{"id":2195,"date":"2009-01-13T13:24:22","date_gmt":"2009-01-13T13:24:22","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:11","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:11","slug":"biodiversidade_subterranea","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/natural\/artigos\/biodiversidade_subterranea.html","title":{"rendered":"Biodiversidade subterr\u00e2nea"},"content":{"rendered":"\n
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Enquanto uma parte da comunidade cient\u00edfica internacional se empenha em obter medicamentos sint\u00e9ticos e em \u201cmelhorar\u201d mediante manipula\u00e7\u00e3o gen\u00e9tica os alimentos que chegam at\u00e9 a nossa mesa, outros pesquisadores continuam acreditando na infinita capacidade da M\u00e3e Terra em garantir o futuro da Humanidade.<\/p>\n\n\n\n

O Programa das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) lan\u00e7ou h\u00e1 dois anos um fascinante projeto internacional de pesquisa que foi considerado o mais \u201ccurioso\u201d de todos os elaborados nesse organismo da ONU. O seu principal objetivo \u00e9 o de aprofundar os conhecimentos sobre os organismos que habitam o subsolo; um tipo de biodiversidade que representa um imenso recurso gen\u00e9tico at\u00e9 hoje minimamente explorado. Estes h\u00e1bitats subterr\u00e2neos guardam enormes tesouros que, segundo os mic\u00f3logos, podem influir significativamente no futuro ecol\u00f3gico do Planeta e na descoberta de novos medicamentos para combater mais eficazmente as doen\u00e7as. Os cientistas est\u00e3o coletando e identificando insetos tropicais, nemat\u00f3deos, t\u00e9rmitas, e outras formas de vida reptantes que habitam o subsolo da Terra. A primeira fase do projeto, que termina neste ano, foi desenvolvida em 7 pa\u00edses: Brasil, M\u00e9xico, Costa do Marfim, Uganda, Qu\u00eania, Indon\u00e9sia e a \u00cdndia; pa\u00edses que foram escolhidos exatamente pela enorme riqueza que acumulam nos seus solos.<\/p>\n\n\n\n

As formas de vida subterr\u00e2neas s\u00e3o as menos conhecidas de todas as existentes no Planeta e elas, muitas vezes, est\u00e3o apenas a cent\u00edmetros da superf\u00edcie, mas existem outras milhares ainda n\u00e3o catalogadas que habitam a centenas de metros nas camadas mais profundas do solo. Um grama de terra da Floresta Amaz\u00f4nica pode conter at\u00e9 40 mil esp\u00e9cies de bact\u00e9rias; muitas das quais nunca foram descritas. Da fam\u00edlia dos fungos apenas se conhece o 5% (72.000), sendo que 35.000 vivem no solo ou a mil\u00edmetros do subsolo. As 3.600 esp\u00e9cies de minhocas registradas s\u00e3o menos da metade existentes. As trufas, por exemplo, s\u00e3o uma esp\u00e9cie que a ci\u00eancia ainda n\u00e3o classificou nem como animal nem como vegetal, pois possui as caracter\u00edsticas de ambas. Estes ascocarpos, de sabor marcante e muito requisitado nos restaurantes da alta culin\u00e1ria, vivem somente na Europa num ecossistema espec\u00edfico a v\u00e1rios metros no subsolo.<\/p>\n\n\n\n

Infelizmente o rico mundo do subsolo est\u00e1 sendo dizimado pela polui\u00e7\u00e3o ambiental, pela colheita indiscriminada e pela destrui\u00e7\u00e3o dos h\u00e1bitats pela produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola, principalmente pelas monoculturas.<\/p>\n\n\n\n

Um melhor conhecimento de sua exist\u00eancia poder\u00e1 contribuir na busca de solu\u00e7\u00f5es para muitos problemas. As bact\u00e9rias e os fungos, por exemplo, s\u00e3o capazes de limpar as \u00e1reas h\u00eddricas ajudando a eliminar subst\u00e2ncias t\u00f3xicas e organismos patog\u00eanicos das \u00e1guas subterr\u00e2neas. Em muitos casos a presen\u00e7a destes organismos influi na capacidade de absor\u00e7\u00e3o das chuvas pelos solos. Nos lugares onde n\u00e3o existem estes microorganismos h\u00e1 maiores riscos de inunda\u00e7\u00f5es ou eros\u00f5es com severas conseq\u00fc\u00eancias para a qualidade da \u00e1gua dos rios, v\u00e1rzeas e manguezais. Estas pouco estudadas formas de vida desempenham um papel-chave na regula\u00e7\u00e3o das emiss\u00f5es de carbono e de outros gases de Efeito Estufa. Estudar e revelar o papel destas criaturas no \u201cCiclo do Carbono\u201d pode ajudar aos cientistas e \u00e0 pr\u00f3pria ind\u00fastria a criar sistemas de absor\u00e7\u00e3o dos gases que favorecem o aquecimento da atmosfera.<\/p>\n\n\n\n

O papel destes organismos como \u201carados biol\u00f3gicos\u201d e fornecedores de nutrientes \u00e9 um campo novo para a pesquisa. Uma experi\u00eancia realizada pela Usina A\u00e7ucareira S\u00e3o Francisco, no interior de S\u00e3o Paulo, com minhocas cultivadas resultou numa safra extraordin\u00e1ria, gra\u00e7as ao fosfato produzido pelos excrementos desses anel\u00eddeos, pelo nitrog\u00eanio gerado a partir da sua decomposi\u00e7\u00e3o e \u00e0 aera\u00e7\u00e3o do subsolo facilitada pelos quil\u00f4metros de galerias abertas no seu ciclo vital. Na \u00cdndia, planta\u00e7\u00f5es tradicionais com mais de 100 anos foram monitoradas, constatando-se que ap\u00f3s a reintrodu\u00e7\u00e3o do \u201cverme da terra\u201d as colheitas aumentaram quase 300%.<\/p>\n\n\n\n

A microbiologista da Universidade Federal de Lavras, F\u00e1tima Moreira, trabalhando no projeto, informou que bact\u00e9rias fixadoras de nitrog\u00eanio j\u00e1 estavam sendo utilizadas no Brasil para cultivar soja de forma ambientalmente amig\u00e1vel. \u201cOs gr\u00e3os de soja foram inoculados por uma esp\u00e9cie denominada Bradyrhizobium no lugar dos fertilizantes industriais\u201d. A Dra. F\u00e1tima j\u00e1 fez experi\u00eancias em mais de 2.000 esp\u00e9cies, incluindo \u00e1rvores, pequenas plantas e herb\u00e1ceas, com a finalidade de saber quais podem ser inoculadas com bact\u00e9rias fixadoras de nitrog\u00eanio. Muitas destas esp\u00e9cies de plantas, que s\u00e3o vitais para a produ\u00e7\u00e3o de madeira, carv\u00e3o e produ\u00e7\u00e3o alimentar, se beneficiariam com esta tecnologia.<\/p>\n\n\n\n

Este projeto fornecer\u00e1 informa\u00e7\u00f5es cruciais sobre como pode ser conservada a biodiversidade do subsolo, principalmente em terras voltadas para o agrobussines, enquanto se preserva a heran\u00e7a natural desses organismos extraordinariamente diversos e potencialmente \u00fateis para as futuras gera\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Edith Papp – Jornalista
\nRevista Eco 21, ano XV, N\u00ba 98, janeiro\/2005.
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