{"id":2214,"date":"2009-07-09T16:16:36","date_gmt":"2009-07-09T16:16:36","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:00:18","modified_gmt":"2021-07-10T23:00:18","slug":"redes_teias_pensamento_ecologico","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/natural\/artigos\/redes_teias_pensamento_ecologico.html","title":{"rendered":"Redes, teias, pensamento ecol\u00f3gico"},"content":{"rendered":"\n

Comunica\u00e7\u00e3o \u00e9 o ato de transmitir e receber mensagens por meio de linguagem falada, escrita, de signos ou s\u00edmbolos. Quando algu\u00e9m se comunica, emite uma mensagem que outro algu\u00e9m recebe. Isto cria uma conex\u00e3o entre os dois, cria uma rela\u00e7\u00e3o, que pode at\u00e9 ter m\u00e3o dupla: ora um emite, ora outro recebe, e vice-versa.<\/p>\n\n\n\n

A comunica\u00e7\u00e3o pressup\u00f5e uma rela\u00e7\u00e3o. Falamos para sermos escutados; o que dizemos adquire sentido ao ser escutado. Escutar n\u00e3o \u00e9, pois, um ato passivo. Segundo o bi\u00f3logo chileno Humberto Maturana, \u201co dizer n\u00e3o assegura o escutar. O fen\u00f4meno da comunica\u00e7\u00e3o entre seres humanos n\u00e3o depende daquilo que \u00e9 transmitido, mas daquilo que acontece com a pessoa que recebe o que est\u00e1 sendo transmitido\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O ato de escutar se fundamenta no ato de ouvir. Mas, al\u00e9m de ouvir, no ato de escutar est\u00e1 presente um mundo de interpreta\u00e7\u00f5es que d\u00e3o sentido ao que \u00e9 ouvido. N\u00e3o existe escutar sem interpretar e \u00e9 isto que faz do escutar um fen\u00f4meno ativo.<\/p>\n\n\n\n

E h\u00e1 uma rela\u00e7\u00e3o entre tudo isto e a Teoria de Gaia, desenvolvida por James Lovelock e Lynn Margulis na d\u00e9cada de 70, que afirma, entre outras coisas, que o Universo \u00e9 todo feito de interconex\u00f5es, que todos os fen\u00f4menos est\u00e3o ligados e pertencemos a uma grande rede de conex\u00f5es que forma a Terra, a Grande M\u00e3e.<\/p>\n\n\n\n

A Terra \u00e9 um ser org\u00e2nico, um organismo vivo, onde tudo depende de tudo, tudo est\u00e1 em constante liga\u00e7\u00e3o e troca. O moderno pensamento ecol\u00f3gico afirma a interdepend\u00eancia fundamental de todos os fen\u00f4menos. Quando voc\u00ea destr\u00f3i uma forma de vida, est\u00e1 acabando com as conex\u00f5es entre esta forma e outras formas, est\u00e1 empobrecendo o Universo. A Ecologia Profunda reconhece o valor intr\u00ednseco de todos os seres vivos e concebe os seres humanos n\u00e3o como os senhores do Universo, mas apenas como um fio muito particular na Grande Teia da Vida.<\/p>\n\n\n\n

A rede – a teia tecida pelas aranhas, para dar um exemplo da natureza, ou a rede de pescar que os seres humanos inventaram – \u00e9, pois, a met\u00e1fora central da ecologia. A organiza\u00e7\u00e3o em redes seria assim a estrutura b\u00e1sica de cada sistema do Universo. Desde uma simples c\u00e9lula at\u00e9 as complexas estruturas sociais, todas as redes obedecem \u00e0 mesma l\u00f3gica. <\/p>\n\n\n\n

Na grande rede universal n\u00e3o h\u00e1 uma hierarquia, pois nada \u00e9 superior a nada. Na natureza n\u00e3o h\u00e1 \u201cacima\u201d ou \u201cabaixo\u201d, na \u201cfrente\u201d ou \u201catr\u00e1s\u201d.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 somente redes aninhadas dentro de outras redes menores. Tudo est\u00e1 ao mesmo tempo e se liga, ao mesmo tempo, com tudo. Isto \u00e9 chamado tamb\u00e9m de Pensamento Ecol\u00f3gico, ou Pensamento Hol\u00edstico.<\/p>\n\n\n\n

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N\u00e3o h\u00e1 mais uma dicotomia entre \u201csubst\u00e2ncia\u201d e \u201cforma\u201d, entre \u201cforma\u201d e \u201cfundo\u201d. Tudo \u00e9 integrado, tudo \u00e9 ao mesmo tempo.Tudo se relaciona com tudo. Tudo est\u00e1 organizado em sistemas cujas propriedades surgem das rela\u00e7\u00f5es entre as partes. E o todo \u00e9 mais do que a mera soma das partes, por causa das rela\u00e7\u00f5es organizadoras que existem entre todas as coisas.<\/p>\n\n\n\n

Para sobreviver, cada sistema vivo est\u00e1 em constante aprendizado, exposto a constantes fluxos de energia e mat\u00e9ria que afetam sua estrutura e seu ponto de estabilidade. \u00c0s vezes acontecem mudan\u00e7as de tal ordem nos sistemas que causam rupturas, uma rearruma\u00e7\u00e3o geral, e em seguida se instaura espontaneamente uma nova ordem. Esta capacidade de se rearrumar que os sistemas possuem \u00e9 que faz com que eles estejam vivos.<\/p>\n\n\n\n

Weiner Heinsenberg, um dos fundadores da teoria qu\u00e2ntica, afirma: \u201cO mundo aparece como um complicado tecido de eventos no qual conex\u00f5es de diferentes tipos se alternam ou se sobrep\u00f5em ou se combinam e, por meio disso, determinam a textura do todo.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Heisenberg dizia tamb\u00e9m que esta mudan\u00e7a de enfoque que deixa de lado as partes para se preocupar com o todo \u00e9 o aspecto central de uma revolu\u00e7\u00e3o conceitual em toda a ci\u00eancia moderna.<\/p>\n\n\n\n

N\u00f3s tamb\u00e9m somos parte da grande rede, do grande sistema do Universo. Segundo Norbert Wiener, o matem\u00e1tico do MIT que inventou o termo cibern\u00e9tica, \u201csomos apenas redemoinhos num rio de \u00e1guas em fluxo incessante\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Sobre comunica\u00e7\u00e3o j\u00e1 falamos um pouco. Agora vamos ao conhecimento.<\/p>\n\n\n\n

O conhecimento \u00e9 mais do que informa\u00e7\u00e3o, vai al\u00e9m dela. Em filosofia, o conhecimento acontece quando o pensamento se \u201capropria\u201d do objeto, n\u00e3o no sentido de se apossar, mas no sentido de ter dele uma percep\u00e7\u00e3o clara, uma apreens\u00e3o mais profunda. Quando algu\u00e9m conhece um objeto pode n\u00e3o s\u00f3 identific\u00e1-lo mas tamb\u00e9m refletir sobre ele.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Ruben Bauer, o conhecimento \u00e9 um recurso ilimitado que aumenta com o uso. Se expuser a algu\u00e9m o meu conhecimento, n\u00e3o o perco; e esse algu\u00e9m, ao combinar seu conhecimento pr\u00e9vio com aquilo que apreende a partir do que eu digo, chega a novas descobertas, o conhecimento se expande.<\/p>\n\n\n\n

Buckminster Fuller, o grande propagador do conceito de sinergia, diz que o atual problema do esgotamento dos recursos naturais do Planeta encontra uma resposta na inesgotabilidade da criatividade e da intelig\u00eancia humana. Pode-se contrabalan\u00e7ar o esgotamento dos recursos naturais atrav\u00e9s de formas criativas de uso do pr\u00f3prio conhecimento, que fa\u00e7am com que se consuma o m\u00ednimo de recursos e se obtenha disto o m\u00e1ximo de resultados.<\/p>\n\n\n\n

Ainda segundo Humberto Maturana, o verdadeiro conhecimento n\u00e3o leva ao controle ou \u00e0 tentativa de controle, mas leva ao entendimento, \u00e0 compreens\u00e3o, a uma a\u00e7\u00e3o harm\u00f4nica e ajustada aos outros e ao meio.<\/p>\n\n\n\n

Para Maturama, conhecer \u00e9 viver, viver \u00e9 conhecer. Ele afirma: \u201ctodo conhecer \u00e9 uma a\u00e7\u00e3o efetiva que permite a um ser vivo continuar sua exist\u00eancia no mundo que ele mesmo traz \u00e0 tona ao conhec\u00ea-lo.\u201d<\/p>\n\n\n\n

por Elias Fajardo – Jornalista, escritor, artista pl\u00e1stico, chefe de reportagem do Globo Ecologia. <\/em>\n<\/em><\/p>\n\n\n\n

Artigo publicado na Revista Eco 21 – www.eco21.com.br<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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