{"id":2191,"date":"2008-12-19T13:38:35","date_gmt":"2008-12-19T13:38:35","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:44","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:44","slug":"o_futuro_da_vida_no_planeta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/natural\/artigos\/o_futuro_da_vida_no_planeta.html","title":{"rendered":"O futuro da vida no Planeta"},"content":{"rendered":"\n
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\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n

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A distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica de cada esp\u00e9cie que habita o nosso Planeta, seja de microorganismos, vegetais ou animais, \u00e9 determinada por uma s\u00e9rie de par\u00e2metros do ambiente, que incluem temperatura, quantidade de luz, umidade, esp\u00e9cies competidoras, comensais etc. Somente encontraremos indiv\u00edduos de uma dada esp\u00e9cie em locais que oferecem as condi\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias e suficientes para a sua sobreviv\u00eancia, crescimento e reprodu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Nossa esp\u00e9cie, gra\u00e7as ao tipo e grau de intelig\u00eancia diferente, constitui uma completa exce\u00e7\u00e3o a essa regra, uma vez que, h\u00e1 milhares de anos atr\u00e1s, aprendemos a modificar o ambiente, adaptando-o \u00e0s nossas necessidades e conveni\u00eancias.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 cerca de 15.000 anos, “inventamos” a agricultura, quando aprendemos a cultivar e modificar geneticamente as plantas de interesse, selecionando-as no sentido de eliminar caracter\u00edsticas de defesa (espinhos, p\u00ealos urticantes, compostos qu\u00edmicos desagrad\u00e1veis ou t\u00f3xicos etc.) e desenvolvendo caracter\u00edsticas de interesse, tais como frutos maiores e mais palat\u00e1veis, sementes que permanecem nas espigas at\u00e9 amadurecerem etc.<\/p>\n\n\n\n

Os animais foram domesticados, selecionados para redu\u00e7\u00e3o da agressividade e aumento da docilidade, e, no caso das aves, para aumento do n\u00famero anual de ovos, etc. Ao longo da nossa hist\u00f3ria, crescemos em n\u00famero (somos hoje 6,7 bilh\u00f5es de pessoas e seremos 9,37 em 2050) e modificamos quase todo o Planeta.<\/p>\n\n\n\n

Gra\u00e7as aos avan\u00e7os cient\u00edficos, tomamos consci\u00eancia de que nossa sobreviv\u00eancia na Terra est\u00e1 fortemente ligada \u00e0 sobreviv\u00eancia das outras esp\u00e9cies e que nossos atos, relacionados \u00e0s altera\u00e7\u00f5es no Planeta, podem colocar em risco nossa pr\u00f3pria sobreviv\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

O fant\u00e1stico desenvolvimento da Biologia Evolutiva e dos programas de modelagem aplic\u00e1veis \u00e0 Biologia, permitem avaliar os poss\u00edveis efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas sobre a biodiversidade. Dessa forma, podemos, a partir dos dados clim\u00e1ticos atuais, deduzir tend\u00eancias de mudan\u00e7as, e fazer predi\u00e7\u00f5es bastante acuradas sobre as poss\u00edveis conseq\u00fc\u00eancias para a biodiversidade de uma regi\u00e3o e do Planeta.<\/p>\n\n\n\n

O estudo, realizado por Marinez Ferreira de Siqueira em colabora\u00e7\u00e3o com Andrew Townsend Peterson, da Universidade do Kansas, EUA, foi publicado na revista Biota Neotropica.<\/p>\n\n\n\n

Foi estudada a distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica de 162 esp\u00e9cies arb\u00f3reas do Cerrado brasileiro. O estudo ficou limitado a esp\u00e9cies da distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica ampla, utilizando para cada esp\u00e9cie dados obtidos para 30 ou mais localidades de sua ocorr\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Conhecendo a distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica de cada esp\u00e9cie e utilizando a t\u00e9cnica de modelagem de “nicho ecol\u00f3gico”, os autores puderam, com aux\u00edlio de modelos de circula\u00e7\u00e3o existentes (HadCM2), estimar os poss\u00edveis efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas previstas sobre a distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica e mesmo a sobreviv\u00eancia\/extin\u00e7\u00e3o de cada esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n

O estudo envolveu dois cen\u00e1rios previstos para os pr\u00f3ximos 50 anos: um mais conservador (aumento de 0,5% de CO2 por ano) e um menos conservador (aumento de 1% de CO2 \/ano). Em todos os casos, os resultados indicaram uma redu\u00e7\u00e3o de, no m\u00ednimo, 50% da distribui\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica de cada uma das esp\u00e9cies (muitas com redu\u00e7\u00e3o de mais de 90% da \u00e1rea atual). Considerando o cen\u00e1rio mais conservador, 18 esp\u00e9cies n\u00e3o teriam \u00e1rea habit\u00e1vel; pelo cen\u00e1rio menos conservador, esse n\u00famero subiria para 56. Estas esp\u00e9cies seriam extintas. A redu\u00e7\u00e3o acentuada da \u00e1rea coloca em risco a sobreviv\u00eancia de uma esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n

Cabe comentar que esp\u00e9cies end\u00eamicas, de distribui\u00e7\u00e3o muito restrita – n\u00e3o inclu\u00eddas no estudo, s\u00e3o muito mais especializadas e, portanto, potencialmente muito mais vulner\u00e1veis que as de ampla distribui\u00e7\u00e3o. Estas \u00faltimas possuem um maior reservat\u00f3rio gen\u00e9tico; muitas vezes apresentam ampla “norma de rea\u00e7\u00e3o”: seu gen\u00f3tipo confere a capacidade de viver e adaptar-se a uma gama mais abrangente de ambientes.<\/p>\n\n\n\n

Na Nature (8\/1\/03) foi publicado um artigo sobre o mesmo assunto (Thomas et al.), mas de abrang\u00eancia muito mais ampla, cobrindo a maioria dos continentes, incorporando dados de muitos autores e incluindo mam\u00edferos, aves, sapos, r\u00e9pteis, borboletas, outros invertebrados e plantas. A \u00e1rea analisada cobre cerca de 20% da superf\u00edcie terrestre. Para as an\u00e1lises, os autores cunharam a express\u00e3o “envelope clim\u00e1tico” , que representa as condi\u00e7\u00f5es nas quais as popula\u00e7\u00f5es de uma dada esp\u00e9cie persiste frente a seus competidores e inimigos naturais. A distribui\u00e7\u00e3o futura de cada esp\u00e9cie, assim, pode ser estimada supondo a perman\u00eancia do “envelope clim\u00e1tico” atual, podendo ser projetada para o futuro. Tr\u00eas cen\u00e1rios clim\u00e1ticos foram considerados para 2050: 1- mudan\u00e7as m\u00ednimas (aumento m\u00e9dio de temperatura: 0,8\u00ba a 1,7\u00baC e de CO2 de 500ppm por volume), 2- cen\u00e1rio de mudan\u00e7as m\u00e9dias (aumento de 1,8\u00ba a 2,0\u00baC, e de CO2 500-550ppm\/v) e 3- cen\u00e1rios de mudan\u00e7as m\u00e1ximas esperadas (mais de 2,0\u00baC e de CO2 maior que 550ppm\/v).<\/p>\n\n\n\n

As an\u00e1lises indicam que, no caso de mudan\u00e7as m\u00ednimas, podemos esperar a extin\u00e7\u00e3o de cerca de 18% das esp\u00e9cies, no de mudan\u00e7as m\u00e9dias, cerca de 24% das esp\u00e9cies; no cen\u00e1rio de mudan\u00e7as extremas, devemos esperar que cerca 35% das esp\u00e9cies ser\u00e3o levadas \u00e0 extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

As conclus\u00f5es dos artigos mencionados podem parecer exageradamente catastr\u00f3ficas. Mas temos que considerar que s\u00e3o proje\u00e7\u00f5es feitas a partir de dados atuais, e que oscila\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas acentuadas j\u00e1 v\u00eam sendo noticiadas.<\/p>\n\n\n\n

Devemos considerar que desde a d\u00e9cada de 90, numerosas publica\u00e7\u00f5es, em revistas cient\u00edficas de destaque internacional, t\u00eam salientado a necessidade da preserva\u00e7\u00e3o das \u00e1reas nativas, especialmente das florestas tropicais, cuja import\u00e2ncia transcende a conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade no Planeta, em vista de sua enorme import\u00e2ncia no ciclo das \u00e1guas. Na RIO’92, foi dado um destaque especial para a conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade – o que serviu para desencadear a consci\u00eancia sobre a intera\u00e7\u00e3o de todas as esp\u00e9cies (inclusive a nossa) e as conseq\u00fc\u00eancias de poss\u00edveis desequil\u00edbrios gerados pelas atividades humanas. Ao contr\u00e1rio da “Revolu\u00e7\u00e3o Verde”, passou-se a buscar maior produtividade por \u00e1rea nas plantas cultivadas e manejo integrado em muitos casos, com o objetivo de alimentar a crescente popula\u00e7\u00e3o humana, com a menor destrui\u00e7\u00e3o poss\u00edvel de \u00e1reas nativas.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 no in\u00edcio do S\u00e9culo 21, outra reuni\u00e3o da ONU finalizou as negocia\u00e7\u00f5es do “Protocolo de Kyoto”, um acordo visando reduzir as emiss\u00f5es de CO2 para a atmosfera, diminuindo o risco de aumento da temperatura.<\/p>\n\n\n\n

Por essas raz\u00f5es, \u00e9 importante que os pesquisadores analisem as tend\u00eancias atuais e as conseq\u00fc\u00eancias prov\u00e1veis dos nossos atos enquanto houver ainda uma possibilidade de redu\u00e7\u00e3o desses efeitos catastr\u00f3ficos.<\/p>\n\n\n\n

Helga Winge (Pesquisadora Departamento de Gen\u00e9tica \u2013 I.B.-UFRGS)
\nRevista Eco 21, ano XV, N\u00ba 101, mar\u00e7o\/2005.
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