civil, de idade variada. Chama aten\u00e7\u00e3o a participa\u00e7\u00e3o feminina nesses trabalhos (aproximadamente 50%) e, mais importante, fazendo qualquer tipo de trabalho (motoristas de tratores de 15 ton, mec\u00e2nicas, administradoras, chefes de obra). No momento a Esta\u00e7\u00e3o conta com 240 pessoas entre cientistas, administradores e o pessoal da constru\u00e7\u00e3o civil. Cerca de 110, ficaram para o inverno, enfrentando a noite polar quando dificilmente sair\u00e3o da Esta\u00e7\u00e3o. No momento, a \u00e1rea ao redor \u00e9 um verdadeiro dep\u00f3sito de madeira, barras de ferro, tren\u00f3s, tratores polares, motos-de-neve.<\/p>\n\n\n\n

O programa de constru\u00e7\u00e3o e manuten\u00e7\u00e3o da nova Esta\u00e7\u00e3o, totalmente sob a responsabilidade civil atrav\u00e9s da National Science Foundation (equivalente ao nosso Conselho de Desenvolvimento Cient\u00edfico e Tecnol\u00f3gico – CNPq) \u00e9 gerenciado por uma firma particular, esta \u00e9 a filosofia dos EUA. O programa cient\u00edfico, tamb\u00e9m gerenciado pela NSF, \u00e9 executado por v\u00e1rias universidades e laborat\u00f3rios norte-americanos, com a participa\u00e7\u00e3o intensa de cientistas estrangeiros (mais de 10% do pessoal pesquisador no local).<\/p>\n\n\n\n

Ci\u00eancia em Amundsen-Scott<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Ao redor da esta\u00e7\u00e3o propriamente dita existem v\u00e1rios m\u00f3dulos com laborat\u00f3rio, telesc\u00f3pios, sism\u00f3grafos e outros equipamentos. Algumas caracter\u00edsticas do P\u00f3lo Sul fazem que o local seja muito importante para investiga\u00e7\u00f5es cient\u00edficas de vanguarda.<\/p>\n\n\n\n

No inverno os corpos celestes nunca se p\u00f5em, permitindo uma observa\u00e7\u00e3o constante, \u00e9 o local do Planeta que permite a mais cont\u00ednua observa\u00e7\u00e3o do Sol (no ver\u00e3o, \u00e9 claro). A atmosfera \u00e9 muito limpa e seca, sendo excelente local para observa\u00e7\u00e3o astron\u00f4mica. Devido \u00e0 proximidade do P\u00f3lo Geomagn\u00e9tico, permite o estudo das intera\u00e7\u00f5es entre a Magnetosfera e a Atmosfera Superior e a observa\u00e7\u00e3o das Auroras Austrais.<\/p>\n\n\n\n

O espesso manto de gelo fornece um s\u00edtio excelente para obten\u00e7\u00e3o de testemunhos de gelo e, mais recentemente, po\u00e7os de at\u00e9 2.400 metros de espessura t\u00eam sido perfurados para a instala\u00e7\u00e3o de equipamentos para detec\u00e7\u00e3o de part\u00edculas subat\u00f4micas. Um dos experimentos mais originais no local \u00e9 o IceCube. Este projeto inclui a implanta\u00e7\u00e3o de v\u00e1rios detectores de neutrinos provenientes de partes distantes do cosmos, em um volume de 1 km3 de gelo.<\/p>\n\n\n\n

Existem ao redor da esta\u00e7\u00e3o \u00e1reas silenciosas (onde est\u00e3o instalados detectores de terremotos que ocorrem no Hemisf\u00e9rio Sul e para detec\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es de onda r\u00e1dio provenientes do cosmos), \u00e9 um local ideal para medir oscila\u00e7\u00f5es de longo per\u00edodo da Terra. Um setor limpo abriga um laborat\u00f3rio para pesquisas da atmosfera e climatologia.<\/p>\n\n\n\n

O ar aqui \u00e9 um dos mais limpos do Planeta e a neve que se acumula no local \u00e9 t\u00e3o limpa quanto a \u00e1gua destilada usada no Brasil. Existe ainda um setor escuro, onde se mant\u00e9m interfer\u00eancia m\u00ednima de fontes de luz e outras ondas eletromagn\u00e9ticas (aqui existem v\u00e1rios telesc\u00f3pios detectores de microondas, infravermelho e neutrinos de alta energia).<\/p>\n\n\n\n

Ant\u00e1rtica e os v\u00e1rios P\u00f3los Sul, quais as defini\u00e7\u00f5es?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Existe muita confus\u00e3o no emprego destes termos. Muitas vezes se diz que um navegador foi ao P\u00f3lo Sul, mas o mar est\u00e1 a mais de 2.000 km ao Norte do P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico.<\/p>\n\n\n\n

P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico (latitude 90 graus Sul, n\u00e3o se d\u00e1 a longitude, pois todos os meridianos convergem neste p\u00f3lo) \u2013 \u00e9 onde passa o eixo imagin\u00e1rio de rota\u00e7\u00e3o da Terra. Olhando para o c\u00e9u na noite polar o observador ver\u00e1 as estrelas dando um giro completo de 360 graus sobre si em aproximadamente 23 horas e 56 minutos (o per\u00edodo de rota\u00e7\u00e3o da Terra). Este P\u00f3lo n\u00e3o migra. O gelo que est\u00e1 sobre ele, por outro lado, est\u00e1 constantemente movendo-se em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 costa, cerca de 9 m\/ano!<\/p>\n\n\n\n

P\u00f3lo Sul Magn\u00e9tico (em 1995 estava em 64 graus 42 minutos Sul e 138 graus 36 minutos Este). Isto \u00e9 no Oceano Austral ao Sul da Austr\u00e1lia. Oceano Austral \u00e9 aquele que circunda a Ant\u00e1rtica, \u00e9 formado pela uni\u00e3o das massas de \u00e1gua dos Oceanos Atl\u00e2ntico, \u00cdndico e Pac\u00edfico. Aten\u00e7\u00e3o: O termo \u201cOceano Glacial Ant\u00e1rtico\u201d \u00e9 considerado arcaico e n\u00e3o \u00e9 mais usado! Este P\u00f3lo est\u00e1 constantemente migrando (10 a 15 km anuais para o Noroeste).<\/p>\n\n\n\n

P\u00f3lo Sul Geomagn\u00e9tico (Em 1995 estava em 79 graus 18 minutos Sul, 108 graus 30 minutos Leste) \u2013 \u00e9 onde o fluxo do campo eletromagn\u00e9tico terrestre se manifesta. Isto \u00e9 perto da Esta\u00e7\u00e3o Ant\u00e1rtica Russa Vostok.<\/p>\n\n\n\n

P\u00f3lo de M\u00e1xima Inacessibilidade (84 graus Sul e 65 graus Este) \u2013 \u00e9 o ponto mais longe da costa Ant\u00e1rtica.<\/p>\n\n\n\n

Ainda podemos definir a Ant\u00e1rtica e a Regi\u00e3o Ant\u00e1rtica<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Ant\u00e1rtica ou Ant\u00e1rtida \u2013 \u00e9 o sexto Continente do Planeta Terra e tem 13,6 milh\u00f5es de quil\u00f4metros quadrados. Quase todo o Continente (99,7 %) est\u00e1 coberto por um enorme manto de gelo com espessura m\u00e9dia de 2.120 metros e m\u00e1xima (conhecida) de 4.776 metros. O Continente est\u00e1 mais ou menos centrado no P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico. Uma parte do Continente avan\u00e7a em dire\u00e7\u00e3o a Am\u00e9rica do Sul, \u00e9 a Pen\u00ednsula Ant\u00e1rtica. Ao redor do Continente existem v\u00e1rios arquip\u00e9lagos, a Esta\u00e7\u00e3o Ant\u00e1rtica Comandante Ferraz est\u00e1 na Ilha Rei George, no Arquip\u00e9lago das Shetlands do Sul. Estas ilhas est\u00e3o a 3.100 quil\u00f4metros ao Norte do P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico e aproximadamente 920 quil\u00f4metros da Terra do Fogo. A costa e o oceano circundante t\u00eam uma fauna rica (krill, algas, baleias, focas, elefantes-marinhos, ping\u00fcins, albatrozes, skuas e outras aves), mas o interior do Continente \u00e9 um verdadeiro deserto frio e branco. Somente liquens s\u00e3o encontrados em raros afloramentos rochosos que formam \u201cilhas\u201d no meio do gelo, estes n\u00f3s chamamos de \u201cnunataks\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Regi\u00e3o Ant\u00e1rtica<\/strong> \u2013 Toda a \u00e1rea do Planeta Terra ao Sul do paralelo 60 graus Sul. \u00c9 a regi\u00e3o na qual se aplica o Tratado da Ant\u00e1rtica.<\/p>\n\n\n\n

Por Jefferson Cardia Sim\u00f5es – Glaciologista, explorador e cientista polar.
\nFonte: Revista Eco 21, ano XV, N\u00ba 98, janeiro\/2005.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O P\u00f3lo Sul Geogr\u00e1fico est\u00e1 a 3.116 km ao Sul da Esta\u00e7\u00e3o Brasileira Ant\u00e1rtica Comandante Ferraz, e a mais de 2.400 ao Sul da regi\u00e3o onde velejadores brasileiros estiveram no passado. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":2329,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1519],"tags":[644,23,640,780],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2328"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2328"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2328\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5665,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2328\/revisions\/5665"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2329"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2328"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2328"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2328"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}