Estudos realizados pela Embrapa Meio Norte revelam que uma nova atividade agr\u00edcola est\u00e1 mudando a paisagem s\u00f3cio-econ\u00f4mica de alguns munic\u00edpios localizados na regi\u00e3o semi-\u00e1rida do Estado do Piau\u00ed. Trata-se da apicultura, atividade econ\u00f4mica que resulta na produ\u00e7\u00e3o de mel e outros produtos derivados do trabalho das abelhas.<\/p>\n\n\n\n
Estudos sobre a cadeia produtiva da apicultura no Piau\u00ed d\u00e3o conta de que o crescimento dessa atividade, no Estado, \u00e9 impressionante. O \u00faltimo Censo Agropecu\u00e1rio (1995\/1996) registrou a exist\u00eancia de aproximadamente 9.500 fam\u00edlias envolvidas na apicultura. No entanto, os dados da Embrapa, cuja pesquisa foi realizada entre 1998 e 1999, j\u00e1 identificam a exist\u00eancia de cerca de 18.000 fam\u00edlias envolvidas diretamente nessa atividade, sem contar as ocupa\u00e7\u00f5es indiretas que podem dobrar esse n\u00famero. O Banco do Nordeste tem sido considerado um dos principais respons\u00e1veis por esse crescimento, tendo liberado algo em torno de R$20 milh\u00f5es para financiamento a cooperativas e associa\u00e7\u00f5es de pequenos apicultores, entre 1995 e 1998.<\/p>\n\n\n\n
Na pr\u00e1tica, os agricultores que antes priorizavam o feij\u00e3o, o milho, o algod\u00e3o e outras culturas dependentes de chuva, passaram a apostar mais na apicultura, o que fez com que essa atividade passasse de complementar a principal, em rela\u00e7\u00e3o aos aspectos de gera\u00e7\u00e3o de renda para essas fam\u00edlias. De fato, a renda gerada pela apicultura \u00e9 maior e mais segura do que a das outras culturas, tendo em vista o crescimento do mercado dos produtos org\u00e2nicos e os bons pre\u00e7os oferecidos aos produtos ap\u00edcolas, devido \u00e0s suas conhecidas propriedades aliment\u00edcias e terap\u00eauticas. Al\u00e9m disso, \u00e9 uma atividade agr\u00edcola com menor depend\u00eancia das chuvas.<\/p>\n\n\n\n
O Estado do Piau\u00ed possui condi\u00e7\u00f5es agroecol\u00f3gicas privilegiadas para a produ\u00e7\u00e3o de mel, por possuir uma grande diversidade de ecossistemas, que v\u00e3o desde regi\u00f5es com caracter\u00edsticas mais pr\u00f3ximas da floresta amaz\u00f4nica, at\u00e9 as caatingas da regi\u00e3o semi-\u00e1rida, passando pelos cerrados, al\u00e9m das muitas \u00e1reas de transi\u00e7\u00e3o. Esses aspectos t\u00eam feito com que o Piau\u00ed ocupe hoje a segunda posi\u00e7\u00e3o no ranking dos maiores produtores do Brasil.<\/p>\n\n\n\n
Um outro aspecto que merece relev\u00e2ncia \u00e9 o fato de essa atividade ter em torno de setenta por cento dos seus produtores localizados na por\u00e7\u00e3o semi-\u00e1rida do estado, onde se destacam as microrregi\u00f5es de Picos e S\u00e3o Raimundo Nonato. \u00c9 uma \u00e1rea extremamente carente de atividades que gerem ocupa\u00e7\u00e3o e renda para os seus habitantes, por ser sempre muito castigada pelas secas. No caso da apicultura, per\u00edodos de estiagem em determinadas \u00e9pocas do ano podem ser importantes aliados dessa atividade, porque favorecem o desabrochar das flores de importantes plantas mel\u00edferas, como o marmeleiro, a aroeira, o juazeiro e o cajueiro.<\/p>\n\n\n\n
O estudo sobre a cadeia produtiva da apicultura piauiense indica que o mel produzido \u00e9 apto a receber o selo de qualidade, como produto org\u00e2nico, por ser de origem de plantas silvestres, ou isentas de contamina\u00e7\u00e3o com agrot\u00f3xicos, e ser produzido por abelhas sadias, que n\u00e3o demandam a utiliza\u00e7\u00e3o de antibi\u00f3ticos para o combate a doen\u00e7as. Isso vai possibilitar o incremento de algo em torno de trinta por cento no valor do mel e o seu credenciamento para exporta\u00e7\u00e3o. Ali\u00e1s, a exporta\u00e7\u00e3o \u00e9 um objetivo que come\u00e7a a ser perseguido pelas principais entidades de apicultores do Piau\u00ed, sendo que algumas j\u00e1 est\u00e3o em fase de negocia\u00e7\u00e3o com pa\u00edses europeus, os quais t\u00eam demonstrado grande interesse em adquirir o produto. As empresas representantes desses pa\u00edses est\u00e3o dispostas, inclusive, a financiar a melhoria das condi\u00e7\u00f5es de produ\u00e7\u00e3o, para que os apicultores atendam a todos os requisitos da certifica\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
Esse cen\u00e1rio j\u00e1 come\u00e7a a estimular empresas de grande porte, seja de capital local ou extra-local, a se instalar no Estado. Empresas beneficiadoras do mel e produtoras de equipamentos j\u00e1 est\u00e3o formalizando seus respectivos interesses em investir no Piau\u00ed, o que exigir\u00e1 aumento no n\u00edvel de profissionaliza\u00e7\u00e3o da apicultura praticada, ainda pouco profissionalizada.<\/p>\n\n\n\n
A rapidez e a magnitude do crescimento dessa atividade t\u00eam elevado significativamente a sua import\u00e2ncia s\u00f3cio-econ\u00f4mica, o que vem estimulando os governos estadual e federal a demonstrar preocupa\u00e7\u00e3o em apoiar a atividade e seus integrantes, atrav\u00e9s de pol\u00edticas p\u00fablicas.<\/p>\n\n\n\n
S\u00e9rgio Luiz de Oliveira Vilela<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"