{"id":2186,"date":"2008-12-19T13:26:20","date_gmt":"2008-12-19T13:26:20","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:35:44","modified_gmt":"2021-07-10T23:35:44","slug":"estrategias_para_definicao_de_periodos_de_defeso_no_pantanal","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/natural\/artigos\/estrategias_para_definicao_de_periodos_de_defeso_no_pantanal.html","title":{"rendered":"Estrat\u00e9gias para defini\u00e7\u00e3o de per\u00edodos de defeso no Pantanal"},"content":{"rendered":"\n
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O objetivo b\u00e1sico de defini\u00e7\u00e3o de per\u00edodos de defeso de reprodu\u00e7\u00e3o \u00e9 possibilitar que os peixes possam se reproduzir e repor \/ renovar os estoques pesc\u00e1veis para os anos seguintes. Nesse sentido, \u00e9 necess\u00e1rio entender a biologia e ecologia das esp\u00e9cies consideradas, para que se tenha um uso sustent\u00e1vel, conciliando os interesses econ\u00f4micos, sociais e ambientais.<\/p>\n\n\n\n

O defeso de reprodu\u00e7\u00e3o no Pantanal \u00e9 definido em fun\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies de valor econ\u00f4mico, geralmente migradoras que, todo ano realizam migra\u00e7\u00f5es rio acima, onde se reproduzem, ao encontrarem condi\u00e7\u00f5es adequadas, principalmente para ovos e larvas. A este grupo pertencem o pacu, a piraputanga, o dourado, o pintado, o ximbor\u00e9, a cachara e a jiripoca, dentre outras. A desova geralmente ocorre nas cabeceiras, ap\u00f3s grandes chuvas, quando o n\u00edvel dos rios sobe, as \u00e1guas est\u00e3o turvas e oxigenadas, atendendo \u00e0s necessidades de oxigena\u00e7\u00e3o mais elevada nessa fase inicial de desenvolvimento, bem como de prote\u00e7\u00e3o contra a preda\u00e7\u00e3o nas \u00e1guas turvas que impedem a visualiza\u00e7\u00e3o dos ovos e larvas pelos predadores.<\/p>\n\n\n\n

Os peixes migradores possuem alta fecundidade e, dependendo da esp\u00e9cie e do tamanho alcan\u00e7ado, uma f\u00eamea pode apresentar em seus ov\u00e1rios mais de um milh\u00e3o de ovos. A cada ano, machos e f\u00eameas alimentam-se no Baixo Pantanal onde o alimento \u00e9 abundante no per\u00edodo da enchente\/cheia e quando alcan\u00e7am ac\u00famulo de reservas suficientes para o desenvolvimento das g\u00f4nadas e para a longa migra\u00e7\u00e3o at\u00e9 as cabeceiras, iniciam essa longa viagem, que \u00e9 conhecida popularmente como piracema. Quando n\u00e3o conseguem acumular reservas suficientes, principalmente por insufici\u00eancia de inunda\u00e7\u00e3o, n\u00e3o migram, ou mesmo quando iniciam a migra\u00e7\u00e3o, n\u00e3o chegam a complet\u00e1-la. Em alguns anos \u00e9 poss\u00edvel observar f\u00eameas ovadas de peixes migradores no baixo Pantanal, nas proximidades de Corumb\u00e1 e Ba\u00eda do Castelo, no per\u00edodo de defeso da reprodu\u00e7\u00e3o que se apresentam nessas condi\u00e7\u00f5es. Quando n\u00e3o conseguem completar a migra\u00e7\u00e3o ascendente, os ov\u00e1rios entram em regress\u00e3o e os ov\u00f3citos s\u00e3o reabsorvidos. A ocorr\u00eancia de exemplares ovados de peixes migradores no baixo Pantanal, misturados com exemplares desovados e em regress\u00e3o, s\u00e3o indicativos dos fatos expostos acima.<\/p>\n\n\n\n

Observa\u00e7\u00f5es de campo vem mostrando que o ideal para uma alimenta\u00e7\u00e3o suficiente e ac\u00famulo de reservas, principalmente na forma de gordura, \u00e9 que a inunda\u00e7\u00e3o alcance pelo menos cinco metros de altura no rio Paraguai, medida na r\u00e9gua de Lad\u00e1rio, pr\u00f3ximo a Corumb\u00e1 e mais de quatro metros de altura na r\u00e9gua de Porto Cercado, no rio Cuiab\u00e1. <\/p>\n\n\n\n

\u00c9 preciso ainda considerar que, se um dado estoque de peixes est\u00e1 sendo utilizado, o manejo deve considerar a prote\u00e7\u00e3o do pico da reprodu\u00e7\u00e3o que, para a maior parte dos peixes de valor econ\u00f4mico, ocorre na cabeceira dos tribut\u00e1rios, entre Novembro e Fevereiro, come\u00e7ando com os peixes de escama e terminando com os peixes de couro. Essa seq\u00fc\u00eancia tem l\u00f3gica, na medida em que as larvas de peixes de couro s\u00e3o predadoras e necessitam encontrar larvas de outros peixes para se alimentarem assim que esgotam os recursos energ\u00e9ticos do vitelo, abrem a boca e iniciam a alimenta\u00e7\u00e3o externa.<\/p>\n\n\n\n

A frase, \u201cnem tudo que reluz \u00e9 ouro\u201d \u00e9 muito elucidativa para entender que \u201cnem todo ronco de peixe\u201d significa que esteja havendo reprodu\u00e7\u00e3o, particularmente verdadeiro no caso do ximbor\u00e9, Schizodon borellii. Roncos dessa esp\u00e9cie foram ouvidos no rio Cuiab\u00e1, na regi\u00e3o de Porto Cercado, no in\u00edcio de Fevereiro de 2004, onde a primeira dedu\u00e7\u00e3o foi \u201c est\u00e1 ocorrendo a reprodu\u00e7\u00e3o dessa esp\u00e9cie nessa regi\u00e3o!\u201d Entretanto, ao se capturar esses peixes, foi constatado que todos os machos estavam com os test\u00edculos em regress\u00e3o e igualmente as f\u00eameas apresentavam ov\u00e1rios esvaziados. Esses roncos constituem, dessa forma, uma \u00faltima tentativa dos machos de tentarem encontrar f\u00eameas para acasalamento. Possivelmente o mesmo \u00e9 verdadeiro para outras esp\u00e9cies que apresentam esse tipo de comportamento como curimbat\u00e1s e pacus.<\/p>\n\n\n\n

A reprodu\u00e7\u00e3o dos peixes migradores \u00e9 altamente dependente das chuvas nas cabeceiras. Em anos onde se observam chuvas abundantes em Novembro e Dezembro, o pico de reprodu\u00e7\u00e3o ocorre nesses meses. Quando as chuvas forem abundantes em Janeiro, certamente o pico da reprodu\u00e7\u00e3o ser\u00e1 nesse m\u00eas. Dessa forma, o monitoramento do defeso deve considerar o ritmo das chuvas bem como o encontro dos peixes em est\u00e1dios finais de matura\u00e7\u00e3o nas cabeceiras. Poucos exemplares de peixes migradores capturados nas cabeceiras n\u00e3o significam amostras pouco representativas, quando o esfor\u00e7o de captura for significativo. Mostra, ao contrario, muita signific\u00e2ncia, na medida em que reflete a aus\u00eancia desses peixes nesses ambientes, pelo fato de terem completado o processo reprodutivo e terem retornado ao baixo Pantanal para se alimentarem e se recuperarem do desgaste reprodutivo.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 importante lembrar ainda que o defeso de reprodu\u00e7\u00e3o \u00e9 apenas um dos instrumentos utilizados para normatiza\u00e7\u00e3o da pesca. Outros instrumentos envolvem tamanho m\u00ednimo de captura, cotas de captura, petrechos de captura, etc. Acima de tudo, o mais importante \u00e9 a manuten\u00e7\u00e3o da integridade do ambiente, sem o que, nenhum desses controles ter\u00e1 qualquer validade.<\/p>\n\n\n\n

Isto posto, considerando os aspectos sociais, ambientais e econ\u00f4micos da atividade pesqueira na bacia do Alto Paraguai, recomenda-se que o per\u00edodo de Defeso de Reprodu\u00e7\u00e3o:<\/p>\n\n\n\n

1 \u2013 Tenha in\u00edcio no come\u00e7o de Novembro e termine no final de Janeiro para os trechos do rio Paraguai e seus afluentes na plan\u00edcie pantaneira;<\/p>\n\n\n\n

2 \u2013 Tenha in\u00edcio no come\u00e7o de Novembro e termine no final de Fevereiro para os trechos do rio Paraguai e seus afluentes fora da plan\u00edcie pantaneira, ou seja, nos planaltos onde se encontram as nascentes desses rios.<\/p>\n\n\n\n

Caso isto seja adotado, estaremos sem d\u00favida, conseguindo efetuar uma administra\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel dos recursos pesqueiros da Bacia do Alto Paraguai, conciliando os interesses econ\u00f4micos, sociais e ambientais, aliando a conserva\u00e7\u00e3o dos recursos pesqueiros e o planejamento das atividades necess\u00e1rias aos setores que usufruem desses recursos, evitando desgastes e promovendo a tranq\u00fcilidade entre os diferentes usu\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

Emiko Kawakami de Resende (emiko@cpap.embrapa.br), biologa, doutora em ci\u00eancias. Chefe Geral da Embrapa Pantanal, Corumb\u00e1, MS.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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