{"id":2144,"date":"2009-01-20T10:01:02","date_gmt":"2009-01-20T10:01:02","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:34:03","modified_gmt":"2021-07-10T23:34:03","slug":"o_que_e_o_el_nino","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/mudancas_climaticas\/artigos\/o_que_e_o_el_nino.html","title":{"rendered":"O que \u00e9 o El Ni\u00f1o"},"content":{"rendered":"\n

O aquecimento ocasional das \u00e1guas superficiais no Oceano Pac\u00edfico central e oriental \u00e9 chamado de El Ni\u00f1o. Em condi\u00e7\u00f5es normais, os ventos al\u00edsios sopram de Leste para Oeste ao longo do Equador, acumulando \u00e1gua quente na camada superior do Oceano Pac\u00edfico tropical perto da Austr\u00e1lia e da Indon\u00e9sia. Nessa regi\u00e3o de \u00e1guas superficiais quentes, a atmosfera \u00e9 aquecida criando condi\u00e7\u00f5es favor\u00e1veis para a convec\u00e7\u00e3o e precipita\u00e7\u00e3o. Nos n\u00edveis superiores da atmosfera os ventos sopram de Oeste para Leste, completando a circula\u00e7\u00e3o atmosf\u00e9rica de grande escala chamada Circula\u00e7\u00e3o de Walker, que foi chamada assim em homenagem a Sir Gilbert Walker, quem estudou varia\u00e7\u00f5es da atmosfera no Oceano Pac\u00edfico Tropical durante a d\u00e9cada de 20.<\/p>\n\n\n\n

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Muitas vezes o princ\u00edpio de um epis\u00f3dio do El Ni\u00f1o \u00e9 anunciado alguns meses antes do Natal pelo aparecimento de \u00e1guas mais quentes do que o normal perto da costa do Peru e Equador.<\/p>\n\n\n\n

O nome \u201cEl Nino\u201d, que vem do espanhol \u201co menino Jesus\u201d, foi dado a esse fen\u00f4meno por pescadores peruanos, que observaram os aumentos sazonais da temperatura das \u00e1guas superficiais do oceano na \u00e9poca de Natal.<\/p>\n\n\n\n

Em intervalos irregulares, tipicamente de 3 a 5 anos, a intensidade dos ventos al\u00edsios diminui permitindo que a camada de \u00e1guas superficiais quentes do Pac\u00edfico se desloque ao longo do equador em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 Am\u00e9rica do Sul. Como \u00e9 de se esperar esse deslocamento de \u00e1guas quentes tem importantes repercuss\u00f5es na atmosfera. A convec\u00e7\u00e3o e precipita\u00e7\u00e3o que normalmente ocorrem no Oceano Pac\u00edfico ocidental, acompanham as \u00e1guas superficiais quentes em seu deslocamento em dire\u00e7\u00e3o ao continente sulamericano, causando chuvas mais abundantes do que o normal no Norte do Peru, Equador, e outras regi\u00f5es tropicais da Am\u00e9rica do Sul. Enquanto isso, na parte Oeste do Oceano Pac\u00edfico o mecanismo de produ\u00e7\u00e3o de precipita\u00e7\u00e3o cessa, causando secas na Austr\u00e1lia e Indon\u00e9sia.<\/p>\n\n\n\n

Os gr\u00e1ficos ao lado mostram a diferen\u00e7a entre os perfis verticais de temperatura ao longo do equador durante o ver\u00e3o de um ano normal, 1996, e o ver\u00e3o de 1997, um ano em que est\u00e1 ocorrendo um epis\u00f3dio forte do El Ni\u00f1o. Em 96, as \u00e1guas superficiais mais quentes, com temperatura ao redor dos 30 graus, estavam localizadas no Pac\u00edfico Ocidental.<\/p>\n\n\n\n

No Pac\u00edfico Oriental, a temperatura das \u00e1guas superficiais era de aproximadamente 20 graus. Durante o El Ni\u00f1o de 97, as \u00e1guas superficiais mais quentes foram deslocadas para a parte central do Oceano Pac\u00edfico ao passo que as \u00e1guas superficiais da parte Leste do Pac\u00edfico foram aquecidas atingindo temperaturas acima dos 25 graus. Note como a inclina\u00e7\u00e3o vertical das isotermas durante o epis\u00f3dio do El Ni\u00f1o \u00e9 menor do que a inclina\u00e7\u00e3o vertical das isotermas durante o ano normal (figuras ao lado). O presente epis\u00f3dio do El Ni\u00f1o est\u00e1 ocorrendo mais cedo no ano do que outros epis\u00f3dios do El Ni\u00f1o. Por exemplo, o El Ni\u00f1o do S\u00e9culo 20, em 1982\/83 ocorreu mais tarde no ano com as maiores anomalias de temperatura em Fevereiro.<\/p>\n\n\n\n

Como \u00e9 de se esperar, mudan\u00e7as t\u00e3o grandes na superf\u00edcie do oceano t\u00eam profundo impacto sobre a atmosfera. Embora a maior parte da variabilidade da atmosfera ocorra em escalas de tempo curtas, como por exemplo, as varia\u00e7\u00f5es di\u00e1rias do tempo, h\u00e1 muito que se reconhece a exist\u00eancia de varia\u00e7\u00f5es atmosf\u00e9ricas em escalas de tempo mais longas.<\/p>\n\n\n\n

Durante um El Ni\u00f1o, as \u00e1guas equatoriais quentes aquecem a atmosfera durante v\u00e1rios meses. A atmosfera responde a este aquecimento produzindo um padr\u00e3o alternado de sistemas de baixa e alta press\u00e3o, os quais por sua vez afetam profundamente a dire\u00e7\u00e3o do vento local e inclusive as condi\u00e7\u00f5es de tempo longe do Pac\u00edfico equatorial. Na Am\u00e9rica do Norte, os centros de baixa press\u00e3o localizados ao Sudoeste do Alasca e no Sudeste dos Estados Unidos afetam o tempo no Oeste do Canad\u00e1, e nas plan\u00edcies setentrionais e regi\u00e3o Sudeste dos EUA.<\/p>\n\n\n\n

Durante um epis\u00f3dio do El Ni\u00f1o, h\u00e1 uma tend\u00eancia para que ocorram temperaturas acima do normal na parte Oeste do Canad\u00e1 e nas plan\u00edcies setentrionais dos Estados Unidos. Isto ocorre porque um centro de baixa press\u00e3o localizado no Oceano Pac\u00edfico produz um fluxo de ar quente em dire\u00e7\u00e3o ao Canad\u00e1 e \u00e0 parte Norte dos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

No Sul dos Estados Unidos, outro sistema de baixa press\u00e3o produz um fluxo de ar frio causando temperaturas abaixo do normal. O mesmo sistema de baixa press\u00e3o no Sul dos Estados Unidos \u00e9 respons\u00e1vel pelos aumentos na precipita\u00e7\u00e3o que ocorrem durante epis\u00f3dios do El Ni\u00f1o, especialmente em regi\u00f5es perto do Golfo do M\u00e9xico.<\/p>\n\n\n\n

Um epis\u00f3dio do El Ni\u00f1o pode afetar as condi\u00e7\u00f5es de tempo em diversas regi\u00f5es do mundo. No Oceano Atl\u00e2ntico, perto da costa Sudoeste da \u00c1frica, as secas s\u00e3o freq\u00fcentes durante epis\u00f3dios do El Ni\u00f1o. Em pa\u00edses como o Zimb\u00e1bue, cuja economia depende criticamente da produ\u00e7\u00e3o de milho, os efeitos das secas podem ser devastadores.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, na parte Oeste da Am\u00e9rica do Sul, as chuvas acima do normal trazidas pelo El Ni\u00f1o permitem que os agricultores se beneficiem de uma colheita abundante de arroz ao inv\u00e9s de uma colheita normal de algod\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

As conseq\u00fc\u00eancias econ\u00f4micas do El Ni\u00f1o s\u00e3o impressionantes. Em 1982, preju\u00ed zos de mais de R$ 25 milh\u00f5es foram conseq\u00fc\u00eancia do mais forte El Ni\u00f1o dos \u00faltimos 50 anos. Nem todos os El Ni\u00f1o s\u00e3o parecidos e nem a atmosfera reage da mesma maneira. Os cientistas continuam tentando prever o fen\u00f4meno e suas intera\u00e7\u00f5es com o tempo global.<\/p>\n\n\n\n

A intera\u00e7\u00e3o entre a atmosfera, que \u00e9 um flu\u00eddo cuja estrutura muda rapidamente, e o oceano, que \u00e9 um flu\u00eddo cuja estrutura muda muito mais devagar, \u00e9 de suma import\u00e2ncia para determinar os efeitos de um El Ni\u00f1o. No Centro Goddard de V\u00f4os Espaciais, modelos num\u00e9ricos da atmosfera e do oceano est\u00e3o sendo criados e aplicados em conjunto com dados de sat\u00e9lite.<\/p>\n\n\n\n

O objetivo \u00e9 compreender melhor o fen\u00f4meno El Ni\u00f1o e determinar a utilidade dos dados de sat\u00e9lite na previs\u00e3o de futuros epis\u00f3dios do El Ni\u00f1o e seus efeitos sobre a atmosfera e o oceano.<\/p>\n\n\n\n

Por Rosana Nieto Ferreira (Doutora em geoci\u00eancias da NASA)
\nFonte: Revista Eco 21, ano XV, N\u00ba 101 abril\/2005.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"