{"id":2246,"date":"2009-01-13T15:49:28","date_gmt":"2009-01-13T15:49:28","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:07","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:07","slug":"abelhas_indigenas_sem_ferrao","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/natural\/abelhas\/abelhas_indigenas_sem_ferrao.html","title":{"rendered":"Abelhas Ind\u00edgenas sem Ferr\u00e3o"},"content":{"rendered":"\n

A cria\u00e7\u00e3o de abelhas ind\u00edgenas sem ferr\u00e3o em caba\u00e7as, corti\u00e7os e caixas r\u00fasticas constitui uma atividade tradicional em quase todas as regi\u00f5es do Brasil. Essa atividade, conhecida como meliponicultura, foi inicialmente desenvolvida pelos \u00edndios, e vem, ao longo dos anos, sendo praticada por pequenos e m\u00e9dios produtores, assim como por produtores de base familiar.<\/p>\n\n\n\n

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Manda\u00e7aia (Melipona quadrifasciata)
Foto: David Aidar (1999)
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H\u00e1, pelo menos, cinco raz\u00f5es que justificam o interesse crescente por esse grupo de abelhas:<\/p>\n\n\n\n

1. As abelhas sem ferr\u00e3o s\u00e3o os principais agentes polinizadores de v\u00e1rias plantas nativas. Preservar essas abelhas contribui, portanto, para conservar os mais diversos tipos de vegeta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

2. H\u00e1 muitos agricultores utilizando as abelhas sem ferr\u00e3o na poliniza\u00e7\u00e3o de culturas agr\u00edcolas tais como urucum, chuchu, camu-camu, carambola, coco-da-bahia e manga. Essa pr\u00e1tica, amplamente usada com as abelhas do g\u00eanero Apis (conhecidas como abelhas africanizadas ou abelhas africanas) e Bombus(as mamangavas, tamb\u00e9m chamadas de mamangaba, mangang\u00e1, mangava, etc.), vem sendo utilizada at\u00e9 mesmo para cultivar morangos dentro de estufas.<\/p>\n\n\n\n

3. O mel produzido pelas abelhas sem ferr\u00e3o cont\u00e9m os nutrientes b\u00e1sicos necess\u00e1rios \u00e0 sa\u00fade, como a\u00e7\u00facares, prote\u00ednas, vitaminas e gordura. Esse mel possui, tamb\u00e9m, uma elevada atividade antibacteriana e \u00e9 tradicionalmente usado contra doen\u00e7as pulmonares, resfriado, gripe, fraqueza e infec\u00e7\u00f5es de olhos em v\u00e1rias regi\u00f5es do Pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

4. Al\u00e9m de fonte de alimento e rem\u00e9dio, o mel produzido pelas abelhas sem ferr\u00e3o representa, em algumas regi\u00f5es, uma importante fonte de renda. Na Regi\u00e3o Nordeste, onde a meliponicultura \u00e9 mais praticada, s\u00e3o encontrados produtores (ou meliponicultores) com at\u00e9 1.500 ninhos de abelhas, e que sobrevivem, basicamente, do com\u00e9rcio do mel. Alguns meliponicultores conseguem coletar de 5 a 8 litros de mel\/col\u00f4nia\/ano, o que, segundo os especialistas na \u00e1rea, est\u00e1 muito abaixo do potencial de produ\u00e7\u00e3o das abelhas sem ferr\u00e3o. O pre\u00e7o, por\u00e9m, \u00e9 compensador. Um litro de mel de abelha sem ferr\u00e3o \u00e9 vendido por R$ 40,00 no Nordeste, podendo alcan\u00e7ar at\u00e9 R$ 100,00 na Regi\u00e3o Sudeste do Pa\u00eds. Como os custos para a cria\u00e7\u00e3o s\u00e3o baixos, a meliponicultura permite a produ\u00e7\u00e3o de um alimento barato, com um forte apelo comercial.<\/p>\n\n\n\n

5. S\u00e3o, de um modo geral, abelhas bastante d\u00f3ceis e de f\u00e1cil manejo. Por isso, dispensam o uso de roupas e equipamentos de prote\u00e7\u00e3o tais como macac\u00e3o, luvas, m\u00e1scaras e fumegadores, reduzindo os custos de sua cria\u00e7\u00e3o e permitindo que essas abelhas sejam mantidas perto de resid\u00eancias e\/ou de cria\u00e7\u00f5es de animais dom\u00e9sticos. Al\u00e9m disso, por n\u00e3o exigir for\u00e7a f\u00edsica e\/ou prolongada dedica\u00e7\u00e3o ao seu manejo, a cria\u00e7\u00e3o de abelhas sem ferr\u00e3o pode ser facilmente executada por jovens e idosos.<\/p>\n\n\n\n

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Entrade de ninho de uru\u00e7u (Melipona scutellaris)
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Estima-se que, s\u00f3 no Brasil, existam mais de 200 esp\u00e9cies de abelhas sem ferr\u00e3o. As mais promissoras em termos de produ\u00e7\u00e3o de mel s\u00e3o as esp\u00e9cies do g\u00eanero Melipona, conhecidas popularmente como manda\u00e7aia (nome cient\u00edfico, Melipona quadrifasciata), janda\u00edra nordestina (Melipona subnitida), uru\u00e7u-cinza ou uru\u00e7u-cinzenta (Melipona fasciculata), uru\u00e7u-amarela (Melipona rufiventris), uru\u00e7u-do-nordeste (Melipona scutellaris), entre outras.<\/p>\n\n\n\n

Quantas e quais esp\u00e9cies de abelhas sem ferr\u00e3o s\u00e3o encontradas no Estado do Acre s\u00e3o ainda dois aspectos que precisam ser melhor investigados.<\/p>\n\n\n\n

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Manda\u00e7aia (Melipona quadrifasciata)
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Em Rio Branco, \u00e9 poss\u00edvel encontrar o mel de uru\u00e7u (qual esp\u00e9cie?) sendo vendido a R$ 20,00 o litro. Esse com\u00e9rcio, por\u00e9m, \u00e9 proveniente de iniciativas isoladas, que precisam ser mais bem aproveitadas, para que a meliponicultura se torne, de fato, uma fonte alternativa de renda aos moradores da regi\u00e3o. Nesse sentido, o primeiro passo a ser tomado \u00e9 a forma\u00e7\u00e3o de um melipon\u00e1rio (local em que s\u00e3o criadas as abelhas sem ferr\u00e3o), no qual as abelhas s\u00e3o mantidas em caixas de madeiras conhecidas como caixas racionais (Veja http:\/\/www.cpatu.embrapa.br\/paginas\/meliponicultura.htm).<\/p>\n\n\n\n

Com a devida autoriza\u00e7\u00e3o do Ibama, os ninhos de abelhas sem ferr\u00e3o s\u00e3o retirados do seu ambiente natural somente para formar o plantel inicial. Uma vez formado esse plantel, v\u00e1rias t\u00e9cnicas podem ser utilizadas para a multiplica\u00e7\u00e3o dos ninhos, reduzindo, dessa forma, a necessidade de retirada das abelhas de seu local de origem. A esp\u00e9cie de abelha a ser criada deve ser selecionada de acordo com a sua regi\u00e3o de ocorr\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

A meliponicultura \u00e9, portanto, uma atividade de baixo impacto ambiental, que produz um alimento de elevado n\u00edvel nutricional, e de retorno financeiro garantido. Se bem planejada, a cria\u00e7\u00e3o de abelhas sem ferr\u00e3o em caixas racionais pode enquadrar-se, perfeitamente, nas atuais diretrizes que norteiam o desenvolvimento da Regi\u00e3o Amaz\u00f4nica: promover o uso racional dos recursos da floresta, equilibrando interesses ambientais, com interesses sociais de melhoria de qualidade de vida das popula\u00e7\u00f5es que residem na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Patr\u00edcia Drumond, especialista em abelhas ind\u00edgenas sem ferr\u00e3o, pesquisadora da Embrapa Acre. patricia@cpafac.embrapa.br<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"