{"id":2194,"date":"2008-12-19T13:42:02","date_gmt":"2008-12-19T13:42:02","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:44","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:44","slug":"rio_paraguai","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/natural\/artigos\/rio_paraguai.html","title":{"rendered":"Rio Paraguai"},"content":{"rendered":"\n
A cadeia alimentar aqu\u00e1tica do Pantanal do rio Paraguai foi investigada durante um ciclo de seca-cheia completo (1998-99) com o objetivo de identificar as fontes prim\u00e1rias de energia (carbono) que a sustentam. Em um lago marginal (ba\u00eda do Castelo, Corumb\u00e1 – MS) caracter\u00edstico da plan\u00edcie de inunda\u00e7\u00e3o do rio Paraguai foram amostrados organismos representantes dos chamados produtores prim\u00e1rios (algas, plantas terrestres e aqu\u00e1ticas) e dos consumidores prim\u00e1rios (pulgas d\u00b4\u00e1gua e peixes comedores de lodo como o acari, curimbat\u00e1, sair\u00fa xoror\u00f3 e sair\u00fa liso), que s\u00e3o assim chamados, pois s\u00e3o os animais que se alimentam desses produtores ou de seus detritos.<\/p>\n\n\n\n
Apesar da grande quantidade de detrito proveniente das plantas terrestres e aqu\u00e1ticas, as algas s\u00e3o consideradas a fonte de carbono (energia) principal em sistemas de \u00e1reas inund\u00e1veis, como a plan\u00edcie de inunda\u00e7\u00e3o do rio Paraguai. Ou seja, as algas seriam a fonte de energia que sustenta a base da cadeia alimentar aqu\u00e1tica, sendo que no topo desta cadeia est\u00e3o os peixes carn\u00edvoros como o pintado, cachara, dourado e ja\u00fa. Por\u00e9m, em nosso estudo, certa caracter\u00edstica da composi\u00e7\u00e3o do carbono das algas (sua “assinatura isot\u00f3pica” ou “sinal isot\u00f3pico”) foi bem diferente daquela obtida em outras \u00e1reas de inunda\u00e7\u00e3o tropicais da Am\u00e9rica do Sul (m\u00e9dia= -340), apresentando um sinal mais “positivo”, ou “menos negativo” (m\u00e9dia= -290). Al\u00e9m disso, surpreendentemente, os valores da assinatura isot\u00f3pica do carbono das algas foram tamb\u00e9m muito diferentes dos valores dos consumidores prim\u00e1rios, que apresentaram valores bem mais negativos (variando entre -43 a -260). Por serem seus consumidores em potencial, os consumidores prim\u00e1rios deveriam ter apresentado valores muito mais pr\u00f3ximos a -290, considerando que somente as algas estivessem envolvidas no fornecimento de energia para estes organismos.<\/p>\n\n\n\n
Desta forma, os fatos observados somente poderiam ser explicados se, al\u00e9m das algas, uma outra fonte prim\u00e1ria de carbono (mais “negativa” ainda) estivesse envolvida, o que foi refor\u00e7ado pelos valores encontrados em certo tipo de organismo que vive no sedimento (larvas de insetos quironom\u00eddeos), cujos valores obtidos variaram entre -62 e -490) e que servem de alimento para alguns peixes. Esta outra fonte de carbono envolvida poderia ser proveniente de um tipo de bact\u00e9rias (bact\u00e9rias metanotr\u00f3ficas), que utilizam como fonte de carbono (energia) o metano, um g\u00e1s proveniente da decomposi\u00e7\u00e3o da mat\u00e9ria org\u00e2nica submersa.<\/p>\n\n\n\n
Assim, os resultados sugerem uma combina\u00e7\u00e3o de ambas as fontes prim\u00e1rias, algas e bact\u00e9rias, sustentando a cadeia alimentar aqu\u00e1tica do Pantanal do rio Paraguai. Isto se d\u00e1 por meio de dois processos de produ\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria de mat\u00e9ria org\u00e2nica (MO): pela fotoss\u00edntese das algas (energia solar + g\u00e1s carb\u00f4nico) e pela quimioss\u00edntese das bact\u00e9rias metanotr\u00f3ficas (energia qu\u00edmica + metano), que transferem energia (carbono) para os consumidores, o chamado fluxo de energia. Por meio desta produ\u00e7\u00e3o prim\u00e1ria de mat\u00e9ria org\u00e2nica e de outro processo, a decomposi\u00e7\u00e3o da mat\u00e9ria org\u00e2nica, que produz gases como o g\u00e1s carb\u00f4nico e o metano, fecha-se o ciclo de carbono no sistema. As algas s\u00e3o uma fonte de energia importante, por\u00e9m o sistema de plan\u00edcie do rio Paraguai mostra como caracter\u00edstica especial a exist\u00eancia de um elo de liga\u00e7\u00e3o alternativo do metano como fonte de carbono (via bact\u00e9rias metanotr\u00f3ficas), diretamente para os n\u00edveis superiores da cadeia alimentar (zoopl\u00e2ncton, insetos aqu\u00e1ticos e peixes detrit\u00edvoros).<\/p>\n\n\n\n
Com base nos resultados obtidos, pode-se inferir que quaisquer mudan\u00e7as no funcionamento hidrodin\u00e2mico do Pantanal do rio Paraguai, alterando-se o ciclo de cheias e secas (tempo de dura\u00e7\u00e3o das cheias e extens\u00e3o da \u00e1rea inundada), por meio de implanta\u00e7\u00e3o de barragens e hidroel\u00e9tricas, corte de curvas (meandros), dragagens em \u00e1reas extensas e entupimento do leito devido ao desmatamento e a conseq\u00fcente eros\u00e3o, causariam, por conseguinte, altera\u00e7\u00f5es no funcionamento dos processos de produ\u00e7\u00e3o e decomposi\u00e7\u00e3o de mat\u00e9ria org\u00e2nica. Portanto, causariam altera\u00e7\u00f5es no fluxo de energia do sistema, o qual sustenta a cadeia alimentar aqu\u00e1tica e a produ\u00e7\u00e3o pesqueira, uma das riquezas \u00edmpares do Pantanal e base de atividades econ\u00f4micas importantes para a regi\u00e3o, como a pesca profissional e o turismo de pesca.<\/p>\n\n\n\n
D\u00e9bora Fernandes Calheiros – bi\u00f3loga, pesquisadora da Embrapa Pantanal, Corumb\u00e1 (MS), na \u00e1rea de limnologia e ecotoxicologia.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" A cadeia alimentar aqu\u00e1tica do Pantanal do rio Paraguai foi investigada durante um ciclo de seca-cheia completo (1998-99) com o objetivo de identificar as fontes prim\u00e1rias de energia (carbono) que a sustentam. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1519],"tags":[23,640,642],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2194"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2194"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2194\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5828,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2194\/revisions\/5828"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2194"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2194"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2194"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}