{"id":2189,"date":"2008-12-19T13:32:47","date_gmt":"2008-12-19T13:32:47","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:44","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:44","slug":"os_controles_geologicos_e_os_pulsos_de_inundacao_no_pantanal","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/natural\/artigos\/os_controles_geologicos_e_os_pulsos_de_inundacao_no_pantanal.html","title":{"rendered":"Os Controles Geol\u00f3gicos e os Pulsos de Inunda\u00e7\u00e3o no Pantanal"},"content":{"rendered":"\n
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Pulso de inunda\u00e7\u00e3o \u00e9 uma forma cient\u00edfica de se falar do processo anual de enchente e seca que ocorre a cada ano no Pantanal. Constitui o que, em ecologia, \u00e9 chamado de \u201cprocesso ecol\u00f3gico essencial\u201d, ou seja, aquele processo que comanda a riqueza, a distribui\u00e7\u00e3o e a abund\u00e2ncia de vida no Pantanal.<\/p>\n\n\n\n

A abund\u00e2ncia da fauna, particularmente da aqu\u00e1tica, \u00e9 explicada pelos pulsos de inunda\u00e7\u00e3o, na medida em que a enchente e a seca maximizam a oferta de alimentos para essa fauna. No processo da enchente\/cheia, as \u00e1reas inundadas tem a sua vegeta\u00e7\u00e3o alagada, onde parte morre e se decomp\u00f5e, formando os detritos org\u00e2nicos, fonte de alimento dos peixes detrit\u00edvoros como curimbat\u00e1s e sairus; parte funciona como substrato\/filtro que ret\u00e9m os sedimentos e mat\u00e9ria org\u00e2nica dissolvida, servindo como substrato para desenvolvimento de algas e microorganismos animais (bact\u00e9rias, tecamebas, etc.) e finalmente um terceiro estrato, a vegeta\u00e7\u00e3o terrestre alagada, que fornece alimento aos peixes na forma de flores, frutos e sementes. A inunda\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m propicia o desenvolvimento de grandes massas de vegeta\u00e7\u00e3o aqu\u00e1tica e, associadas a elas, ricas comunidades de insetos aqu\u00e1ticos que servem de alimento aos peixes. Assim, a inunda\u00e7\u00e3o propicia ricas fontes alimentares para peixes detrit\u00edvoros, herb\u00edvoros, inset\u00edvoros e on\u00edvoros que s\u00e3o a base da cadeia alimentar dos peixes carn\u00edvoros e de outras esp\u00e9cies animais que as consomem como aves aqu\u00e1ticas, jacar\u00e9s, lontras e ariranhas.<\/p>\n\n\n\n

Na fase seca, h\u00e1 novamente todo o crescimento da vegeta\u00e7\u00e3o terrestre nas \u00e1reas anteriormente alagadas, fertilizadas parcialmente no processo de inunda\u00e7\u00e3o e parcialmente, pela decomposi\u00e7\u00e3o da vegeta\u00e7\u00e3o aqu\u00e1tica da fase anterior. Dessa forma, o sistema consegue incorporar e aproveitar mat\u00e9ria org\u00e2nica de forma muito eficiente, explicando a riqueza e diversidade dos rios com plan\u00edcies inund\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

Mas quais s\u00e3o os fatores respons\u00e1veis pelos pulsos de inunda\u00e7\u00e3o, ou do processo de enchente e seca anual no Pantanal?. As chuvas que caem nas cabeceiras dos rios e na pr\u00f3pria plan\u00edcie pantaneira tem dificuldades de escoamento devido \u00e0 falta de declividade que, na m\u00e9dia, \u00e9 de 3 a 5cm\/km no sentido norte-sul e de 12 a 15cm\/km, no sentido leste-oeste, o que retarda o seu escoamento, alagando e aumentando o tempo de perman\u00eancia da \u00e1gua na regi\u00e3o. Igualmente, um outro fator que retarda o escoamento \u00e9 a forma sinuosa, cheia de curvas que o rio Paraguai e seus afluentes assumem durante a sua travessia pelo Pantanal. Finalmente, o fator chave mais importante, s\u00e3o as peculiaridades de relevo e geologia que funcionam como verdadeiras barragens ao fluxo das \u00e1guas. S\u00e3o no jarg\u00e3o cient\u00edfico, chamados de controles geol\u00f3gicos, ou embasamentos rochosos acoplados a morrarias que ocorrem ao longo do percurso do rio Paraguai. Segundo estudos efetuados pelo projeto RADAMBRASIL, esses controles geol\u00f3gicos est\u00e3o localizados na regi\u00e3o do Amolar, Porto da Manga e Fecho dos Morros.<\/p>\n\n\n\n

Observando-se imagens de radar, nota-se grande concentra\u00e7\u00e3o de lagoas e\/ou \u201cba\u00edas\u201d no anteparo formado pelo alinhamento serrano do Amolar que funciona como uma barragem natural ao escoamento das \u00e1guas de superf\u00edcie, formando-se no local uma das zonas mais alagadas do Pantanal, constituindo uma das \u00e1reas mais piscosas da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Os relevos residuais do maci\u00e7o do Urucum atuam como um segundo controle geol\u00f3gico, com os embasamentos rochosos agindo como barragem natural, promovendo o alagamento de extensas \u00e1reas entre a margem direita do rio Paraguai e os relevos residuais do maci\u00e7o do Urucum, alcan\u00e7ando a regi\u00e3o do Porto da Manga.<\/p>\n\n\n\n

Entre a conflu\u00eancia meridional do rio Nabileque e a foz do rio Apa, o \u00fanico acidente de relev\u00e2ncia \u00e9 representado pelas intrus\u00f5es alcalinas do Fecho dos Morros, produzindo diferen\u00e7as topogr\u00e1ficas que justificam o alagamento concentrado da margem direita, constituindo a terceira barragem natural ao fluxo das \u00e1guas.<\/p>\n\n\n\n

S\u00e3o pois esses os fatores respons\u00e1veis pelos pulsos de inunda\u00e7\u00e3o no Pantanal e respons\u00e1veis pela exuber\u00e2ncia de vida animal e vegetal na regi\u00e3o e tamb\u00e9m pelas possibilidades de aproveitamento econ\u00f4mico como a pecu\u00e1ria extensiva que vem sendo praticada h\u00e1 mais de dois s\u00e9culos.<\/p>\n\n\n\n

Emiko Kawakami de Resende (emiko@cpap.embrapa.br), Bi\u00f3loga, Doutora em Ci\u00eancias, Chefe Geral da Embrapa Pantanal, Corumb\u00e1, MS.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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