<\/span><\/div>\n\n\n\nHoje, s\u00e3o os animais frug\u00edvoros – aves, mam\u00edferos e peixes – que comem a polpa dos frutos, engolem as sementes e devolvem-nas \u00e0 terra por meio das fezes. Assim, elas podem brotar e garantir a continuidade da esp\u00e9cie. Cerca de 10% das plantas utilizam os fatores abi\u00f3ticos (chuvas, ventos e rios) na dispers\u00e3o e 90% delas aproveitam os animais frug\u00edvoros. A coopera\u00e7\u00e3o \u00e9 essencial para que as plantas mantenham determinadas esp\u00e9cies de animais na regi\u00e3o. Os animais dependem das plantas para se alimentar, e elas deles para se reproduzir. Ao contr\u00e1rio do que ocorreu com os dinossauros, os animais est\u00e3o desaparecendo de forma brusca na natureza, e muitas esp\u00e9cies de plantas n\u00e3o conseguem dispersar suas sementes. Sem essa dispers\u00e3o, a floresta n\u00e3o tem como se regenerar.<\/p>\n\n\n\n
H\u00e1 duas formas b\u00e1sicas de mutualismo entre morcegos e plantas: a poliniza\u00e7\u00e3o e a dispers\u00e3o de sementes. Na poliniza\u00e7\u00e3o, os morcegos visitam diversas flores em uma mesma noite \u00e0 procura de n\u00e9ctar (ou p\u00f3len, em alguns casos), carregando os gr\u00e3os de p\u00f3len de uma a outra, o que possibilita o cruzamento at\u00e9 mesmo a longas dist\u00e2ncias. Essa intera\u00e7\u00e3o \u00e9 muito importante para o processo de reprodu\u00e7\u00e3o sexuada de algumas esp\u00e9cies vegetais, que por sua vez \u00e9 respons\u00e1vel pelo fluxo g\u00eanico entre diferentes popula\u00e7\u00f5es e pelo aumento da variabilidade gen\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n
A segunda forma de mutualismo, a dispers\u00e3o de sementes, \u00e9 muito importante para as plantas, por aumentar as taxas de sobreviv\u00eancia das sementes, ao serem levadas para longe da planta-m\u00e3e. Essa dispers\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 planta-m\u00e3e possibilita que as sementes sejam levadas para locais prop\u00edcios \u00e0 sua germina\u00e7\u00e3o, al\u00e9m de evitarem predadores que conhecem a localiza\u00e7\u00e3o original das mesmas e parasitas que porventura poderiam ser passados da m\u00e3e \u00e0s pl\u00e2ntulas.<\/p>\n\n\n\n
O processo de dispers\u00e3o de sementes \u00e9 fundamental na regenera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas desmatadas, pois atrav\u00e9s dele sementes de plantas pioneiras podem chegar a clareiras e demais \u00e1reas abertas em florestas, dando in\u00edcio ao processo de sucess\u00e3o ecol\u00f3gica. Para complicar mais, antas (Tapirus terrestris)e cutias (Dasyprocta aguti), fundamentais para a dispers\u00e3o de sementes grandes – acima de 2,5 cent\u00edmetros de di\u00e2metro – , que as aves n\u00e3o conseguem engolir, s\u00e3o os alvos preferenciais dos ca\u00e7adores. O jatob\u00e1 (Hymenaea courbaril), por exemplo, corre perigo. Ele depende apenas da cutia para levar suas sementes a locais que favore\u00e7am a germina\u00e7\u00e3o e, caso o animal seja extinto, a planta tamb\u00e9m ir\u00e1 desaparecer. Quando um jatob\u00e1 de 150 anos morrer, n\u00e3o haver\u00e1 novas \u00e1rvores em crescimento. Isso poder\u00e1 modificar a din\u00e2mica da floresta, porque quem poliniza as flores do jatob\u00e1 s\u00e3o os morcegos grandes. A cutia come apenas algumas sementes e faz um estoque para outras esta\u00e7\u00f5es, mas nem sempre pode aproveit\u00e1-lo. \u00c0s vezes ela \u00e9 predada ou muda de territ\u00f3rio, o que favorece a germina\u00e7\u00e3o das sementes enterradas.<\/p>\n\n\n\n
A ca\u00e7a e a explora\u00e7\u00e3o intensiva de sementes s\u00e3o mais dois inimigos da biodiversidade brasileira. Ao lado do desmatamento, estas interfer\u00eancias cada vez maiores do homem est\u00e3o transformando as florestas em paisagens vazias. Elas poder\u00e3o, literalmente, sumir do mapa neste s\u00e9culo. Fragmentos florestais isolados, que n\u00e3o t\u00eam conex\u00e3o entre matas ciliares (da beira dos rios) com outros blocos de mata, ficam mais vulner\u00e1veis e, sem manejo, tendem a desaparecer num prazo de cem anos.<\/p>\n\n\n\n
A intera\u00e7\u00e3o entre animais e plantas \u00e9 muito forte, como a gralha-azul, ave s\u00edmbolo do estado do Paran\u00e1 – e a arauc\u00e1ria. No inverno, quando outros alimentos se tornam mais escassos, a gralha-azul alimenta-se quase que exclusivamente dos pinh\u00f5es, que s\u00e3o as sementes da arauc\u00e1ria (Araucaria angustifolia). Ela voa com o pinh\u00e3o no bico at\u00e9 outra \u00e1rvore, onde vai com\u00ea-lo. Nesse trajeto, muitas vezes a ave derruba as sementes no solo e elas, ao germinar, renovam os pinheirais.<\/p>\n\n\n\n
Em alguns casos, as plantas est\u00e3o melhor protegidas porque contam com v\u00e1rios animais para dispersar suas sementes. J\u00e1 outras \u00e1rvores encontram-se amea\u00e7adas, pois dependem de um \u00fanico animal para fazer esse trabalho. Pior para elas, quando o animal \u00e9 alvo de ca\u00e7adores. A\u00ed fecha-se um ciclo de destrui\u00e7\u00e3o. \u00c9 o que acontece com o jatob\u00e1, que tem apenas na cutia uma aliada para espalhar suas sementes longe da planta-m\u00e3e, onde elas n\u00e3o precisam competir pela luz e t\u00eam mais condi\u00e7\u00f5es de germinar.<\/p>\n\n\n\n
Macacos-prego (Cebus apella robustus)e o mono-carvoeiros (Brachyteles acrachnoides)tamb\u00e9m procuram as vagens do jatob\u00e1, mas retiram a polpa e jogam fora as sementes. A cutia, alvo da ca\u00e7a em diversas cidades do interior do estado de S\u00e3o Paulo, \u00e9 o \u00fanico animal que carrega as sementes para longe do jatob\u00e1, seja para abr\u00ed-las num local mais protegido, seja para estocar alimento para o futuro. Nesse processo, algumas sementes enterradas encontram condi\u00e7\u00f5es favor\u00e1veis para germinar.<\/p>\n\n\n\n
Peixes, como a piraputanga (Brycon microleps), e aves, como o tangar\u00e1 (Tangara seledon), s\u00e3o importantes. J\u00e1 o olho-de-cabra-mi\u00fado consegue espalhar suas sementes atraindo p\u00e1ssaros com suas cores vivas: estrat\u00e9gias para perpetua\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies vegetais. O saia\u00fana \u00e9 o principal dispensor do palmito-ju\u00e7ara (Euterpe edulis), ajudando no crescimento de novas mudas: mais de 30 esp\u00e9cies de aves e 15 de mam\u00edferos necessitam dos frutos dessa \u00e1rvore para viver, enquanto o homem a derruba para extrair somente 30 cent\u00edmetros da planta. A destrui\u00e7\u00e3o do palmito-ju\u00e7ara pode acarretar diversas extin\u00e7\u00f5es de animais.<\/p>\n\n\n\n
De acordo com Mauro Galetti (pesquisador da Unesp), toda a din\u00e2mica da floresta tem de ser respeitada, sen\u00e3o no futuro teremos algo como um cen\u00e1rio sem atores. As florestas brasileiras, principalmente a Floresta Atl\u00e2ntica, est\u00e1 se tornando uma floresta vazia. Quando se chega a tal desequil\u00edbrio no meio ambiente, \u00e9 muito dif\u00edcil reequilibr\u00e1-lo e, para tanto, seria necess\u00e1rio o manejo cont\u00ednuo dos fragmentos florestais.<\/p>\n\n\n\n
Reda\u00e7\u00e3o Ambientebrasil<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"As adapta\u00e7\u00f5es dos seres vivos n\u00e3o ocorrem e nem ocorreram de uma hora para outra. Ao longo do processo evolutivo, alguns organismos sofreram transforma\u00e7\u00f5es que lhes possibilitaram maiores chances de sobreviv\u00eancia no meio ambiente. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1519],"tags":[23,680,681,640,679],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2239"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2239"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2239\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5721,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2239\/revisions\/5721"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2239"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2239"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2239"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}